MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
14)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Gilberto concordou com o pedido de Cláudio?
Sim. Ele concordou com o plano assentado e autorizou o senhor
Cláudio Nogueira a
comunicar a Marita, na
noite mencionada, que
faltara ao encontro em
virtude do agravamento
da saúde materna.
(Sexo e Destino, capítulo XII, pp. 142 a 144.)
B. Como André Luiz procedeu para fazer-se visível ao obsessor de
Cláudio?
Ele recolheu-se em um
ângulo tranquilo, à
frente do mar, e orou,
buscando forças.
Meditou, fundo, compondo
cada particularidade de
sua configuração
exterior, espessando
traços e mudando o tom
de sua apresentação
habitual. Quase uma hora
de elaboração difícil
esgotou-se, até que
percebeu estar pronto
para empreender a
conversação desejada.
(Obra citada, capítulo XIII, pp. 145 a 147.)
C. Para salvar Marita do perigo a que se expunha, André Luiz buscou
o concurso de várias
pessoas encarnadas. Por
que não teve êxito?
Em vão André Luiz
girou da pensão ao
escritório, do
escritório à loja, da
loja ao banco, do banco
ao apartamento no
Flamengo, mas não
encontrou ninguém
estendendo antenas
espirituais, ninguém
orando, ninguém
refletindo. Em todos os
lugares, os pensamentos
eram sobre sexo ou
dinheiro. Até mesmo um
dos chefes de Marita, do
qual André se acercou,
tentando insuflar-lhe a
ideia de reter a jovem
até mais tarde, ao
sentir-lhe a imagem na
tela mental, transmitida
por André, como etapa
inicial do entendimento,
acreditou estar pensando
consigo mesmo,
inclinando o assunto
para questões salariais
e concentrando-se, de
pronto, em temas de
ordem financeira e
conexos. Todas as
diligências foram, desse
modo, inúteis.
(Obra citada, capítulo XIII, pp. 149 a 151.)
Texto para leitura
66. Cláudio obtém
o apoio do rapaz
- Afirmando contar com
seu concurso, Cláudio
revelou ao rapaz, em
caráter confidencial,
que Marita lhe enviara
um bilhete e, para
provar o que dizia,
recitou de cor o pequeno
texto, sílaba a sílaba.
Prosseguindo a farsa,
indagou a Gilberto se
ele havia recebido tal
recado. Ante a resposta
negativa, rogou, então,
ao rapaz dois favores:
responder
afirmativamente, por
escrito, que estaria no
local indicado, e
abster-se de comparecer
no momento preciso.
Fantasiou que a menina
andava desorientada,
enferma, e temia um
choque. Não dispunha,
pois, de outro remédio
senão pedir-lhe aquele
tipo de cooperação,
porque naquele mesmo dia
estava providenciando
os documentos
necessários para que
Marita fosse à
Argentina, em companhia
de Márcia, numa viagem
de refazimento e
recreio. Não seria
prudente estragar-lhe o
ânimo, naquela hora, com
uma negação formal. O
plano de Cláudio
encantou o filho dos
Torres. A proposta
pareceu-lhe uma peça
vazada em profundo
bom-senso e – o mais
importante –
ajudá-lo-ia a
libertar-se de um
compromisso que lhe
pesava demasiado na
consciência.
Completamente
desinibido, ajustou a
máscara fisionômica que
julgou cabível às suas
próprias conveniências e
asseverou que dedicara
a Marita uma boa
amizade, de irmão para
irmão, nada mais.
Destacou que,
efetivamente, anotara
nela determinadas
alterações que o haviam
desgostado, e, já que se
sentia inequivocamente
atraído para Marina,
afastara-se, cauteloso,
na esperança de que
tempo e distância
funcionassem. Cláudio o
escutava, boquiaberto,
admirando-lhe a
delicada frieza das
justificações e
indagando a si mesmo
qual deles dois seria
maior na arte de fingir.
Gilberto concordou,
portanto, com o plano
assentado e autorizou o
senhor Nogueira a
comunicar a Marita, na
noite mencionada, que
faltara ao encontro em
virtude do agravamento
da saúde materna. Em
seguida, separaram-se
com efusivo abraço,
enquanto André foi até o
apartamento no Flamengo,
intrigado, conjeturando
sobre o que estaria por
acontecer. (Cap. XII,
pp. 142 a 144)
67. André se
transfigura e se faz
visível -
Apreensivo, André
expediu comunicação, em
despacho rápido, para o
irmão Félix, salientando
a necessidade de um
encontro. A resposta foi
imediata, mas Félix o
avisou de que poderia
encontrar-se com ele
apenas à noitinha, não
mais cedo, à vista de
inadiáveis obrigações.
Como não era possível
contar com Neves, cabia
a André agir só. O
momento não comportava
vacilações nem aflições
inúteis. Era preciso
manejar os recursos em
mão. André julgou
prudente, então, para
intervir com segurança,
ouvir o obsessor de
Cláudio, que ele
desconhecia de todo. A
princípio, eram dois;
entretanto, apenas um
deles se mantinha
constante, aquele cuja
inteligência aguçada
lhe ferira a atenção.
Rememorando experiências
anteriores, em que
juntamente com outros
amigos desencarnados
modificara a
apresentação externa,
através de profundo
esforço mental, André
decidiu fazer-se
visível à frente do
enigmático companheiro
de Cláudio. Poderia
transfigurar-se,
adensando a forma, como
alguém que enverga roupa
diferente. Recolheu-se,
então, em um ângulo
tranquilo, à frente do
mar, e orou, buscando
forças. Meditou, fundo,
compondo cada
particularidade de sua
configuração exterior,
espessando traços e
mudando o tom de sua
apresentação habitual.
Quase uma hora de
elaboração difícil
esgotou-se, até que
percebeu estar pronto
para empreender a
conversação desejada.
Avançou até o prédio e
bateu à porta,
cerimonioso. O parceiro
de Cláudio o atendeu.
Olhando-o, desconfiado,
de alto a baixo,
esquadrinhou-lhe os
intuitos. André
humilhou-se,
vulgarizando a linguagem
quanto podia, porque
semelhante atitude era
indispensável ao
objetivo visado, que era
recolher informações
acerca do caso. Afetando
absoluto desinteresse
pelos moradores do
apartamento, André
centralizou no
vampirizador o núcleo
natural de sua atenção.
Explicou andar
procurando um amigo e
perguntou pelo outro
camarada que vira ali,
dias antes. Vira-os
juntos, precisamente
naquele local, quando
transitava pelo
corredor; entretanto,
passava apressado, a
peso de obrigações.
Guardara, porém, a
impressão de que o
companheiro cujo
encontro ambicionava
era ele. (Cap. XIII,
pp. 145 a 147)
68. Um caso de
"osmose fluídica"
- O obsessor de Cláudio
pareceu sensibilizar-se
com o pedido de André e
tratou-o com
generosidade. Compleição
robusta e enorme,
perscrutou, analisou,
repisou inquirições e,
por fim, inteirando-se
do exato momento em que
André os vira reunidos,
esclareceu tratar-se de
um amigo que costumava
hospedar, de vez em vez,
para o reconforto de uns
"drinques". Ao que
sabia, recreava-se numa
casa em Braz de Pina,
cujo endereço indicou.
Em seguida, a pedido de
André, forneceu o
próprio nome. Chamava-se
Ricardo Moreira. Se
houvesse necessidade,
poderia procurá-lo. Era
estimado, possuía
numerosas relações,
contava com muitas
afeições no prédio. Se
chegasse a vê-lo, de
novo, em companhia do
colega ao qual se
reportara – disse ele a
André – que o
sacudisse,
despertando-lhe a
atenção. As coisas iam
bem, pensou André, mas
era necessário conhecer
melhor seu
interlocutor. Acusando,
assim, estar cansado e
deprimido, André
pediu-lhe permissão para
entrar, ainda que por
instantes breves, a fim
de refazer as forças.
Operou-se, no entanto, a
reviravolta. Moreira
arremessou-lhe olhar
terrível, que funcionou
sobre André qual
punhalada vibratória.
Ajuntou frases irônicas
e gritou que a casa
tinha dono; que, diante
dos "descascados"
(1), quem mandava
ali era ele; que, para
atravessar a porta,
seria preciso removê-lo;
que, se queria dormir,
dispunha da rua larga
para isso; e finalizou,
agressivo: "Que tem você
aqui? Dê o fora, que não
vou com sua laia! Vá se
catar, vá se catar!..."
Dito isto, arregaçou
punhos decididos e
avançou sobre André, que
não teve outra
alternativa senão descer
escadas,
desabaladamente, à
procura do aconchego do
mar. Entrando em prece,
André readquiriu a
condição que lhe era
peculiar e retornou ao
apartamento, onde o
casal se preparava para
o almoço. Moreira, que
não mais percebia sua
presença, instalara-se
na cadeira de Cláudio e
com Cláudio, de tal modo
que se alimentava tão
claramente quanto ele,
através de um dos
numerosos processos em
que se catalogam as
ações da "osmose
fluídica" (2).
(1a parte, cap.
XIII, pp. 147 e 148)
69. André descobre
o plano de Cláudio
- Enquanto a conversa
entre os cônjuges
deslizava banal, a dupla
Cláudio-Moreira
exteriorizava os
intentos escusos, nas
formas-pensamentos em
que as duas mentes
enfermiças de
revelavam. Tudo se
aclarava, de súbito.
Digeriam o plano em
silêncio. Abordariam
Marita, à feição de dois
caçadores colhendo uma
lebre. Determinavam-se a
surpreendê-la, em casa
de Crescina, como se
apanha um fruto
resguardado na árvore.
No intuito de colaborar
com eficiência, na
preservação da harmonia
geral, André dirigiu-se
à pensão de Crescina,
onde localizou com
facilidade o apartamento
número quatro. A
vivenda, pela extensão
enorme, aparentava
profunda calma;
entretanto, pela ruidosa
conversação dos
desencarnados infelizes
que ali bulhavam,
desocupados, era
possível imaginar as
agitações da noite.
Crescina levou o recado
de Marita até o
escritório de Gilberto
e, de retorno, telefonou
para a jovem informando
que o rapaz estaria no
lugar indicado, às 20
horas. A pobre menina
exultou com a notícia,
mas André ficou ainda
mais inquieto. Era
preciso tomar
providências;
entender-se com algum
amigo encarnado, em
ligação com o grupo;
criar circunstâncias que
evitassem a consumação
do projeto. Debalde,
girou ele da pensão ao
escritório, do
escritório à loja, da
loja ao banco, do banco
ao apartamento no
Flamengo, mas não
encontrou ninguém
estendendo antenas
espirituais, ninguém
orando, ninguém
refletindo... Em todos
os lugares, os
pensamentos eram sobre
sexo ou dinheiro. Até
mesmo um dos chefes de
Marita, do qual André se
acercou, tentando
insuflar-lhe a ideia de
reter a jovem até mais
tarde, ao sentir-lhe a
imagem na tela mental,
transmitida por André,
como etapa inicial do
entendimento, acreditou
estar pensando consigo
mesmo, inclinando o
assunto para questões
salariais e
concentrando-se, de
pronto, em temas de
ordem financeira e
conexos. Todas as
diligências foram, desse
modo, inúteis. (Cap.
XIII, pp. 149 a 151)
70. Irmão Félix
aparece de repente
- Às sete e trinta da
noite, Cláudio
apresentou-se com
esmero, sem esquecer-se
de pôr uma peruca leve
que lhe remoçava as
linhas fisionômicas. Em
seguida, falando ao
telefone com Fafá, o
porteiro da pensão,
certificou-se de que
Marita havia chegado.
Fafá informou tê-la
visto sozinha, através
da porta semicerrada.
Estava sentada no leito,
folheando revistas.
Cláudio pediu-lhe que
fizesse um "blecaute",
desajustando o fusível
na instalação elétrica,
por um espaço de quinze
minutos. Era o bastante
para que ele, na
condição de pai, se
inteirasse de tudo, sem
que ninguém lhe
percebesse a presença.
Colocando-se no escuro,
em ângulo oposto à
iluminação pública,
poderia facilmente
identificar o rapaz que
iria encontrar-se com a
filha. O funcionário,
não obstante
semiembriagado, fixou
expressão matreira e
salientou que era aquilo
um problema sério.
Satisfaria ao chefe, mas
bico calado. Cláudio lhe
passou duas cédulas de
quinhentos cruzeiros, e
Fafá, menos inquieto,
indagou pelo horário
exato. Nogueira aclarou,
afirmando que faltavam
dez minutos e que
aguardaria a luz
apagada, às oito em
ponto. Quando a conversa
cessou, André teve a
surpresa de receber a
visita, ali, do irmão
Félix. Em segundos, o
benfeitor foi inteirado
de todos os fatos. Sem
detença, ambos rumaram
para a vivenda coletiva,
cujas lâmpadas se
apagaram, de chofre,
quando transpunham a
entrada. O acontecimento
parecia comum, visto que
a escuridão não
estabeleceu o menor
alarme. Velas
bruxuleantes piscavam,
aqui e ali. Félix e
André dirigiram-se,
então, ao apartamento
número quatro. (Cap.
XIII, pp. 151 e 152)
(Continua no próximo
número.)
(1)
Descascado: um dos
pejorativos utilizados
nos planos inferiores
para designar os
Espíritos desencarnados.
(2)
Osmose: passagem do
solvente de uma solução
através de membrana
impermeável ao soluto.