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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 282 - 14 de Outubro de 2012

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 

 

Linguagem com luz para assuntos de luz

 

 

Queridos, hoje desejo comentar sobre a linguagem literária espírita.


Por possuir pendores para a escrita desde a infância, me formei em Letras, depois de desperdiçar dois anos num curso de Psicologia que nada me disse ao íntimo. E, por esta afinidade, meus mentores e amigos da vida invisível certamente planejaram, no período anterior à reencarnação, que trabalhássemos em parceria na divulgação da mensagem espírita.


Trata-se de um dom natural, sem falsa modéstia. Assim como outros respiram esporte ou matemática, eu respiro Literatura, seja ela qual for! Alegre e prazerosamente!


Lembro-me de que, muito generosamente, na ocasião da publicação do meu primeiro livro, O Pretoriano, um crítico gentil da Rede Boa Nova elogiou o meu estilo, comparando-o ao de Machado de Assis. Senti-me naturalmente envaidecida, porque o ato de se escrever com correção e estilo próprio, a qualquer tempo, é razão de realização profissional a escritores de quaisquer idiomas. Mas não para que se envaideça ou ufane! Porque, também, qualquer escritor sensato e conectado com o contexto de época onde vive conhece que existem linguagens adequadas para cada ocasião, assim como trajes condizentes para cada fase do dia. Ninguém vai a um casamento de pijama, assim como também dormir usando black tie!


Deste modo é que sempre recebo do leitor comentários e críticas construtivas de dentro de um senso de realidade justa, tanto para com quem comenta, quanto para com o que também sei que conheço e domino no meu trabalho nesta área tão grata!


Consta da Doutrina de Kardec que, para a literatura de todas as modalidades existentes hoje nas prateleiras espíritas, a Espiritualidade escolhe trabalhar com quem tem um domínio ao menos razoável de vocabulário, tanto quanto também dos temas a ser abordados, assim como existem equipes distintas que trabalham com médiuns especializados em passes, desobsessão ou cura.


Então, fácil se torna a compreensão de que, e ainda que se levando em conta a noção de que todo texto voltado ao público deve ser dotado de clareza e objetividade, de outro lado, não necessariamente deve ser ele produzido banalizando ou vulgarizando a escrita, ao modo de como hoje se enaltece o empobrecimento linguístico com a contribuição nada favorável do chamado internetês, ou da generalização de gírias, palavrões e incorreções crassas, que já se pretendeu impor ao uso gramatical nacional a conta de linguagem aceitável e correta.


Com o perdão da anotação, diz, esta tendência, muito mais das limitações de quem lê, do que de qualquer impropriedade na correção e elaboração mais trabalhada no estilo de escrita. E não julgo lícito, por conseguinte, o empobrecimento calculado da linguagem para mero atendimento às deficiências características dos rudes contrastes educacionais existentes na população do nosso país.


É preciso o uso do discernimento! Muito da realidade linguística se prende a fatores culturais e contextuais; e as mensagens trazidas pela Espiritualidade Superior, pelo tanto de luz de que se revestem, pedem, sim, uma combinação de clareza com correção
sobretudo, porém, com elegância e estética!


Se é, portanto, inconveniente que num texto em formato de artigo, acessível ao grande público, se escreva que o vitupério escorchou a dama de sua proba dignidade (o insulto despojou a senhora de sua honesta dignidade), penso que exigir também
com base no relaxamento linguístico chulo existente atualmente que se considere coisa sensata escrever “os médium psicografa" ou "nós somo tudo igual", em texto de teor espiritualista, significa um desrespeito aos que nos honram com sua leitura!


Lembremo-nos de que grandes pilares da literatura espírita, como Léon Denis e o próprio Divaldo Franco, se expressaram, cada um em seu tempo, com textos e oratória de grande beleza, condizentes com os estilos característicos do dinamismo linguístico dos dias em que um vive hoje, e o outro, em séculos passados.


Cada leitor, por seu lado, percebe um texto em sincronicidade com as empatias do seu universo interior. Assim, comentários e críticas do que se lê são sempre úteis e necessários, mas que se enfatize que até para se criticar há que se ter conhecimento de causa
de estilos literários, de correção gramatical, e mesmo da realidade das sintonias individuais para com cada conteúdo que se acessa, sejam em livros, artigos ou em mensagens mais curtas! Noutro dia, por exemplo, recebi comentário de um leitor reclamando que havia repetição desnecessária de termos num artigo meu, aparentemente para "encher linguiça". Fui lá conferir, e os dois termos citados apareciam, em todo o texto, apenas uma vez!


Deste modo, amigos, se como escritores devemos acompanhar o dinamismo de linguagem, para não obrigar o leitor a usar um dicionário para compreender termos rebuscados demais, arcaicos e incompreensíveis, também se pede dos leitores um melhor entendimento da língua; dos múltiplos fatores que definem a construção de um texto, bem como da forma como acontece a interação entre o próprio leitor e o conteúdo que acessa. Pois, também aí, nos serve o ditado popular do cada um no seu quadrado! Linguagem poética para poemas; erudita para textos eruditos; formais para documentos oficiais, coloquial na linguagem falada, e, na escrita, e em especial nos textos que abordam temas espiritualistas ou de autoconhecimento, um vocabulário leve, fluente
 mas não necessariamente pobre de recursos, esteticamente sem brilho, banal, ou vulgar!

 

Com o devido perdão, então, e de dentro do meu estilo próprio, esclareço que, em absoluto, não "encho linguiça". Ao contrário, luto bravamente com o limite de caracteres de sites para os quais colaboro como colunista para adequar a maior parte dos meus textos e não por buscar excessos de vocabulário que encham numericamente parágrafos. Em assuntos espiritualistas, sempre há muito a se dizer! E, para cada situação, se pede não apenas clareza, mas, como dito, a estética da leitura agradável e a correção gramatical, por amor da grande beleza inerente ao universo destes temas!


É admissível usar-se expressões coloquiais e bem-humoradas
jamais, porém, amesquinhando assuntos relacionados a temas de grande significação para o espírito humano, expressando-nos sobre eles com termos vulgares ou que estejam dentro dos jargões de mau gosto da época de contrastes caóticos em que vivemos.


 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita