LEONARDO MACHADO
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Recife,
Pernambuco
(Brasil) |
|
O ser espiritual
e o adoecimento
“(...) os
Espíritos não
são senão as
almas dos
homens,
despojados do
invólucro
corpóreo.” -
Allan Kardec [1]
Para a
Doutrina
Espírita, o
Espírito é o ser
inteligente do
universo e,
portanto, o
elemento
fundamental do
homem[2]. É
dele, assim, ou
mais
precisamente da
alma – “foco da
consciência e da
personalidade”
(DENIS, p.
199-200)[3] –,
que surgem as
consequências
exteriorizadas
em saúde ou
doença.
Criado por Deus
sem
conhecimentos ou
grandes
complexidades,
partilha de um
elemento divino
em sua
constituição. A
depender, porém,
das escolhas que
tome, deixará
que esta luz se
exteriorize ou
fique acobertada
pelo grau de
complexos
inferiores que
desenvolva.
Desta maneira,
as perturbações
que afetam a
essência
espiritual da
criatura[4] vão
se exteriorizar,
mais cedo ou
mais tarde, em
sintomas
doentios. Do
mesmo modo, o
bem-estar que
permeia o
interior de cada
indivíduo
surgirá,
oportunamente,
em saúde
total[5].
Às vezes,
pessoas
profundamente em
paz passam por
doenças[6].
Contudo,
transbordam um
bem-estar real
que contagia os
circunvizinhos,
denotando que
são saudáveis,
muito embora
estejam
momentaneamente
doentes[7]. Mais
tarde, quando a
fumaça baixar, a
qual foi
resultado do
ontem ou de uma
missão, a saúde
total aparecerá.
O contrário,
igualmente,
acontece.
Indivíduos sem
nenhum
compromisso
ético, ou em
grande conflito
mental, parecem
não adoecer.
Mas, também aí,
gozam somente de
uma saúde
parcial. No
entanto,
inversamente,
têm o “eu”
espiritual
adoecido, mesmo
que o corpo
esteja sem
sinais mórbidos.
Futuramente,
porém,
adentrarão, se
não virarem o
jogo, em uma
doença total[8].
Na realidade,
estes aparentes
paradoxos em que
se vive são
frutos de um
viés de visão –
enxergamos
apenas uma
fotografia do
script do ser.
Por isto, ao que
se chama de
vida, o
Espiritismo vê
como uma
existência, ou
seja, um
instante dentro
da real vida do
Espírito
imortal. Dessa
forma, sai-se de
tal erro.
Tendo esta
visão,
entretanto, o
Espiritismo não
nega a
importância de
outros setores
no binômio
saúde-doença[9].
Verifica, no
entanto, que o
único
determinismo
espiritual do
ser é a
perfeição, assim
como o material
é a morte
biológica[10].
Desta forma, o
meio ambiente só
logrará gerar
síndromes se
provocar
perturbações no
indivíduo[11].
Do mesmo modo, o
corpo[12].
Geradas estas
alterações
psíquicas[13],
chega-se ao
patológico.
Assim, para a
Doutrina
Espírita toda
doença tem um
fundo
espiritual[14],
sobretudo a
mental, já que
passa pelas
entranhas do
Espírito
imortal.
“(...) na
retaguarda dos
desequilíbrios
mentais (...),
tanto quanto por
trás de
enfermidades
psíquicas
clássicas, (...)
permanecem as
perturbações da
individualidade
transviada do
caminho que as
Leis Divinas lhe
assinalam à
evolução moral”.
André Luiz [15]
Notas:
[1] Em O Livro
dos Médiuns,
capítulo 1.
[2] Para o
Espiritismo, o
homem é um
Espírito que
possui um corpo.
E o Espírito é
entendido como a
junção da alma
com o
perispírito,
conforme se verá
adiante.
[3] Em Depois da
Morte, capítulo
24.
[4] Aqui
considerada como
a própria
individualidade.
[5] Pode-se
chamar,
didaticamente,
de saúde total
quando corpo e
espírito gozam
de saúde. Esta
não é uma
nomenclatura
oficial, apenas
didática
utilizada por
este autor.
[6] Que podem
ser resquícios
do passado
recente ou
remoto. Ver-se-á
à frente.
[7] Pode-se
chamar,
didaticamente,
este estado de
saúde parcial –
o corpo doente,
porém, o
espírito
saudável. Esta
não é uma
nomenclatura
oficial, apenas
didática
utilizada por
este autor.
[8]
Didaticamente,
doença total –
atinge o
espírito e o
corpo a um só
tempo. Esta não
é uma
nomenclatura
oficial, apenas
didática
utilizada por
este autor.
[9] Como se
perceberá ao
longo destas
páginas.
[10] A qual, em
última análise,
é uma
transformação,
já que os
elementos
constitutivos do
corpo dão origem
a outras
substâncias.
[11] Até mesmo
processos
infecciosos não
afetam
igualmente todos
os que entram em
contato com o
gérmen, mas
somente os
susceptíveis,
pelos mais
variados
motivos.
[12] Isto não
invalida a
importância do
biológico.
Contudo, para o
Espiritismo,
mesmo sabendo
que o corpo tem
grande
influência sobre
o ser humano, é
o ser espiritual
o maestro que o
rege.
[13] Não se sabe
ao certo o que é
a mente, o que é
o psíquico. Para
a Doutrina
Espírita, no
entanto, ela não
é somente
consequência dos
neurônios.
Enquanto o ser
está ligado à
matéria, ela
passa pelo
corpo, mas não é
ele. Assim, ela
está muito mais
vinculada ao ser
espiritual. Não
se sabe,
entretanto, se
ela é um
departamento
específico do
espírito ou se é
ele como um todo
– tal
especificação
parece ser,
ainda, por
demais profunda
para o nosso
conhecimento.
[14] Muito
embora não
pareça ser o
caso do
adoecimento
mental, é
importante ter
em mente que no
processo
evolutivo do
planeta, o corpo
sofre as
consequências
naturais do
envelhecimento.
Desta maneira,
algumas doenças
pontuais parecem
ser muito mais
periféricas,
pelo menos em
sua origem.
Muito embora
possam se somar
a pendências da
alma, aumentando
e transformando
a perspectiva
deste adoecer
misto. É o caso,
por exemplo, do
crescimento da
próstata no sexo
masculino.
Fala-se que, se
todos os homens
vivessem cem
anos,
praticamente
todos teriam uma
hiperplasia[14]
prostática.
Entretanto, no
caso de uma
condição
meramente
material, este
aumento não
traria maiores
consequências
para o
indivíduo.
[15] Em
Mecanismos da
mediunidade,
psicografia de
Chico Xavier,
cap. 24.
Leonardo Machado
é médico,
residente em
psiquiatria,
palestrante
espírita,
compositor e
escritor.