MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
5)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. No tocante à
sublimação do sexo, que
lição foi anotada por
André Luiz?
O assunto era o
comportamento inadequado
de Nemésio na área
sexual e suas
infidelidades conjugais,
fato que, recriminado
por Neves, seu sogro,
suscitou o seguinte
comentário do instrutor
Félix: "Neves, Neves! A
sublimação progressiva
do sexo, em cada um de
nós, é fornalha candente
de sacrifícios
continuados. Não nos
cabe condenar alguém por
faltas em que talvez
possamos incidir ou nas
quais tenhamos sido
passíveis de culpa em
outras ocasiões.
Compreendamos para que
sejamos compreendidos".
(Sexo e Destino,
capítulo V, pp. 47 e
48.)
B. Há casos em que é
conveniente que a alma
permaneça junto do corpo
que dorme?
Sim. Era esse o caso de
Beatriz. Ao ministrar a
ela o socorro magnético,
Félix esmerou-se para
que ela se aliviasse e
dormisse,
providenciando, ainda,
para que não se
retirasse do corpo, sob
a hipnose habitual do
sono. "Não lhe convinha,
por enquanto –
esclareceu o mentor –,
afastar-se do veículo
fatigado. Em virtude dos
órgãos profundamente
enfraquecidos,
desfrutaria penetrante
lucidez espiritual e não
seria prudente
arremessá-la, de chofre,
a impressões demasiado
ativas da esfera
diferente para a qual se
transferiria, muito em
breve."
(Obra citada, capítulo
VI, pp. 49 e 50.)
C. Pode um Espírito
influenciar uma pessoa a
ponto de levá-la a
beber?
Evidentemente. André
Luiz descreve bem uma
cena dessas, em que o
Espírito se aproximou
dizendo: "Beber, meu
caro, quero beber!".
Cláudio (o encarnado)
nada ouviu. O Espírito
repetiu, então, a
solicitação algumas
vezes, na atitude do
hipnotizador que insufla
o próprio desejo,
reafirmando uma ordem. O
resultado não demorou.
Cláudio deixou-se
envolver pelo desejo de
beber um trago de
uísque, convicto de que
buscava a bebida
exclusivamente por si.
Abrigando a sugestão,
seu pensamento
transmudou-se, rápido.
"Beber, beber!..." e a
sede de álcool se lhe
articulou na ideia,
ganhando forma. A mucosa
pituitária se lhe
aguçou, como que mais
fortemente impregnada do
cheiro acre que
vagueava no ar. O
Espírito malicioso
coçou-lhe brandamente os
gorgomilos e indefinível
secura constringiu a
região assim afetada. O
Espírito sagaz
percebeu-lhe, então, a
adesão tácita e colou-se
a ele. De começo, a
carícia leve; depois da
carícia, o abraço
envolvente; e depois do
abraço, a associação
recíproca. Integraram-se
ambos em exótico sucesso
de enxertia fluídica.
(Obra citada, capítulo
VI, pp. 51 e 52.)
Texto para leitura
21. É crueldade
recusar medicação ao
doente - Félix
segurou as mãos do amigo
e ponderou: "Calma,
Neves. Sempre surge para
todos nós o dia de
provar aquilo que somos
naquilo que ensinamos.
Além disso, Nemésio
deve ser entendido..."
Neves não compreendeu
tal proposta:
"Entendido? não chegará
ter visto?" E
acrescentou, quase
irônico: "Sabe o senhor
qual é o rapaz que vem
ocupando o pensamento
dessa moça?" Félix
respondeu-lhe, com
brandura: "Sei, mas
deixa-me explicar.
Principiemos por aceitar
Nemésio na posição em
que se encontra. Como
exigir da criança
experiência da madureza
ou pedir raciocínio
certo ao alienado
mental? Sabemos que
crescimento do corpo não
expressa altura de
espírito. Nemésio é
aluno da vida, qual nós
mesmos, sem o benefício
da lição em que estamos
sendo instruídos. Que
seria de nós, na
situação dele, sem a
visão que atualmente nos
favorece? Provavelmente,
cairíamos em condições
piores..." Neves
atalhou: "Quer dizer que
devo aprová-lo?" Félix
esclareceu: "Ninguém
aplaude a enfermidade,
nem louva o
desequilíbrio; no
entanto, seria crueldade
recusar simpatia e
medicação ao doente.
Consideremos que Nemésio
não é um companheiro
desprezível.
Emaranhou-se em
sugestões perigosas, mas
não fugiu da esposa a
quem presta assistência;
mostra-se engodado por
extravagâncias emotivas
de caráter deprimente
que lhe dilapidam as
forças; contudo, não
esqueceu a
solidariedade,
resolvendo oferecer casa
própria e gratuita à
senhora que lhe presta
serviços remunerados;
acredita-se dono de
juvenilidade física
absolutamente irrisória,
quando, na realidade,
carrega um corpo em
prematuro desgaste;
dedica-se
apaixonadamente a uma
jovem que o menoscaba,
conquanto lhe consagre
apreço respeitoso... Não
bastariam estas razões
para merecer
benevolência e carinho?
Quem de nós com a
possibilidade de
auxiliar? Ele que anda
cego ou nós que
discernimos? Não posso
enaltecer-lhe as
manobras lamentáveis, na
esfera do sentimento;
entretanto, sou obrigado
a confessar que ele, na
ficha de analfabeto das
verdades da alma, ainda
não tombou de todo..."
E, com significativo tom
de voz, Félix acentuou:
"Neves, Neves! A
sublimação progressiva
do sexo, em cada um de
nós, é fornalha candente
de sacrifícios
continuados. Não nos
cabe condenar alguém por
faltas em que talvez
possamos incidir ou nas
quais tenhamos sido
passíveis de culpa em
outras ocasiões.
Compreendamos para que
sejamos compreendidos".
Neves silenciou, decerto
controlado pela
influência do amigo, e
pôs-se humildemente a
orar. (Cap. V, pp. 47 e
48)
22. Em casa de
Marina - De
volta ao aposento da
enferma, viu-se que
Nemésio e Marina haviam
saído. A camareira da
casa velava por
Beatriz. Pedro Neves
absteve-se de qualquer
comentário, para evitar
impulsos menos
construtivos. Momentos
antes, recompondo-se,
rogara do irmão Félix
desculpas pelo ataque de
cólera em que
extravasara rebeldia e
desespero. Félix o
abraçou com intimidade
e, sorridente, ponderou
que a edificação
espiritual, em muitas
circunstâncias, inclui
explosões do
sentimento, com trovões
de revolta e aguaceiros
de pranto, que acabam
descongestionando as
vias da emoção. Neves
ali estava, então,
diante dos amigos,
transformado e solícito
e foi ele quem orou, a
pedido de Félix,
enquanto o benfeitor e
André ministraram
socorro magnético à
doente. Beatriz gemia;
Félix, contudo,
esmerou-se para que ela
se aliviasse e dormisse,
providenciando, ainda,
para que não se
retirasse do corpo, sob
a hipnose habitual do
sono. "Não lhe convinha,
por enquanto –
esclareceu o mentor –,
afastar-se do veículo
fatigado. Em virtude
dos órgãos profundamente
enfraquecidos,
desfrutaria penetrante
lucidez espiritual e não
seria prudente
arremessá-la, de chofre,
a impressões demasiado
ativas da esfera
diferente para a qual se
transferiria, muito em
breve." Dali, deixando
Beatriz em repouso, a
comitiva foi até
espaçoso apartamento no
Flamengo, onde viviam os
familiares de Marina.
No limiar do recinto
doméstico, dois
Espíritos debatiam
escabrosos temas de
vampirismo e prometiam
arruaças. Eram
malandros acalentados e
perigosos e, diante
disso, foi fácil
apreciar os riscos a que
se expunham os moradores
daquele lar, sem
qualquer defesa de
espírito. O grupo entrou
e, na sala principal,
viu-se um cavalheiro de
traços finos, que lia
com atenção o jornal da
tarde. (Cap. VI, pp. 49
e 50)
23. Um caso de
enxertia fluídica
- O cavalheiro era
Cláudio Nogueira, pai
de Marina. Aparentando
quarenta e cinco anos,
Cláudio apresentava o
rosto primorosamente
tratado, em que as
linhas firmes repeliam a
notícia vaga das rugas.
