MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
13)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Marita conseguiu
relatar a Márcia, sua
mãe adotiva, o assédio
sexual sofrido de seu
pai?
Sim. Em sua ingenuidade,
ela relatou-lhe a
confissão que Cláudio
lhe fizera,
descrevendo-lhe os
modos, lance por lance.
Mas foi tudo em vão.
Márcia se fez de
desentendida e lhe disse
que Cláudio lhe narrara
certos fatos que os
convenceram da
necessidade de Marita
buscar a ajuda de um
psiquiatra. Na versão
contada por ele, foi
Marita quem,
sonambulizada, o
assaltou com beijos e
frases inconvenientes.
(Sexo e Destino,
capítulo XII, pp. 134 e
135.)
B. Que informação fez
Crescina a procurar o
pai adotivo de Marita?
Crescina, proprietária
de uma propriedade
destinada a encontros
amorosos, foi informá-lo
de que Marita desejava
encontrar-se, na noite
próxima, com Gilberto, e
para isso reservara um
compartimento existente
nos fundos da mencionada
residência. O bilhete
dirigido a Gilberto, que
ela se incumbira de
entregar, foi mostrado a
Cláudio, que o leu,
entre ciumento e
indignado.
(Obra citada, capítulo
XII, pp. 138 e 139.)
C. Qual foi a reação de
Cláudio ao ser informado
do encontro pretendido
pela filha?
Ele procurou o jovem
Gilberto, a quem
solicitou que
confirmasse sua ida ao
encontro,
comprometendo-se, porém,
a não comparecer.
Alegando preocupação com
a saúde mental de Marita,
Cláudio pediu o concurso
de Gilberto a fim de que
Marita sofresse menos.
Era preciso, pois, que
rompessem quaisquer
ligações afetivas,
evitando com isso um mal
maior para ambos. (Obra
citada, capítulo XII,
pp. 139 a 141.)
Texto para leitura
61. Marita estava
bem melhor após o amparo
espiritual -
Neves e André,
percebendo que os dias
de Beatriz se
aproximavam do transe
final e que o lar de
Cláudio Nogueira
reclamava atenção
permanente, decidiram
separar-se
momentaneamente, até que
o passamento de Beatriz
se efetivasse. Neves
ficaria ao lado da filha
enferma e André
cooperaria na
pacificação dos
Nogueiras. Ambos
continuariam, contudo, a
manter contatos
frequentes. Foi assim
que André regressou,
manhã alta, ao
apartamento de Cláudio,
no intuito de
investigar, a sós, a
paisagem que lhe
pautaria o quadro
fundamental de aplicação
do dever assumido. Ao
entrar, viu dona Márcia
conversando com a
encarregada dos serviços
domésticos, a comentar
os tópicos engraçados de
certo programa de
televisão, que a
família acabara de
instalar, com espírito
de novidade e alegria.
Os vampirizadores
estavam ausentes e o
recinto, calmo.
Lembrando-se de Marita,
André saiu para a rua e,
a breve trecho,
encontrou-a na loja,
ensaiando sorrisos para
as freguesas.
Aproximando-se, André
abraçou-a,
paternalmente,
expressando-lhe em
silêncio votos de paz e
otimismo. Marita
respondeu-lhe, de modo
instintivo, acalentando
vagas ideias de
reequilíbrio e
esperança. Sua melhora
era inequívoca. O amparo
magnético funcionara,
eficiente. A moça estava
tranquila, mais forte;
retomara o gosto pelo
trabalho, palestrava
animadamente. A presença
de André, embora não o
visse, despertou-lhe
reflexões e ela começou
a pensar... Após alguns
minutos, pressionada
pelas lembranças,
telefonou para dona
Márcia e, informada de
que ela iria a
Copacabana, à tarde,
rogou-lhe a procurasse,
se possível, às quatro.
Lanchariam juntas, tinha
algo a dizer-lhe. No
horário previsto, André
acompanhou mãe e filha
até pequenino recanto de
uma sorveteria. (Cap.
XII, pp. 132 e 133)
62. Marita fala à
Márcia sobre a conduta
de Cláudio -
Postadas ambas em clima
de segredo, Marita
desafogou-se com
dificuldade, começando
a falar, discreta e
humilde. Que dona Márcia
lhe perdoasse os
aborrecimentos daquela
hora, mas não tinha
culpa. Daria tudo para
não feri-la, mas
sentiria remorsos se não
lhe contasse o sucedido.
E, na ingenuidade de
moça inexperiente,
relatou-lhe a confissão
que Cláudio lhe fizera,
descrevendo-lhe os
modos, lance por lance.
Ela se espantara e
sofrera muitíssimo, ante
a inesperada ocorrência.
Tivesse parentes, não
vacilaria mudar-se para
evitar escândalos. Era,
contudo, sozinha,
dependente. A única
família que possuía eram
eles mesmos, os
Nogueiras, cujo nome
usava, orgulhosa, desde
a infância. Andava por
isso desorientada e
receosa. Pedia
conselhos. Dona Márcia
escutou a narrativa da
filha, sorrindo. Tamanha
impassibilidade esfriou
a disposição da jovem,
que resumiu, quanto
pôde, as confidências
que se inclinava a
expender; e, com
surpresa para Marita,
que lhe aguardava,
ansiosa, a palavra, dona
Márcia patenteou no
semblante sereno
absoluta incredulidade e
contou que Cláudio lhe
narrara certos fatos que
os convenceram da
necessidade de Marita
buscar a ajuda de um
psiquiatra. Disse ele
que naquela noite em que
Márcia voltara mais cedo
do clube, ao despertar a
filha adotiva
sonambulizada, fora
assaltado por ela com
muitos beijos e frases
inconvenientes. André
ficou estupefato com o
que ouvia, e dona
Márcia, em posição
conselheiral, recomendou
à menina esquecer
aquilo, distrair-se.
Esposa e mãe, defenderia
a paz de todos. Não
concordava, porém, em
tomar partido. Lembrou,
no entanto, que Cláudio,
no tocante às filhas,
sempre tivera a conduta
de pai exemplar. Não
era justo, em face
disso, incriminá-lo.
Tudo não passava de
imaginação enfermiça
dela própria, Marita. A
conversa tornou, por
isso, ao passado,
aludindo dona Márcia às
festas de Aracélia, às
companhias de Aracélia,
às desilusões de
Aracélia. (Cap. XII, pp.
134 e 135)
63. Madame
Crescina - Dona
Márcia alinhou, então,
histórias de seu
conhecimento, em que
sonâmbulos realizavam
proezas diversas.
Argumentou que ela e
Cláudio, perante a
ocorrência, haviam
recordado que ela, em
criança, muitas vezes
acordava aos gritos, de
madrugada, fazendo
birra e queixando-se de
inexplicáveis terrores.
Levada ao médico, o
facultativo receitara
calmantes. Rememorou,
bem-humorada, a opinião
de velho amigo da
família, que dissera
andar a menina atacada
de nictofobia, que
significa "medo da
noite". Rindo-se a essas
lembranças e
completamente alheia à
gravidade do assunto,
Márcia afagou os ombros
de Marita e
aconselhou-lhe juízo.
Perplexa, a moça não
teve ânimo para
desmentir e preferiu,
assim, silenciar; no
íntimo, contudo,
revoltava-se. Cláudio
trapaceara e Márcia
caíra no logro.
Transcorreram cinco
dias, sem que nenhum
fato digno de menção
ocorresse. Fazia uma
semana que André
conhecera aquela família
quando um companheiro
desencarnado o avisou de
que certa senhora
demandara o banco,
procurando Cláudio no
assunto que lhe tomava a
atenção. André
dirigiu-se ao local,
encontrando dita senhora
à espera de Cláudio
Nogueira. Era madame
Crescina, que se trajava
com primor, exibindo,
porém, o ar das mulheres
que, depois de perderem
as ilusões, acabam
fazendo negócio dos
prazeres que não podem
mais usufruir. Cláudio
se apresentou, lépido e
bem-posto, tendo junto
dele o vampirizador
desencarnado, qual se
lhe fora a própria
sombra. Estavam ambos
visceralmente
associados, pensando e
falando em absoluta
simbiose. "Alguma
novidade?", indagou
Cláudio, esfregando as
mãos uma na outra, com o
sorriso brejeiro de quem
prelibava festas. A
visitante, contudo,
falou-lhe, encabulada,
dos motivos que a
traziam. Recebera-lhe
Marita, a filha adotiva,
horas antes, e não
pudera subtrair-se ao
obséquio que a jovem lhe
suplicara com lágrimas.
