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Estudando a série André Luiz
Ano 6 - N° 294 - 13 de Janeiro de 2013
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Sexo e Destino

André Luiz

(Parte 13)

Damos continuidade ao estudo da obra Sexo e Destino, de André Luiz, psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier e publicada em 1963 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares 

A. Marita conseguiu relatar a Márcia, sua mãe adotiva, o assédio sexual sofrido de seu pai?

Sim. Em sua ingenuidade, ela relatou-lhe a confissão que Cláudio lhe fizera, descrevendo-lhe os modos, lance por lance. Mas foi tudo em vão. Márcia se fez de desentendida e lhe disse que Cláudio lhe narrara certos fatos que os convenceram da necessidade de Marita buscar a ajuda de um psiquiatra. Na versão contada por ele, foi Marita quem, sonambulizada, o assaltou com beijos e frases inconvenientes. (Sexo e Destino, capítulo XII, pp. 134 e 135.)

B. Que informação fez Crescina a procurar o pai adotivo de Marita?

Crescina, proprietária de uma propriedade destinada a encontros amorosos, foi informá-lo de  que Marita desejava encontrar-se, na noite próxima, com Gilberto, e para isso reservara um compartimento existente nos fundos da mencionada residência. O bilhete dirigido a Gilberto, que ela se incumbira de entregar, foi mostrado a Cláudio, que o leu, entre ciumento e indignado. (Obra citada, capítulo XII, pp. 138 e 139.)

C. Qual foi a reação de Cláudio ao ser informado do encontro pretendido pela filha?

Ele procurou o jovem Gilberto, a quem solicitou que confirmasse sua ida ao encontro, comprometendo-se, porém, a não comparecer. Alegando preocupação com a saúde mental de Marita, Cláudio pediu o concurso de Gilberto a fim de que Marita sofresse menos. Era preciso, pois, que rompessem quaisquer ligações afetivas, evitando com isso um mal maior para ambos. (Obra citada, capítulo XII, pp. 139 a 141.)

Texto para leitura

61. Marita estava bem melhor após o amparo espiritual - Neves e André, percebendo que os dias de Beatriz se aproximavam do transe fi­nal e que o lar de Cláudio Nogueira reclamava atenção permanente, de­cidiram separar-se momentaneamente, até que o passamento de Beatriz se efetivasse. Neves ficaria ao lado da filha enferma e André cooperaria na pacificação dos Nogueiras. Ambos continuariam, contudo, a manter contatos frequentes. Foi assim que André regressou, manhã alta, ao apartamento de Cláudio, no intuito de investigar, a sós, a paisagem que lhe pautaria o quadro fundamental de aplicação do dever assumido. Ao entrar, viu dona Márcia conversando com a encarregada dos serviços domésticos, a comentar os tópicos engraçados de certo programa de te­levisão, que a família acabara de instalar, com espírito de novidade e alegria. Os vampirizadores estavam ausentes e o recinto, calmo. Lem­brando-se de Marita, André saiu para a rua e, a breve trecho, encon­trou-a na loja, ensaiando sorrisos para as freguesas. Aproximando-se, André abraçou-a, paternalmente, expressando-lhe em silêncio votos de paz e otimismo. Marita respondeu-lhe, de modo instintivo, acalentando vagas ideias de reequilíbrio e esperança. Sua melhora era inequívoca. O amparo magnético funcionara, eficiente. A moça estava tranquila, mais forte; retomara o gosto pelo trabalho, palestrava animadamente. A presença de André, embora não o visse, despertou-lhe reflexões e ela começou a pensar... Após alguns minutos, pressionada pelas lembranças, telefonou para dona Márcia e, informada de que ela iria a Copacabana, à tarde, rogou-lhe a procurasse, se possível, às quatro. Lanchariam juntas, tinha algo a dizer-lhe. No horário previsto, André acompanhou mãe e filha até pequenino recanto de uma sorveteria. (Cap. XII, pp. 132 e 133) 

