ALESSANDRO VIANA
VIEIRA DE PAULA
vianapaula@uol.com.br
Itapetininga,
SP(Brasil)
Renúncias
educativas
Quando os
Espíritos
superiores se
comunicam com os
encarnados
através da
mediunidade,
sempre se
utilizam de uma
linguagem nobre,
elevada,
convidando-nos a
uma atitude mais
espiritualizada,
consentânea com
as propostas
morais do
Cristo, a fim de
que possamos
crescer
intelectual e
moralmente, pois
esta é a meta da
reencarnação que
nos fará
plenamente
felizes.
Em muitas
mensagens
ditadas pelos
guias
espirituais
iremos nos
deparar com
palavras ou
expressões
profundas do
ponto de vista
moral, que, num
primeiro
momento, nem
sequer
conseguimos
aquilatar a sua
extensão e
aplicabilidade
em nossas vidas,
sendo
necessários
tempo e
maturidade para
que percebamos o
seu conteúdo e
comecemos a nos
esforçar para
colocar em
prática na pauta
das nossas
vidas.
Dentre essas
expressões
profundas,
destaco
“renúncias
educativas”, que
está inserida na
obra “Minha
Família, o Mundo
e Eu”, ditada
pelo Espírito
Camilo ao médium
José Raul
Teixeira, no
oitavo capítulo,
e está colocada
na seguinte
frase: “Como
a criatura
terrestre, em
geral, ainda tem
grande
dificuldade de
distinguir as
variadas nuanças
do amor, e maior
dificuldade
ainda de
empreender
renúncias
educativas...”.
A palavra
“renúncia” nos
dá o sentido de
que ainda há
algo negativo
que faz parte da
nossa cogitação
mental, da nossa
inclinação, do
nosso perfil
psicológico e
muitas vezes do
nosso hábito
diário, que
irrompe do
íntimo do
espírito, do
inconsciente,
fruto das
reiteradas
escolhas
equivocadas de
vidas transatas,
de forma que
ainda é uma
questão moral
não superada por
nós.
A palavra
“educativa”
exprime o
resultado
positivo que
advirá quando
conseguirmos nos
abster de
determinada
conduta, ainda
que a custo de
muito sacrifício
e disciplina.
O Livro dos
Espíritos nos
ensina que
educar é a arte
de formar
caracteres, bons
hábitos,
atitudes
elevadas, de tal
sorte que, à
medida que
renunciamos às
inclinações
indesejadas,
vamos
construindo
novas posturas
perante a vida,
paulatinamente,
até o momento em
que o novo
hábito passa a
ser natural,
espontâneo, e se
converte em
conquista
definitiva do
Espírito.
Quando isso
ocorre, não há
mais renúncia,
sacrifício,
porque passamos
a agir natural e
equilibradamente
no campo do bem
e da paz, sem
que o gesto de
renúncia gere
qualquer
desconforto ou
atrito em nossa
intimidade.
Por essa razão,
acreditamos ser
incorreta a
afirmação de que
Jesus, durante
toda a sua vida
física, se
sacrificou por
nós. Na
realidade, por
ser um Espírito
puro, tudo que
Jesus fez e
realizou em nome
do amor não era
um sacrifício ou
uma renúncia,
mas um gesto
espontâneo,
natural de um
Espírito mais
elevado que
desejava ensinar
e acolher os
irmãos mais
atrasados.
A religião
espírita nos
ensina que somos
Espíritos
imortais
destinados à
perfeição
relativa, isto
é, que, em
termos
evolutivos,
chegaremos o
mais próximo
possível de
Deus, mas nunca
o igualaremos,
porque Ele é
único. Esse é o
convite de Jesus
ao nos convocar:
“Sede
perfeitos como
perfeito é Vosso
Pai Celestial”.
Dessa forma,
devemos
valorizar
intensamente a
presente
reencarnação,
que é uma bênção
divina a nos
permitir o
progresso, de
modo que toda
renúncia em
favor da nossa
evolução
espiritual será
significativa,
abrindo portas
para novas
conquistas no
rumo do
infinito.
No nosso
cotidiano temos
vários exemplos
de renúncias que
nos trariam paz
de consciência e
alegria de viver
pelos resultados
morais almejados
e conquistados.
Quantas vezes
chegamos ao lar
após um dia
cansativo de
trabalho e nos
deparamos com
alguns
familiares
exaltados,
irritados, tudo
a fomentar uma
grande
discussão, ou,
em outras
ocasiões, alguns
assuntos
triviais
terminam em
brigas intensas.
Aquele que
conhece as
propostas do
evangelho
deveria
renunciar e
silenciar, não
alimentando a
fogueira da
discussão. Se
for necessário
falar algo, que
seja em tom
pacífico ou
cordial, sem
agressividade,
ainda que os
demais não
entendam e
tentem agravar a
situação, afinal
de contas, o
nosso desejo é
de fomentar a
paz no lar.
Sabemos que não
é fácil
exercitar a
caridade do
silêncio ou da
boa palavra, não
só no ambiente
doméstico, mas
na vida social e
no campo do
trabalho
profissional,
mas temos a
certeza de que
será a melhor
atitude para a
nossa paz
interior,
portanto,
renunciemos,
calemos a nossa
revolta
interior,
façamos o
sacrifício de
ser ofendidos
sem ofender,
tudo de
conformidade com
o ideal
religioso que
elegemos para
nossa vida.
Quantos finais
de semana ou
algumas manhãs
não advêm uma
preguiça
incontrolável e
uma vontade de
não fazer nada,
simplesmente de
ficar na cama
por horas e
horas, ou de
ficar em casa
“matando o
tempo”.
À luz da
religião
espírita,
sabemos que
temos que
aproveitar o
tempo da melhor
maneira
possível, de
forma que seria
improdutivo
desperdiçarmos
as horas.
Ao acordar na
hora aprazada,
em nome da
renúncia que
sublima, vamos
levantar da
cama, felizes
por mais um dia
que a divindade
nos concedeu, e
aproveitemos
melhor o tempo,
com uma leitura
saudável, uma
boa caminhada,
alguns minutos
de meditação,
uma música de
boa qualidade
etc.
Nos finais de
semana poderemos
ter um tempo
para descansar,
para estar com
nossos
familiares,
muitas vezes uma
boa viagem, mas
deveremos evitar
os exageros, de
forma que
incluiremos em
nossa pauta uma
visita a algum
enfermo, uma
ajuda a alguém
carente,
assistir a uma
boa palestra ou
a um programa de
televisão que
nos acrescente
algo, ainda que
seja um
sacrifício.
No campo da
leitura temos
obras espíritas
de excelente
qualidade
doutrinária,
mas,
infelizmente,
muitos espíritas
não gostam de
ler e justificam
dizendo que
certos Espíritos
escrevem ou
ditam mensagens
com conteúdo e
palavras
difíceis,
complicadas.
Frise-se que a
linguagem dos
Espíritos sérios
é elevada,
nobre, conforme
consta de O
Livro dos
Médiuns, de
forma que
caberia a nós o
sacrifício de,
se necessário,
buscar um
dicionário e ler
as belíssimas
obras espíritas
e as não
espíritas que
tenham conteúdo
digno, com o
escopo do nosso
crescimento
intelectual.
Muitos de nós
somos acomodados
e queremos
respostas
prontas,
rápidas, e para
tanto vivemos
consultando os
médiuns, os
líderes
religiosos,
quando
deveríamos
renunciar ao
nosso comodismo
e nos educar com
as leituras, que
nos libertam da
ignorância.
Quantas vezes
uma lição, uma
frase nos
preenchem e
apontam caminhos
antes não
imaginados.
Em outras
ocasiões, somos
vítimas das
perseguições ou
das calúnias
alheias e
sentimos vontade
de revidar, pois
ficamos
ressentidos com
a situação.
Devemos
renunciar ao
desejo de
revide, contendo
a mágoa ou o
ressentimento, a
fim de que não
se converta em
ódio. Pode ser
que em alguns
momentos
sintamos vontade
de ofender ou de
desabafar
agressivamente,
mas cabe-nos a
avaliação íntima
de que essas
condutas não
valerão a pena e
apenas nos
infelicitarão.
Na área da
sexualidade, os
Espíritos nos
orientam que o
instinto sexual
é um dos mais
vigorosos, de
tal sorte que
muitos de nós
buscamos o sexo
irresponsável,
casual, sem a
presença do
amor, e somos
indisciplinados
nesse item, uma
vez que a busca
do prazer passa
a ter prioridade
em nossa vida.
Os índices de
traição nos
relacionamentos
conjugais estão
acima de
cinquenta por
cento, o que
revela o
descontrole da
criatura humana
quando o assunto
é sexo. A
sensualidade é
explorada pela
mídia e está na
mente de grande
parte dos
indivíduos, de
forma que,
muitas vezes,
nos
comprometemos
num minuto de
descuido, de
descontrole, a
gerar futuros
compromissos
dolorosos.
Alguns não
extravasam a
libido em
descontrole, mas
a mantêm em
níveis mentais,
gerando
sintonias
obsessivas de
resultados
danosos.
Assim sendo,
devemos lutar
contra essas más
inclinações,
renunciando a
esses prazeres
de curta
duração, a fim
de preservarmos
a saúde
espiritual, que
trará felicidade
duradoura.
No que diz
respeito ao
exercício da
mediunidade, os
Espíritos nos
revelam a
importância da
disciplina no
dia da reunião.
O correto é que
todos os nossos
dias fossem
pautados pelas
renúncias
educativas, mas
como temos
dificuldade para
atingir esse
objetivo, pelo
menos no dia do
compromisso com
a mediunidade
deveremos nos
abster de
determinadas
condutas.
No dia da
reunião
mediúnica
deveremos
renunciar à
alimentação
desregrada, às
discussões
domésticas, aos
pensamentos de
má qualidade, ao
desregramento do
horário, para
que possamos
chegar a tempo
na Casa Espírita
e com relativo
equilíbrio com a
meta do
exercício
saudável da
mediunidade.
À medida que
vamos
habituando-nos a
essas renúncias
educativas no
dia da reunião
mediúnica, logo
seremos capazes
de estendê-las
para os demais
dias da semana,
educando-nos
para uma vida
plena. Como
dizia Jesus:
“Venho para que
tenhais vida em
abundância”.
Diante do
exposto, devemos
meditar a
respeito dessas
e de outras
renúncias que
nos ajudarão a
atingir a
plenitude
espiritual.
Certamente será
útil lutar
contra as nossas
más inclinações,
promovendo em
nosso íntimo o
“bom combate”,
conforme nos
ensina Paulo de
Tarso.
O Espiritismo
nos elucida
sobre a lei de
causa e efeito,
portanto, temos
plena ciência de
que muitos
deslizes morais
poderão
acarretar
futuras
reencarnações
dolorosas, bem
como entendemos
que todo empenho
no campo do bem
proceder nos
fará
verdadeiramente
felizes,
eliminando a
necessidade da
expiação, da
reparação dos
males causados a
si mesmo e a
outrem.
Por derradeiro,
nas horas
difíceis, em que
o instinto e a
força bruta
estão querendo
se sobrepor aos
sentimentos, à
razão,
lembremo-nos de
orar a Deus,
haurindo as
energias
vigorosas que
nos inspirarão a
ação digna, para
que possamos ter
forças para
renunciar aos
velhos hábitos,
pois, hoje,
iluminados pela
veneranda
religião
espírita e pelo
evangelho de
Jesus, desejamos
ser um homem
novo, que
entende o valor
inestimável do
conhecimento e
do amor, e que
está plenamente
consciente de
que “tudo nos
é lícito, mas
nem tudo nos
convém”.
(Paulo de
Tarso).