ALESSANDRO VIANA
VIEIRA DE PAULA
vianapaula@uol.com.br
Itapetininga,
SP(Brasil)
Perante as
provações
Aprendemos com a
religião
espírita que a
Terra é um mundo
de provas e
expiações, onde
há o predomínio
do egoísmo, do
orgulho, do
materialismo e
das paixões
asselvajadas.
A expiação
permite ao
Espírito reparar
os males por ele
causados, a si
mesmo e a
outrem, com a
finalidade de
que desperte
para a
importância do
bem e das demais
virtudes, na
medida em que
sofre a
consequência da
própria ação
irresponsável,
de tal sorte que
passa a
compreender a
proposta do
Cristo: “A
cada um segundo
suas obras”.
As provações são
situações
desafiadoras
escolhidas pelo
próprio Espírito
ou pelos
benfeitores
espirituais, com
o escopo de
avaliação ou
fortalecimento
das próprias
virtudes. Como
nos ensina o
Espírito Camilo,
na obra “Vozes
do Infinito”
(capítulo 12), “provações
são testes da
Lei Divina, não
para que Deus
nos avalie, mas
para que nós
mesmos nos demos
conta do modo
como estamos
atendendo aos
ditames da Vida
Maior”.
Na aludida
lição, que
servirá de
parâmetro para
as nossas
análises neste
artigo, o
benfeitor Camilo
nos faz refletir
sobre como temos
nos comportado
moralmente
diante das
provações na
Terra, haja
vista que o mais
importante é
o modo como
estamos
atravessando a
rota de lutas.
Anote-se que
apenas saber que
estamos em
regime de provas
não resolve a
situação, uma
vez que é
imprescindível
que tenhamos uma
conduta
equilibrada
diante das
situações
provacionais, de
forma que “as
circunstâncias
de aceitação ou
de revolta é que
vão determinar a
libertação ou o
agravamento dos
problemas do
ser”.
Dessa forma, as
condutas
desarmonizadas,
irrefletidas e
agressivas
gerarão “novas
provas sobre as
provas não
exitosas”.
É obvio que o
conhecimento do
sistema de
provas e
expiações das
leis divinas
auxilia-nos a
abandonar a
ideia de que
Deus se esqueceu
de nós, de que
estamos sendo
castigados, de
que somos
vítimas do azar
ou das
fatalidades
genéticas. Tal
conhecimento
ainda facilita a
conduta de
aceitação,
porque passamos
a entender que
foram as nossas
ações infelizes
de vidas
passadas que
geraram
determinadas
situações
aflitivas na
atualidade
(expiação), ou
que é a nossa
imperfeição
moral que
suscita algumas
ocorrências
desafiadoras a
fim de nos fazer
crescer como
Espíritos em
evolução
(prova).
Aceitação não
significa
entregar-se
passivamente à
situação, mas
deve representar
uma conduta
equilibrada,
resignada, sendo
lícita a procura
de alternativas
éticas para
melhorar a nossa
vida, não nos
esquecendo de
que o mais
importante é
ouvirmos o
recado da
provação, que é
de melhoria
espiritual, sob
pena de termos
que sofrer novas
provas, ainda
que com outras
nuances e
particularidades.
Na lição em foco
(“Vozes do
Infinito”,
capítulo 12), o
Espírito Camilo
exemplifica
algumas
situações
corriqueiras em
nossas vidas
que,
normalmente,
trazem a
característica
de prova,
exigindo-nos uma
postura mais
saudável sob a
ótica do
evangelho.
Camilo nos fala
dos testes nas
famílias.
“São filhos que
aguardam
orientação e
paciência; vêm
os cônjuges
carecentes de
compreensão e
paciência; os
afins que se
agregam ao
núcleo
doméstico,
rogando atenção
e paciência.”
São inúmeras as
pessoas que
enfrentam os
desafios
existenciais no
âmbito
doméstico, de
forma que
devemos buscar a
espiritualização,
a conexão com
Deus através da
prece e da
caridade, a
assiduidade no
templo religioso
para
fortalecimento
dos conceitos do
evangelho, a fim
de que tenhamos
força interior
para manter a
paciência e a
resignação na
intimidade do
lar.
Caso a nossa
conduta seja de
omissão, de
atritos
constantes, de
desapreço, de
comportamento
desregrado, tudo
isso “determinará
nova prova para
quem não logrou
bom êxito no
sistema de
provas”.
