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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 289 - 2 de Dezembro de 2012

JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)
 


O divisor de águas na vida
de Jésus Gonçalves

 
Ao estudarmos a história do Espiritismo no Brasil descobrimos a importância que muitas pessoas tiveram para o crescimento e a divulgação da Doutrina dos Espíritos. Cada uma no seu lugar, na sua cidade, no seu estado, exercendo importante papel.

É interessante observar que Jesus, o verdadeiro responsável pela vinda do Consolador Prometido para terras brasileiras, não apenas recrutou Espíritos elevados, convidando-os a reencarnar em nosso país, mas, e isso também é muito significativo, não dispensou o auxílio aos Espíritos endividados com as leis divinas, convidando-os a ressarcir seus débitos, ao mesmo tempo em que dariam sua cota de contribuição, colaborando de forma determinada e sincera com a nova etapa de seu Evangelho na Terra.

Então, se pudemos conhecer Dr. Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, entre outros seres iluminados a trabalharem para o Mestre nesta nova seara, também pudemos conhecer irmãos dedicados como Jerônimo Mendonça, Jésus Gonçalves e outros que, se comprometidos com a Humanidade por desacertos em vidas pretéritas, não deixaram de dar seus testemunhos de luz, fortalecendo e exemplificando a mensagem de Jesus em nosso mundo, à luz do Espiritismo.

No presente artigo, mostraremos o grande divisor de águas na vida de Jésus Gonçalves, conhecido no meio espírita como “O Poeta das Chagas Redentoras”.

Tendo adquirido o Mal de Hansen ainda jovem, foi recolhido a um Asilo Colônia para tratamento, que na época era muito precário e incerto. Sem compreender o porquê de ser retirado da sociedade subitamente e ter de ficar longe de seus afetos, embora detentor de uma inteligência diferenciada e sutil (poeta, dramaturgo, musicista etc.), revoltou-se contra o “Deus de injustiças” que ele não lograva compreender.

E foi em um desses Asilos de Hansenianos, onde vivia com sua esposa havia onze anos, que ele, Jésus, acordou para a realidade espiritual.

Quem narra essa história é Eduardo Carvalho Monteiro, no seu livro “A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves” (Editora Espírita Correio Fraterno do ABC). Vejamos alguns trechos dessa narrativa:

“... Outro triste acontecimento viria fincar nova marca em seu espírito já tão sofrido... Sua companheira querida, que tantos testemunhos de amor lhe havia dado e depois de uma união de 12 anos, onze dos quais em Asilos de Hansenianos, finda sua nova existência na Terra, vitimada por dura e impiedosa moléstia – câncer de útero.

Assim, aos três de março de 1943, ao velarem o corpo de Anita, Jésus Gonçalves e seus companheiros de Pirapitingui se veem subitamente perplexos diante de surpreendente cena! Mafalda, interna que há poucos dias havia-se casado com Jaime, filho de Jésus, diz estar vendo o corpo astral da falecida e depois, tomada de terror e espanto, já que pela primeira vez, e segundo seu próprio relato, a última, travava contato com um fenômeno mediúnico, passa a gritar histericamente e a bater nas costas de um dos presentes – Biguá, ex-jogador profissional de futebol...

... A cena perdura, entremeada de momentos de lucidez e transe mediúnico de Mafalda, até que, sem preparo para viver tal situação, é retirada do local por Jaime. Jésus, então, censura severamente Jordelina, médium presente ao velório, que se utilizava do passe e água fluídica para acalmar a recém-casada Mafalda.

Desgostoso como o falecimento da esposa e com o clima de mistério que se formara no ambiente, repreende:- “Não gosto de pactuadas comigo. Tudo isso é bobagem! Deixe de feitiçaria, Jordelina!”

Logo, Jordelina Linhares da Silva, médium de incorporação, se predispõe a servir de intermediária para que houvesse a manifestação do Espírito e, apesar da incredulidade de Jésus, a mensagem vinha trazer do Além-Túmulo o chamamento que durante quarenta anos não encontrara eco em seu coração. Em linguagem bastante íntima dos dois, assim se dirige a ele:- “Velho, não duvides mais. Deus existe!”.

E prosseguiu sua conversação em termos que o impressionaram bastante pelo teor íntimo das confidências trocadas.

Passada a indignação inicial, o materialista Jésus se sentiu sobremaneira impressionado, no entanto, de espírito ponderado e analista, não se deixou levar pelo primeiro impacto da emoção, mas, consultando a razão, foi buscar nos livros espiritistas explicações para o sucedido.

“O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, foi o marco inicial da grande transformação que iria se operar dali em diante na vida de Jésus Gonçalves. Porém, o fato que culminou com a sua total conversão aconteceria poucos dias depois, conforme relato de seus contemporâneos de Pirapitingui.

Estava Jésus, como sempre, às voltas com sua dor no fígado, só que neste dia ela se apresentava bem mais forte que de costume. Então ele, no auge do sofrimento, resolve chamar por aquele “deus” de que tanto falavam e ele recusava aceitar. Logo, num extremo recurso e dada a inoperância dos medicamentos que tomava, retirou um copo de água da talha, colocou-o na mesa da cozinha e disse, prática e resolutamente:

Se Deus existe mesmo, dou cinco minutos para que coloque nesta água um remédio que me alivie a dor! E marcou no relógio... Cravados os cinco minutos, foi beber a água, e qual não foi sua surpresa quando esta se apresentou totalmente amarga. Impressionadíssimo, chamou um companheiro para provar aquela água e a da talha, este, por sua vez, provou e sentiu a diferença. Estaria ficando louco? Seria uma alucinação? Estaria enfeitiçado?... Mas a dor não lhe deu tempo para pensar e Jésus não se fez de rogado: ao olhar espantado do amigo, sorveu a grossos goles o líquido no intuito de aliviar a dor que não transigia.

Não demorou mais que dois minutos para que o efeito se fizesse sentir e Jésus, sem folga para refletir sobre as emoções dos últimos instantes, corre para o banheiro, quase sem tempo para acomodar-se. Ao sair dali, Jésus, já sem dores, entre agradecido e espantado, passa a reexaminar suas bases materialistas e, nos dias seguintes, sofregamente, se dedica ao estudo das obras de Kardec, Denis, Flammarion, Bozzano e outros, completando, assim, a conversão que tivera início no velório de Anita.”

Transformado, torna-se um grande divulgador do Espiritismo, passa e trocar cartas com Chico Xavier e, escrevendo para pessoas do Brasil todo, consegue, com seu entusiasmo e a ajuda de muitos de fora do Asilo (como D. Laura, seu marido Romeu e o filho Ivan de Albuquerque), que fosse aprovada a primeira visita direta dos parentes e amigos aos internos em tratamento. E, de sua motivação, surge a primeira “Caravana da Fraternidade”, quando vários ônibus, repletos de entes queridos e irradiando saudade, amor e fraternidade, com a autorização da vigilância sanitária e do governo federal, adentraram pela primeira vez aquele ambiente até então reservado apenas aos enfermos e ao pessoal da saúde.

        

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita