MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
3)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Pedro Neves tinha
alguma experiência em
atividades socorristas?
Sim. Ele já havia atuado
em diversas comissões
socorristas, procurando
esclarecer Espíritos
revoltados e
modificá-los para o bem,
fazendo-lhes sentir que
as lutas morais, depois
da desencarnação, se
erigiriam igualmente em
penosa herança para
todos aqueles com os
quais se desarmonizavam,
ao mesmo tempo em que os
advertia de que o túmulo
esperava também quantos,
na Terra, lhes sonegavam
lealdade e ternura.
Nessa atividade, bastas
vezes, logrou acalmá-los
para a retirada
benéfica.
(Sexo e Destino,
capítulo III, pp. 26 a
28.)
B. Sua experiência na
atividade socorrista o
ajudava agora no trato
com o genro infiel?
Não. Segundo ele próprio
confessou, não pôde
controlar-se ao ver o
genro nos braços da
amante, motivo pelo
qual, tomado de cólera,
avançou qual fera
desacorrentada e
esmurrou a face do
esposo de sua filha, o
qual, devido à agressão,
caiu nos ombros da
amante, acusando
agoniada indisposição...
Uma entidade
desencarnada, de
semblante nobre e calmo,
aproximou-se então,
desarmando-lhe o íntimo.
"A mensageira anônima –
contou Neves –
recolocou-me no lar,
despedindo-se, delicada;
e depois disso não mais
a vi..."
(Obra citada, capítulo
III, pp. 26 a 28.)
C. Embora gravemente
enferma, Beatriz
preocupava-se com um
outro assunto. O que a
preocupava?
Ela estava preocupada
com Olímpia, uma senhora
pobre que perdera a casa
quase que totalmente.
Ela queria que o marido
cuidasse para que a
mulher e seus filhos
tivessem um abrigo
seguro. “Penso nela com
os filhos ao desamparo.
Tire-me dessa aflição”,
disse Beatriz ao esposo,
que informou ter
incumbido um amigo,
construtor experiente,
de ir até o local para
resolver a questão.
(Obra citada, capítulo
III, pp. 29 a 31.)
Texto para leitura
11. Neves fracassa
no teste - Pedro
Neves estacou numa
pausa, rearticulando os
pensamentos, e
continuou: "Tinha visto,
apavorado, em outro
tempo, aqueles que se
animalizavam, depois da
morte, nos lares que
lhes haviam sido reduto
à felicidade, a se
precipitarem,
violentos, sobre os
entes amados que lhes
desertavam da afeição...
Funcionara,
entusiasmado, em
diversas comissões
socorristas, procurando
esclarecê-los e
modificá-los para o bem,
e fazer-lhes sentir que
as lutas morais, depois
da desencarnação, se
erigiriam igualmente em
penosa herança para
todos aqueles com os
quais se desarmonizavam;
advertia-os de que o
túmulo esperava também
quantos, na Terra, lhes
sonegavam lealdade e
ternura... E, bastas
vezes, lograva
acalmá-los para a
retirada benéfica. Mas
ali... Imprudentemente
agastado contra a
insensibilidade do
homem que me desposara a
filha querida, vi-me
chamado a praticar os
bons conselhos que havia
administrado..." Neves
confessou, então, que
não pôde controlar-se,
pois, tomado de cólera,
avançou qual fera
desacorrentada e
esmurrou a face do
genro, que caiu nos
ombros da amante,
acusando agoniada
indisposição... Uma
entidade desencarnada,
de semblante nobre e
calmo, aproximou-se
então, desarmando-lhe o
íntimo. Não
entremostrava sinais
exteriores de elevação,
diferenciando-se apenas
por minúsculo distintivo
luminoso, que lhe
brilhava palidamente no
peito, qual joia rara a
emitir discreta
radiação. Falando-lhe
com bondade, demonstrou
conhecer Beatriz e o
convidou a acompanhá-la
ao quarto da enferma. "A
mensageira anônima –
contou Neves –
recolocou-me no lar,
despedindo-se, delicada;
e depois disso não mais
a vi..." André, ante
tais revelações,
recordou, emocionado, as
primeiras impressões que
lhe haviam transtornado
a alma, após a
desencarnação.
Sentiu-se, assim, mais
estreitamente ligado a
Neves, e comentou que
seus problemas,
atravessada a grande
barreira, foram também
enormes... A conversa,
contudo, não pôde
prosseguir, porque
naquele momento um
cavalheiro maduro e
simpático penetrou o
recinto. Era Nemésio, o
genro de Pedro Neves.