Camilo também
nos lembra das
questões da
saúde. Alguns
mantêm condutas
saudáveis,
amadurecidas, em
regime de
confiança em
Deus, de forma
que estão
vencendo a
prova. Em
contrapartida,
outros elegem a
mágoa surda, a
reclamação
contumaz, a
revolta contra a
vida, o que
gerará novos
quadros
provacionais,
uma vez que a
prova atual não
surtiu o efeito
pedagógico
almejado pelo
próprio Espírito
(elevação
moral).
O referido
benfeitor ainda
nos recorda das
convivências
difíceis dos
contatos humanos
e das agruras
das profissões,
a nos exigir uma
conduta
pacificada,
afinada com as
propostas do
Cristo, todavia,
muitos, ao darem
vazão ao
temperamento
explosivo ou
impaciente,
comprometem-se
indevidamente,
criando novas
provas “no
bojo da prova
não vencida”.
Frise-se que
muitas situações
típicas da Terra
também se
enquadram como
ocorrências
provacionais
coletivas que,
se bem vividas,
trazem
conquistas
morais
significativas
aos Espíritos
envolvidos.
Com efeito,
temos em nossa
sociedade
diversas
situações
provenientes da
imperfeição
moral, como, por
exemplo, a
carência no
atendimento da
saúde pública,
as limitações no
âmbito da rede
escolar pública,
os altos índices
de desemprego, a
violência urbana
etc.
Não cabe de
nossa parte
qualquer
reclamação no
sentido de que
não merecíamos
tais
ocorrências, em
que pese seja
louvável a luta
por melhorar as
condições de
vida no orbe
terrestre,
porquanto, à luz
da doutrina
espírita, são os
nossos limites
morais que nos
vinculam ao
planeta Terra,
de forma que, se
não
necessitássemos
destas
experiências
dolorosas,
próprias de um
mundo de provas
e expiações,
certamente
estaríamos
reencarnados em
mundos mais
felizes.
Como Deus não se
equivoca,
concluímos que
as experiências
vividas na
Terra, boas ou
más, servem para
o nosso
aprimoramento
intelecto-moral.
Nesse contexto,
num conceito
mais elástico de
prova, poderemos
afirmar que as
citadas
experiências
trazem-nos, no
mínimo, um
aprendizado, e,
se bem
enfrentadas,
geram-nos a
conquista de
virtudes.
A obra “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”
traz uma lição
com a mesma
proposta moral,
ao nos falar
sobre o bem e o
mal sofrer
(Capítulo V –
Bem-aventurados
os aflitos).
Nessa lição, o
Espírito
Lacordaire
enfatiza que
poucos sofrem
bem e
compreendem que
somente as
provas bem
suportadas podem
conduzir ao
Reino de Deus,
isto é, à
plenitude
interior.
Na parte final
da lição,
Lacordaire diz:
“Bem-aventurados
os aflitos pode,
portanto, ser
assim traduzido:
Bem-aventurados
os que têm a
oportunidade de
provar a sua fé,
a sua firmeza, a
sua perseverança
e a sua
submissão à
vontade de Deus,
porque eles
terão
centuplicadas as
alegrias que
lhes faltam na
Terra, e após o
trabalho virá o
repouso”.
Assim sendo,
seria prudente
de nossa parte a
autoavaliação,
até como
desdobramento da
proposta do
autoconhecimento
(questão n. 919
do Livro dos
Espíritos), para
que,
periodicamente,
aferíssemos como
têm sido a nossa
ação e o nosso
pensamento
diante das
provas e
vicissitudes que
a vida nos tem
apresentado na
Terra, que é uma
abençoada escola
a propiciar a
elevação da alma
no rumo da
plenitude.
Diante de todo o
exposto,
cabe-nos uma
reflexão
profunda sobre
as provações e
as nossas
posturas perante
elas, pois,
conforme
enfatiza o
Espírito Camilo:
“O que se
tenha que sofrer
hoje, em regime
provatório, não
seja adulterado,
piorado, pela
invigilância ou
pela obstinação
no quadro do
equívoco ou da
perturbação”.
“Com Jesus
ouvimos que –
nem todos os que
dizem: Senhor!
Senhor! entrarão
no Reino... – o
que podemos
parafrasear,
asseverando que
nem todos os que
sofrem as provas
estarão
liberados do seu
guante, após as
travessias
terrenas. Isso
porque somente
quando, ao invés
de criar provas
novas nas provas
antigas, cada
qual aprender a
trabalhar hoje,
com empenho,
certo de que
isso se faz
urgente para a
evolução
espiritual, não
retendo mais
detritos morais
no coração, a
fim de
alimpar-se, em
definitivo.”