LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Amparo & sustentação
Fidelidade a Jesus é
espírito de serviço até
o último
momento das
nossas forças físicas
... “mas, livra-nos
do mal.” ¹
Quantos de nós já não
pronunciamos essas
palavras, seja em estado
de preocupação
verdadeira, seja pedindo
ao Pai para nos colocar
a salvo de perigos e
tentações na vida
diária?
O Evangelho mostra que,
em dois momentos, Jesus
faz essa solicitação a
Deus: no primeiro, foi
no Pão Nosso, que nos
ensinou, ao encerrar o
Sermão da Montanha,
dizendo “não nos
deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal”;
e, depois, no Sermão do
Cenáculo ou última ceia,
como é conhecida essa
passagem, quando,
despedindo-se dos
discípulos, fez a oração
que ficou gravada na
mente dos queridos
amigos, conhecida como
Oração dos Discípulos,
na qual roga a Deus para
que não os tirasse do
mundo, mas que os
guardasse do mal.
Nessas duas
oportunidades Jesus roga
o amparo e a sustentação
para todos nós e não o
nosso afastamento do
mundo. E por que Ele age
assim? Para entender
isso é necessário
compreender o homem no
meio em que ele vive. O
homem é um ser
biológico, enquanto
matéria; um ser
psíquico, enquanto
Espírito; e um ser
social, enquanto
relacionado com outros.
Assim, quanto mais
evoluímos, mais aumenta
a nossa interdependência
com as outras pessoas.
Por isso, o progresso só
acontece quando há
trabalho em grupo, ajuda
mútua. Sozinhos, nos
embrutecemos e nos
debilitamos, porque
somos seres gregários,
criados para viver em
sociedade, equipados com
todos os instrumentos
que possibilitam tal
convivência. Dessa
forma, vamos ajudando os
que estão ao nosso redor
– desde que o queiram –
e sendo ajudados,
aprendendo com os outros
o que ainda não sabemos
e ensinando aquilo que
já sabemos, amando e
sendo amados. Com isto
em mente, é fácil
perceber que só seremos
úteis vivendo em grupo.
Então, quando Jesus nos
ensina na Oração
Dominical, para que Deus
nos livre do mal, e pede
a Ele que não afaste os
seus discípulos do
mundo, mas que também os
proteja do mal, deixa
claro que os homens não
precisam isolar-se a
pretexto de melhor
servir a Deus.
Se no passado o
isolamento de homens que
até hoje são
reverenciados era para
despertar esse mesmo
homem para os problemas
da alma, hoje esse
comportamento “sem
finalidade prática, sem
proveito para os
semelhantes, expressaria
egoísmo e acomodação à
boa vida. Significaria
fuga ao trabalho”. ²
O mundo é – sem sombra
de dúvida – a nossa
grande escola, e pelas
dificuldades que
passamos, pelos
obstáculos que superamos
para realizar a vida
material, as lutas
íntimas que travamos nos
fazem criaturas cada vez
melhores... Diante
disso, podemos entender
que é “impossível o
ensinamento, fugindo à
lição. Ninguém sabe, sem
aprender”. ³
Assim, muitas vezes,
fugimos das
dificuldades, criamos
ilusões fantasiosas,
necessidades vãs,
fazendo de conta que a
vida é sempre um mar de
rosas, um céu sem
nuvens; ou
revoltamo-nos, não
aceitando as condições
nas quais vivemos,
esperando, em ambos os
casos, que em algum
momento um milagre
aconteça e que a solução
dos nossos problemas
surja, sem que
precisemos nos esforçar
para isso. É preciso
atenção às nossas
escolhas para não
complicarmos, ainda
mais, a presente
encarnação.
Citando judiciosa
afirmação de Emmanuel, é
importante observarmos
ao nosso redor para
reconhecer “onde,
como e quando Deus nos
chama, em silêncio, para
colaborar com ele no
desenvolvimento das boas
obras, na sustentação da
paciência, na
intervenção caridosa em
assuntos inquietantes
para que o mal não
interrompa a construção
do bem, na palavra
iluminativa ou na seara
do conhecimento
superior, habitualmente
ameaçada pelo assalto
das trevas”.
Todavia, o que
encontramos ainda, é um
grande número de
discípulos do Evangelho
que ao entenderem, ainda
que de forma incipiente,
a luz espiritual,
recusam-se a continuar
aprendendo, tendo em
vista a ideia enganosa
de que já sabem o
suficiente. Quantos
continuam fugindo do
estudo, do aprimoramento
de seus conhecimentos,
do trabalho redentor,
até mesmo como uma forma
de protegê-los da
intervenção de outras
mentes não
evangelizadas, em seu
dia-a-dia?! Mas, se não
aprenderam, não
vivenciaram; e, se não
vivenciaram, não podem
dar testemunhos da sua
evolução.
Quantas tarefas para as
quais fomos encaminhados
e as recusamos?!
