JOSÉ ANTÔNIO
VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR
(Brasil) |
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O verdadeiro compromisso
do médium
Há muito havíamos
aprendido a admirar
aquela jovem mulher, com
seus trinta e cinco
anos, aproximadamente.
Havia sido campeã de
natação, e agora se
encontrava profundamente
enferma: diabética de
difícil controle,
hipertensa, obesa... Mas
nunca perdia seu
otimismo, seu senso de
humor, sua força
interior.
Com a diabetes avançada,
sua visão foi se
deteriorando e a
circulação periférica se
comprometendo, até que,
infelizmente, teve que
amputar uma das pernas.
Mas nada disso tirava
sua força interior.
Só havia uma coisa nela
que eu não compreendia
bem: ela vivia à custa
de “trabalhos
espirituais” que
dizia fazer para o bem
de seus semelhantes. Era
“mãe de santo”,
como dizemos no Brasil
quando nos referimos às
líderes de terreiro de
religiões
afro-brasileiras. Mas
era daquelas de ir à
meia-noite ao cemitério
levar oferendas aos seus
guias (?!?).
Um dia, pouco tempo após
ter amputado sua perna,
procurou conhecido
dirigente espírita de
nossa região, para uma
orientação. Estávamos
juntos. Era a primeira
vez que a víamos
angustiada. Algo a
atormentava.
Então ela iniciou o
diálogo com algumas
perguntas: “Vocês são
espíritas, não são?
Vocês acreditam na
mediunidade, não
acreditam? Vocês sabem
que eu sou médium e que
trabalho para ajudar
pessoas... Então, por
que deveria eu parar de
fazer o que faço só
porque minha mãe acha
que o que faço é coisa ‘do
demônio’?”.
Aos poucos compreendemos
o conflito que ela
apresentava. Enferma
como estava, não iria
mais poder continuar
suas tarefas, que a
sustentavam e lhe
permitiam morar sozinha.
Teve que se amparar com
seus pais, que, para sua
infelicidade, eram
evangélicos. Puseram-se
à disposição para
acolhê-la em sua casa,
mas desde que não “mexesse”
mais com “essas
coisas”.
Ela queria a opinião
desse dirigente.
Aguardamos, também
ansioso, o que ele
diria. Pensamos que se
basearia na questão da
venda da mediunidade.
Mas nos surpreendemos
com sua colocação, que
foi muito além do que
imaginávamos.
Ele disse mais ou menos
assim:
– “Minha irmã, sua
mediunidade é
inquestionável e seu
esforço é louvável. No
entanto, só há um
problema que deve ser
levado a uma reflexão
mais profunda: O
conhecimento da vida
após a vida física, bem
como a compreensão da
possibilidade da
comunicação dos
Espíritos conosco, nos
coloca numa condição de
débito para com a
comunidade onde vivemos.
O dever de ajudar
aqueles que não
compreendem essa
realidade,
espiritualizando-os”.
“Para isso, os Espíritos
que por nós se comunicam
deveriam participar
desse grande movimento
de espiritualização por
que passa a Terra”.
“Através de sua
mediunidade, seus guias,
infelizmente, estão
tornando aqueles que a
procuram mais
materialistas, porque,
em vez de os despertarem
para a realidade da vida
espiritual, ficam
ajudando-os a resolver
os problemas de ordem
material: financeiros,
afetivos... Muitos dos
quais, movidos por
ciúmes, vaidade e
egoísmo.”
E concluiu, sem deixar
margem para qualquer
questionamento ou
justificativas:
“Embora a senhorita diga
que faz o que faz para o
bem do semelhante, na
verdade não o está
fazendo,
comprometendo-se, junto
com esses Espíritos, com
a evolução moral
daqueles que a
procuram.”
A jovem mulher deixou o
ambiente um tanto
constrangida, mas ciente
de que teria agora de
guardar suas forças para
a nova luta que se lhe
apresentava.
Encontramo-la uns cinco
anos depois, quando ela
já estava completamente
cega. Quando a vimos,
chamamo-la pelo nome e
ela, com a força que
sempre caracterizou seu
espírito, reconheceu-nos
pelo tom de nossa voz, e
cumprimentou-nos, com
muita alegria. Disse
estar se adaptando
àquela situação da qual
não poderia mesmo se
esquivar. Mais tarde,
soubemos por conhecidos
em comum que ela já
tinha partido para a
pátria espiritual.
Aprendemos muito com ela
e com a lição deixada
por aquele dirigente
sobre o compromisso do
médium com a humanidade.