Os cabelos estavam
penteados com distinção,
as unhas polidas, o
pijama impecável. Na
mão, portava ele o
cigarro fumegante e,
próximo, um cinzeiro
repleto era silenciosa
advertência contra o
abuso da nicotina. De
repente, aconteceu o
imprevisto. Os
desencarnados vistos à
entrada do apartamento
penetraram a sala e,
agindo sem-cerimônia,
abordaram o chefe da
casa. "Beber, meu caro,
quero beber!", gritou um
deles, tateando-lhe um
dos ombros. Cláudio
mantinha-se atento à
leitura e nada ouviu.
Contudo, se não possuía
tímpanos físicos para
registrar a petição,
trazia na cabeça a caixa
acústica da mente
sintonizada com o
apelante. O Espírito
repetiu, pois, a
solicitação, algumas
vezes, na atitude do
hipnotizador que insufla
o próprio desejo,
reafirmando uma ordem. O
resultado não demorou.
Viu-se o paciente
desviar-se do jornal e
deixar-se envolver pelo
desejo de beber um trago
de uísque, convicto de
que buscava a bebida
exclusivamente por si.
Abrigando a sugestão, o
pensamento de Cláudio
transmudou-se, rápido.
"Beber, beber!..." e a
sede de aguardente se
lhe articulou na ideia,
ganhando forma. A mucosa
pituitária
(1)
se lhe aguçou, como que
mais fortemente
impregnada do cheiro
acre que vagueava no
ar. O Espírito malicioso
coçou-lhe brandamente os
gorgomilos
(2)
e indefinível secura
constringiu a região
assim afetada. O
Espírito sagaz
percebeu-lhe, então, a
adesão tácita e colou-se
a ele. De começo, a
carícia leve; depois da
carícia, o abraço
envolvente; e depois do
abraço, a associação
recíproca. Integraram-se
ambos em exótico sucesso
de enxertia fluídica.
(Cap. VI, pp. 51 e 52)
24. Uma
incorporação perfeita
- André lembrou-se de
haver estudado, em
várias ocasiões, a
passagem do Espírito
exonerado do envoltório
carnal pela matéria
espessa. Ele mesmo,
quando se afazia de novo
ao clima da
Espiritualidade, após
sua desencarnação,
analisava impressões ao
transpor, maquinalmente,
obstáculos e barreiras
terrestres, recolhendo,
nos exercícios feitos, a
sensação de quem rompe
nuvens de gases
condensados. Ali, no
entanto, produzia-se
algo semelhante ao
encaixe perfeito.
Cláudio-homem absorvia o
desencarnado, à guisa de
sapato que se ajusta ao
pé. Fundiram-se os dois,
como se morassem num só
corpo. Altura idêntica.
Volume igual. Movimentos
sincrônicos.
Identificação positiva.
Levantaram-se a um tempo
e giraram integralmente
incorporados um ao
outro, na área estreita,
arrebatando o frasco de
uísque. André não podia
dizer a quem atribuir o
impulso inicial de
semelhante gesto, se a
Cláudio que admitia a
instigação ou se ao
obsessor que a propunha.
A talagada rolou através
da garganta, que se
exprimia por dualidade
singular: ambos os
dipsômanos
(3)
estalaram a língua de
prazer, em ação
simultânea.
Desmanchou-se a parelha
e Cláudio se dispunha a
sentar, quando o outro
Espírito investiu sobre
ele e protestou: "eu
também, eu também
quero!", reavivando-se
no encarnado a sugestão
que esmorecia.
Absolutamente passivo
diante da sugestão,
Cláudio reconstituiu,
mecanicamente, a
impressão de
insaciedade. Bastou isso
e o vampiro,
sorridente, apossou-se
dele, repetindo-se o
fenômeno visto
anteriormente. André
aproximou-se então de
Cláudio, para avaliar
até que ponto ele sofria
mentalmente aquele
processo de fusão. Mas
ele continuava livre, no
íntimo, e não
experimentava qualquer
espécie de tortura, a
fim de render-se.
Hospedava o outro,
simplesmente,
aceitava-lhe a direção,
entregava-se por
deliberação própria.
Nenhuma simbiose em que
fosse a vítima. A
associação era
implícita, a mistura era
natural. Efetuava-se a
ocorrência na base da
percussão. Apelo e
resposta. Eram cordas
afinadas no mesmo tom.
Após novo trago, o dono
da casa estirou-se no
divã e retomou a
leitura, enquanto os
Espíritos voltaram ao
corredor de acesso,
chasqueando,
sarcásticos... Neves
ficou intrigado: Como
situar o problema?
Cláudio fora reduzido à
condição de um fantoche.
Se a garrafa de uísque
fosse uma arma e disso
resultasse um crime, a
culpa seria dele ou dos
obsessores? Félix
aclarou: "Ora, Neves,
você precisa compreender
que nos achamos à frente
de pessoas bastante
livres para decidir e
suficientemente lúcidas
para raciocinar. No
corpo físico ou agindo
fora do corpo físico, o
Espírito é senhor da
constituição de seus
atributos.
Responsabilidade não é
título variável. Tanto
vale numa esfera, quanto
em outras". "Todos somos
livres para sugerir ou
assimilar isso ou
aquilo." (Cap. VI, pp.
52 a 55)
25. Chamamentos
campeiam em todos os
caminhos - Félix
complementou a frase,
dizendo a Neves: "Se
você fosse instado a
compartilhar um roubo,
decerto recusaria. E, na
hipótese de abraçar a
calamidade, em são
juízo, não conseguiria
desculpar-se". "Hipnose
é tema complexo,
reclamando exames e
reexames de todos os
ingredientes morais que
lhe digam respeito.
Alienação da vontade tem
limites. Chamamentos
campeiam em todos os
caminhos. Experiências
são lições e todos somos
aprendizes. Aproveitar
a convivência de um
mestre ou seguir um
malfeitor é deliberação
nossa, cujos resultados
colheremos." Vendo que
Félix não mostrava o
mínimo propósito de
afastar as entidades
vadias que pesavam no
ambiente, ao contrário
do que fez em casa de
Beatriz, onde Amaro fora
situado como guardião da
enferma, Neves
indagou-lhe o motivo do
tratamento diferenciado.
O benfeitor explicou que
a situação era
diferente. Beatriz
mantinha o hábito da
oração. Imunizava-se
espiritualmente por si.
Repelia, sem esforço,
quaisquer
formas-pensamentos de
sentido aviltante que
lhe fossem arremessadas.
Além disso, estava
enferma, em vésperas da
desencarnação. "Mas... e
Cláudio? – insistiu
Neves. – Não merecerá,
porventura, fraterna
demonstração de
caridade, a fim de
livrar-se de tão
temíveis obsessores?"
Félix respondeu:
"Temíveis obsessores
é a definição que você
dá. Cláudio desfruta
excelente saúde física.
Cérebro claro,
raciocínio seguro. É
inteligente, maduro,
experimentado. Não
carrega inibições
corpóreas que o
recomendam a cuidados
especiais. Sabe o que
quer. Possui
materialmente o que
deseja. Permanece no
tipo de vida que
procura. É natural que
esteja respirando a
influência das
companhias que julgue
aceitáveis". "Se elege
para comensais da
própria casa os
companheiros que
acabamos de ver, é
assunto dele. Enquanto
nos arrastávamos,
tolhidos pela carne, não
nos ocorreria a ideia de
expulsar da residência
alheia as pessoas que
não se harmonizassem
conosco. Agora, vendo o
mundo e as coisas do
mundo, de mais alto, não
será cabível modificar
semelhante modo de
proceder." André,
curioso, objetou: "Mas,
irmão Félix, é
importante convir que
Cláudio, liberto,
poderia ser mais
digno..." Félix
concordou: "Isso é
perfeitamente lógico.
Ninguém nega". (Cap. VI,
pp. 55 e 56)
(Continua no próximo
número.)
(1)
Mucosa pituitária é a
membrana que reveste
interiormente as fossas
nasais.
(2)
Gorgomilos: o princípio
do esôfago; garganta;
goela.
(3)
Dipsomania: impulso
mórbido que leva a
ingerir grande porção de
bebidas alcoólicas.