MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
4)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. É verdade que Nemésio
estava enfermo e não
sabia?
Sim. Seu coração,
consideravelmente
aumentado, denotava
falhas ameaçadoras com
endurecimento das
artérias, mas o que mais
assustava era a
arteriosclerose
cerebral, cujo
desenvolvimento era
possível positivar,
manejando-se diminutos
aparelhos de
auscultação. Félix,
examinando-o, disse:
"Nosso amigo permanece
sob o perigo de coágulos
bloqueadores e, além
disso, é de temer-se a
ruptura de algum vaso
em qualquer acidente
mais importante da
hipertensão".
(Sexo e Destino,
capítulo V, pp. 40 e
41.)
B. Por que Pedro Neves
se irritava com a ajuda
que Nemésio recebia do
plano espiritual?
Ele se irritava porque
achava que Nemésio não
merecia nenhuma ajuda,
por causa do seu
comportamento. Disse ele
aos amigos: “Não admito
tanto resguardo para um
cachorro de má
qualidade. Um homem
igual a este, que me
desrespeita a confiança
paterna! Quem não lhe vê
no espírito a poligamia
declarada? Um sessentão
desavergonhado que
enxovalha a presença da
esposa agonizante! Ah!
Beatriz, minha pobre
Beatriz, por que te
uniste a um cavalo?"
(Obra citada, capítulo
V, pp. 46 e 47.)
C. Assistir ao
sofrimento da filha e à
infidelidade do genro
era difícil para Pedro
Neves?
Sim. Ele próprio o
admitia. "Faço força –
gemia acabrunhado –,
mas não aguento. De que
me vale trabalhar
odiando? Nemésio é um
mascarado! Tenho
estudado a ciência de
perdoar e servir, tenho
aconselhado serviço e
perdão aos outros, mas
agora... Divididos por
simples parede, vejo o
sofrimento e o vício
debaixo do mesmo teto.
De um lado, minha filha
conformada, aguardando a
morte; de outro, meu
genro e essa mulher que
me insulta a família.
Deus do céu! que me foi
reservado?”
(Obra citada, capítulo
V, pp. 46 e 47.)
Texto para leitura
16. A
presença de Félix muda o
rumo do caso
- Com a presença do
irmão Félix no recinto,
algo inusitado ocorreu.
Nemésio e Marina
transferiram-se, de
repente, a novo campo de
espírito. Confirmava-se
assim a impressão de que
a curiosidade enfermiça
e a revolta que
dominava Neves haviam
funcionado, até ali, por
estímulos ao magnetismo
animal a que se
ajustavam os dois
enamorados, que nem de
leve desconfiavam da
minuciosa observação a
que se viam sujeitos,
porquanto bastou que
Félix lhes dirigisse
compassivo olhar para
que se modificassem,
incontinenti. A visão de
Beatriz enferma
cortou-lhes o espaço
mental, como um raio.
Esmoreceram-se-lhes os
estos de paixão.
Assemelhavam-se ambos a
duas crianças, atraídas
uma para a outra, cujo
pensamento se
transfigura, de
improviso, ante a
presença materna. André,
que não sabia o que ia
no mundo íntimo de
Neves, começou a pensar:
"E se eu estivesse no
lugar de Nemésio?
Estaria agindo melhor?"
Tais indagações e a
presença do benfeitor
impeliram-no a
raciocinar em nível mais
alto. Nemésio
parecia-lhe, agora, um
irmão que lhe cabia
entender e respeitar.
Marina revelou também
benéfica reação, como se
estivesse conduzida em
ocorrência mediúnica, de
antemão preparada.
Recompondo-se do ponto
de vista emotivo, falou
a Nemésio, com
delicadeza, da
necessidade de voltar
aos cuidados que a
enferma exigia, e ele,
refletindo sua renovada
posição interior, não
ofereceu qualquer
embargo, acomodando-se
em poltrona próxima,
enquanto a jovem se
retirava, tranquila. Foi
então que Félix,
apontando o esposo de
Beatriz, convidou: "Meus
amigos, nosso Nemésio
está seriamente enfermo,
sem que ainda o saiba.
