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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 286 - 11 de Novembro de 2012

JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)
 


O verdadeiro compromisso
do médium


Há muito havíamos aprendido a admirar aquela jovem mulher, com seus trinta e cinco anos, aproximadamente. Havia sido campeã de natação, e agora se encontrava profundamente enferma: diabética de difícil controle, hipertensa, obesa... Mas nunca perdia seu otimismo, seu senso de humor, sua força interior.

Com a diabetes avançada, sua visão foi se deteriorando e a circulação periférica se comprometendo, até que, infelizmente, teve que amputar uma das pernas.

Mas nada disso tirava sua força interior.

Só havia uma coisa nela que eu não compreendia bem: ela vivia à custa de “trabalhos espirituais” que dizia fazer para o bem de seus semelhantes. Era “mãe de santo”, como dizemos no Brasil quando nos referimos às líderes de terreiro de religiões afro-brasileiras. Mas era daquelas de ir à meia-noite ao cemitério levar oferendas aos seus guias (?!?).

Um dia, pouco tempo após ter amputado sua perna, procurou conhecido dirigente espírita de nossa região, para uma orientação. Estávamos juntos. Era a primeira vez que a víamos angustiada. Algo a atormentava.

Então ela iniciou o diálogo com algumas perguntas: “Vocês são espíritas, não são? Vocês acreditam na mediunidade, não acreditam? Vocês sabem que eu sou médium e que trabalho para ajudar pessoas... Então, por que deveria eu parar de fazer o que faço só porque minha mãe acha que o que faço é coisa ‘do demônio’?”.

Aos poucos compreendemos o conflito que ela apresentava. Enferma como estava, não iria mais poder continuar suas tarefas, que a sustentavam e lhe permitiam morar sozinha. Teve que se amparar com seus pais, que, para sua infelicidade, eram evangélicos. Puseram-se à disposição para acolhê-la em sua casa, mas desde que não “mexesse” mais com “essas coisas”.

Ela queria a opinião desse dirigente. Aguardamos, também ansioso, o que ele diria. Pensamos que se basearia na questão da venda da mediunidade. Mas nos surpreendemos com sua colocação, que foi muito além do que imaginávamos.

Ele disse mais ou menos assim:

– “Minha irmã, sua mediunidade é inquestionável e seu esforço é louvável. No entanto, só há um problema que deve ser levado a uma reflexão mais profunda: O conhecimento da vida após a vida física, bem como a compreensão da possibilidade da comunicação dos Espíritos conosco, nos coloca numa condição de débito para com a comunidade onde vivemos. O dever de ajudar aqueles que não compreendem essa realidade, espiritualizando-os”.

“Para isso, os Espíritos que por nós se comunicam deveriam participar desse grande movimento de espiritualização por que passa a Terra”.

“Através de sua mediunidade, seus guias, infelizmente, estão tornando aqueles que a procuram mais materialistas, porque, em vez de os despertarem para a realidade da vida espiritual, ficam ajudando-os a resolver os problemas de ordem material: financeiros, afetivos... Muitos dos quais, movidos por ciúmes, vaidade e egoísmo.”  

E concluiu, sem deixar margem para qualquer questionamento ou justificativas:

“Embora a senhorita diga que faz o que faz para o bem do semelhante, na verdade não o está fazendo, comprometendo-se, junto com esses Espíritos, com a evolução moral daqueles que a procuram.”

A jovem mulher deixou o ambiente um tanto constrangida, mas ciente de que teria agora de guardar suas forças para a nova luta que se lhe apresentava.

Encontramo-la uns cinco anos depois, quando ela já estava completamente cega. Quando a vimos, chamamo-la pelo nome e ela, com a força que sempre caracterizou seu espírito, reconheceu-nos pelo tom de nossa voz, e cumprimentou-nos, com muita alegria. Disse estar se adaptando àquela situação da qual não poderia mesmo se esquivar. Mais tarde, soubemos por conhecidos em comum que ela já tinha partido para a pátria espiritual. Aprendemos muito com ela e com a lição deixada por aquele dirigente sobre o compromisso do médium com a humanidade.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita