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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 291 - 16 de Dezembro de 2012

JANE MARTINS VILELA
jane.m.v.imortal@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)   
 


Degraus de ascensão


“Através dos tempos, por  cima  dos  séculos,  rola  a triste  melopeia  dos  sofrimentos  humanos;  o  lamento  dos  desgraçados  sobe  com  uma  intensidade  dilacerante,  que  tem  a regularidade  de  uma  vaga ...” (Léon  Denis, em O problema  do  Ser,  do  Destino  e  da  Dor.)

Defrontamo-nos com o espectro  da  dor em todos  os seres  na  vida  terrena. A  dor  alheia  ferreteia  a  alma,  compungindo aqueles  que já  têm  um  coração  compassivo.  Não  é  à  toa  que  ela  surge. Caminha conosco  como  socorro divino  para  o  despertar  do  amor.

Como diz  Léon  Denis, no  livro  referido  “suprimi  a  dor  e  suprimireis  ao  mesmo  tempo o  que  é  mais  digno  de  admiração  neste  mundo, isto  é,  a  coragem  de  suportá-la.  O  mais  nobre  ensinamento  que  se  pode  apresentar  aos  homens  não  é  a  memória  daqueles  que  sofreram  e  morreram  pela  verdade  e  pela  justiça ?...”

“...É necessário  sofrer  para  adquirir  e  conquistar.  Os  atos  de  sacrifício  aumentam  as  radiações  psíquicas. Há  como  que  uma  esteira  luminosa  que  segue, no  espaço, os  Espíritos  dos  heróis  e  dos  mártires...”

“...Há,  já  nesta  vida,  um  não  sei  quê  de  grave  e  enternecido  nos  rostos   que  as  lágrimas  sulcaram  muitas  vezes. Tomam  uma  expressão  de  beleza  austera, uma  espécie  de  majestade  que  impressiona  e  seduz...”

As leis  de causa  e  efeito  nos  revelam  muitas  das  dores  sem  resposta. “Por  que  sofro  tanto  se  não  mereço?”  A  dor  não  fere  apenas  a  quem  tem   culpas  no  antes,  em  encarnações  passadas.  Na  Terra,  a  dor  ainda  fere  a  todos. Um dia,  isso  passará,  quando  o  amor  viver  em  todos. Por  enquanto, mesmo  grandes Espíritos imergem  em  encarnações  dolorosas  para  darem  exemplos  de  resignação,  de  serenidade  no  sofrimento.  O Espírito sobe  degraus  de  luz  na  obediência e  na  resignação. Aflições no  atual  estágio  evolutivo  do  planeta, todos  enfrentam.

O Espiritismo é  misericordiosa  luz  divina  a  se  espalhar,  abençoada,  no  tempestuoso  plano  terreno,  onde  vagarosamente os  Espíritos  que  aqui  estamos  encarnados  aprendem  a  amar.

Pudemos ser testemunha  de  uma  grande dor. Alguns que conheceram  o fato  e  desconhecem  a reencarnação  se  perguntavam  como era  permitido  por  Deus  tanto  sofrimento  para duas  crianças? Naquele momento  para  elas  era  assim, pois  há  dores  superlativas  e  maiores, ignoradas  muitas  vezes.

Uma  menina  de  15  anos  chegou  em  estado  de  choque  ao  nosso  setor  de  trabalho. Tinha  acabado  de  desmaiar  e  sido  levada para lá pelos  parentes  desesperados.  Deitada na  maca, olhos  desmesuradamente  abertos, sem expressão, vazios... Era uma  máscara  de  dor. Corpo  minúsculo, de criança, cabelos  muito  pretos, rosto perfeito, tez  morena, cílios grandes  e  muito  negros, olhos verdíssimos, lindíssima! Seria  o  sonho  de  qualquer  jovem da atualidade  a  beleza  dela... Mas a  dor  campeia ...

As tias contaram a história  rapidamente. Estavam elas e a irmã mais nova  dela, de  12  anos, indo  para  o  Hospital  do Câncer  para  se  despedirem  da  mãe, que  estava  em fase terminal. Não  havia para essa mãe esperanças de sobreviver  na  Terra. Mandaram chamá-las. No caminho,  a  jovem  de  15  anos  desmaiou  no  carro. “Está  morrendo!” -  gritavam  as tias  desesperadas. “Precisa  de  remédio!”...

Calma, não está  morrendo, é  só  um  choque  emocional, dissemos  enquanto  nos  certificávamos  de que  fisicamente  tudo  estava bem. O problema era emocional.

História triste. Tinham ficado órfãs de pai  um ano  atrás. A  mãe  estava  sendo  acompanhada  por  neurologista, que  lhe  ministrava antidepressivos, devido  à  queixa  de  cansaço  extremo, desânimo... Imaginava ser devido  à  morte  do  marido. Dois  dias  antes  do  fato  que  citamos,  a  mãe  teve  uma  hemorragia  gástrica  e foi  levada  às  pressas  para  a emergência. Ante os exames, foi  levada  com urgência  para  o  Hospital  do  câncer  e  diagnosticada  leucemia  em  fase  terminal. Por  mais  que  tentassem,  naqueles  dois  dias  ela  só piorou.  A mãe, consciente, chamou  as  meninas  para  se  despedirem. Foi algo súbito .Em dois  dias , a  vida delas desmoronou.  A de 15 anos  não  aguentou.  Ali  estava,  olhos  muito  abertos, fixos  no  vazio,  em choque.

Tranquilamente,  dissemos-lhe  que  a  morte  não  era  o  fim, que  era  preciso  confiar  em  Deus. A  morte  era  apenas  um  abandonar  o  corpo  e  continuar  vivo. Ela encontraria, certamente, quando  mais  tranquila, sua  mãe  em  sonhos,  a  abraçaria  e  teria  certeza  do  reencontro...

A lucidez  veio  voltando  ao  seu  olhar e  lhe  dissemos: poderíamos atender  suas tias  e  você  ser  medicada, mas  um  calmante  agora  a  faria  dormir. Você precisa  ir  despedir-se  de  sua  mãe, pois,  se não  o  fizer, vai  ficar  pensando  a  vida  toda  que  poderia  ter-lhe  dado  o  último  abraço, o  último  beijo. “Você  quer  ir?” – perguntei-lhe.  A lucidez  voltou  completamente  e  ela  fez  sinal  que  sim. “Então,  coragem, força, levante-se  e vá  se  despedir  de  sua  mãe.”  E  ela  o  fez.  A  mãe  morreu,  mas ela  conseguiu  dar-lhe  o  abraço  de que  precisava e despedir-se.

As pessoas  querem  fugir  das  dores, poupar-se  em excesso. Querem calmantes. Isso não elimina  a  causa. Em alguns  casos  se  fazem  necessários,  mas  não ali..

Qual seria  o  aprendizado  reservado  às  duas  meninas?  Órfãs de pai  e  mãe. Há  muitas  dores  assim  na Terra, dores até piores, muito piores, pois elas têm família, serão  cuidadas. Experiência  difícil, mas  vai fortalecê-las para  o  futuro. 

“Você não viu  a irmã  mais nova  de 12 anos, que  estava  no  carro, lá  fora. Ainda  é  mais linda  do que essa que saiu. Parece  ter  o  céu  nos  olhos  de um  azul  lindo, rosto  belíssimo.”.  A dor vai  ampará-las  neste mundo  onde  a beleza  física  está  sendo valorizada  demais.  O sofrimento  talvez  as poupe da vaidade, porque a dor  na  Terra  é  remédio  para  o  Espírito.

Muitos pais, quando  inquiridos  sobre  o  que  desejam  para  seus  filhos,  respondem   que  querem  que  sejam  felizes. Quando  mais  amadurecidos, um  dia  responderão  que  desejam  que  sejam  homens  ou  mulheres  de  bem,  não importa  que dores tenham que passar neste  mundo, pois  assim  serão  felizes, testemunhando  o  amor, a  bondade,  a  compaixão, a  honestidade,  a  honra. Não tentarão  poupá-los das  despedidas  na  morte  dos  seus  queridos, mas lhes  ensinarão  que  a  morte  não  é  o  fim, mas uma temporária  separação, uma  temporária  saudade, uma  das  maiores  dores,  a  saudade, mas  o reencontro  virá.

Nossa jornada  terrena   é  de  aprendizagem  do  amor. Quando ele estiver  pleno  na  Terra, não  mais  dores  presenciaremos, mas  que estejamos  preparados, pois na  conjuntura  de  fatos  opostos  ao  amor  que  estão ainda  na  Terra  a  dor caminhará  com  os  homens, e em qualquer  circunstância lembremos  Jesus: “Permanecei  em  mim, que  eu permanecerei em vós”. “Vinde  a mim  todos  vós  que  vos encontrais  aflitos  e  sobrecarregados, pois  meu   jugo  é suave  e meu  fardo  é leve, e darei  descanso  para  as  vossas  almas.”

Caminhemos  com  Jesus, pois  com  ele  tudo se torna  menos amargo e mais esperançoso. Subamos  com  coragem  os  degraus  de luz  que  nos  são  ofertados, muitos  deles  como  dores  a serem suportadas, e venceremos.

Um dia a felicidade  viverá  em  nós. Isso acontecerá talvez como  o  disse o apóstolo  Paulo: “Não sou  mais eu quem vive, mas o Cristo quem vive  em mim”. Quando isso acontecer, nem doenças existirão mais na Terra.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita