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Estudando a série André Luiz
Ano 6 - N° 285 - 4 de Novembro de 2012
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


Sexo e Destino

André Luiz

(Parte 4)

Damos continuidade ao estudo da obra Sexo e Destino, de André Luiz, psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier e publicada em 1963 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares 

A. É verdade que Nemésio estava enfermo e não sabia?

Sim. Seu coração, consideravelmente aumen­tado, denotava falhas ameaçadoras com endurecimento das artérias, mas o que mais assustava era a arteriosclerose cerebral, cujo desenvolvi­mento era possível positivar, manejando-se diminutos aparelhos de auscultação. Félix, examinando-o, disse: "Nosso amigo permanece sob o perigo de coágulos bloqueadores e, além disso, é de temer-se a ruptura de al­gum vaso em qualquer acidente mais importante da hipertensão". (Sexo e Destino, capítulo V, pp. 40 e 41.)

B. Por que Pedro Neves se irritava com a ajuda que Nemésio recebia do plano espiritual?

Ele se irritava porque achava que Nemésio não merecia nenhuma ajuda, por causa do seu comportamento. Disse ele aos amigos: “Não admito tanto resguardo para um cachorro de má qualidade. Um homem igual a este, que me desrespeita a confiança paterna! Quem não lhe vê no espírito a poligamia declarada? Um sessentão desavergonhado que enxovalha a presença da esposa agonizante! Ah! Beatriz, minha po­bre Beatriz, por que te uniste a um cavalo?" (Obra citada, capítulo V, pp. 46 e 47.)

C. Assistir ao sofrimento da filha e à infidelidade do genro era difícil para Pedro Neves?

Sim. Ele próprio o admitia. "Faço força –  gemia acabrunhado –,  mas não aguento. De que me vale trabalhar odiando? Nemésio é um mascarado! Tenho estudado a ciência de perdoar e servir, tenho aconselhado serviço e perdão aos outros, mas agora... Divididos por simples parede, vejo o sofrimento e o vício debaixo do mesmo teto. De um lado, minha filha conformada, aguardando a morte; de outro, meu genro e essa mulher que me insulta a família. Deus do céu! que me foi reservado?” (Obra citada, capítulo V, pp. 46 e 47.)

Texto para leitura

16. A presença de Félix muda o rumo do caso - Com a presença do irmão Félix no recinto, algo inusitado ocorreu. Nemésio e Marina transferiram-se, de repente, a novo campo de espírito. Confirmava-se assim a impressão de que a curiosidade enfermiça e a revolta que domi­nava Neves haviam funcionado, até ali, por estímulos ao magnetismo animal a que se ajustavam os dois enamorados, que nem de leve descon­fiavam da minuciosa observação a que se viam sujeitos, porquanto bas­tou que Félix lhes dirigisse compassivo olhar para que se modificas­sem, incontinenti. A visão de Beatriz enferma cortou-lhes o espaço mental, como um raio. Esmoreceram-se-lhes os estos de paixão. Asseme­lhavam-se ambos a duas crianças, atraídas uma para a outra, cujo pen­samento se transfigura, de improviso, ante a presença materna. André, que não sabia o que ia no mundo íntimo de Neves, começou a pensar: "E se eu estivesse no lugar de Nemésio? Estaria agindo melhor?" Tais indagações e a presença do benfeitor impeliram-no a raciocinar em nível mais alto. Nemésio parecia-lhe, agora, um irmão que lhe cabia entender e respeitar. Marina revelou também benéfica reação, como se estivesse conduzida em ocorrência mediúnica, de antemão preparada. Recompondo-se do ponto de vista emotivo, falou a Nemésio, com delicadeza, da neces­sidade de voltar aos cuidados que a enferma exigia, e ele, refletindo sua renovada posição interior, não ofereceu qualquer embargo, acomo­dando-se em poltrona próxima, enquanto a jovem se retirava, tranquila. Foi então que Félix, apontando o esposo de Beatriz, convidou: "Meus amigos, nosso Nemésio está seriamente enfermo, sem que ainda o saiba. Ignoro se já lhe notaram a deficiência orgânica... Procuremos socorrê-lo".  (Capítulo IV, pp. 38 e 39)

17. A doença de Nemésio - Ao contacto das mãos do benfeitor, que mobilizava, proficiente, a energia magnética, Nemésio expunha as defi­ciências do campo circulatório. O coração, consideravelmente aumen­tado, denotava falhas ameaçadoras com endurecimento das artérias, mas o que mais assustava era a arteriosclerose cerebral, cujo desenvolvi­mento era possível positivar, manejando-se diminutos aparelhos de auscultação. Félix apontou determinada região, em que a circulação do sangue era reduzida, e informou: "Nosso amigo permanece sob o perigo de coágulos bloqueadores e, além disso, é de temer-se a ruptura de al­gum vaso em qualquer acidente mais importante da hipertensão". Curio­samente, como se registrasse os apontamentos das entidades, o genro de Neves respondia, instintivamente, ao inquérito afetuoso a que era sub­metida a memória, elucidando todas as dúvidas, através de reações men­tais específicas. Rememorou, assim, as tonturas ligeiras que vinha experimentando amiúde. Vasculhava a lembrança, atendendo às perguntas do benfeitor. Alinhava acontecimentos passados, fixava pormenores. Re­constituiu, quanto possível, as fases do desconforto a que se vira atirado, subitamente, com a perda dos sentidos que sofrera, no escri­tório, dias antes. Apreensivo com o fato, expusera a ocorrência a velho amigo, na antevéspera. A tela rearticulada por ele, na imaginação, salientava-se tão nítida que era possível a André vê-los juntos, como se tivessem sido filmados. O marido de Beatriz, inconsciente­mente, configurava informes precisos acerca do desmaio, das inquietações sentidas e da entrevista com o colega. As providências não po­diam ser adiadas. Devia procurar um médico. Era notória sua fadiga, e umas férias numa clínica de repouso não lhe fariam mal. Qualquer sín­cope, disse-lhe o amigo, equivalia a puxão de campainha, no aparta­mento da vida, sério vaticínio, enfermidade à porta. (Capítulo V, pp. 40 e 41)

18. A intimidade de Nemésio - Na tela mental de Nemésio podia-se ler também a resposta que dera ao amigo. A consulta ao médico era di­fícil, pois a esposa requeria cuidados. Assim, o tratamento ficaria para mais tarde. Em verdade, ele receava conhecer o próprio estado or­gânico, porque estava amando novamente e, crendo-se de regresso às primaveras do corpo físico, identificava-se espiritualmente jovem. Alinhavando recordações e meditações, o genro de Neves exibia a trama dos acontecimentos que lhe sedimentavam as noções precárias da vida, possibilitando a André retratar-lhe a realidade psicológica. Beatriz, a esposa prestes a desencarnar, erigia-se, agora, em seu ânimo, em forma de relíquia que situaria, reverentemente, no museu das lembran­ças mais caras. Era ela como a genitora que a morte já havia levado. Disputava-lhe, por instinto, o sorriso benevolente e a bênção da aprovação, mas, de formação materialista e índole utilitária, embora fosse uma pessoa generosa, desconhecia ele que as almas nobres colhem no amor esponsalício da Terra o fruto da alegria sublime, cuja polpa o tempo sazona e torna mais doce, eliminando os caprichos transitoria­mente necessários da casca. Insistia, assim, na conservação de todos os impulsos emotivos da juventude corpórea e andava em dia com todas as teorias da libido. Vez por outra, demandava cidades próximas, em noitadas boêmias, asseverando aos amigos que assim procedia para de­senferrujar o coração. De retorno dessas escapadas, trazia à esposa corbelhas de alto preço que Beatriz acolhia, enlevada. No decurso de algumas semanas, mostrava-se para ela mais compreensivo e mais terno. Reconduzido, porém, mais dilatadamente, aos freios do hábito, não sa­bia consagrar-se às construções espirituais, e varava, de novo, as fronteiras que os compromissos morais estabeleciam, à maneira de animal arrombando cerca. Se Beatriz pusesse, ainda que de leve, o voto feminino em outro homem, era capaz de matá-la... É que, embora não tivesse interesse pela mulher, não toleraria concorrência à posse da­quela a quem confiara o seu nome.  (Capítulo V, pp. 42 e 43)

