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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 6 - N° 285 - 4 de Novembro de 2012
THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)  
 


Nas Fronteiras da Loucura

Manoel Philomeno de Miranda 

(Parte 11)

Damos continuidade ao estudo metódico e sequencial do livro Nas Fronteiras da Loucura, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco.

Questões preliminares

A. Os Espíritos sentem alguma dor durante a necropsia a que é submetido seu corpo?

Depende. Há  necropsias em que Espíritos que se deixaram dominar pelos apetites grosseiros enlouquecem de dor, demorando-se sob os efeitos lentos do processo a que o cadáver é submetido, quando não fazem jus a assistência especializada. No caso narrado neste livro, cada um dos jovens, embora houvessem eles desencarnado juntos, experimentava sensações de acordo com os títulos que conduziam, de beneficência e amor, de extravagância e truculência. (Nas Fronteiras da Loucura, cap. 12, pp. 94 e 95.)

B. A assistência proporcionada pelos benfeitores espirituais gera algum tipo de privilégio para o assistido, que as demais pessoas não desfrutam?

Não. A respeito do assunto, Dr. Bezerra explicou: "As nossas providências de socorro não geram clima de privilégio, nem pro­tecionismo injustificável. Cada um respira a psicosfera que gera no campo mental. Todos somos as aspirações que cultivamos, os la­bores que produzimos. O Senhor recomendou-nos dar a quem pede, abrir a quem bate, facultar a quem busca, dentro das possibilidades de mereci­mento dos que recorrem ao auxílio". E ajuntou: "Quando albergamos os nossos jovens, na condição de humildes cireneus, objetivamos ampará-los da agressão perniciosa das Entidades vulgares, portadoras de sen­timentos impermeáveis à compaixão e à misericórdia... Mercê de Deus, consegui­mos o tentame. A cruz, porém, é intransferível, de cada qual. Podemos ajudar a diminuir-lhe o peso, não a transferi-la de ombros". (Obra citada, cap. 12, pp. 95 e 96.)

C. Que ocorre de imediato aos que desencarnam em meio aos excessos e loucuras  pertinentes ao carnaval?

Muitos deles são recolhidos em lastimável estado e logo se dão conta da inutilidade dos caprichos que sustentavam, chorando copiosamente em arrependimentos sinceros, inesperados. Cansados da busca do fútil, despertam para outros valores, recebendo imediato auxílio, desde que, onde se encontram as necessidades reais, logo surge o amparo pró­prio distendido em atitude socorrista. O homem é o artífice do seu destino, sendo feliz ou desventurado conforme eleja o procedimento que se deve impor. Obviamente, a opção se faz de difícil vivência, quando escolhe a dignidade e o sacrifício dos interesses inferiores. Contudo, os júbilos que se fruem e as bênçãos que se colhem são maiores e mais compensadores do que quaisquer outras satisfações que experimentamos no mundo. (Obra citada, cap. 13, pp. 97 e 98.)   

Texto para leitura 

50. Autópsia e sofrimento - Ermance dormia, mas seu sono era en­trecortado de soluços. Dr. Bezerra começou então a aplicar-lhe ener­gias sedativas, que anestesiaram o Espírito, precatando-o dos sofri­mentos e apelos vigorosos que por algum tempo chegariam dos pais, du­ramente vergastados pela tragédia. Posteriormente, o Mentor dirigiu-se à capela onde o cadáver da moça era velado, ocasião em que auxiliou os pais atoleimados, infundindo-lhes ânimo e robustecendo-os com forças que lhes propiciassem alento para os testemunhos purificadores. Graças à vigilância de Melide e outros cooperadores do grupo, o corpo da jovem escapou à vampirização de suas últimas energias por Espíritos in­ditosos. De volta ao Posto Central, Philomeno pôde acompanhar o pro­cesso de adaptação dos jovens acidentados e observou então que os Es­píritos, mesmo distanciados dos corpos, retratavam as ocorrências que os afetavam durante a autópsia. (1) O motorista, por ser incurso em maior responsabilidade, manteve-se em sono agitado por todo o tempo e expe­rimentou as dores que lhe advinham da autópsia. Embora contido por en­fermeiros diligentes, sofreu os cortes, os golpes nos tecidos e as costuras... Ninguém há  que se encontre isento à responsabilidade pelos erros cometidos! Há  autópsias em que Espíritos que se deixaram dominar pelos apetites grosseiros enlouquecem de dor, demorando-se sob os efeitos lentos do processo a que o cadáver é submetido – quando não fazem jus a assistência especializada. Desse modo, cada um dos jovens, embora houvessem eles desencarnado juntos, experimentava sensações de acordo com os títulos que conduziam, de beneficência e amor, de extra­vagância e truculência. (Cap. 12, pp. 94 e 95) 

