ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Algumas
considerações
sobre
a fé cega
e os tempos
atuais
Não obstante o
fato de estarmos
já em pleno
terceiro
milênio, chega a
ser no mínimo
lamentável
observar o
quadro de
crescente
violência,
intransigência e
intolerância
religiosa que se
delineia
especialmente a
partir de países
situados no
Oriente Médio.
Vale também
lembrar notícias
de cristãos
sendo
perseguidos na
Ásia e até mesmo
barbaramente
mortos na
Nigéria.
Certamente
preocupado com
os rumos
incertos dos
acontecimentos e
com a perda de
prestígio dos
católicos, o
Papa Bento XVI
fez recentemente
um insistente
apelo para que
os cristãos que
vivem no Líbano
– o país
aparentemente
mais aberto à
ideia de
pluralidade
religiosa na
região – não
deixem o país.
De modo geral,
os aspectos mais
salientes da
insatisfação dos
mulçumanos são o
visceral ódio
demonstrado aos
Estados Unidos e
a tudo que esta
nação representa
no cenário
mundial, o
ataque aos seus
embaixadores
(mortal em
alguns casos) e
as suas
instalações
diplomáticas,
mas atingindo
igualmente
outros países
ocidentais. Em
resumo, hoje o
Islamismo é um
barril de
pólvora prestes
a explodir, e
qualquer menção,
observação,
charge, vídeo ou
chiste menos
feliz em relação
à religião
mulçumana ou ao
profeta Maomé
têm sido motivo
de manifestações
chocantes e
sangrentas.
É inegável que
há elementos
infiltrados no
meio da referida
religião
fomentando o
ódio nos
corações mais
desatentos que,
em consequência,
estão
engendrando
ações nefandas
de toda sorte.
Como prepostos
das trevas, a
sua missão é
claramente a de
destilar o
veneno nas
mentes incautas
– e parece haver
milhões em tal
condição naquela
parte do mundo –
quanto aos
valores do
ocidente. Posto
isto, consideram
a respeitável
figura do
profeta impoluta
e o alcorão a
mais pura
expressão da
verdade divina,
não se admitindo
qualquer tipo de
contestação ou
questionamento.
Apesar de tão
elevadas
premissas e
suposições
existem notórias
divergências de
interpretação
gerando
profundas cisões
e divisões no
seio da popular
religião. Mais
ainda, xiitas e
sunitas, por
exemplo, se
hostilizam
abertamente
deflagrando na
atualidade uma
terrível guerra
fratricida, haja
vista o que
acontece no
Iraque
pós-Saddam
Hussein. Em
outros países,
as diferentes
facções e etnias
se enfrentam
abertamente.
Todavia, no
mundo
civilizado, onde
se conquistou às
duras penas o
direito de
liberdade de
expressão e de
pensamento, as
divergências são
respeitadas sem
o uso da
violência,
perseguições,
espancamento ou
arbitrariedades.
Infelizmente,
não se pode
dizer que o
mesmo acontece
no Islã. E o que
é mais infausto:
o problema é de
longuíssima
data. Os
mentores
espirituais, nos
quais o
Espiritismo
baseia as suas
revelações e
princípios, têm
opinado sobre o
assunto ao longo
do tempo. Nesse
sentido,
encontramos, por
exemplo, nas
explicações
relativas à
questão nº 1014
de O
Livro dos
Espíritos a
seguinte
observação: “[...]
Se um Espírito
dissesse a um
muçulmano, sem
precauções
oratórias, que
Maomé não foi
profeta, seria
muito mal
acolhido”
(ênfase nossa).
Em contraste,
entre os
cristãos – e ao
Espiritismo,
nesse contexto,
compete
reafirmar o
cristianismo
redivivo e
atualizado –, a
reação
provavelmente
não passaria de
uma ligeira
discussão.
Consultando
outras obras da
doutrina
espírita
encontramos na Revista
Espírita de
1858 uma
mensagem datada
de 16 de março
do mesmo ano, de
autoria de Mehemet-Ali,
antigo Paxá do
Egito. Ou seja,
a referida
entidade
espiritual é
indagada como
segue: “23.
Pensais que, se
o povo que
governastes
fosse cristão,
teria sido menos
rebelde a
civilização?
Resp. – Sim; a
religião cristã
eleva a alma; a
maometana não
fala senão à
matéria”. As
suas
observações, em
dado momento,
são mais graves
ainda: “26.
Na vossa
opinião, Maomé
tinha uma missão
divina? Resp. –
Sim, mas que ele
corrompeu” (ênfase
nossa).
Por outro lado,
em outra
questão, o
Espírito citado
esclareceu o
papel de Jesus e
Maomé com
clareza
meridiana: “29.
Na vossa
opinião, qual
dos dois, Jesus
ou Maomé, fez
mais pela
felicidade da
Humanidade? Resp.
– Por que o
perguntais? Que
povo Maomé
regenerou? A
religião cristã
saiu pura da mão
de Deus; a
maometana é obra
do homem”. Por
fim, antevendo o
que poderá ainda
vir a acontecer,
ele considerou: “30.
Acreditais que
uma dessas duas
religiões esteja
destinada a
desaparecer da
face da Terra?
Resp. – O homem
progride sempre;
a melhor
permanecerá”.
Na Revista
Espírita de
1866 encontramos
uma apreciação
equilibrada
sobre a religião
mulçumana e o
papel do famoso
profeta, ou
seja:
“[...] Longe de
nós a intenção
de absolver
Maomé de todas
as suas faltas,
nem sua religião
de todos os
erros que chocam
o mais vulgar
bom senso. Mas,
a bem da
verdade, devemos
dizer que também
seria pouco
lógico julgar
essa religião
conforme o que
dela fez o
fanatismo, como
o seria julgar o
Cristianismo
segundo a
maneira por que
alguns cristãos
o praticam. É
bem certo que,
se os muçulmanos
seguissem em
espírito o
Alcorão, que o
Profeta lhes deu
por guia,
seriam, sob
muitos aspectos,
completamente
diferentes do
que são [...]” (ênfase
nossa).
Conforme
esclarecem os
Espíritos, Maomé
era um
missionário com
a espinhosa
missão de levar
o conteúdo da fé
num ambiente
onde a barbárie
prosperava e
ainda não fora
banida. Na obra A
Caminho da Luz, ditada
pelo Espírito
Emmanuel
(psicografia de
Francisco
Cândido Xavier),
há informes
interessantes e
esclarecedores
sobre esse
personagem e que
merecem
reflexão, isto
é: “Numerosos
Espíritos
reencarnam com
as mais altas
delegações do
plano invisível.
Entre esses
missionários,
veio aquele que
se chamou
Maomet, ao
nascer em Meca
no ano 570.
Filho da tribo
dos Coraixitas,
sua missão era
reunir todas as
tribos árabes
sob a luz dos
ensinos
cristãos, de
modo a
organizar-se na
Ásia um
movimento forte
de restauração
do Evangelho do
Cristo, em
oposição aos
abusos romanos,
nos ambientes da
Europa. Maomet,
contudo, pobre e
humilde no
começo de sua
vida, que
deveria ser de
sacrifício e
exemplificação,
torna-se rico
após o casamento
com Khadidja e
não resiste ao
assédio dos
Espíritos da
Sombra, traindo
nobres
obrigações
espirituais com
as suas
fraquezas.
Dotado de
grandes
faculdades
mediúnicas
inerentes ao
desempenho dos
seus
compromissos,
muitas vezes foi
aconselhado por
seus mentores do
Alto, nos
grandes lances
da sua
existência, mas
não conseguiu
triunfar das
inferioridades
humanas. É por
essa razão que o
missionário do
Islã deixa
entrever, nos
seus ensinos,
flagrantes
contradições. A
par do perfume
cristão que se
evola de muitas
das suas lições,
há um espírito
belicoso, de
violência e de
imposição; junto
da doutrina
fatalista
encerrada no
Alcorão, existe
a doutrina da
responsabilidade
individual,
divisando-se
através de tudo
isso uma
imaginação
superexcitada
pelas forças do
bem e do mal,
num cérebro
transviado do
seu verdadeiro
caminho. Por
essa razão o
Islamismo, que
poderia
representar um
grande movimento
de restauração
do ensino de
Jesus,
corrigindo os
desvios do
Papado nascente,
assinalou mais
uma vitória das
Trevas contra a
Luz e cujas
raízes era
necessário
extirpar” (ênfase
nossa).
Por fim, o Espírito
Emmanuel aduz na
citada obra a
explicação do
legado deixado
pelo mencionado
missionário e
que, sem dúvida,
continua
influenciando
intensamente o
presente: “Maomet,
nas recordações
do dever que o
trazia à Terra,
lembrando os
trabalhos que
lhe competiam na
Ásia, a fim de
regenerar a
Igreja para
Jesus,
vulgarizou a
palavra
‘infiel’, entre
as várias
famílias do seu
povo, designando
assim os árabes
que lhe eram
insubmissos,
quando a
expressão se
aplicava,
perfeitamente,
aos sacerdotes
transviados do
Cristianismo.
Com o seu
regresso ao
plano
espiritual, toda
a Arábia estava
submetida à sua
doutrina, pela
força da espada;
e, todavia, os
seus
continuadores
não se deram por
satisfeitos com
semelhantes
conquistas.
Iniciaram no
exterior as
guerras santas",
subjugando toda
a África
setentrional, no
fim do século
VII [...]” (ênfase
nossa).
Nessa rápida
revisão, cabe
também recordar
uma interessante
passagem
envolvendo
Francisco de
Assis, o Sultão Melek-el-Kamel e
o próprio
profeta Maomé
(em espírito) no
tempo das
Cruzadas. Tal
passagem consta
do livro Francisco
de Assis, do
Espírito Miramez
(Psicografia de
João Nunes
Maia). Posto
isto, relata o
mentor que
Francisco se
dirigiu ao
Oriente, a fim
de conversar com
o Sultão sobre
os conceitos que
este sustentava
sobre o Santo
Sepulcro. O
Sultão, aliás,
já havia
ordenado que
vários
discípulos
cristãos
tivessem as suas
cabeças
decepadas, o que
tornava a
empreitada de
Francisco
extremamente
perigosa. Mas
“Francisco era,
por excelência,
o medianeiro do
Cristo”. Desse
modo, ele vivia
pelo Evangelho
do Mestre e o
sultão herdara
as concepções de
Maomé e o seu
alcorão.
Tendo sido
inicialmente
recebido com
gargalhadas pelo
Sultão diante da
precariedade das
condições da sua
indumentária e
por ter os pés
descalços, mas
sentindo a
profundidade da
sua argumentação
e o seu desejo
sincero de que
um entendimento
se
estabelecesse, “O
sultão teve,
várias vezes,
vontade de
beijar as mãos
de Francisco de
Assis, pela sua
humildade e seu
interesse pela
paz da
coletividade.
Notou, no
intervalo das
suas palavras,
que aquele homem
simples à sua
frente era
verdadeiramente
um cidadão
universal [...]” (ênfase
nossa).
No entanto,
havia ali um
Espírito de alta
envergadura que
estava
inspirando as
delicadas
conversações.
Tratava-se de
Maomé que, em
dado momento,
revelou aos
ouvidos
psíquicos de
Francisco o
seguinte: “Aquele
que abraçaste
como teu Mestre,
também o tenho
como Guia
Espiritual [...]” (ênfase
nossa). O
Espírito do
famoso profeta
lhe segredou
que: “Na época
em que vesti um
corpo de carne,
também fiz
guerra e venci;
fiz uma
peregrinação à
Meca e
pressionei a
massa para a
crença que
formulara, donde
saiu o
Alcorão...”. E
num gesto de
profunda
humildade e
autocrítica
admitiu: “[...]
Cometi muitos
erros e procuro
repará-los, por
meios que neste
momento
observas, de
induzir as
criaturas que no
momento ocupam
lugares de
destaque,
representando um
Maomé que
alimenta outras
ideias, um Maomé
que procura o
Cristo como
sendo o Sol que
nunca se apaga
no turbilhão da
vida humana e
espiritual” (ênfase
nossa).
Ciente da sua
condição
evolutiva,
observou,
conforme também
relata o
Espírito Miramez:
“Francisco,
esse a quem
chamas de teu
Mestre, o é
também para nós
e eu
considero-me um
simples mendigo
diante desta
figura
incomparável...” (ênfase
nossa). Mas
enquanto
Francisco
“ouvia” as
palavras do
Profeta, “... o
sultão que,
ensimesmado
meditava,
recompondo-se,
abraçou-o com
renovadas
esperanças de
paz entre as
duas forças em
guerra”.
Portanto, não há
dúvidas de que
muitos caminhos
levam a Deus.
Existem muitos
profitentes do
Islamismo
certamente
descontentes com
o rumo
descontrolado
que a sua
religião vem
tomando,
especialmente
por causa da sua
manipulação por
líderes
mal-intencionados.
Ao que tudo
indica, esses
“líderes
religiosos”
trabalham para
que ocorra um
confronto com o
Ocidente sem
precedentes.
Sinalizam
claramente
desejar impor a
sua vontade e a
sua fé cega ao
mundo inteiro.
Também nós,
identificados
com o ideal
cristão,
cometemos sérios
erros no passado
com o nefando
evento da
Inquisição. Mas
a dor nos fez
aprender a ser
mais tolerantes
no campo
religioso. Nesse
sentido, os
mulçumanos
deveriam
usufruir das
lições da
malsucedida
experiência
cristã do
passado.
Ademais, Jesus
Cristo foi o
maior exemplo de
amor vivo entre
as criaturas
humanas e o seu
legado fala por
si só. Desse
modo, todas as
religiões que se
apoiam na força
e brutalidade,
bem como na
prepotência dos
seus mentores,
não sobreviverá
num mundo
civilizado e de
ideais nobres
(afinal, é o que
a maior parte da
humanidade
deseja).
Inferimos que a
fé raciocinada
haverá de
suplantá-las
mais dia menos
dia. Os
desenganos, as
frustrações e os
sofrimentos
gerados por suas
ideias e
concepções
estapafúrdias
haverão de
esgotá-las. As
massas humanas
agora
tristemente
enganadas e
ensandecidas
haverão de
compreender –
assim imaginamos
–, mais cedo ou
mais tarde, aquele
ser que,
por direito e
autoridade
moral, pôde
afirmar sem
hesitação que
era o
caminho, a
verdade e a vida
e que ninguém
poderia ir ao
Pai senão por
ele.