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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 294 - 13 de Janeiro de 2013

LEONARDO MACHADO
leomachadot@gmail.com 
Recife, Pernambuco (Brasil)
 


O ser espiritual e o adoecimento



“(...) os Espíritos não são senão as almas dos homens, despojados do invólucro corpóreo.” - Allan Kardec [1]

Para a Doutrina Espírita, o Espírito é o ser inteligente do universo e, portanto, o elemento fundamental do homem[2]. É dele, assim, ou mais precisamente da alma – “foco da consciência e da personalidade” (DENIS, p. 199-200)[3] –, que surgem as consequências exteriorizadas em saúde ou doença.

Criado por Deus sem conhecimentos ou grandes complexidades, partilha de um elemento divino em sua constituição. A depender, porém, das escolhas que tome, deixará que esta luz se exteriorize ou fique acobertada pelo grau de complexos inferiores que desenvolva.

Desta maneira, as perturbações que afetam a essência espiritual da criatura[4] vão se exteriorizar, mais cedo ou mais tarde, em sintomas doentios. Do mesmo modo, o bem-estar que permeia o interior de cada indivíduo surgirá, oportunamente, em saúde total[5].

Às vezes, pessoas profundamente em paz passam por doenças[6]. Contudo, transbordam um bem-estar real que contagia os circunvizinhos, denotando que são saudáveis, muito embora estejam momentaneamente doentes[7]. Mais tarde, quando a fumaça baixar, a qual foi resultado do ontem ou de uma missão, a saúde total aparecerá.

O contrário, igualmente, acontece. Indivíduos sem nenhum compromisso ético, ou em grande conflito mental, parecem não adoecer. Mas, também aí, gozam somente de uma saúde parcial. No entanto, inversamente, têm o “eu” espiritual adoecido, mesmo que o corpo esteja sem sinais mórbidos. Futuramente, porém, adentrarão, se não virarem o jogo, em uma doença total[8].

Na realidade, estes aparentes paradoxos em que se vive são frutos de um viés de visão – enxergamos apenas uma fotografia do script do ser.

Por isto, ao que se chama de vida, o Espiritismo vê como uma existência, ou seja, um instante dentro da real vida do Espírito imortal. Dessa forma, sai-se de tal erro.

Tendo esta visão, entretanto, o Espiritismo não nega a importância de outros setores no binômio saúde-doença[9].

Verifica, no entanto, que o único determinismo espiritual do ser é a perfeição, assim como o material é a morte biológica[10].

Desta forma, o meio ambiente só logrará gerar síndromes se provocar perturbações no indivíduo[11]. Do mesmo modo, o corpo[12].

Geradas estas alterações psíquicas[13], chega-se ao patológico.

Assim, para a Doutrina Espírita toda doença tem um fundo espiritual[14], sobretudo a mental, já que passa pelas entranhas do Espírito imortal.


“(...) na retaguarda dos desequilíbrios mentais (...), tanto quanto por trás de enfermidades psíquicas clássicas, (...) permanecem as perturbações da individualidade transviada do caminho que as Leis Divinas lhe assinalam à evolução moral”. André Luiz [15]
 
 
Notas: 

[1] Em O Livro dos Médiuns, capítulo 1.

[2] Para o Espiritismo, o homem é um Espírito que possui um corpo. E o Espírito é entendido como a junção da alma com o perispírito, conforme se verá adiante.

[3] Em Depois da Morte, capítulo 24.

[4] Aqui considerada como a própria individualidade.

[5] Pode-se chamar, didaticamente, de saúde total quando corpo e espírito gozam de saúde. Esta não é uma nomenclatura oficial, apenas didática utilizada por este autor.

[6] Que podem ser resquícios do passado recente ou remoto. Ver-se-á à frente.

[7] Pode-se chamar, didaticamente, este estado de saúde parcial – o corpo doente, porém, o espírito saudável. Esta não é uma nomenclatura oficial, apenas didática utilizada por este autor.

[8] Didaticamente, doença total – atinge o espírito e o corpo a um só tempo. Esta não é uma nomenclatura oficial, apenas didática utilizada por este autor.

[9] Como se perceberá ao longo destas páginas.

[10] A qual, em última análise, é uma transformação, já que os elementos constitutivos do corpo dão origem a outras substâncias.

[11] Até mesmo processos infecciosos não afetam igualmente todos os que entram em contato com o gérmen, mas somente os susceptíveis, pelos mais variados motivos.

[12] Isto não invalida a importância do biológico. Contudo, para o Espiritismo, mesmo sabendo que o corpo tem grande influência sobre o ser humano, é o ser espiritual o maestro que o rege.

[13] Não se sabe ao certo o que é a mente, o que é o psíquico. Para a Doutrina Espírita, no entanto, ela não é somente consequência dos neurônios. Enquanto o ser está ligado à matéria, ela passa pelo corpo, mas não é ele. Assim, ela está muito mais vinculada ao ser espiritual. Não se sabe, entretanto, se ela é um departamento específico do espírito ou se é ele como um todo – tal especificação parece ser, ainda, por demais profunda para o nosso conhecimento.

[14] Muito embora não pareça ser o caso do adoecimento mental, é importante ter em mente que no processo evolutivo do planeta, o corpo sofre as consequências naturais do envelhecimento. Desta maneira, algumas doenças pontuais parecem ser muito mais periféricas, pelo menos em sua origem. Muito embora possam se somar a pendências da alma, aumentando e transformando a perspectiva deste adoecer misto. É o caso, por exemplo, do crescimento da próstata no sexo masculino. Fala-se que, se todos os homens vivessem cem anos, praticamente todos teriam uma hiperplasia[14] prostática. Entretanto, no caso de uma condição meramente material, este aumento não traria maiores consequências para o indivíduo.

[15] Em Mecanismos da mediunidade, psicografia de Chico Xavier, cap. 24.

 

 

Leonardo Machado é médico, residente em psiquiatria, palestrante espírita, compositor e escritor.



 


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