51. Nossa cruz é intransferível - As autópsias demoraram mais de uma hora, durante a qual a assistência dos Benfeitores procurou dimi­nuir o sofrimento dos recém-chegados. Fábio, por ser menos comprome­tido, re­cebeu mais alta dose de anestésico, algo liberado das dores carnais que os outros, em maior ou menor escala, haviam sofrido. Finda essa fase, volveram ao sono, embora em agitação. Na hora do traslado dos corpos para as providências do sepultamento, Philomeno pôde acom­panhar o despertar de quase todos, sob os duros apelos de pais e ir­mãos, par­tindo semi-hebetados, para os atender... Dr. Bezerra expli­cou: "As nossas providências de socorro não geram clima de privilégio, nem pro­tecionismo injustificável. Cada um respira a psicosfera que gera no campo mental. Todos somos as aspirações que cultivamos, os la­bores que produzimos. O Senhor recomendou-nos dar a quem pede, abrir a quem bate, facultar a quem busca, dentro das possibilidades de mereci­mento dos que recorrem ao auxílio". E ajuntou: "Quando albergamos os nossos jovens, na condição de humildes cireneus, objetivamos ampará-los da agressão perniciosa das Entidades vulgares, portadoras de sen­timentos impermeáveis à compaixão e à misericórdia... Mercê de Deus, consegui­mos o tentame. A cruz, porém, é intransferível, de cada qual. Podemos ajudar a diminuir-lhe o peso, não a transferi-la de ombros". A agita­ção entre os pacientes era geral. Rápidas flechadas de forte teor vi­bratório alcançavam os rapazes, fazendo-os estremecer. O motorista su­bitamente apresentou uma fácies de loucura e, trêmulo, saiu dizendo coisas desconexas: fora atender aos que o chamavam sob chuvas de blas­fêmias e acusações impróprias. Tendo sabido, pela Polícia, que ele ha­via ingerido alta dose de drogas, seus pais ficaram magoados e revol­tados. De todos, apenas Fábio e outro amigo foram poupados à presença do cadáver e às cenas fortes que se desenrolaram antes e durante o se­pultamento. Desperta-se, cada dia, com os recursos morais com que se repousa à noite. Além do corpo, cada Espírito acorda conforme o amanhecer que preparou para si mesmo. (Cap. 12, pp. 95 e 96) 

52. A viúva revoltada - No último dia do carnaval carioca, o movi­mento no Posto foi contínuo. Pôde-se recolher grande número de desen­carnados em lastimável estado que, no fragor das festas, se davam conta da inutilidade dos caprichos que sustentavam, chorando copiosamente em arrependimentos sinceros, inesperados. Cansados da busca do fútil, despertavam para outros valores, recebendo imediato auxílio, desde que, onde se encontram as necessidades reais, logo surge o amparo pró­prio distendido em atitude socorrista. O homem é o artífice do seu destino, sendo feliz ou desventurado conforme eleja o procedimento que se deve impor. Obviamente, a opção se faz de difícil vivência, quando escolhe a dignidade e o sacrifício dos interesses inferiores. Contudo, os júbilos que se fruem e as bênçãos que se colhem são maiores e mais compensadores do que quaisquer outras satisfações que experimentamos no mundo. Às 15 horas, Dr. Bezerra e Philomeno foram atender a mais um so­corro de emergência, solicitado por um companheiro do plano espiritual – o irmão Artur, eficiente médico da equipe de Benfeitores, desencar­nado há  pouco mais de um lustro, que aportara no Mundo Espiritual ca­racterizado por incontáveis ações de dignidade humana e filantropia. Com menos de quarenta anos realizara uma obra relevante junto aos en­fermos, como missionário da Medicina, em Clínica Geral. Artur não ame­alhara fortuna, em razão da bondade inata. Muito estimado, vivia com dignidade, sem ultrapassar os limites do equilíbrio social. Ao desen­carnar, deixou no campo de lutas a viúva, igualmente jovem, e uma filha adoles­cente por quem nutria entranhada afeição. A esposa fora-lhe uma provação bem suportada. Exigente e ambiciosa, rebelava-se por não alçar mais amplos, venturosos e infelizes voos morais. Artur a ajudara com toda a franqueza do seu caráter diamantino, sem resultados expres­sivos, e continuava a ajudá-la, não conseguindo, porém, quanto desejava. Nas crises de revolta que a assenhoreavam periodicamente, a viúva o inculpava, amaldiçoando-lhe as lembranças e não perdoando a própria filha por cultuar a memória paterna. (Cap. 13, pp. 97 e 98) 

53. O suicídio frustrado - Sofrendo a incompreensão da genitora,  a jo­vem sensibilizou-se com a afeição sem profundidade de um colega de fa­culdade e consorciou-se, estimulada pela mãe, aos dezoito anos. Como o rapaz não dispusesse de recursos, a sogra ofereceu a casa para que nela ficassem, até que as circunstâncias melhorassem. A convivência ali, no entanto, perigava a olhos vistos. Ao pedir a ajuda do Dr. Beze­rra, Artur informou que sua filha tentara o suicídio, pouco antes, e fora levada de urgência ao Hospital Souza Aguiar. "Rogo providencial socorro para ela – adiu, emocionado – conforme a vontade de Deus. Será um desastre, se ela retornar nesta condição..." Dr. Bezerra con­centrou-se, como se recolhesse informações e diretrizes, e em seguida partiu em direção ao referido Nosocômio. Noemi, a filha, havia tentado cortar os pulsos, mas recebia ali a devida assistência. Sua respiração era débil, quase imperceptível pela brutal hemorragia que fora contida parcialmente com torniquetes providenciais. Subitamente, porém, um dos médicos que olhava o osciloscópio exclamou: "Parada cardíaca! Massa­gem, depressa..."  Naquele exato momento, a jovem, quase totalmente desprendida do corpo, agitava-se freneticamente, sob domínio de impe­nitente obsessor, que lhe gritava: "Quiseste morrer e assim será. Não escaparás. Não volverás ao corpo infame que desdenhaste. Agora é co­nosco". Enquanto prosseguiam as massagens sem resultado, o cirurgião solicitou o cardioinversor elétrico para aplicação de choques, na es­perança de reavivar o músculo cardíaco. Dr. Bezerra aproximou-se então do algoz e deixou-se perceber. O Espírito cruel, defrontando-o, blaso­nou: "Ela é minha. Ninguém a tomará  de mim. Veio às minhas mãos por livre e espontânea vontade. Não a deixarei!" O Mentor replicou: "Não sou eu quem te tomará  o ser que amesquinhas, senão o Nosso Pai, Senhor de todos nós. A hora não é chegada para que ela retorne. Desse modo, se a reténs, serás o responsável pelo crime de homicídio consciente... Além do mais, o acontecimento será  como quer o Criador e não como de­sejemos nós. Esta é a tua vez de ceder..." (Cap. 13, pp. 99 e 100)

54. A vitória do amor - A voz do Dr. Bezerra era gentil, mas deci­dida, suave, porém segura... O carrasco, contudo, estremeceu e retru­cou: "Não a cederei. Só à força. Venha tomá-la". O desafio chocou os que assistiam à cena e atraiu entidades perversas e vagabundas que por ali passavam e começaram a chacotear. O Mentor, sem ressentimento ou desprezo pelo malfeitor, silenciou, em prece de profundo recolhimento, enquanto o irmão Artur semi-incorporava o médico terreno, que aplicou a primeira descarga elétrica na área do coração. O corpo da jovem foi sacudido com violência, após o que recebeu a segunda dose. Dr. Bezerra começou a irradiar poderosa luz que, saindo do seu plexo solar, inun­dava a sala de forte claridade espiritual. "Em nome de Deus – orde­nou, então, – devolva esta jovem ao seu corpo!" A Entidade da treva ficou paralisada sem compreender a ocorrência e soltou o Espírito da enferma, que sentiu o impacto das descargas elétricas e o forte apelo da matéria debilitada, parecendo, à visão de Philomeno, que era vio­lentamente sugado pelo invólucro carnal. O coração voltou então a pul­sar, fraco a princípio, mais regular depois, permitindo a conclusão do atendimento cirúrgico. Um pranto de júbilo tomou conta de Artur, e Dr. Bezerra, sem demonstrar vitória alguma, disse ao malfeitor desencarnado: "A vida é patrimônio de Deus e todos nos encontramos situados nela com propósitos superiores que nos estão reservados. Todos condu­zimos enganos lastimáveis, que são frutos da nossa ignorância, igua­lando-nos, de certo modo, nos erros e diferenciando-nos nos acertos. A sua anuência, meu amigo, é abençoado acerto, que lhe descerra oportu­nidade nova, de que todos podemos gozar. O bem é inexaurível nascente, que flui sem cessar, sempre melhor para quem o distende aos outros. Observe, agora, em nome de Deus". Grande silêncio se abateu sobre a sala; as Entidades ruidosas calaram-se; a luminosidade permanecia. Eis que, então, uma menina que desencarnara com a idade de oito anos, aproximadamente, penetrou o recinto, acompanhada de veneranda Enti­dade. A pequenina ergueu os braços e dirigiu-se ao Espírito surpreso: "Papai! Paizinho, meu paizinho!..." Ele, aconchegando-a ao peito, res­pondeu: "Filhinha! Alma da minha alma! Mamãe!..." E afogou-se em pranto de emoção superior, desde há muito represado. A anciã era sua mãe que lhe trazia a filhinha inesquecível. Os três afetos recobravam o tempo da longa separação e saudade em demorado abraço, enquanto Noemi, anestesiada, era removida para a UTI... A mãe beijava o filho, a "ovelha que se extraviou" e agora "fora encontrada", en­quanto ele, sem conter as lágrimas, não conseguia falar. (Cap. 13, pp. 100 a 102) (Continua no próximo número.) 
 

(1) Necropsia, e não autópsia, é o termo adequado ao exame feito em cadáveres. Autópsia seria o exame que alguém faz em si mesmo.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita