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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 286 - 11 de Novembro de 2012

PAULO ARTUR GONÇALVES
pauloarturgoncalves@gmail.com
Paraisópolis, MG (Brasil)
 

 

Jesus e o Novo Testamento


O Novo Testamento contém os quatro Evangelhos (Marcos, João, Mateus e Lucas) e ainda uma série de documentos (atos, epístolas etc.).

O conteúdo do Novo Testamento transcende em muito a doutrina de Jesus tal como ele a pregou, introduzindo dogmas, doutrinas que absolutamente Jesus não ensinou nem referenciou.

Para entender como estes credos chegaram até os dias de hoje é necessário conhecer um pouco da vida do Imperador Constantino (272 a 337 d.C.).

Ele foi o primeiro imperador romano cristão e patrocinador do Concílio de Niceia em 325, o primeiro deles.

Encontramos uma suposta explicação (2) que descreve desavenças de credos em que se envolveram os cristãos a partir da morte de Jesus e faz um resumo parcial de fatos da vida de Constantino.

Sobre a desavença de credos, temos: (2)

Nos três primeiros séculos do Cristianismo, os cristãos estavam supostamente divididos em dois grupos:

- O primeiro grupo, denominado Paulista (seguidores de São Paulo), que não teve contato direto com a pregação de Jesus. Este grupo defendia a divindade de Jesus, a santíssima trindade, o pecado original, a redenção dos pecados pela fé em Jesus (que morreu na cruz para pagar nossos pecados) etc.

- O segundo grupo, denominado Apostólico (seguidores de São Pedro, Barnabé e outros), que teve contato direto com a pregação de Jesus. Este grupo Apostólico rejeitava alguns dogmas do grupo Paulista, como a divindade de Jesus e a santíssima trindade, por ser fiel ao ensinamento da Unicidade de Deus. Por outro lado, ele introduzia ensinamentos da lei judaica, tais como: circuncisão, tipos de carnes proibidas etc., que o grupo Paulista não aceitava.

OBS: É muito difícil estabelecer com precisão o conteúdo exato destes textos, pois há quem afirme que houve alteração (3) no primeiro artigo de fé do “Credo” – “Eu creio em Deus, Pai Todo-Poderoso...”, onde a palavra “Pai” foi acrescentada entre 180 e 210 d.C.. Se houve uma alteração, pode ter havido mais.

Sobre a vida de Constantino, temos: (2)

Constantino, para assegurar sua própria posição de Imperador, mandou matar o seu filho mais velho, Crispus, que estava muito prestigiado para sucedê-lo. (OBS: Há outras versões dos motivos pelos quais ele mandou matar o filho.) Colocou a culpa no enteado e também mandou matá-lo. Acuado pela rainha e seus seguidores, ele foi pedir ajuda dos padres do tempo romano e ouviu dos sacerdotes de Júpiter – que se recusavam a apoiá-lo – que não existia oração ou sacrifício que apagassem estes crimes.

Ficando em situação insustentável em Roma, ele se mudou para Bizâncio, rebatizando-a com seu nome: Constantinopla.

Lá conheceu o Cristianismo (OBS: provavelmente pelas mãos de sua mãe Helena, que era simpatizante do Cristianismo) e aprendeu que com arrependimento e penitências seus pecados seriam perdoados.

Aliviou a sua consciência com a confissão e continuou sua saga como imperador pagão. Vendo a importância política de ter os cristãos ao seu lado, os apoiava e, da mesma forma, a Igreja passou a tirar partido do poder. Os padres dos cristãos lhe foram muito úteis nas guerras menores em que venceu, atuando até como seus espiões.

(4) Disputando o controle do Império Romano com Magêncio, Constantino sonhou que, se pintasse as duas primeiras letras gregas do nome de Jesus Cristo ("X" e "P" superpostos) nas suas armas, venceria.

Fez isto e venceu Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, perto de Roma, tornando-se, no ano 312 d.C., imperador do Império Romano.

OBS: 1: Na antiguidade, a crença de que os deuses ajudavam nas batalhas era forte. Assim, Constantino acreditou que a batalha fora vencida com ajuda do deus (guia) dos cristãos, Jesus.

OBS: 2: É crença de alguns que este fato marcou a conversão de Constantino para o Cristianismo, entretanto, há outras versões (4) e (5) de que Constantino só se tornou cristão no final de sua vida. O batismo oferecia a absolvição a todos os pecados anteriores. Constantino, por força do seu ofício de imperador, pode ter percebido que suas oportunidades de pecar eram grandes e não desejou "desperdiçar" a eficácia absolutória do batismo antes de haver chegado ao fim da vida.

(2) Como apoio aos cristãos, e para diminuir o poder dos padres do Templo de Júpiter em Roma, que não o apoiaram, Constantino incentivou os cristãos a criarem uma igreja em Roma.

Ele continuou pagão, porém, as disputas das duas correntes do Cristianismo o incomodavam, já que não se entendiam e hostilizavam entre si. Desta forma, em 325 ele convocou o Concílio Ecumênico de Niceia, congregando os dois grupos.