19. Um homem em busca do prazer - Nemésio inquietava-se, imaginava coisas, mas recompunha-se, tranquilo, recordando a esquisita concei­tuação de velho amigo que consumira a existência alcoolizado: "Nemésio, mulher é chinela no pé do homem. Quando não presta mais, é preciso arranjar outra". Era compreensível, pois, que, adotando semelhante filosofia, atingisse o genro de Pedro Neves o marco dos ses­senta anos com os sentimentos deteriorados, no tocante ao respeito que um homem deve a si mesmo. Buscando vestir-se com distinção, embele­zava-se, vaidoso, lembrando antigo edifício sob nova decoração. "Evidentemente, não –  raciocinava o esposo de Beatriz –, não se resignaria a qualquer terapêutica que não fosse a de se lhe acentuar disposições ao prazer." Recusaria, peremptório, toda medida endereçada a suposto reajustamento orgânico, já que se supunha perfeitamente idô­neo para comandar as próprias sensações, e continuaria a tomar medica­mentos que lhe rejuvenescessem as forças. O irmão Félix, após examiná-lo, informou: "Nemésio demonstra enorme esgotamento, à vista dos hábi­tos demolidores a que se rendeu. A inquietação emotiva descontrola-lhe os nervos e os falsos afrodisíacos usados solapam-lhe as energias, sem que ele mesmo perceba". Diante da afirmativa, Nemésio fixou agoniado vinco mental, entremostrando haver assimilado, mecanicamente, o im­pacto do grave enunciado. "E se piorasse?", ponderou de si para si. A figura de Marina surgiu-lhe, então, na mente. Ele concordaria, sim, em recuperar a saúde, mas só depois que retivesse a jovem no lar, entre­gue a ele, em definitivo, pelos laços do matrimônio. Antes, não. Fugi­ria deliberadamente de conselhos tendentes a desviá-lo da ronda de passeios, excursões, entretenimentos... Era preciso mostrar-se capaz e moço aos olhos dela. O irmão Félix não lhe opôs qualquer argumento. Ao revés, administrou-lhe recursos magnéticos em toda a província cere­bral, dispensando-lhe assistência. Ao término da longa operação socor­rista, Pedro Neves, taciturno, não escondia o próprio desapontamento. A desaprovação esguichava-lhe da cabeça, plasmando pensamentos de cen­sura, que alcançavam André e Félix em cheio, por chuva de vibrações negativas. Félix sugeriu, então, a Nemésio abandonar o re­cinto, soli­citação muda que ele atendeu, de pronto, já que se munira das escoras que o benfeitor espiritual lhe oferecia. (Cap. V, pp. 44 a 46)

20. Neves se descontrola - Ficando os três a sós, Félix, sorrindo, afagou de leve os ombros do companheiro e ponderou: "Entendo, Neves, entendo você..." O sogro de Nemésio desabafou: "Quem entende menos sou eu. Não admito tanto resguardo para um cachorro de má qualidade. Um homem igual a este, que me desrespeita a confiança paterna! Quem não lhe vê no espírito a poligamia declarada? Um sessentão desavergonhado que enxovalha a presença da esposa agonizante! Ah! Beatriz, minha po­bre Beatriz, por que te uniste a um cavalo?" Neves dementara-se diante dos amigos. Retrocedendo mentalmente ao círculo acanhado da família humana, chorava, transtornado, sem que os amigos lhe pudessem cercear a emoção. "Faço força –  gemia acabrunhado –,  mas não aguento. De que me vale trabalhar odiando? Nemésio é um mascarado! Tenho estudado a ciência de perdoar e servir, tenho aconselhado serviço e perdão aos outros, mas agora... Divididos por simples parede, vejo o sofrimento e o vício debaixo do mesmo teto. De um lado, minha filha conformada, aguardando a morte; de outro, meu genro e essa mulher que me insulta a família. Deus do céu! que me foi reservado? Andarei auxiliando uma filha doente ou sendo chamado à tolerância? Mas, como suportar um ho­mem desses?" Após pausa curta, prosseguiu Neves: "Antigamente acredi­tava que o inferno, depois da morte, fosse pular em vão num cárcere de fogo; hoje aprendo que o inferno é voltar à Terra e estar com os pa­rentes que já deixamos... Isso é a purgação de nossos pecados!..." (Cap. V, pp. 46 e 47) (Continua no próximo número.)



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita