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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 283 - 21 de Outubro de 2012

ALTAMIRANDO CARNEIRO
alta_carneiro@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 

A maior história de todos
os tempos


Apesar de todas as evidências da passagem de Jesus na Terra, não faltaram estudiosos e pesquisadores descrentes, para dizerem que esta passagem não teria existido. A ideia de que Jesus teria sido um mito levou pesquisadores europeus a escreverem livros a respeito. Mas toda a iniciativa neste sentido foi em vão, diante das provas inquestionáveis da existência de Jesus.

Jesus não está na História. Ele fez a História. O escritor, filósofo, filólogo e historiador francês, Ernesto Renan, disse que o nascimento de Jesus foi tão importante que o seu berço não coube na História da Humanidade. O mundo em que vivemos é o mundo cristão, nascido dos ensinamentos de Jesus.

Também na época de hoje alguns descrentes dizem que não se pode acreditar numa história contada pelos Evangelhos, escritos muitos anos depois da passagem do personagem principal.

Sim. Os Evangelhos foram escritos depois da passagem de Jesus na Terra, mas tem um detalhe. Conforme explica Léon Denis, no primeiro capítulo da obra Cristianismo e Espiritismo (FEB), as palavras de Jesus, que nada escreveu, foram disseminadas ao longo dos caminhos, transmitidas de boca em boca e, posteriormente, transcritas em diferentes épocas, muito depois da sua morte. Uma tradição religiosa formou-se pouco a pouco, sofrendo constante evolução até o século quatro.

“Durante esse período de trezentos anos, a tradição cristã jamais permaneceu estacionária, nem a si mesmo semelhante”. (...) “Durante perto de meio século depois da morte de Jesus, a tradição cristã, oral e viva, é água corrente em que qualquer um pode saciar. Sua propaganda se fez por meio de prédica, pelo ensino dos apóstolos, homens simples, iletrados, mas iluminados pelo pensamento do Mestre.” Uma nota de rodapé excetua Paulo, versado nas letras. Lembramos também que Lucas foi um médico grego que viveu na cidade grega de Antioquia, na Síria Antiga. Foi discípulo de Paulo.

Os rabinos judeus diziam que um bom discípulo é semelhante a uma cisterna sem rachaduras. Assim como a cisterna não deixa escapar uma gota sequer de água, o bom discípulo não deixa escapar nada daquilo que aprendeu de seus mestres.

“Não é senão do ano 60 ao ano 80 que aparecem as primeiras narrações escritas, a de Marcos, a princípio, que é a mais antiga, depois as primeiras narrativas atribuídas a Mateus e Lucas, todas, escritos fragmentários e que se vão acrescentar de sucessivas adições, como todas as obras populares.”

Em nota de rodapé, Léon Denis informa que A. Sabatier, diretor da Seção dos Estudos Superiores, na Sorbone, em Os Evangelhos Canônicos, pág. 5, diz que a Igreja sentiu a dificuldade em encontrar novamente os verdadeiros autores dos Evangelhos. Daí a fórmula por ela adotada: Evangelho segundo...

Foi somente no fim do século I, de 80 a 98, que surgiu o Evangelho de Lucas, assim como o de Mateus, o primitivo, atualmente perdido; finalmente, de 98 a 110, apareceu, em Éfeso, o Evangelho de João.

Quando Jesus começou a ensinar as suas lições, vigoravam as chamadas Leis de Deus, os Dez Mandamentos, recebidos por Moisés no Monte Sinai, e as leis civis ou disciplinares, criadas por Moisés para disciplinar o povo da época. Jesus substituiu as leis criadas por Moisés, que eram baseadas no olho por olho e no dente por dente, por leis baseadas na caridade, na humildade e no amor ao próximo e simplificou os Dez Mandamentos em dois mandamentos apenas: amar a Deus e amar ao próximo.

Por isso, compreende-se por que o fariseu doutor da lei, para O tentar, lhe perguntou: – “Mestre, qual é o grande mandamento da lei?”. Jesus lhe respondeu: – “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito: este é o maior e o primeiro mandamento. E aqui tens o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses mandamentos”. Realmente. Se além de amarmos a Deus, amarmos também o próximo, não faremos nada de mal para com o semelhante e cumpriremos, assim, todas as dez proibições dos Dez Mandamentos. Se Jesus tivesse apenas ensinado e não tivesse dado o exemplo de tudo o que ensinou, Ele não teria sido o modelo que é para a Humanidade. Neste sentido, na questão 625 de O Livro dos Espíritos, há a pergunta de Allan Kardec e a resposta dos Espíritos: – Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?

E a resposta: – Vede Jesus.

Allan Kardec complementa o assunto com as seguintes considerações: “Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra. Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus, algumas vezes, os desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por pensamentos demasiados terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentam como leis divinas aquelas que eram apenas leis humanas, instituídas para servir às paixões e dominar os homens”.