62. Marita fala à Márcia sobre a conduta de Cláudio - Postadas ambas em clima de segredo, Marita desafogou-se com dificuldade, come­çando a falar, discreta e humilde. Que dona Márcia lhe perdoasse os aborrecimentos daquela hora, mas não tinha culpa. Daria tudo para não feri-la, mas sentiria remorsos se não lhe contasse o sucedido. E, na ingenuidade de moça inexperiente, relatou-lhe a confissão que Cláudio lhe fizera, descrevendo-lhe os modos, lance por lance. Ela se espan­tara e sofrera muitíssimo, ante a inesperada ocorrência. Tivesse pa­rentes, não vacilaria mudar-se para evitar escândalos. Era, contudo, sozinha, dependente. A única família que possuía eram eles mesmos, os Nogueiras, cujo nome usava, orgulhosa, desde a infância. Andava por isso desorientada e receosa. Pedia conselhos. Dona Márcia escutou a narrativa da filha, sorrindo. Tamanha impassibilidade esfriou a dispo­sição da jovem, que resumiu, quanto pôde, as confidências que se in­clinava a expender; e, com surpresa para Marita, que lhe aguardava, ansiosa, a palavra, dona Márcia patenteou no semblante sereno absoluta incredulidade e contou que Cláudio lhe narrara certos fatos que os convenceram da necessidade de Marita buscar a ajuda de um psiquiatra. Disse ele que naquela noite em que Márcia voltara mais cedo do clube, ao despertar a filha adotiva sonambulizada, fora assaltado por ela com muitos beijos e frases inconvenientes. André ficou estupefato com o que ouvia, e dona Márcia, em posição conselheiral, recomendou à menina esquecer aquilo, distrair-se. Esposa e mãe, defenderia a paz de todos. Não concordava, porém, em tomar partido. Lembrou, no entanto, que Cláudio, no tocante às filhas, sempre tivera a conduta de pai exem­plar. Não era justo, em face disso, incriminá-lo. Tudo não passava de imaginação enfermiça dela própria, Marita. A conversa tornou, por isso, ao passado, aludindo dona Márcia às festas de Aracélia, às com­panhias de Aracélia, às desilusões de Aracélia. (Cap. XII, pp. 134 e 135) 

63. Madame Crescina - Dona Márcia alinhou, então, histórias de seu conhecimento, em que sonâmbulos realizavam proezas diversas. Argu­mentou que ela e Cláudio, perante a ocorrência, haviam recordado que ela, em criança, muitas vezes acordava aos gritos, de madrugada, fa­zendo birra e queixando-se de inexplicáveis terrores. Levada ao mé­dico, o facultativo receitara calmantes. Rememorou, bem-humorada, a opinião de velho amigo da família, que dissera andar a menina atacada de nictofobia, que significa "medo da noite". Rindo-se a essas lem­branças e completamente alheia à gravidade do assunto, Márcia afagou os ombros de Marita e aconselhou-lhe juízo. Perplexa, a moça não teve ânimo para desmentir e preferiu, assim, silenciar; no íntimo, contudo, revoltava-se. Cláudio trapaceara e Márcia caíra no logro. Transcorre­ram cinco dias, sem que nenhum fato digno de menção ocorresse. Fazia uma semana que André conhecera aquela família quando um companheiro desencarnado o avisou de que certa senhora demandara o banco, procu­rando Cláudio no assunto que lhe tomava a atenção. André dirigiu-se ao local, encontrando dita senhora à espera de Cláudio Nogueira. Era ma­dame Crescina, que se trajava com primor, exibindo, porém, o ar das mulheres que, depois de perderem as ilusões, acabam fazendo negócio dos prazeres que não podem mais usufruir. Cláudio se apresentou, lé­pido e bem-posto, tendo junto dele o vampirizador desencarnado, qual se lhe fora a própria sombra. Estavam ambos visceralmente associados, pensando e falando em absoluta simbiose. "Alguma novidade?", indagou Cláudio, esfregando as mãos uma na outra, com o sorriso brejeiro de quem prelibava festas. A visitante, contudo, falou-lhe, encabulada, dos motivos que a traziam. Recebera-lhe Marita, a filha adotiva, horas antes, e não pudera subtrair-se ao obséquio que a jovem lhe suplicara com lágrimas. (Cap. XII, pp. 136 e 137) 

64. Marita envia um bilhete a Gilberto - Diante do interlo­cutor, atento, Crescina informou-o de que Marita desejava encontrar-se, na noite próxima, com Gilberto, um rapaz que, vez por outra, lhe frequen­tava o casarão. Escolhera para isso o compartimento separado, nos fun­dos, o número quatro, por ser mais reservado e acolhedor, e a remunerara para cuidar de entregar um bilhete a Gilberto Torres. No bilhete, que Crescina desdobrou aos olhos espantados do amigo, a jovem implo­rava ao namorado fosse vê-la, às oito da noite, no lugar indi­cado. Sa­beria não incomodá-lo, não tivesse receio. Rogava-lhe a pre­sença e so­licitava resposta. Cláudio leu, leu, entre ciumento e indig­nado. Para ele aquilo era o cúmulo do sarcasmo. O compartimento dos fundos, o nú­mero quatro, era o seu recanto preferido, quando buscava a pensão ale­gre de Crescina, para entreter-se. Marita, sem saber, com­partia-lhe as preferências!... O despeito comprimia-lhe o coração, en­quanto o ob­sessor desencarnado se demorava a enlaçá-lo, estampando no rosto larga expressão de astúcia. Crescina explicou-lhe que não era lícito esqui­var-se e que apenas o colocava ao corrente dos fatos, não só por dever de lealdade aos fregueses, como também para evitar abor­recimentos, suscetíveis de atrair os olhos da polícia. Por isso, in­teirava-o de tudo e pedia conselhos. Cláudio reprimiu a cólera e con­centrou-se men­talmente, à cata de ideias, sem saber que se acostumara a absorver-se nas sugestões de uma inteligência estranha à dele. Ob­sessor e obsi­diado passaram a trocar impressões, de cérebro a cérebro, e logo entraram em acordo implícito. Como André dividia a atenção en­tre eles e a mulher, não lhe foi possível verificar seus planos e in­tentos. Cláu­dio exibiu então um sorriso amarelo e, dizendo que Marita deveria ca­sar-se em breves dias com Gilberto, concordava em que madame Crescina levasse o bilhete ao rapaz. Talvez –  acrescentou ele com hu­mor –  os jovens tivessem entrado em arrufo e aspiravam à reconcilia­ção. Não iria, pois, criar qualquer obstáculo; preferia aconselhar a filha, no dia seguinte. (Cap. XII, pp. 138 e 139) 

65. Cláudio apela diretamente a Gilberto - Antes que Crescina se retirasse, Cláudio pediu-lhe fosse o bilhete entregue somente às duas da tarde, horário em que Gilberto estaria no seu escritório com toda a certeza, porquanto ele tinha, como pai, interesse em que se efetuasse o encontro dos jovens, aos quais se permitia chamar "quase noivos". Logo que a mulher saiu, Cláudio, sempre enlaçado pelo obsessor, não se deu tempo a maiores reflexões. Aproximou-se do telefone e vacilou um instante, pois era a primeira vez que se dirigiria ao rapaz, que detes­tava. Sua hesitação não passou de segundos, e discou para Gilberto. Atendido, prontamente, pediu ao moço fosse vê-lo em seguida, porque precisava solicitar-lhe um favor com vantagens mútuas. O rapaz gague­jou do outro lado, denotando viva emoção, e aquiesceu sem muitas pa­lavras. Minutos depois, verificou-se o encontro no lugar convencio­nado. Gilberto estava muito pálido, assemelhando-se ao aluno culpado que comparece diante do professor, mas o sorriso largo e calculado com que fora recebido deixou-o à vontade. Caminharam lado a lado, permu­tando impressões sobre o tempo, até se instalarem num recanto de bar. Cláudio esforçava-se, quanto possível, por parecer natural. Invaria­velmente ligado ao vampirizador, começou dizendo que entendia a situa­ção do rapaz com clareza e que o sabia inclinado para Marina, a filha legítima; entretanto –  acentuou, dramático – criara Marita igual­mente como filha e anelava para ela o bem-estar que sonhava para a ou­tra. Gilberto o escutava embasbacado, comovido. Aparentando elevada condescendência, Cláudio disfarçava de modo absoluto a repulsão que sentia, no íntimo, pelo rapaz, que, satisfeito e acalmado, lhe agasa­lhava as afirmações. Reprimindo-se, Cláudio prosseguiu astucioso, sa­lientando que Marita, ao albergar-lhe os testemunhos de apreço, escor­regara na paixão, que lhe devastava a juventude em psicose e doença. E, dito isto, foi ao ponto. Como pai, pedia o concurso de Gilberto a fim de que Marita sofresse menos. Era preciso, pois, que rompessem quaisquer ligações afetivas, evitando com isso um mal maior para am­bos. (Cap. XII, pp. 139 a 141) (Continua no próximo número.)



 


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