Quantas adiamos, mesmo
sabendo que não
poderíamos realizá-las?!
E recuamos, assim,
diante do esforço que
nos levaria para frente.
Declaramo-nos desejosos
da união com o Cristo,
mas abandonamos os
irmãos necessitados de
amparo, muitas vezes
dentro do próprio
ambiente doméstico,
esquecidos que o Mestre
amado, em momento algum,
afastou-Se da humanidade
terrena. Estimamos a
oração que Ele nos
ensinou, mas nos
esquecemos de que rogou
ao Pai que nos
libertasse do mal, mas
não nos afastasse da
luta.
Lembra-nos Emmanuel que
a sabedoria do
Cristianismo não
consiste em isolar o
aprendiz na santidade
artificialista, e, sim,
em fazê-lo no campo de
luta ativa de
transformação do mal em
bem, da treva em luz e
da dor em bênção. A
fidelidade que muitos
dizemos ter ao Cristo
não significa adoração
eterna em sentido
literal; significa, sim,
espírito de serviço até
o último momento das
nossas forças físicas.
Em relação aos
discípulos, no Sermão do
Cenáculo, Jesus
dirige-Se a Deus dizendo
que Ele não pede que
sejam tirados do mundo,
mas, sim, que sejam
guardados do mal, pois
sabia das dificuldades
pelas quais eles
passariam, das lutas que
enfrentariam, após sua
morte, e que poderiam
impedir os discípulos de
dar prosseguimento à Sua
tarefa. Tudo isso
poderia criar um
precedente perigoso para
as futuras realizações
do Evangelho. E o que
seria de nós, hoje, se
os Seus ensinamentos
benditos não tivessem
chegado à nossa vida...
Tanto eles, ontem,
quanto nós próprios,
hoje, não prescindimos
das lutas terrenas,
porque elas corrigem,
aperfeiçoam e iluminam
os Espíritos
necessitados, que
retornam ao corpo físico
para prosseguir sua
jornada iluminativa.
O certo é que “(...)
ninguém pode dar
testemunho de valor
espiritual se não vive
provas difíceis, dramas
intensos, complicados
problemas... Ninguém
pode dar testemunho de
resistência moral se não
sentiu o impacto de
fortes tentações,
sobrepondo-se, no
entanto, a todas elas,
pela inabalável
determinação de vencer,
pelo desejo de
realizar-se”4,
ao menos aqueles que
ainda estão atrelados à
vida material grosseira,
como é o caso da
humanidade que vive
sobre este planeta.
É prova difícil viver no
mundo, sabemos; mas não
impossível. Por essa
razão o pedido de Jesus,
tanto em uma quanto em
outra oração, é
exortação à vigilância,
para que não venhamos
sucumbir ante o mal, nas
suas mais diferentes
manifestações, pois o
mal, em qualquer
circunstância, é
desarmonia à frente da
Lei e todo desequilíbrio
tem como consequência a
dificuldade e o
sofrimento. Mas,
independentemente de
tudo isso, fortalecidos
pelas eternas lições do
Excelso amigo, nos
converteremos, como
muitos já o fizeram, em
exemplos vivos e
atuantes de amor e
trabalho no bem!
Com o tempo e a
misericórdia divina que
nos dão novas chances de
recomeço através das
vidas sucessivas,
teremos aprendido a
valorizar as
oportunidades de luta
redentora, vencendo
nossas imperfeições
morais, e nos
transformando em
verdadeiros discípulos
de Jesus, levando paz,
consolo e reconforto aos
necessitados que
encontrarmos pelo
caminho.
O Apóstolo Paulo, na
carta aos romanos, cap.
12, versículo 21, traz
consoladoras palavras:
pede que não nos
deixemos vencer pelo
mal, mas que vençamos o
mal com o bem, pois,
passada a tempestade,
tudo se encaminha para o
reajustamento e a
harmonia...
Roguemos, pois, ao Pai
de infinita bondade, que
continue nos assistindo
em nossas lutas. Que
ampare nossos pequenos
passos, para que mais
adiante, amparados pelos
ensinamentos de Jesus,
consigamos avançar com
firmeza em direção ao
Seu amor.
Bibliografia consultada:
1 - Mateus, 6:13.
2 - Peralva, Martins .
Estudando o Evangelho,
6ª ed., Edições FEB –
RIO DE JANEIRO/RJ - 1992
- cap. 5 – “O Cristão e
o Mundo”, p. 40.
3 – Emmanuel (Espírito).
Vinha de Luz,
[psicografado por] F. C.
Xavier, 14ª ed., Edições
FEB – RIO DE JANEIRO/RJ
- 1996 - lição 57.
4 – Peralva, Martins.
Estudando o Evangelho,
6ª ed., Edições FEB –
RIO DE JANEIRO/RJ - 1992
- cap. 5 – “O Cristão e
o Mundo”, p. 41.