Jesus ensinou o homem a pensar, a usar a fé raciocinada, como no episódio do pagamento do tributo a César (Mateus, 22: 15 a 22), (Marcos, 12: 13 a 17), (Lucas, 20: 19 a 26), quando os fariseus enviaram seus discípulos, em companhia dos herodianos, que perguntaram a Jesus: – “É-nos permitido pagar ou deixar de pagar a César o tributo?”. Jesus pediu-lhes para que lhe apresentassem uma das moedas que se dão em pagamento ao tributo. E tendo eles lhe apresentado um denário, perguntou Jesus: – “De quem são esta moeda e esta inscrição?”. – “De César” – responderam-lhe eles. E Jesus observou: – “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

A fé raciocinada foi valorizada pelo Espiritismo. O capítulo 19 de O Evangelho segundo o Espiritismo (A fé que transporta montanhas) explica que a fé pode ser raciocinada eu cega. A fé cega é a que aceita, sem verificação, tanto o verdadeiro como o falso e a cada passo se choca com a evidência e com a razão. Quando levada ao excesso, produz o fanatismo. E quando persiste no erro, cedo ou tarde desmorona. Já a fé raciocinada, que se baseia na verdade, nada tem a temer do progresso, pois tanto é verdadeira na obscuridade, como na luz meridiana. É a fé inabalável, que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. Neste sentido, Allan Kardec, considerado por Camille Flammarion como o Bom Senso Encarnado, mostrou toda a sua inteligência, toda a sua grandeza de espírito, na Codificação da Doutrina Espírita.

Existem dois pontos destacados por Allan Kardec na codificação do Espiritismo, que mostram toda a sua sapiência. O primeiro ponto é o da compreensão de Deus, não como o Deus do toma lá, dá cá, da época de Moisés, que teve de apresentar Deus dessa maneira, devido ao estágio espiritual do povo da época, mas um Deus de amor e bondade, que não castiga nem premia, e dá o livre-arbítrio a todos os seus filhos, a quem cabe escolher os bons e os maus caminhos. E como a semeadura é livre e a colheita é obrigatória, todos colhem aquilo que eles mesmos semearam.

É no Evangelho de João (4: 23 e 24) que encontramos um dos pontos altos do encontro de Jesus com a mulher samaritana: – Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que adoram o adorem em espírito e verdade”.

A questão 649 de O Livro dos Espíritos registra a pergunta de Allan Kardec e a resposta dos Espíritos sobre a adoração: Em que consiste a adoração? – É a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração, o homem aproxima dEle a sua alma.

Pergunta 653: A adoração necessita de manifestações exteriores? – A verdadeira adoração é a do coração. Em todas as vossas ações, pensai sempre que o Senhor vos observa. 

Outro ponto é o da aliança da Ciência com a Religião. O item 8 do primeiro capítulo (Não vim destruir a lei) de O Evangelho segundo o Espiritismo, explica: “A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância”. Por tudo isso, Emmanuel, em mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, fala sobre a identidade de Jesus com Allan Kardec. A mensagem intitula-se “O Mestre e o Apóstolo". Ei-la:

"Luminosa, a coerência entre o Cristo e o Apóstolo que lhe restaurou a palavra.

Jesus, o Mestre. Kardec, o Professor.

Jesus refere-se a Deus, junto da fé sem obras. Kardec fala de Deus, rente às obras sem fé.

Jesus é combatido, desde a primeira obra do Evangelho, pelos que se acomodam na sombra. Kardec é impugnado desde o primeiro dia do Espiritismo, pelos que fogem da luz.

Jesus caminha sem convenções. Kardec age sem preconceitos.

Jesus exige coragem de atitudes. Kardec reclama independência mental.

Jesus convida ao amor. Kardec impele à caridade.

Jesus consola a multidão. Kardec esclarece o povo.

Jesus acorda o sentimento. Kardec desperta a razão.

Jesus constrói. Kardec consolida.

Jesus revela. Kardec descortina.

Jesus propõe. Kardec expõe.

Jesus lança as bases do Cristianismo, entre fenômenos mediúnicos. Kardec recebe os princípios da Doutrina Espírita, através da mediunidade.

Jesus afirma que é preciso nascer de novo. Kardec explica a reencarnação.

Jesus reporta-se a outras moradas. Kardec menciona outros mundos.

Jesus espera que a verdade emancipe os homens; ensina que a justiça atribui a cada um pelas próprias obras e anuncia que o Criador será adorado, na Terra, em espírito. Kardec esculpe na consciência as leis do Universo.

Em suma, diante do acesso aos mais altos valores da vida, Jesus e Kardec estão perfeitamente conjugados pela Sabedoria Divina.

Jesus, a porta. Kardec, a chave.”



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita