A leitora Filomena Branco,
que reside em Portugal,
pergunta-nos, relativamente
à chamada psicofonia
inconsciente, se nesse tipo
de fenômeno
há ou não há ligação do
comunicante ao cérebro
físico ou espiritual do
médium.
Para entender bem o que
ocorre na psicofonia
inconsciente, é conveniente
que vejamos primeiro o que
André Luiz chama de
psicofonia consciente. O
assunto é tratado por ele no
cap. 6, pp. 55 a 58, do
livro Nos Domínios da
Mediunidade, única obra
que trata do fenômeno em
suas minúcias.
Na psicofonia consciente,
André Luiz compara a
associação entre o Espírito
sofredor e o corpo do médium
a um sutil processo de
enxertia neuropsíquica.
Descrevendo um desses casos,
em que atuou a médium
Eugênia, André informou que
leves
fios brilhantes ligavam a
fronte da alma da médium,
desligada do seu veículo
físico, ao cérebro da
entidade comunicante. Embora
senhoreando as forças da
médium, o hóspede
desencarnado permanecia
controlado por ela, a quem
então ele se imanava pela
corrente nervosa, através da
qual a médium estaria
informada de todas as
palavras que ele
mentalizasse e pretendesse
dizer.
Eis como o instrutor Aulus
explicou o que acontecia:
"Efetivamente, apossa-se ele
temporariamente do órgão
vocal de nossa amiga,
apropriando-se de seu mundo
sensório, conseguindo
enxergar, ouvir e raciocinar
com algum equilíbrio, por
intermédio das energias
dela, mas Eugênia comanda,
firme, as rédeas da própria
vontade, agindo qual se
fosse enfermeira concordando
com os caprichos de um
doente, no objetivo de
auxiliá-lo".
Aulus disse ainda que,
consciente de todas as
intenções do Espírito
infortunado, a médium
reservava-se o direito de
corrigi-lo em qualquer
inconveniência. "Pela
corrente nervosa,
conhecer-lhe-á as palavras
na formação, apreciando-as
previamente, de vez que os
impulsos mentais dele lhe
percutem sobre o pensamento
como verdadeiras marteladas.
Pode, assim, frustrar-lhe
qualquer abuso,
fiscalizando-lhe os
propósitos e expressões,
porque se trata de uma
entidade que lhe é inferior,
pela perturbação e pelo
sofrimento em que se
encontra, e a cujo nível não
deve arremessar-se, se
quiser ser-lhe útil. O
Espírito em turvação é um
alienado mental,
requisitando auxílio”.
Outro fato importante é que
a alma de Eugênia, a médium,
se conservara bem próxima de
seu corpo denso. É que nesse
tipo de fenômeno, sempre que
o esforço se refira a
entidades em desajuste, o
medianeiro não deve
ausentar-se demasiado. Com
um demente em casa, o
afastamento é perigoso.
*
Na chamada psicofonia
inconsciente, os fatos se
processam de forma um pouco
diferente, como André Luiz
nos informa no cap. 8, pp.
71 a 76 da mesma obra.
Descrevendo o fenômeno,
André nos diz que, assim que
viu o Espírito sofredor, a
alma da médium Celina
desvencilhou-se do corpo
físico, como alguém que se
entregasse a sono profundo,
e conduziu consigo a aura
brilhante de que se coroava.
Fitando o desesperado
visitante com simpatia,
abriu-lhe os braços,
auxiliando-o a senhorear o
veículo físico, então em
sombra. Como se fora atraído
por vigoroso ímã, o
sofredor arrojou-se sobre a
organização física de
Celina, colando-se a ela,
instintivamente. Auxiliado
por uma entidade, ele
sentou-se com dificuldade,
afigurando-se a André Luiz
intensivamente ligado ao
cérebro físico da médium.
No caso anterior, a médium
Eugênia revelara-se
benemérita enfermeira.
Neste, Celina surgia como
abnegada mãezinha, tal a
devoção afetiva para com o
hóspede infortunado. Partiam
dela fios brilhantes a
envolvê-lo inteiramente e o
recém-chegado, em vista
disso, não obstante senhor
de si, demonstrava-se
criteriosamente controlado,
assemelhando-se a um peixe
furioso entre os estreitos
limites de um recipiente. O
comunicante projetava de si
estiletes de treva, que se
fundiam na luz com que a
alma de Celina o rodeava,
dedicada. Ele tentava gritar
impropérios, mas em vão.
Celina era um instrumento
passivo no exterior,
entretanto, nas profundezas
do ser, mostrava as
qualidades morais positivas
que lhe eram conquista
inalienável, impedindo
aquele irmão de qualquer
manifestação menos digna.
O Espírito começou
mencionando seu nome: José
Maria, enfileirando outros
nomes com o evidente intuito
de mostrar a importância
sobre sua origem.
Irritadíssimo, amontoava
reclamações, deitava
reprimendas e revoltava-se
exasperado, mas não usava
palavras semelhantes às que
proferira antes. Achava-se
como que manietado, vencido,
embora rude e áspero.
Aparecera tão completamente
implantado na organização
fisiológica da médium, tão
espontâneo e natural, que
André não conseguiu sopitar
as perguntas.
A mediunidade de Celina era
diferente da de Eugênia? Por
que esta se mantivera
preocupada, como enfermeira
inquieta, enquanto Celina
parecia devotada tutora do
irmão dementado? Por que
numa se vira a expectação
atormentada e na outra, a
serena confiança?
O instrutor Aulus informou
que Celina constituía um
exemplo de sonâmbula
perfeita e explicou: "A
psicofonia, em seu caso, se
processa sem necessidade de
ligação da corrente nervosa
do cérebro mediúnico à mente
do hóspede que o ocupa". A
espontaneidade dela é
tamanha na cessão de seus
recursos, que não tem
qualquer dificuldade para
desligar-se de maneira
automática do campo
sensório, perdendo
provisoriamente o contacto
com os centros motores da
vida cerebral. Sua posição
medianímica era de extrema
passividade. Por isso mesmo,
revelava-se o Espírito
comunicante mais seguro de
si na exteriorização da
própria personalidade. Esse
fato não significa, contudo,
que a médium estivesse
ausente ou irresponsável.
Junto de seu corpo, agia
como mãe generosa,
auxiliando o sofredor que
por ela se exprimia, qual se
fora frágil protegido de sua
bondade.
Concluindo as observações
sobre o caso, Aulus
informou: "O sonambulismo
puro, quando em mãos
desavisadas, pode produzir
belos fenômenos, mas é menos
útil na construção
espiritual do bem. A
psicofonia inconsciente,
naqueles que não possuem
méritos morais suficientes à
própria defesa, pode levar à
possessão, sempre nociva, e
que, por isso, apenas se
evidencia integral nos
obsessos que se renderam às
forças vampirizantes".
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