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O Espiritismo responde
Ano 6 - N° 277 - 9 de Setembro de 2012
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
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ESPIRITISMO SÉCULO XXI


 
O leitor Jayme Tadeu dos Santos, de Itapetininga-SP, a exemplo de outros leitores, fez séria restrição ao pensamento expresso pelo confrade Paulo Artur Gonçalves no artigo que constituiu o Especial das edições 274 e 275 desta revista, em cuja conclusão o articulista assim escreveu: “Na codificação do Espiritismo, Kardec não incluiu o Velho Testamento da Bíblia e não foi por acaso. Os espíritas devem se dedicar ao estudo da codificação e ela não inclui estes textos da Bíblia. Melhor assim”.

Argumenta o prezado o leitor: Kardec em ‘O Evangelho segundo o Espiritismo’ faz uso de vários trechos do Antigo Testamento; fala sobre Jó, Isaías, Jeremias e outros. Creio que o editor deveria rever esse artigo...”.

O leitor tem razão em parte, mas é preciso compreender que a proposta que o confrade Paulo Artur Gonçalves apresentou está fundamentada no pensamento do próprio Codificador do Espiritismo, que escreveu, como todos os espíritas sabem, que há na lei mosaica duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma – a lei de Deus – é invariável. A outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, modifica-se com o tempo. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 2.)

É por isso que se torna impensável, em nossos dias, apedrejar até a morte uma mulher flagrada em adultério. A circuncisão é outra prática que nem mesmo os mais fanáticos defensores da Bíblia adotam.

A lei de Deus – conhecida também como o Decálogo – está formulada nos dez mandamentos seguintes (Ex., 20:1-17.): 

1o. Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás deuses estrangeiros diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima no céu, e do que há embaixo na terra, nem de cousa alguma que haja nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto: porque eu sou o Senhor teu Deus, o Deus forte e zeloso, que vinga a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem. E que usa de misericórdia até mil gerações com aqueles que me amam e que guardam os meus preceitos.

2o. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar em vão o nome do Senhor seu Deus.

3o. Lembra-te de santificar o dia de sábado. Trabalharás seis dias, e farás neles tudo o que tens para fazer. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nesse dia obra alguma.

4o. Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te há de dar.

5o. Não matarás.

6o. Não fornicarás.

7o. Não furtarás.

8o. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

9o. Não desejarás a mulher do teu próximo.

10o. Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que lhe pertença. 

O pensamento de Kardec ora reproduzido foi acolhido e reafirmado por autores respeitáveis, como J. Herculano Pires, que escreveu este primoroso texto que compõe o cap. 4 do seu livro Visão Espírita da Bíblia:

“A palavra de Deus não está na Bíblia, mas na natureza, traduzida em suas leis. A Bíblia é simplesmente uma coletânea de livros hebraicos, que nos dão um panorama histórico do judaísmo primitivo. Os cinco livros iniciais da Bíblia, que constituem o Pentateuco mosaico, referem-se à formação e organização do povo judeu, após a libertação do Egito e a conquista de Canaã. Atribuídos a Moisés, esses livros não foram escritos por ele, pois relatam, inclusive, a sua própria morte.

As pesquisas históricas revelam que os livros da Bíblia têm origem na literatura oral do povo judeu. Só depois do exílio na Babilônia foi que Esdras conseguiu reunir e compilar os livros orais (guardados na memória) e proclamá-los em praça pública como a lei do judaísmo, ditada por Deus.

Os relatos históricos da Bíblia são ao mesmo tempo ingênuos e terríveis. Leia o estudante, por exemplo, o Deuteronômio, especialmente os capítulos 23 e 28 desse livro, e veja se Deus podia ditar aquelas regras de higiene simplória, aquelas impiedosas leis de guerra total, aquelas maldições horríveis contra os que não creem na ‘sua palavra’. Essas maldições, até hoje, apavoram as criaturas simples que têm medo de duvidar da Bíblia.

Muitos espertalhões se servem disso e do prestígio da Bíblia como ‘palavra de Deus’, para arregimentar e tosquiar gostosamente vastos rebanhos.

As leis morais da Bíblia podem ser resumidas nos Dez Mandamentos. Mas esses mandamentos nada têm de transcendentes. São regras normais de vida para um povo de pastores e agricultores, com pormenores que fazem rir o homem de hoje. Por isso, os mandamentos são hoje apresentados em resumo. O Espírito que ditou essas leis a Moisés, no Sinai, era o guia espiritual da família de Abrão, Isaac e Jacob, mais tarde transformado no Deus de Israel. Desempenhando uma elevada missão, esse Espírito preparava o povo judeu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da antiguidade eram muitos.

O Espiritismo reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a ‘palavra de Deus’. Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados profetas. O próprio Moisés era um médium, em constante ligação com lave ou Jeová, o deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do deus-pai do Evangelho. Devemos respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens.” (Grifamos.) 

Concluindo, esclarecemos que não formamos no grupo daqueles que não veem valor algum nos textos do Antigo Testamento, em que existem ensinamentos muito úteis e importantes, mas entendemos igualmente que o Espiritismo é uma ciência de observação e que sua força não se encontra nos textos bíblicos, mas provém – como Kardec afirmou – da universalidade das manifestações dos Espíritos, que surgem em todos os pontos do globo para desmentir os detratores e confirmar os princípios da Doutrina. (O que é o Espiritismo, capítulo I, Segundo Diálogo, págs. 72 e 73.)


 


 
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