Constantino assumiu a coordenação geral deste Concílio, embora fosse pagão e nada entendia de assuntos religiosos.

Neste Concílio, supostamente entrou com pouco mais de 270 evangelhos dos dois grupos, dentre os quais foram escolhidos os 4 (quatro) evangelhos canônicos atuais.

Como critério de escolha, a narração é bizarra, porém, vamos a ela:

Colocaram todos os textos debaixo de uma mesa e todos os bispos rezaram para que no dia seguinte os evangelhos escolhidos estivessem em cima da mesa. Retiraram-se, fechando a sala.

No outro dia, estavam em cima da mesa os quatro evangelhos canônicos atuais, por milagre, provavelmente de quem tinha chave da sala (cópia ou original) ou tinha outra forma de entrar.
Os demais viraram cinzas, porém, algumas cópias existiam, sendo que fragmentos de algumas delas (evangelhos apócrifos) foram achadas nas cavernas das montanhas do Jordão, perto do Mar Morto. Estão entre os Pergaminhos do Mar Morto.

Todos os bispos presentes assinaram o decidido em Niceia, como respeito ao imperador.
Neste concílio, além da divindade de Jesus, existência da santíssima trindade, pecado original, redenção dos pecados etc., ainda referendou-se que:

– O Sabah cristão passava do sábado para o domingo, dia do deus Sol Invictus.

– No dia 25 de dezembro, data da comemoração do deus Sol Invictus, seria comemorado o Natal, nascimento de Jesus.

OBS: Com isto, Constantino, que cunhava a esfinge do deus Sol Invictus em suas moedas (4), unificou as principais datas comemorativas dos cristãos e dos pagãos. A partir da batalha de Ponte Mílvio, passou a cunhar X superposto ao P.

(2) O grupo dos Apostólicos assinou as decisões de Niceia sem concordar e continuou não concordando. Alguns deles pagaram a heresia da continuidade do culto de suas crenças com a morte, sendo então mártires em continuidade da prática existente de martirizar os que não aceitavam as religiões pagãs.

Nos anos seguintes, o Papa se transferiu para Roma, onde o grupo Paulista não tinha opositores e estava bem relacionado com o poder.

Assim, os dogmas e teologias do grupo Paulista foram os escolhidos e persistem até hoje.
A Igreja Católica foi ganhando força e poder, e Lutero e Calvino se rebelaram. Eles não contestaram os dogmas principais do grupo Paulista e, sim, os secundários, como a adoração de imagens de santos e outros, o que não deixa de ser uma continuidade da idolatria das religiões primitivas.

CONCLUSÃO

Albert Einstein dizia: “Deus é a lei e o legislador do Universo. A religião do futuro será cósmica e transcenderá um guia (deus) pessoal, evitando os dogmas e a teologia”.
Estamos no princípio de uma nova era e nela as pessoas tendem a buscar religiões que buscam ser cósmicas, como disse Einstein.

Religião cósmica busca Deus e não um guia (deus) pessoal que, se louvado, atende pedidos (amorosos, financeiros etc.), pune, agracia etc.

Religião cósmica é isenta de dogmas, teologias, ritos, hierarquia (sacerdotes/pastores, bispos, ministros etc.), e não tenta sobrepor suas crenças às descobertas da ciência, nem distorcê-las.
Um exemplo de distorção é dizer que Darwin afirmou que o homem descende do macaco para ridicularizá-lo. Darwin afirmou que homem e macaco têm um ancestral comum, e isto é outra coisa.

O Espiritismo é o que mais se aproxima disto, com seu conceito de fé raciocinada e seu respeito/aderência às descobertas da ciência. Os espíritas se dedicam ao estudo da codificação de Kardec e, da Bíblia, ela só inclui a doutrina de Jesus como ele pregou.

A Bíblia, apesar de ser um dos livros mais vendidos no mundo, não faz parte da literatura espírita como livro sagrado e de fé religiosa.

Kardec fez citações de falas de alguns profetas, objetivando mostrar a existência da crença na reencarnação, devidamente documentada, desde as mais remotas épocas, já que a Bíblia é um livro milenar.

A proposta do Espiritismo é estudar e aplicar a Doutrina de Jesus! Isto é continuidade da “doutrina de Jesus como ele pregou”, o que é bem diferente de como pregaram por ele e/ou em nome dele.

As leis de Deus estão escritas, de forma latente, no único livro sagrado que existe, que é a consciência do homem. É necessário fazer aflorá-las e foi exatamente isto que Jesus objetivou com sua doutrina.

O Espiritismo difere das demais religiões cristãs ao apresentar estas leis sem nenhum dogma que as tire de evidência.
 


Referências:

(1) “Jesus, um Profeta do Islã”, de Muhammad`Atá Ur-Rahim. Tradução da Dra. Ana Maria de Azeredo Lobo Novais.

(2) Articles of the Apostolic Creed. Theodore Zahn, pp. 33-37.

(3) Wikipedia.

(4) Cf. Paul Veyne, Quand notre monde est devenu chrétien, Paris, Albin Michel, 2007, pgs.111/114.


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita