MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
11)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que efeito produziu
em Marita a informação
de que Gilberto abusara
de sua confiança?
Essa informação, vinda
dos lábios de sua mãe
adotiva, levou a jovem
ao desespero. As
revelações feitas por
Márcia revolviam-lhe o
coração, quais pinças de
fogo. Ela sentia-se
desarvorada e desejava
morrer, porquanto
Gilberto lhe dera,
semanas atrás, mostras
de que preferiria
desposar efetivamente
uma moça culta, o que
ela não era. Mas, em
suas reflexões, não
conseguia compreender
por que Gilberto abusara
de sua confiança. Não
selara com ela um ajuste
de matrimônio? Não lhe
testemunhava extrema
ternura nos encontros
domingueiros, quando se
entregavam a comunhão
mais íntima?
(Sexo e Destino,
capítulo X, pp. 112 e
113.)
B. No estado em que se
encontrava, Marita
lembrou-se de quem?
A jovem lembrou-se de
Aracélia, a mãe que ela
jamais conhecera. Por
que a mãezinha não
vivera, a fim de lutarem
juntas? Consagrar-se-iam
uma à outra. Permutariam
as próprias mágoas.
Muita vez, na loja a que
servia, ouvira
apontamentos sobre
comunicações de mortos.
Seria isso verdade? "Se
Aracélia, libertada,
estivesse em alguma
parte – pensava –
indiscutivelmente lhe
acompanharia o
calvário,
compartilhar-lhe-ia o
infortúnio..." Assim
pensando, implorava
mecanicamente ao
Espírito materno a
abençoasse,
fortificasse,
protegesse. Embora sem
qualquer ideia religiosa
definida, formulava
prece muda, que valia
por funda invocação.
(Obra citada, capítulo
X, pp. 114 e 115.)
C. O Espírito de
Aracélia atendeu ao
chamado mental feito
pela filha?
Sim. Embora sem reais
condições de auxiliar a
filha, Aracélia veio ao
encontro de Marita.
Orando e chorando em
profundo silêncio,
colocou a cabeça de
Marita no próprio regaço
e, emocionando-se até às
lágrimas, cantou
suavemente uma linda
canção, o que levou
Marita a cair em pesado
sono.
(Obra citada, capítulo
X, pp. 116 e 117.)
Texto para leitura
51. Cláudio adere
à farsa -
Cláudio aproveitou a
oportunidade para
destacar em voz alta os
novos aspectos do
problema, na certeza de
que Marita o escutava.
Deplorou, assim, a
conduta de Gilberto, que
abusara da ingenuidade
de Marita e traíra-lhe a
confiança. Relacionando
pobres moças, enganadas
como a filha adotiva,
explicou que Marita era
suscetível de uma
psicose de duras
consequências. "Se
Gilberto – clamou em
alta voz – estava
propenso a desposar
Marina, que se
manifestasse. Não oporia
embargos, no entanto
exigia franqueza."
Márcia aproveitou o
ensejo e arrolou as
confidências da filha. O
rapaz se confessara.
Admirava não só os
encantos pessoais de
Marina, como a sua
competência no trabalho.
O amor entre ambos era
claro como água e
fazia-se, pois,
indispensável apoiarem a
filha, na concretização
de suas esperanças. A
cultura de Gilberto não
se compadecia das
deficiências de Marita,
que se arranjaria depois
com alguém de seu nível.
Cláudio, evidentemente,
não acreditou em tópico
nenhum do que ouvira.
Ele se desiludira, havia
muito tempo, com a filha
e notava agora que
Marina andava sem
escrúpulos entre o velho
e o moço. Tentando,
porém, atrair a
confiança de Marita,
resolveu partilhar a
farsa, afiançando
confiar na jovem que
amavam por filha. O
objetivo claro era, para
ele, afastar Gilberto da
filha adotiva, que,
ouvindo de seu aposento
toda a conversa, deixava
extravasar sua mágoa em
vibrações de intensa
dor. (Cap. IX, pp. 109 a
111)
52. O martírio de
Marita -
Estirada no leito,
Marita chorava,
desconsolada. As
revelações feitas por
Márcia revolviam-lhe o
coração, quais pinças de
fogo. Ela sentia-se
desarvorada e desejava
morrer, porquanto –
lembrava-se agora –
Gilberto lhe dera,
semanas atrás, mostras
de que preferiria
desposar efetivamente
uma moça culta, o que
ela não era. Mas, em
suas reflexões, não
conseguia compreender
por que Gilberto abusara
de sua confiança. Não
selara com ela um ajuste
de matrimônio? Não lhe
testemunhava extrema
ternura nos encontros
domingueiros, quando se
entregavam a comunhão
mais íntima? Incapaz de
duvidar da legitimidade
do carinho que recebera,
voltava-se mentalmente
para Marina. Sua
infelicidade –
conjeturava – seria
culpa da irmã. Com toda
a certeza, Marina
cobiçara o rapaz e o
envolveu na teia de
artimanhas que
entretecia como ninguém.
Era imperioso, pois,
certificar-se de que
era enjeitada e
ignorante e que nada
sobraria para ela,
apenas para Marina. A
jovem assemelhava-se,
naquele momento, a um
réu que ouvisse sentença
inapelável, mas, mesmo
assim, chorava
inconformada. A
perspectiva de perder
Gilberto induzia-lhe o
sentimento de matar ou
desaparecer. Como a
ideia de fratricídio
repugnava-lhe ao
coração, germinou de
súbito em sua mente o
pensamento de suicídio.
Após acariciá-la, de
leve, a sugestão infeliz
ganhou corpo, e
divagações negativas
tomaram-na de assalto.
"Renunciar a Gilberto e
largar os planos feitos
doeriam muito mais que
morrer" – pensava. Mas,
seria justo
acovardar-se, assim
tanto? Repelindo o
estranho apelo, apesar
das lágrimas, prometeu
coragem a si própria.
Lutaria pela felicidade
e procuraria explicar-se
com o rapaz, banindo,
juntos, a ameaça
pendente. (Cap. X, pp.
112 e 113)
53. A
mãe visita Marita
- Marita não podia
entender a peça que a
vida lhe pregava, embora
compreendesse
perfeitamente – pela
conversa entre Cláudio e
Márcia – que seu pai
adotivo estava radiante
com a perspectiva de
vê-la desembaraçada de
Gilberto. Cláudio como
que lhe falara ao longe,
ao dirigir-se à esposa,
e estava claro seu
propósito de dobrá-la,
demovê-la. Entre o asco
e a piedade, rememorava,
então, as carícias que
ele lhe dirigira naquela
noite. Como
desvencilhar-se? Por que
aquilo estava
acontecendo com ela?
Sopesando, então, as
ocorrências, pela
primeira vez sentiu medo
daquele ninho familiar a
que se reconhecia
encadeada por filha do
coração e lembrou-se de
sua mãe, imaginando as
dificuldades que sua
genitora enfrentara,
enquanto a acariciava no
ventre. Nada sabendo a
respeito do pai,
refletia no martírio da
mãe, jovem e abandonada.
Quem sabe ter-se-ia
dedicado a algum homem
proibido, empenhado o
coração a algum moço que
lhe fora roubado à
ternura de menina e
mulher? Em suas
lágrimas, Marita
suspirava por fazer-se
criança. Por que a
mãezinha não vivera, a
fim de lutarem juntas?
Consagrar-se-iam uma à
outra. Permutariam as
próprias mágoas. Muita
vez, na loja a que
servia, ouvira
apontamentos sobre
comunicações de mortos.
Seria isso verdade? "Se
Aracélia, libertada,
estivesse em alguma
parte – pensava –
indiscutivelmente lhe
acompanharia o
calvário,
compartilhar-lhe-ia o
infortúnio..." Assim
pensando, implorava
mecanicamente ao
Espírito materno a
abençoasse,
fortificasse,
protegesse... Embora sem
qualquer ideia religiosa
definida, formulava
prece muda, que valia
por funda invocação.
André intentava
consolá-la, buscando
serenar-lhe a mente,
quando duas senhoras
desencarnadas
penetraram no quarto, de
improviso. A menos
experiente das duas
adiantou-se para a
menina em oração.
Controlando-se com
dificuldade, tremia ao
enxugar o pranto
silencioso, e
inclinou-se para o leito
de Marita, como qualquer
mãe desventurada e
aflita da Terra. Era
Aracélia, que, amparada
pela doce afeição de
venerável amiga, ali
estava, atendendo aos
apelos da filha! (Cap.
X, pp. 114 e 115)
54. Uma linda
canção de ninar
- Aracélia ajoelhou-se
para beijar-lhe os
cabelos e, inclinando-se
mansamente, abraçou-a
com ternura, à maneira
de planta que se
fechasse sobre a única
flor que lhe nascera.
Marita acalmou-se e,
adivinhando a visita
pela qual suspirava,
alijou a tensão,
percebendo-se
mentalmente ocupada pela
presença da genitora,
cujos traços tentava
lembrar e reconstituir.
Outro quadro, no
entanto, superpôs-se,
comovedor. Aracélia, que
orava e chorava em
profundo silêncio,
buscava em pensamento
outra mulher, cuja
evocação lhe renovava as
energias. Via-se então
pequenina, junto da
lavadeira singela que a
trouxera, na última
reencarnação, para o
teatro da vida humana.
Imaginava-se criança,
agarrada à saia daquela
moça doente, que
mergulhava as pernas no
rio para ganhar o pão...
De olhos parados, como
se buscasse, além, no
espaço infinito, o colo
agasalhante que o tempo
arrebatara, assumiu
nova posição, colocando
a cabeça de Marita no
próprio regaço e,
emocionando-se até às
lágrimas, qual se
tivesse nos lábios
aqueles lábios de mãe,
humilde e enferma, que
jamais esqueceria,
cantou suavemente:
"Lindo anjo de meus
passos,
Descansa, meu doce bem;
Dorme, dorme nos meus
braços,
Enquanto a noite não
vem.
Dorme, filhinha querida,
Não chores, encanto meu;
Dorme, dorme, minha
vida,
Tesouro que Deus me
deu..."
Marita caiu em pesado
sono. A senhora que
tutelava Aracélia atraiu
a jovem de encontro ao
peito, no manifesto
propósito de consolá-la
e, segurando-a, falou a
André: "Irmãos, nossa
Aracélia ainda não está
em condições de amparar
a filha". E ajuntou:
"Perdoem-nos a
interferência. Nós, as
mães, em certas
dificuldades, nada mais
temos que alguma velha
canção para dar aos
nossos filhos!..." Dito
isso, retirou-se,
sustendo Aracélia, que
se lhe refugiara nos
braços, soluçando,
enquanto Marita, em
espírito, afastou-se do
corpo denso, guardando a
inquietação da criança
que anseia inutilmente
pelo calor materno...
(Cap. X, pp. 116 e 117)
55. Um choque
doloroso abate Marita
- Sucedeu, então, o que
André não poderia
prever. Esfumaram-se os
arroubos da filha
saudosa, esmaeceram-se
as atitudes infantis; a
menina de Aracélia
desaparecera e ressurgiu
nela a personalidade
feminina, estuante e
clara. Seu pensamento
era um só: Gilberto.
Largando o aposento, a
moça desceu os largos
trechos da escadaria que
contornava o elevador e,
qual sonâmbula,
magnetizada pelos
próprios reflexos,
dirigiu-se à casa do Sr.
Nemésio. Na certeza
instintiva de quem se
endereça a determinada
pessoa, pelos recursos
do olfato, sem atender a
quaisquer convenções de
forma e número, avançou
casa adentro,
acalentando a imagem de
Gilberto, que lhe
substancializava o
pensamento dominante.
Sobreveio-lhe, porém, um
choque doloroso,
porque, entrando no
quarto, surpreendeu
Gilberto nos braços da
irmã. "Canalha!
Canalha!...", bradou,
estarrecida, mas tais
gritos nem de longe
atingiram o jovem par,
completamente absorto na
permuta afetiva. André e
Neves não tiveram
dúvida. Precipitaram-se
automaticamente para a
jovem atribulada,
intentando anular-lhe a
agitação convulsiva.
Minutos depois, ela
despertava no corpo
denso, como se fosse
pequena fera aguilhoada,
retornando à gaiola.
Descerrando as
pálpebras,
vagarosamente, denotava
no olhar a feição dos
loucos, quando relaxam
os músculos em seguida a
perigoso acesso de
fúria. A pouco e pouco,
readquiriu a confiança e
acalmou-se, mas acusava
uma espécie de
tranquilidade
constrangida e amarga. A
cabeça doía, sentia-se
febril. Marita
regressara ao corpo, sob
pressa demasiada, sem
que André pudesse tomar
qualquer providência
para anestesiar-lhe a
memória. Por isso,
retinha no pensamento
particularidades do
quadro visto e ouvido e,
entrando em pranto
agoniado, só logrou
dormir, com relativa
calma, aos clarões do
dia. (Cap. X, pp. 118 a
120)(Continua no próximo
número.)