GUARACI DE LIMA SILVEIRA
guaracisilveira@gmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil) |
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Sítios superficiais da
vida
Qual de nós pode avaliar
as bênçãos de uma
encarnação? Quantos por
ela passam quais aves
ligeiras a buscarem,
continuamente, apenas o
alimento imediato às
suas necessidades. A
encarnação de um
Espírito demanda
estudos, preparações,
ajustes e confianças
mútuas. Nos planos
espirituais as entidades
responsáveis por este
assunto se movimentam de
forma eficaz desde a
proposta inicial de um
novo roteiro até a
fixação do Espírito em
novo corpo de carne,
acompanhando-o pelos
primeiros anos da sua
nova existência física.
Semiadormecidos, os
Espíritos
recém-encarnados recebem
da espiritualidade, dos
pais terrenos e da
sociedade como um todo
os primeiros fundamentos
para uma experiência que
lhes sejam proveitosas.
Qual o meio social, a
etnia, o sexo e o tempo
da nova experiência?
Isto pouco importa. O
mundo é escola divina
criada para corrigir e
elevar almas. Aqueles
que cuidam dos
renascimentos bem sabem
onde colocar os
Espíritos que retornam,
pois que conhecem suas
histórias e
necessidades.
Realizados os primeiros
movimentos da nova
encarnação, os Espíritos
iniciam suas tarefas de
preparação. A escola, o
convívio social, as
propostas, as opções e o
temperamento emocional
vão qualificando-os como
indivíduos. Na
adolescência
eclodem-lhes as
tendências. Tempo de
esperas e
aparelhamentos. Tempo em
que as sociedades
precisam
compartilhar-lhes com
afeto e ternura suas
frequências oscilantes.
São botões inda longe
dos frutos. São
promessas de vida. São
filhos de Deus
potencializando-se para
participar, ajudar,
reconstruir a si e o
mundo. São luzes
balouçantes carecendo
respeito. Mais tarde,
com o diploma na mão,
partem para os mercados
de trabalhos
transformando-se em a
nova geração a
impulsionar o progresso.
Esta dinâmica sempre
existiu em todos os elos
da história, desde os
primórdios, no tempo das
cavernas, até o presente
e será assim, num
sucessivo encadeamento
para os devidos avanços
espirituais.
Bom seria que, ao
término de mais uma
jornada no corpo físico,
todos, sem exceção,
retornassem direto aos
planos superiores da
espiritualidade, em
escolas, templos e
academias para novas
aberturas, tanto
intelectuais quanto
morais. Em mundos
superiores ao nosso, com
certeza funciona assim.
Na Terra, contudo...
Temos notícias dos
planos adjacentes ao
nosso: quanta dor,
quanta miséria, quantas
culpas, lamentos,
rebeldias,
arrependimentos e
estacionamentos. Antes,
tínhamos vagas ideias
desses locais de
apurações. Com o advento
da Doutrina Espírita
tudo foi e está sendo
esclarecido, de forma
que não se deve mais
pagar para ver. O custo
pode ser bem alto.
Ver-se na experiência
física, a cada dia,
através do
autoconhecimento
torna-se de alto valor.
Somos conhecedores de
que a vida passa
ligeira, que o tempo de
ontem se foi. Que o de
amanhã nos arrastará com
muita certeza para as
mesmas atitudes, hábitos
e premissas.
Diz-nos André Luiz em
Nos Domínios da
Mediunidade, Cap. 1
– Estudando a
Mediunidade –, que: “Nossa
mente
é, destarte, um núcleo
de forças inteligentes,
gerando
plasma sutil
que, a exteriorizar-se
incessantemente de nós,
oferece recursos de
objetividade às figuras
de nossa imaginação, sob
o comando de nossos
próprios desígnios”.
Assim, ela funciona a
partir das nossas
escolhas pessoais,
respondendo aos nossos
comandos e, em muitos
casos, subjugando-nos a
eles. Desta forma,
necessário se faz dar
uma guinada a cada dia
em nossas atitudes,
evitando as contumazes
especulações indébitas
com repercussões
funestas num futuro. É
bom que nos tornemos
parceiros eficientes de
conquistas salutares
para nós e o social ao
nosso derredor.
Ainda citando André
Luiz, ele nos conta no
livro No Mundo
Maior o que ouviu de
Calderaro: “O tempo
acaba sempre por
denunciar a nossa
posição verdadeira.
Quando a criatura não
haja feito da existência
o sacerdócio de trabalho
construtivo, que nos
cumpre na Terra, os
fenômenos senis do corpo
são mais tristes para a
alma, pois, neste caso,
o indivíduo já não
domina as conveniências
forjadas pelo
imediatismo humano,
patenteando-se-lhe a
fixação da mente nos
impulsos interiores”.
Mais à frente temos a
informação de que
milhões de pessoas
seguem por muitos
séculos na fase infantil
do entendimento porque
nada produzem para a
melhoria própria,
repetindo
interminavelmente suas
posturas, não abrindo
mão de seus pontos de
vistas. Quase sempre os
identificamos em velhos
nos corpos e infantes na
alma. Muitos
enlouquecem,
permanecendo por muito
tempo em absoluta
alienação mental, posto
que não souberam
metamorfosear
oportunidades em
execuções plenas, em
forjas sensatas da paz
espiritual. Tornam-se
peso para alguém, para a
sociedade, o planeta e o
Universo, sofrendo até o
dia em que desencarnam
padecendo as duras
consequências de uma
realidade nublada, mas
real. E nela terão que
refazerem-se. Nenhum
Espírito se perderá. Uma
vez criados, a
imortalidade é caminho
de todos e para tal os
amoldamentos são
necessários mesmo que o
cinzel acicate, mesmo
que encarnações
dolorosas cheguem como
medicação adequada.
Loucuras são as
manifestas ou não. Há
loucos silenciosos que
se mostram como seres
equilibrados, vivendo
como tal na sociedade,
conspurcando-a com suas
atitudes e propostas.
São eles, entre outros,
os psicopatas, os
sexólatras, os
cleptomaníacos, os
loucos pelo dinheiro,
bens materiais, poder...
Estar no poder, diz
Lacan, "dá um sentido
interiormente diferente
às suas paixões, aos
seus desígnios, à sua
estupidez mesmo".
O psicanalista e
professor da
Universidade Estadual de
Maringá Raymundo de Lima
nos diz que: “Pelo
simples fato de agora
ser ‘rei’, tudo deverá
girar em função do que
representa a realeza.
Também os comandados são
levados pelas
circunstâncias a vê-lo
como o ‘rei do pedaço’”.
É dele ainda o seguinte
comentário: “O
poder faz fronteira
com a loucura. Não é sem
motivo que muitos loucos
se julgam Napoleão ou o
Rei Luís XV.
Parece que há algo de
‘loucura narcísica’ nas
pessoas que anseiam
chegar ao poder político
(governante de uma
cidade, estado ou país,
ministro, membro do
secretariado local), ou
ao poder de uma
instituição, empresa,
departamento, pequeno
setor de uma organização
qualquer ou grupo
qualquer. O narcisismo
de quem ocupa o poder
revela-se na
autoadmiração (o amor a
si e aos seus feitos),
na recusa em
aceitar o que
vem dos outros e no gozo
que ele extrai do poder,
que, levado ao extremo,
poderia revelar
loucura”. O filósofo e
ensaísta alemão Robert.
Kurz afirma que: “o
poder torna as pessoas
estúpidas e muito poder
torna-as estupidíssimas”.
É, de fato, o que bem se
vê na atualidade: muitos
buscando alguma forma de
poder, quer nos campos
sociais, clubes, lares,
instituições... Não
demoram muito e
desencarnam como
habitantes dos sítios
superficiais da vida. As
profundidades não foram
atingidas. A centelha
divina continua
adormecida, latente,
aguardando estímulos. Os
risos, drinks, baladas,
passeios, encontros,
negociatas, tomou-lhes o
sacrossanto tempo,
iludindo-os. Deixam
fortunas e fama e
encontram miséria e
sofreguidão. É bom
lembrarmos que O Maior
Espírito que aqui viveu
não tinha nem onde
recostar a cabeça.
Aquelas propostas
iniciais ficam para
depois, a reencarnação é
perdida e o poente é
triste, quem sabe até
abandonado pelos
bajuladores do ontem que
só queriam aproveitar. É
chegado o tempo das
transformações. Na Terra
do futuro somente
aqueles despertos
receberão sítios para
cultivar.
Bem-aventurados os que
assim entenderem e se
tornarem bons
semeadores: “no campo da
evolução do esforço
comum, no monte da
elevação pela prática do
sumo bem, ou, então, os
sítios serão aqueles
estabelecidos nos vales
expiatórios pelo
exercício do mal”,
conforme esclarece
Calderaro.