Ignoro se já lhe notaram
a deficiência
orgânica... Procuremos
socorrê-lo". (Capítulo
IV, pp. 38 e 39)
17. A
doença de Nemésio
- Ao contacto das mãos
do benfeitor, que
mobilizava, proficiente,
a energia magnética,
Nemésio expunha as
deficiências do campo
circulatório. O coração,
consideravelmente
aumentado, denotava
falhas ameaçadoras com
endurecimento das
artérias, mas o que mais
assustava era a
arteriosclerose
cerebral, cujo
desenvolvimento era
possível positivar,
manejando-se diminutos
aparelhos de
auscultação. Félix
apontou determinada
região, em que a
circulação do sangue era
reduzida, e informou:
"Nosso amigo permanece
sob o perigo de coágulos
bloqueadores e, além
disso, é de temer-se a
ruptura de algum vaso
em qualquer acidente
mais importante da
hipertensão".
Curiosamente, como se
registrasse os
apontamentos das
entidades, o genro de
Neves respondia,
instintivamente, ao
inquérito afetuoso a que
era submetida a
memória, elucidando
todas as dúvidas,
através de reações
mentais específicas.
Rememorou, assim, as
tonturas ligeiras que
vinha experimentando
amiúde. Vasculhava a
lembrança, atendendo às
perguntas do benfeitor.
Alinhava acontecimentos
passados, fixava
pormenores.
Reconstituiu, quanto
possível, as fases do
desconforto a que se
vira atirado,
subitamente, com a perda
dos sentidos que
sofrera, no escritório,
dias antes. Apreensivo
com o fato, expusera a
ocorrência a velho
amigo, na antevéspera. A
tela rearticulada por
ele, na imaginação,
salientava-se tão nítida
que era possível a André
vê-los juntos, como se
tivessem sido filmados.
O marido de Beatriz,
inconscientemente,
configurava informes
precisos acerca do
desmaio, das
inquietações sentidas e
da entrevista com o
colega. As providências
não podiam ser adiadas.
Devia procurar um
médico. Era notória sua
fadiga, e umas férias
numa clínica de repouso
não lhe fariam mal.
Qualquer síncope,
disse-lhe o amigo,
equivalia a puxão de
campainha, no
apartamento da vida,
sério vaticínio,
enfermidade à porta.
(Capítulo V, pp. 40 e
41)
18. A
intimidade de Nemésio
- Na tela mental de
Nemésio podia-se ler
também a resposta que
dera ao amigo. A
consulta ao médico era
difícil, pois a esposa
requeria cuidados.
Assim, o tratamento
ficaria para mais tarde.
Em verdade, ele receava
conhecer o próprio
estado orgânico, porque
estava amando novamente
e, crendo-se de regresso
às primaveras do corpo
físico, identificava-se
espiritualmente jovem.
Alinhavando recordações
e meditações, o genro de
Neves exibia a trama dos
acontecimentos que lhe
sedimentavam as noções
precárias da vida,
possibilitando a André
retratar-lhe a realidade
psicológica. Beatriz, a
esposa prestes a
desencarnar, erigia-se,
agora, em seu ânimo, em
forma de relíquia que
situaria,
reverentemente, no museu
das lembranças mais
caras. Era ela como a
genitora que a morte já
havia levado.
Disputava-lhe, por
instinto, o sorriso
benevolente e a bênção
da aprovação, mas, de
formação materialista e
índole utilitária,
embora fosse uma pessoa
generosa, desconhecia
ele que as almas nobres
colhem no amor
esponsalício da Terra o
fruto da alegria
sublime, cuja polpa o
tempo sazona e torna
mais doce, eliminando os
caprichos
transitoriamente
necessários da casca.
Insistia, assim, na
conservação de todos os
impulsos emotivos da
juventude corpórea e
andava em dia com todas
as teorias da libido.
Vez por outra, demandava
cidades próximas, em
noitadas boêmias,
asseverando aos amigos
que assim procedia para
desenferrujar o
coração. De retorno
dessas escapadas, trazia
à esposa corbelhas de
alto preço que Beatriz
acolhia, enlevada. No
decurso de algumas
semanas, mostrava-se
para ela mais
compreensivo e mais
terno. Reconduzido,
porém, mais
dilatadamente, aos
freios do hábito, não
sabia consagrar-se às
construções espirituais,
e varava, de novo, as
fronteiras que os
compromissos morais
estabeleciam, à maneira
de animal arrombando
cerca. Se Beatriz
pusesse, ainda que de
leve, o voto feminino em
outro homem, era capaz
de matá-la... É que,
embora não tivesse
interesse pela mulher,
não toleraria
concorrência à posse
daquela a quem confiara
o seu nome. (Capítulo
V, pp. 42 e 43)
19. Um homem em
busca do prazer
- Nemésio inquietava-se,
imaginava coisas, mas
recompunha-se,
tranquilo, recordando a
esquisita conceituação
de velho amigo que
consumira a existência
alcoolizado: "Nemésio,
mulher é chinela no pé
do homem. Quando não
presta mais, é preciso
arranjar outra". Era
compreensível, pois,
que, adotando semelhante
filosofia, atingisse o
genro de Pedro Neves o
marco dos sessenta anos
com os sentimentos
deteriorados, no tocante
ao respeito que um homem
deve a si mesmo.
Buscando vestir-se com
distinção,
embelezava-se, vaidoso,
lembrando antigo
edifício sob nova
decoração.
"Evidentemente, não –
raciocinava o esposo de
Beatriz –, não se
resignaria a qualquer
terapêutica que não
fosse a de se lhe
acentuar disposições ao
prazer." Recusaria,
peremptório, toda medida
endereçada a suposto
reajustamento orgânico,
já que se supunha
perfeitamente idôneo
para comandar as
próprias sensações, e
continuaria a tomar
medicamentos que lhe
rejuvenescessem as
forças. O irmão Félix,
após examiná-lo,
informou: "Nemésio
demonstra enorme
esgotamento, à vista dos
hábitos demolidores a
que se rendeu. A
inquietação emotiva
descontrola-lhe os
nervos e os falsos
afrodisíacos usados
solapam-lhe as energias,
sem que ele mesmo
perceba". Diante da
afirmativa, Nemésio
fixou agoniado vinco
mental, entremostrando
haver assimilado,
mecanicamente, o
impacto do grave
enunciado. "E se
piorasse?", ponderou de
si para si. A figura de
Marina surgiu-lhe,
então, na mente. Ele
concordaria, sim, em
recuperar a saúde, mas
só depois que retivesse
a jovem no lar,
entregue a ele, em
definitivo, pelos laços
do matrimônio. Antes,
não. Fugiria
deliberadamente de
conselhos tendentes a
desviá-lo da ronda de
passeios, excursões,
entretenimentos... Era
preciso mostrar-se capaz
e moço aos olhos dela. O
irmão Félix não lhe opôs
qualquer argumento. Ao
revés, administrou-lhe
recursos magnéticos em
toda a província
cerebral,
dispensando-lhe
assistência. Ao término
da longa operação
socorrista, Pedro
Neves, taciturno, não
escondia o próprio
desapontamento. A
desaprovação
esguichava-lhe da
cabeça, plasmando
pensamentos de censura,
que alcançavam André e
Félix em cheio, por
chuva de vibrações
negativas. Félix
sugeriu, então, a
Nemésio abandonar o
recinto, solicitação
muda que ele atendeu, de
pronto, já que se munira
das escoras que o
benfeitor espiritual lhe
oferecia. (Cap. V, pp.
44 a 46)
20. Neves se
descontrola -
Ficando os três a sós,
Félix, sorrindo, afagou
de leve os ombros do
companheiro e ponderou:
"Entendo, Neves, entendo
você..." O sogro de
Nemésio desabafou: "Quem
entende menos sou eu.
Não admito tanto
resguardo para um
cachorro de má
qualidade. Um homem
igual a este, que me
desrespeita a confiança
paterna! Quem não lhe vê
no espírito a poligamia
declarada? Um sessentão
desavergonhado que
enxovalha a presença da
esposa agonizante! Ah!
Beatriz, minha pobre
Beatriz, por que te
uniste a um cavalo?"
Neves dementara-se
diante dos amigos.
Retrocedendo mentalmente
ao círculo acanhado da
família humana, chorava,
transtornado, sem que os
amigos lhe pudessem
cercear a emoção. "Faço
força – gemia
acabrunhado –, mas não
aguento. De que me vale
trabalhar odiando?
Nemésio é um mascarado!
Tenho estudado a ciência
de perdoar e servir,
tenho aconselhado
serviço e perdão aos
outros, mas agora...
Divididos por simples
parede, vejo o
sofrimento e o vício
debaixo do mesmo teto.
De um lado, minha filha
conformada, aguardando a
morte; de outro, meu
genro e essa mulher que
me insulta a família.
Deus do céu! que me foi
reservado? Andarei
auxiliando uma filha
doente ou sendo chamado
à tolerância? Mas, como
suportar um homem
desses?" Após pausa
curta, prosseguiu Neves:
"Antigamente acreditava
que o inferno, depois da
morte, fosse pular em
vão num cárcere de fogo;
hoje aprendo que o
inferno é voltar à Terra
e estar com os parentes
que já deixamos... Isso
é a purgação de nossos
pecados!..." (Cap. V,
pp. 46 e 47)
(Continua no próximo
número.)