GERSON SIMÕES
MONTEIRO
gerson@radioriodejaneiro.am.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
O perigo da instalação
de
um Estado teocrático
Analisando a atual
conjuntura, penso que
nos falta assumir na
atualidade a
responsabilidade
coletiva sobre nossas
mazelas sociais. Se elas
existem em nosso meio é
porque nós as criamos;
cabe-nos resolver o
problema. E é justamente
aí que deveria entrar a
política, como ciência
destinada à promoção do
bem comum, tal como foi
formulada pelos antigos
gregos, passando pela
contribuição oferecida
pelos romanos, no campo
do Direito, e se
aperfeiçoando com a
formatação do Estado
Moderno.
Sócrates e Platão
entendiam que a classe
política deveria ser
formada pelos filósofos.
Só os amigos da
sabedoria teriam o
discernimento para
formular políticas de
bem comum, fundadas na
virtude e na justiça.
Allan Kardec, séculos
depois, falaria de uma
“aristocracia
intelecto-moral”,
literalmente o poder
dos melhores, à qual
as sociedades
entregariam seus
governos. Estamos muito
distantes dela.
Descuidamo-nos da
educação, base essencial
para a formação de uma
sociedade que se
capacite a criar uma
classe política com
essas características.
A grande discussão de
nosso tempo versa sobre
o aspecto econômico.
Insiste-se na tese de
que criando bens de
consumo, estimulando a
economia, que é um meio
e não um fim em si
mesma, resolveremos
todos os problemas
sociais vigentes. A
política, que é
essencial, está
inteiramente subordinada
à economia, que é
acessória. Enquanto
isso, a ignorância
persiste, a violência
cresce e a miséria
aumenta.
Outra questão que não se
pode perder de vista é a
real aplicação do
princípio do laicismo na
política, que se
confunde com o chamado
liberalismo político,
cujos fundamentos devem
prevalecer numa
sociedade
verdadeiramente
democrática. O
liberalismo político,
doutrina que visa
estabelecer a liberdade
política do individuo em
relação ao Estado,
estabelece a separação
entre a Igreja e o
Estado; exige que a
atividade estatal se
restrinja à proteção da
liberdade religiosa,
liberdade de imprensa
(direito de expressão),
assim como assegura o
direito de propriedade
individual (propriedade
privada). Tais são as
características de um
Estado democrático.
O nosso País, por essa
razão, necessita
consolidar a Democracia
preservando a condição
de Estado laico, e, para
tanto, precisa evitar
todas as formas
possíveis de
estabelecimento de um
governo teocrático,
administrado por
religiosos, para não
retroagirmos à Idade
Medieval. Se tal fato
acontecer, a democracia
será destruída pelo
“fundamentalismo em nome
de Deus”, fato ocorrido
em pleno século XX no
Afeganistão, sob a
liderança religiosa dos
Talibãs.
Não resta dúvida de que
a personalidade cidadã é
de natureza
predominantemente
política, integrante de
sua constituição humana.
Foi Aristóteles, talvez,
o primeiro a bem
identificar esse traço –
o político – tão
marcante da natureza
humana, quando afirmou:
“O homem é um animal
político”. Portanto,
não pode ele se
descartar de sua
essência política e
social. Porém, o
religioso, como cidadão
que é, e nessa
qualidade, membro nato e
obrigatório de uma
sociedade e de um
Estado, não pode
alhear-se dos fatos, dos
problemas e dos rumos
coletivos do povo.
É lógico que como
cidadão, e
exclusivamente como tal,
o religioso poderá
filiar-se a um partido
político, apoiar
candidatos a cargos
eletivos ou
candidatar-se a funções
políticas. A
ilegitimidade perante a
religião é a conexão
danosa da atuação
político-partidária dos
religiosos. A fusão das
duas personalidades em
atos políticos formais é
viciosa e altamente
prejudicial.
Essa conjunção maliciosa
acontece quando o
seguidor procura
envolver as entidades e
as comunidades
religiosas na política
partidária. Tal
interdição incide nos
seguintes pontos:
declarar-se perante o
eleitorado como membro
de determinada religião;
inculcar-se como
candidato de uma
comunidade religiosa; e
pedir apoio às
comunidades religiosas
às quais esteja ligado.
Esses pontos
caracterizam a atuação
política indesejável da
pessoa, misturando, por
exclusivo interesse
pessoal, as duas
personalidades: a do
cidadão político e a do
religioso, nos mesmos
atos.