Novas e merecidas alocações reencarnatórias
“(...) Mais do que geralmente se pensa, o avental roça pela toga bordada...” – Clara Rivier.
O sentido da frase em epígrafe é revelado por Kardec com sua habitual, contundente e insofismável lógica1: “(...) Esta imagem belíssima é alusão aos Espíritos que, de uma a outra existência, passam de brilhantes a humílimas condições, expiando muitas vezes o abuso em relação aos dons que Deus lhes concedeu”.
Ah! Reencarnação! “Se você não existisse, seria preciso inventá-la!”, disse com outras palavras, mas com muita propriedade, Kardec, ao parafrasear um Benfeitor Espiritual...
Realmente, a reencarnação aliada aos ensinamentos de Jesus corrige tudo! É só dar-lhe tempo, posto que ela é um dos principais dispositivos do mecanismo da Justiça Divina.
Allan Kardec, o nobre Codificador do Espiritismo, deixa muito claro que a reencarnação – a princípio – não é um castigo, mas pode tornar-se tal para os que usam mal da liberdade que Deus lhes concede, retardando, assim, a caminhada evolutiva; e quanto mais se obstinam na rebeldia, mais prolongado e áspero se torna o carreiro palingenésico.
Entanto, para quem sabe aproveitar o ensejo reencarnatório, “menos longas lhes serão as Eternidades”, porque estarão cumprindo os desígnios cuja execução Deus lhes confia. Esses trabalham de fato, pelo próprio progresso moral e, além de abreviar o tempo da encarnação material, podem também transpor de uma só vez os degraus intermédios que os separam dos mundos superiores.
Cornélio Pires, através da singular mediunidade de Chico Xavier, soube, com maestria, falar sobre as novas e merecidas alocações reencarnatórias de inúmeras criaturas que já passaram pelo nosso planeta. Vejamos algumas dessas espirituosas, mas não menos realistas quadrinhas: “Tonico viveu na farra/Bebendo pinga aos canecos/Hoje é homem renascido/De fígado em pandarecos”.
“Pessoas que noutro tempo/Plantaram difamação/Formam agora famílias/No mundo da obsessão.”
“Foi-se Gina, a professora,/Tinha nojo de ensinar,/Mas renasceu... É a porteira/De humilde grupo escolar.”
“Renasceu Juca... Vivia/De tomar a terra alheia/Agora ganha somente/Suando na pá de areia.”
“Três homens foram ao crime/Por causa de Florisbela/Noutra Vida, todos três/São agora filhos dela.”
Não sei se foi Cornélio Pires ou outro Espírito, tão sábio e espirituoso quanto ele, que, conhecendo perfeitamente o fato de que a nossa parentela consanguínea nem sempre é a nossa parentela espiritual, visto que relações mal alinhavadas no passado podem provocar uniões familiares penosas, com finalidade de se vivenciar o amor de maneira mais efetiva, fez a seguinte quadrinha: “Quem já venceu nesta lida/Mágoas e ódio mordentes/Consegue nascer na outra Vida/Com muito poucos parentes”.
“O princípio da reencarnação” – diz ainda o notável Mestre Lionês – “era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo.”
Por conhecer profundamente todas essas questões é que Joanna de Ângelis afirma, sem rebuços, em pleno uso de seu extraordinário descortino intelectual: “(...) Todos renascem assinalados pelos caracteres trazidos da vida espiritual onde foi cultivada a aflição ou a ventura decorrente da jornada precedente...
(...) Soberanos vaidosos e cruéis acordam no corpo carnal estigmatizados pela micro, macro ou hidrocefalia, recordando as velhas e pesadas coroas; triunfadores e generais despertam nas trincheiras da loucura ou nas cidadelas da idiotia; viajantes das altas linhagens recomeçam cobertos de pústulas, vencidos pelas diversas manifestações de sífilis, da hanseníase, do câncer; negociantes regalados e administradores eminentes ressurgem, após os funestos fracassos, nas amarras da paralisia; artistas e religiosos de relevo, intelectuais e estudiosos prevaricadores reaparecem consumidos pela insânia, com desordens psíquicas irreversíveis; campeões da beleza física ocultam-se em deformidades orgânicas e mentais quais esconderijos-fortaleza onde buscam o esquecimento, torturados, quase sempre, pelo sexo, em invencível descontrole... E muitos dos seus antigos escravos e servidores humílimos ofereceram maternidade e braços em forma de socorro e lar para os recambiarem, trazendo-os de novo ao palco da matéria densa... Reiniciam em pranto o caminho que perderam em orgias...”.
Por tudo isso é que Jesus, o Meigo Rabi, legislou enfático:
“A cada um será dado de acordo com as suas obras”.
Tal é o “cardápio” seguido pela reencarnação. Tomemos tento, pois!