JOSÉ ANTÔNIO
VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR
(Brasil) |
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O divisor de águas na
vida
de Jésus Gonçalves
Ao estudarmos a história
do Espiritismo no Brasil
descobrimos a
importância que muitas
pessoas tiveram para o
crescimento e a
divulgação da Doutrina
dos Espíritos. Cada uma
no seu lugar, na sua
cidade, no seu estado,
exercendo importante
papel.
É interessante observar
que Jesus, o verdadeiro
responsável pela vinda
do Consolador Prometido
para terras brasileiras,
não apenas recrutou
Espíritos elevados,
convidando-os a
reencarnar em nosso
país, mas, e isso também
é muito significativo,
não dispensou o auxílio
aos Espíritos
endividados com as leis
divinas, convidando-os a
ressarcir seus débitos,
ao mesmo tempo em que
dariam sua cota de
contribuição,
colaborando de forma
determinada e sincera
com a nova etapa de seu
Evangelho na Terra.
Então, se pudemos
conhecer Dr. Bezerra de
Menezes, Eurípedes
Barsanulfo, Chico
Xavier, entre outros
seres iluminados a
trabalharem para o
Mestre nesta nova seara,
também pudemos conhecer
irmãos dedicados como
Jerônimo Mendonça, Jésus
Gonçalves e outros que,
se comprometidos com a
Humanidade por
desacertos em vidas
pretéritas, não deixaram
de dar seus testemunhos
de luz, fortalecendo e
exemplificando a
mensagem de Jesus em
nosso mundo, à luz do
Espiritismo.
No presente artigo,
mostraremos o grande
divisor de águas na vida
de Jésus Gonçalves,
conhecido no meio
espírita como “O Poeta
das Chagas Redentoras”.
Tendo adquirido o Mal de
Hansen ainda jovem, foi
recolhido a um Asilo
Colônia para tratamento,
que na época era muito
precário e incerto. Sem
compreender o porquê de
ser retirado da
sociedade subitamente e
ter de ficar longe de
seus afetos, embora
detentor de uma
inteligência
diferenciada e sutil
(poeta, dramaturgo,
musicista etc.),
revoltou-se contra o
“Deus de injustiças” que
ele não lograva
compreender.
E foi em um desses
Asilos de Hansenianos,
onde vivia com sua
esposa havia onze anos,
que ele, Jésus, acordou
para a realidade
espiritual.
Quem narra essa história
é Eduardo Carvalho
Monteiro, no seu livro
“A Extraordinária Vida
de Jésus Gonçalves”
(Editora Espírita
Correio Fraterno do
ABC). Vejamos alguns
trechos dessa narrativa:
“... Outro triste
acontecimento viria
fincar nova marca em seu
espírito já tão
sofrido... Sua
companheira querida, que
tantos testemunhos de
amor lhe havia dado e
depois de uma união de
12 anos, onze dos quais
em Asilos de
Hansenianos, finda sua
nova existência na
Terra, vitimada por dura
e impiedosa moléstia –
câncer de útero.
Assim, aos três de março
de 1943, ao velarem o
corpo de Anita, Jésus
Gonçalves e seus
companheiros de
Pirapitingui se veem
subitamente perplexos
diante de surpreendente
cena! Mafalda, interna
que há poucos dias
havia-se casado com
Jaime, filho de Jésus,
diz estar vendo o corpo
astral da falecida e
depois, tomada de terror
e espanto, já que pela
primeira vez, e segundo
seu próprio relato, a
última, travava contato
com um fenômeno
mediúnico, passa a
gritar histericamente e
a bater nas costas de um
dos presentes – Biguá,
ex-jogador profissional
de futebol...
... A cena perdura,
entremeada de momentos
de lucidez e transe
mediúnico de Mafalda,
até que, sem preparo
para viver tal situação,
é retirada do local por
Jaime. Jésus, então,
censura severamente
Jordelina, médium
presente ao velório, que
se utilizava do passe e
água fluídica para
acalmar a recém-casada
Mafalda.
Desgostoso como o
falecimento da esposa e
com o clima de mistério
que se formara no
ambiente, repreende:-
“Não gosto de pactuadas
comigo. Tudo isso é
bobagem! Deixe de
feitiçaria, Jordelina!”
Logo, Jordelina Linhares
da Silva, médium de
incorporação, se
predispõe a servir de
intermediária para que
houvesse a manifestação
do Espírito e, apesar da
incredulidade de Jésus,
a mensagem vinha trazer
do Além-Túmulo o
chamamento que durante
quarenta anos não
encontrara eco em seu
coração. Em linguagem
bastante íntima dos
dois, assim se dirige a
ele:- “Velho, não
duvides mais. Deus
existe!”.
E prosseguiu sua
conversação em termos
que o impressionaram
bastante pelo teor
íntimo das confidências
trocadas.
Passada a indignação
inicial, o materialista
Jésus se sentiu
sobremaneira
impressionado, no
entanto, de espírito
ponderado e analista,
não se deixou levar pelo
primeiro impacto da
emoção, mas, consultando
a razão, foi buscar nos
livros espiritistas
explicações para o
sucedido.
“O Céu e o Inferno”, de
Allan Kardec, foi o
marco inicial da grande
transformação que iria
se operar dali em diante
na vida de Jésus
Gonçalves. Porém, o fato
que culminou com a sua
total conversão
aconteceria poucos dias
depois, conforme relato
de seus contemporâneos
de Pirapitingui.
Estava Jésus, como
sempre, às voltas com
sua dor no fígado, só
que neste dia ela se
apresentava bem mais
forte que de costume.
Então ele, no auge do
sofrimento, resolve
chamar por aquele “deus”
de que tanto falavam e
ele recusava aceitar.
Logo, num extremo
recurso e dada a
inoperância dos
medicamentos que tomava,
retirou um copo de água
da talha, colocou-o na
mesa da cozinha e disse,
prática e resolutamente:
Se Deus existe mesmo,
dou cinco minutos para
que coloque nesta água
um remédio que me alivie
a dor! E marcou no
relógio... Cravados os
cinco minutos, foi beber
a água, e qual não foi
sua surpresa quando esta
se apresentou totalmente
amarga.
Impressionadíssimo,
chamou um companheiro
para provar aquela água
e a da talha, este, por
sua vez, provou e sentiu
a diferença. Estaria
ficando louco? Seria uma
alucinação? Estaria
enfeitiçado?... Mas a
dor não lhe deu tempo
para pensar e Jésus não
se fez de rogado: ao
olhar espantado do
amigo, sorveu a grossos
goles o líquido no
intuito de aliviar a dor
que não transigia.
Não demorou mais que
dois minutos para que o
efeito se fizesse sentir
e Jésus, sem folga para
refletir sobre as
emoções dos últimos
instantes, corre para o
banheiro, quase sem
tempo para acomodar-se.
Ao sair dali, Jésus, já
sem dores, entre
agradecido e espantado,
passa a reexaminar suas
bases materialistas e,
nos dias seguintes,
sofregamente, se dedica
ao estudo das obras de
Kardec, Denis,
Flammarion, Bozzano e
outros, completando,
assim, a conversão que
tivera início no velório
de Anita.”
Transformado, torna-se
um grande divulgador do
Espiritismo, passa e
trocar cartas com Chico
Xavier e, escrevendo
para pessoas do Brasil
todo, consegue, com seu
entusiasmo e a ajuda de
muitos de fora do Asilo
(como D. Laura, seu
marido Romeu e o filho
Ivan de Albuquerque),
que fosse aprovada a
primeira visita direta
dos parentes e amigos
aos internos em
tratamento. E, de sua
motivação, surge a
primeira “Caravana da
Fraternidade”, quando
vários ônibus, repletos
de entes queridos e
irradiando saudade, amor
e fraternidade, com a
autorização da
vigilância sanitária e
do governo federal,
adentraram pela primeira
vez aquele ambiente até
então reservado apenas
aos enfermos e ao
pessoal da saúde.