(Cap. XII, pp. 136 e
137)
64. Marita envia
um bilhete a Gilberto
- Diante do
interlocutor, atento,
Crescina informou-o de
que Marita desejava
encontrar-se, na noite
próxima, com Gilberto,
um rapaz que, vez por
outra, lhe frequentava
o casarão. Escolhera
para isso o
compartimento separado,
nos fundos, o número
quatro, por ser mais
reservado e acolhedor, e
a remunerara para cuidar
de entregar um bilhete a
Gilberto Torres. No
bilhete, que Crescina
desdobrou aos olhos
espantados do amigo, a
jovem implorava ao
namorado fosse vê-la, às
oito da noite, no lugar
indicado. Saberia não
incomodá-lo, não tivesse
receio. Rogava-lhe a
presença e solicitava
resposta. Cláudio leu,
leu, entre ciumento e
indignado. Para ele
aquilo era o cúmulo do
sarcasmo. O
compartimento dos
fundos, o número
quatro, era o seu
recanto preferido,
quando buscava a pensão
alegre de Crescina,
para entreter-se. Marita,
sem saber,
compartia-lhe as
preferências!... O
despeito comprimia-lhe o
coração, enquanto o
obsessor desencarnado
se demorava a enlaçá-lo,
estampando no rosto
larga expressão de
astúcia. Crescina
explicou-lhe que não era
lícito esquivar-se e
que apenas o colocava ao
corrente dos fatos, não
só por dever de lealdade
aos fregueses, como
também para evitar
aborrecimentos,
suscetíveis de atrair os
olhos da polícia. Por
isso, inteirava-o de
tudo e pedia conselhos.
Cláudio reprimiu a
cólera e concentrou-se
mentalmente, à cata de
ideias, sem saber que se
acostumara a absorver-se
nas sugestões de uma
inteligência estranha à
dele. Obsessor e
obsidiado passaram a
trocar impressões, de
cérebro a cérebro, e
logo entraram em acordo
implícito. Como André
dividia a atenção entre
eles e a mulher, não lhe
foi possível verificar
seus planos e intentos.
Cláudio exibiu então um
sorriso amarelo e,
dizendo que Marita
deveria casar-se em
breves dias com
Gilberto, concordava em
que madame Crescina
levasse o bilhete ao
rapaz. Talvez –
acrescentou ele com
humor – os jovens
tivessem entrado em
arrufo e aspiravam à
reconciliação. Não
iria, pois, criar
qualquer obstáculo;
preferia aconselhar a
filha, no dia seguinte.
(Cap. XII, pp. 138 e
139)
65. Cláudio apela
diretamente a Gilberto
- Antes que Crescina se
retirasse, Cláudio
pediu-lhe fosse o
bilhete entregue somente
às duas da tarde,
horário em que Gilberto
estaria no seu
escritório com toda a
certeza, porquanto ele
tinha, como pai,
interesse em que se
efetuasse o encontro dos
jovens, aos quais se
permitia chamar "quase
noivos". Logo que a
mulher saiu, Cláudio,
sempre enlaçado pelo
obsessor, não se deu
tempo a maiores
reflexões. Aproximou-se
do telefone e vacilou um
instante, pois era a
primeira vez que se
dirigiria ao rapaz, que
detestava. Sua
hesitação não passou de
segundos, e discou para
Gilberto. Atendido,
prontamente, pediu ao
moço fosse vê-lo em
seguida, porque
precisava solicitar-lhe
um favor com vantagens
mútuas. O rapaz
gaguejou do outro lado,
denotando viva emoção, e
aquiesceu sem muitas
palavras. Minutos
depois, verificou-se o
encontro no lugar
convencionado. Gilberto
estava muito pálido,
assemelhando-se ao aluno
culpado que comparece
diante do professor, mas
o sorriso largo e
calculado com que fora
recebido deixou-o à
vontade. Caminharam lado
a lado, permutando
impressões sobre o
tempo, até se instalarem
num recanto de bar.
Cláudio esforçava-se,
quanto possível, por
parecer natural.
Invariavelmente ligado
ao vampirizador, começou
dizendo que entendia a
situação do rapaz com
clareza e que o sabia
inclinado para Marina, a
filha legítima;
entretanto – acentuou,
dramático – criara
Marita igualmente como
filha e anelava para ela
o bem-estar que sonhava
para a outra. Gilberto
o escutava embasbacado,
comovido. Aparentando
elevada condescendência,
Cláudio disfarçava de
modo absoluto a repulsão
que sentia, no íntimo,
pelo rapaz, que,
satisfeito e acalmado,
lhe agasalhava as
afirmações.
Reprimindo-se, Cláudio
prosseguiu astucioso,
salientando que Marita,
ao albergar-lhe os
testemunhos de apreço,
escorregara na paixão,
que lhe devastava a
juventude em psicose e
doença. E, dito isto,
foi ao ponto. Como pai,
pedia o concurso de
Gilberto a fim de que
Marita sofresse menos.
Era preciso, pois, que
rompessem quaisquer
ligações afetivas,
evitando com isso um mal
maior para ambos. (Cap.
XII, pp. 139 a 141)
(Continua no próximo
número.)