Uma amiga transmitiu-nos o
conteúdo de uma crítica que
ela recebeu de pessoas
adeptas das chamadas igrejas
evangélicas, que lhe
perguntaram por que Kardec
consignou na obra O
Evangelho segundo o
Espiritismo apenas uma
parcela dos textos
evangélicos e não a sua
totalidade.
A pergunta dos evangélicos,
embora tenha sido feita de
forma irônica, é semelhante
a outra que nos foi feita,
tempos atrás, por um amigo
espírita, que não encontrou
na mencionada obra nenhuma
referência ao chamado sermão
profético. Teria sido essa
falha um lapso do
Codificador do Espiritismo
ou fora algo proposital?
Embora feitas com motivação
diferente, as perguntas
acima podem ser respondidas
em um mesmo texto, cujo
fundamento se encontra no
item I da Introdução da
mencionada obra, em que
Allan Kardec assim se
manifestou:
“Podem dividir-se em cinco
partes as matérias contidas
nos Evangelhos: os atos
comuns da vida do
Cristo; os milagres; as
predições; as
palavras que foram tomadas
pela Igreja para fundamento
de seus dogmas; e o
ensino moral. As quatro
primeiras têm sido objeto de
controvérsias; a última,
porém, conservou-se
constantemente inatacável.
Diante desse código divino,
a própria incredulidade se
curva. É terreno onde todos
os cultos podem reunir-se,
estandarte sob o qual podem
todos colocar-se, quaisquer
que sejam suas crenças,
porquanto jamais ele
constituiu matéria das
disputas religiosas, que
sempre e por toda a parte se
originaram das questões
dogmáticas. Aliás, se o
discutissem, nele teriam as
seitas encontrado sua
própria condenação, visto
que, na maioria, elas se
agarram mais à parte mística
do que à parte moral, que
exige de cada um a reforma
de si mesmo. Para os homens,
em particular, constitui
aquele código uma regra de
proceder que abrange todas
as circunstâncias da vida
privada e da vida pública, o
principio básico de todas,
as relações sociais que se
fundam na mais rigorosa
justiça. E, finalmente e
acima de tudo, o roteiro
infalível para a felicidade
vindoura, o levantamento de
uma ponta do véu que nos
oculta a vida futura. Essa
parte é a que será objeto
exclusivo desta obra”.
O texto transcrito nos
fornece a razão pela qual
Kardec não tratou nessa obra
das questões dogmáticas, das
curas, dos milagres e das
profecias, temas que ele
reservou para outro livro,
publicado anos depois com o
título de A Gênese, os
Milagres e as Predições
segundo o Espiritismo,
no qual o sermão profético,
as curas e os milagres
relatados nos textos
evangélicos são apresentados
e analisados à luz da
doutrina espírita.
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