(Capítulo III, pp. 26 a
28)
12. Nemésio
conforta a esposa
- Nemésio dirigiu-se ao
quarto de Beatriz, onde
Marina o recebeu com
amável sorriso,
conduzindo-o à
cabeceira da esposa,
que passou a fitá-lo
entre confortada e
abatida. Beatriz
estendeu-lhe a mão
descarnada, que o marido
beijou. Trocando com ela
enternecido olhar,
acomodou-se Nemésio
rente aos travesseiros,
a endereçar-lhe
perguntas carinhosas, ao
mesmo tempo que lhe
alisava a descuidada
cabeleira. A enferma
disse algumas palavras
breves e ajuntou: "Nemésio,
você me perdoará se
volto ao caso de
Olímpia... A pobre
criatura perdeu a casa
quase que totalmente...
É necessário que você
lhe garanta abrigo
seguro... Penso nela com
os filhos ao desamparo.
Tire-me dessa
aflição..." O marido,
mostrando profunda
emotividade, respondeu,
cortês: "Beatriz, não há
dúvida alguma. Já enviei
um amigo, construtor
experiente, ao local.
Não se preocupe, tudo
faremos sem qualquer
sacrifício. Questão de
tempo..." Como a enferma
falava em partir,
Nemésio retrucou: "Não
me fale em pessimismo...
Ora, ora... Onde a
primavera de nossa casa?
Você anda esquecida de
que nos ensinou a
colocar alegria em
tudo?! Largue os ares
sombrios... Ainda ontem,
ouvi nosso médico. Você
entrará em
convalescença, já, já...
Amanhã, tomarei
providências definitivas
para que o barraco seja
levantado. Você estará
restabelecida em breve e
ambos iremos ao primeiro
café em casa de nossa
Olímpia..." Em face do
carinho do esposo,
Beatriz pareceu
reanimar-se e sorriu,
derramando duas lágrimas
de felicidade que o
esposo enxugou com
gracioso gesto.
Experimentando-se
mentalmente renovada, a
enferma acreditou no
reerguimento do corpo
físico e ansiou viver,
viver por muito tempo
ainda no aconchego
familiar. Em seguida,
solicitou de Marina uma
chávena de leite, que a
enfermeira lhe serviu,
comovida. Enquanto a
doente sorvia o líquido,
gole a gole, André
refletia na bondade
daquele homem que a
palavra de Neves
apresentara noutras
cores. O pensamento de
Nemésio revelara-se, até
ali, claro e puro.
Trazia Beatriz no
cérebro, nos olhos, nos
ouvidos, no coração e
lhe dispensava a
compreensão de um amigo
e a ternura de um pai.
Alguns momentos se
passaram e, quando a
enferma devolveu a
xícara, outro quadro se
desdobrou no recinto.
Por trás da cabeceira,
Nemésio estendeu a mão à
Marina, passando então a
falar brandas palavras
para a esposa, enquanto
afagava,
simultaneamente, os
róseos dedos da jovem...
André contemplou Nemésio,
admirado, e viu que seus
pensamentos, agora, se
alteravam, tornando-se
incompatíveis com a
sensação de
respeitabilidade que
ele antes lhe inspirara.
(Capítulo III, pp. 29 a
31)
13. Os planos de
Nemésio -
Retirando-se para o
aposento próximo, Neves
estava desapontado.
Arrojara-se o
companheiro ao clima da
dignidade ofendida,
como se a família
encarnada ainda lhe
pertencesse. Exprobrava
a conduta do genro;
exalçava os merecimentos
da filha; aludia ao
passado, quando ele
mesmo vencera lances
difíceis na luta
sentimental... André o
ouvia condoído e,
procurando confortá-lo,
lhe disse: "Não se
aflija. Desde muito
aprendi que para as
pessoas desencarnadas,
quase sempre, as portas
do lar se fecham no
mundo, quando a morte
lhes cerra os olhos..."
Nesse momento, Nemésio e
Marina penetraram a
câmara, fugindo à
presença da enferma, a
evidenciar no semblante
a expressão dos
namorados felizes,
quando alimentam o
clássico "enfim sós",
trancando-se contentes.
André quis sair, mas
Neves pediu-lhe que
ficasse: "Fique,
fique... Não louvo a
indiscrição; no entanto,
estou, ao lado de minha
filha, em sentido
direto, simplesmente há
alguns dias e devo saber
o que ocorre, para ser
útil..." No quarto,
Nemésio enlaçou a
enfermeira, a quem
acariciava,
prometendo-lhe unir-se a
ela logo que Beatriz
partisse... Pedia apenas
que ambos fossem bons
para a enferma, às
portas do fim, e
agradecessem ao Destino
que os livrava dos
aborrecimentos e
percalços de um
desquite... Beatriz,
segundo o médico, não
viveria mais que algumas
semanas e ele não
desejava que ela
partisse, nutrindo por
eles quaisquer
ressentimentos. Marina
retribuía os gestos de
carinho, mas apresentava
o fenômeno singular da
emoção jungida a ele e o
pensamento voltado ao
outro, empenhando-se,
por todos os meios, a
encontrar nesse outro o
incentivo necessário a
essa mesma emoção.
