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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 282 - 14 de Outubro de 2012

LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)
 

Reflexões sobre o cotidiano


Não estamos no mundo para aniquilar o que é imperfeito, mas para
completar o que se encontra inacabado”. –
Emmanuel (2)


Na II Epístola aos Coríntios, capítulo 13, versículo 7, Paulo de Tarso diz textualmente: “Estamos orando a Deus para que não façais mal algum, não para que simplesmente pareçamos aprovados, mas para que façais o bem...”.

É interessante notar a postura que cada um de nós assume ante o compromisso de fazer o bem. Quase sempre desejamos que seja feito da forma como idealizamos e, não se podendo executar dessa maneira, preferimos nada fazer.

Vaidade ou fuga? Presunção ou preguiça? Melhor será que, diante de tal situação, examinemos com juízo qual é o sentimento verdadeiro que nos move a ação. A transparência no julgamento íntimo é base fundamental para que possamos encarar as nossas imperfeições e fragilidades. 

Tentar a fuga do compromisso, imaginando que o outro é o culpado pela nossa desistência é, no mínimo, uma atitude infantil. Pretender que somente a solução que temos para resolver a questão seja a única, por ser a melhor, e que, portanto, deve ser seguida por todos, mostra, certamente, quanto o egoísmo ainda se faz presente nas nossas atitudes, fazendo-nos imaginar que somos o centro do mundo, seja no círculo doméstico ou não. 

A assertiva de Paulo nos propõe, assim, um exame mais cuidadoso dessas nossas atitudes, frente às inúmeras oportunidades que temos para fazer o bem e não o fazemos.  

Examinemos essa colocação por alguns instantes: estamos inseridos em um grupo familiar que é, na verdade, uma terra fértil a ser cultivada. Não ignoramos seja o lar a primeira escola de amor que frequentamos na nossa jornada evolutiva e, portanto, torna-se fundamental que aprendamos a lutar para que a harmonia ali se instale – e permaneça – entre todos os seus membros. É imprescindível verificarmos o quanto cada um pode fazer pelos demais, colocados que estamos, todos, no mesmo cadinho, ajudando-nos mutuamente a crescer moralmente. 

Ampliando um pouco mais essas relações humanas, encontramos nosso local de trabalho, não importando se é para o sustento material ou espiritual. Também ele é, sem sombra de dúvida, uma terra a ser tratada, na medida em que esses companheiros de jornada configuram-se como plantas a serem amparadas para que floresçam e produzam o melhor.  

Mas também vivemos em sociedade, em comunidades maiores que com suas chagas sociais – compreensíveis numa coletividade de Espíritos imperfeitos – movimentam nossas emoções e nos oferecem imensas possibilidades de correção e aperfeiçoamento das nossas próprias mazelas, permitindo, a cada um de nós, um proceder honesto de apoio aos semelhantes com a força moral do bom exemplo. Não se resolve problema algum criticando a atitude do outro. Ensina-se com o exemplo. Aprende-se com ele. 

Gostaríamos, sem dúvida, de secar as lágrimas de todos os sofredores da Terra; entretanto, isso não é possível e, por causa disso, nada fazemos. Mas será que não teríamos condição de atenuar o sofrimento de um amigo, de um vizinho, mostrando a ele que o amor não desapareceu do planeta e que a esperança deve persistir em seu coração? A pessoa, quando se sente só e desesperançada, não precisa de muito. Bastam, às vezes, palavras de conforto, de confiança, de compreensão do seu problema. Ela necessita, tão-somente, compartilhar a sua dor, e essa atitude de solidariedade que podemos ter – e não nos custa nada – pode fazer toda a diferença para quem sofre. 

Desejaríamos que nossos familiares não tivessem problemas, mas é impossível evitá-los. Todavia, nada e nem ninguém nos impede de ajudar aquele mais necessitado; e mesmo nessa impossibilidade é possível cooperar para que a tranquilidade na casa possa ser instalada. Emmanuel alerta: “O Senhor nunca nos solicitou o impossível e nem nunca exigiu da criatura falível espetáculos de grandeza compulsória”. (1)   

Existem sobre o planeta, é verdade, inúmeros desertos, mas também encontramos pequeninas fontes, fecundando o chão por onde passam. Deus sabe das nossas limitações e não podemos ter a pretensão de ser Seus colaboradores nas grandes obras – isso Ele realiza sozinho –, mas, sim, de nos conscientizarmos de que somos peças fundamentais nas pequeninas. 

Meditemos: o que seria do mar se não fossem as pequenas fontes que correm em sua direção? “Não nos é facultado corrigir todos os erros e extinguir todas as aflições que campeiam nas trilhas da existência, mas todos podemos atravessar o cotidiano, melhorando a vida e dignificando-a, em nós e em torno de nós.” (1) 


Bibliografia

1 – EMMANUEL (Espírito) – Palavras de Vida Eterna, [psicografia de F. C. Xavier], 20ª ed., CEC Editora – Uberaba, MG – Lição 78. 

2 - Vinha de Luz, [psicografia de F. C. Xavier], 14ª ed., FEB Editora – Brasília, DF – Lição 32.
      

 

 


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