Nemésio confessou-lhe
devoção inexcedível e
prometeu abandonar, de
futuro, os negócios,
para viverem ambos,
felizes, na casa de São
Conrado, que
transformaria em bangalô
confortável, entre o
verde do mar e o verde
da terra. (Capítulo IV,
pp. 32 e 33)
14. Os conflitos
de Marina - A
conversa entre Marina e
Nemésio se processou num
jogo de manifestações
carinhosas em que a
sinceridade prevalecia
num lado e o cálculo no
outro. André percebeu,
contudo, estranha
ocorrência. Os dois
amantes comunicavam-se,
entre si, as mais ternas
expansões de
encantamento recíproco,
sem ser dissoluto, e
pareciam aderir,
automaticamente, às
impressões que Neves e
ele esboçavam, visto que
ambos acompanhavam os
mínimos gestos do casal,
prejulgando-lhe os
desígnios com o fundo de
suas próprias
experiências inferiores,
já superadas. A
expectativa maliciosa
dos dois amigos
desencarnados, aliada ao
espírito de censura,
estabelecia correntes
mentais estimulantes da
turvação psíquica de que
ambos se viam
acometidos, correntes
essas que, partindo dos
Espíritos na direção
deles, como que lhes
agravavam o apetite
sensual. De repente,
porém, a jovem
prorrompeu em pranto
copioso. Nemésio
beijou-lhe a face,
desejando aliviar-lhe a
tensão convulsiva, mas
Marina se fixava, cada
vez mais, no rapaz cuja
figura se lhe engastava
à imaginação.
Identificando a fase
perigosa da partida
infeliz a que se
lançara, Marina
aturdia-se, ali,
confundida entre
aflições e remorsos a
lhe arpoarem o coração.
As telas mentais da moça
contavam-lhe a história.
Ela se fizera querida de
Nemésio, sem dedicar-lhe
outros sentimentos que
não fossem
reconhecimento e
admiração... Agora,
porém, que os
acontecimentos lhe
impeliam a alma na
direção de laços mais
profundos, tremia pelas
indébitas concessões que
lhe havia feito, porque
sentia que amava até à
loucura o rapaz
franzino que se lhe
destacava do pensamento,
através de cativantes
apelos da memória.
Nemésio consolava-a,
formulando frases de
paternal solicitude, e
ela dissimulava,
atribuindo o pranto a
problemas domésticos.
Reportou-se, assim, para
tentar esquivar-se de si
mesma, a supostas
agruras do lar.
Salientou exigências
maternais. Referiu-se a
dificuldades
financeiras. Alegou
fantásticas humilhações
que colhia no trato da
irmã adotiva. Mencionou,
por fim, incompreensões
do pai, em rixas
constantes nos círculos
da família... (Capítulo
IV, pp. 34 e 35)
15. O benfeitor
Félix - Nemésio
reconfortou a jovem,
recomendando-lhe que
não se amofinasse,
porque não estaria a
sós, e tivesse
paciência, porquanto o
desenlace de Beatriz,
indicado para breves
dias, ser-lhes-ia o
marco fundamental da
ventura definitiva. Como
a moça não parasse de
soluçar, ele arrancou da
pasta um talão de
cheques, colocando-lhe
expressivo concurso
amoedado nas mãos.
Marina pareceu mais
comovida, exibindo no
rosto a apreensão de
quem se recriminava sem
qualquer justificativa,
ao passo que ele a
enlaçava, afetuoso.
Pedro Neves, não
obstante desencarnado,
parecia agora um homem
vulgar da Terra, que a
revolta azedara.
Sobrecenho crispado
alterava-lhe a feição no
desequilíbrio
vibratório que precede
as grandes crises de
violência e André
receava que o
companheiro fosse partir
para a agressão, quando
venerando amigo
espiritual penetrou a
câmara. Arrebatadora
expressão de simpatia
marcava-lhe a presença.
Radioso halo
circundava-lhe a cabeça;
no entanto, não era a
luz suave a se lhe
extravasar docemente da
aura de sabedoria que
impressionava e sim a
substância invisível de
amor que lhe emanava da
individualidade sublime.
Fluidos calmantes
banharam André por
inteiro, qual se ele
fosse visitado no âmago
do ser por inexplicáveis
radiações de envolvente
alegria. André
ergueu-se e foi então
que Neves, já
desanuviado e quase
sorrindo, propôs:
"André, abrace o irmão
Félix..." A amorável
Entidade adiantou-se e
abraçou André,
dizendo-lhe,
benevolente: "Grande
contentamento o de
vê-lo. Deus o abençoe,
meu amigo..." A comoção
imobilizava o autor de
"Nosso Lar", que, sem
poder exprimir em
palavras o que sentia,
osculou a destra do
Benfeitor com a
simplicidade de uma
criança, rogando-lhe,
mentalmente, receber as
lágrimas que lhe caíam
da alma, por mudo
agradecimento. (Capítulo
IV, pp. 36 e 37)
(Continua no próximo
número.)