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Estudando a série André Luiz
Ano 6 - N° 298 - 10 de Fevereiro de 2013
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


Sexo e Destino

André Luiz

(Parte 17)

Damos continuidade ao estudo da obra Sexo e Destino, de André Luiz, psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier e publicada em 1963 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares 

A. Como Márcia ficou sabendo do acidente ocorrido com a filha adotiva?

Ela foi informada do acidente por meio de um telefonema. Quem lhe telefonou, por inspiração direta do benfeitor Félix, foi um humilde lixeiro de nome Zeca, que explicou não ter visto o atropelamento, mas acrescentou que a ambulância já havia levado a moça. "O senhor tem cer­teza?", perguntou Márcia. "Tenho toda a certeza... Ela estava sem bolsa, ninguém a reconheceu... Mas eu conheço Dona Marita, foi sempre amiga de minha mulher desde que veio para cá", esclareceu o amigo anô­nimo. (Sexo e Destino, 2ª parte, capítulo I, pp. 175 a 178.)

B. A diminuta moratória concedida a Marita era realmente importante? Por quê?

Segundo o benfeitor Félix, quinze a vinte dias no corpo seriam tempo propício à meditação e um preparo valioso da jovem ante a vida espiritual. Era até possível que, diante dos trágicos acontecimentos, Cláudio, Márcia e Marina reconsiderassem os próprios caminhos, o que ampliava a dimensão dos benefícios que a moratória produz em casos como esse. (Obra citada, 2ª parte, capítulo I, pp. 181 e 182.) 

C. Ao ver Marita naquelas condições, como Cláudio, responsável direto pela tragédia, se comportou?

Logo que penetraram no recinto, Cláudio e a entidade que o obsidiava cambalearam sensibilizados, aflitos. E, ao abeirar-se da filha, Cláudio rompeu em soluços e, instintivamente, tornou à infância e à mocidade, relem­brando as primeiras leviandades e enfileirando na imaginação os desva­rios sexuais das trilhas percorridas. Cada jovem que iludira, cada mulher de que abusara repontavam-lhe na tela mental, como que a lhe perguntarem pela filha que a vida lhe trouxera. Perante a enfermeira impressionada, Cláudio ajoelhou-se e, com ele, pôs-se também Moreira, genu­flexo. Em choro convulso, o pai alisou aqueles cabelos despenteados e, mergulhando a cabeça nos lençóis, gritou, vencido: "Ah! minha filha!... minha filha!..." (Obra citada, 2ª parte, capítulo I, pp. 183 e 184.) 

Texto para leitura 

81. Márcia é avisada do acidente - Eram quase cinco da manhã, quando André entrou no apartamento dos Nogueiras. A casa jazia quieta. Dona Márcia, porém, se agitava no leito, após varar a noite em aflição e chorar muito. Marita não voltara. Ansiosa, esperava que o dia se le­vantasse para poder telefonar aos Torres e saber de Marina. Se pre­ciso, chamaria Teresópolis. Queria comunicar-se com alguém, desentra­nhar-se. Sentia medo, o coração palpitava catástrofe. Aproximando-se, André consultou-a mentalmente, procurando notícias de Cláudio. A res­posta veio inarticulada. Supondo reconsiderar os sucessos da noite, Márcia passou a lembrar-lhe o retorno, horas antes, totalmente embria­gado. Certamente, ele tentara afogar o remorso em copázios de uísque. Ouvira-lhe os vômitos, escutara-lhe as descomposturas à porta, mas trancara-se, precavida. Súbito, ela quebrou a linha de reflexões em que penetrara e repeliu a influência de André, convicta de estar rea­firmando para si mesma que atingira o ponto final da tolerância... Nada mais teria com Cláudio. Convertera a mágoa em nojo. Aspirava a nova atitude, suspirava por desquitar-se, fugir... Cláudio dormia no aposento dos fundos, completamente vestido. Estirava-se de lado, a expelir saliva grossa pelo canto da boca, ressonando, tranquilo, e, com ele, o vampirizador, relaxado sob os efeitos do álcool. Ambos larga­dos, embrutecidos. André demorava-se na inspeção, quando o telefone tocou. Dona Márcia atendeu ao chamado, carregada de escuros pressenti­mentos. A voz de um homem simples procurava pelo senhor Cláudio No­gueira. Márcia indagou-lhe quem falava e soube, então, do desastre ocorrido com Marita. (2a parte, cap. I, pp. 175 a 177) 

82. A notícia abala dona Márcia - A mãe adotiva sentiu-se tras­passada de angústia ao ouvir a notícia, enquanto André concluía que Félix angariara o concurso de alguém prestimoso para comunicar à famí­lia da jovem o infausto acontecimento. Era Zeca, um humilde lixeiro, que explicou à Márcia não ter visto o atropelamento, acrescentando, contudo, que a ambulância já havia levado a moça. "O senhor tem cer­teza?", perguntou Márcia. "Tenho toda a certeza... Ela estava sem bolsa, ninguém a reconheceu... Mas eu conheço Dona Marita, foi sempre amiga de minha mulher desde que veio para cá", esclareceu o amigo anô­nimo. "Mas, escute –  perguntou Márcia, terrivelmente chocada com o fato –  como está ela?" E Zeca respondeu-lhe: "Dizem que morreu..." Embora calejada contra as emoções, a esposa de Cláudio abandonou o fone e afastou-se, pálida. Arremessou-se, então, à sua cama e agarrou a cabeça entre as mãos, julgando enlouquecer. Recordando o ultraje que a pobre menina experimentara naquela noite, lembrou-se de Aracé­lia, a servidora e amiga... Vinte anos antes... O suicídio!... E agora a filha, na mesma tragédia, com o mesmo homem... Com certeza –  pensou ela –  Marita, envergonhada, procurara a morte. André, nesse ponto, interveio. Assimilando-lhe os pensamentos de simpatia, fê-la meditar nas tribulações da filha adotiva, dentro da noite, esforçando-se por incliná-la à compaixão. Era preciso –  disse-lhe –  largar o ma­rasmo, sacudir Cláudio, chamá-lo, implorar-lhe ajuda. Se o marido não estivesse em condições de compreendê-la, que ela própria saísse à rua e fosse até o Pronto Socorro da Zona Sul... Alguém auxiliaria, en­contraria a criatura que a Providência Divina lhe pusera nas mãos. Talvez ela ainda estivesse nas raias do fim a esperar-lhe as mãos pie­dosas, como quem aguarda uma bênção!. Dona Márcia ouviu mentalmente todas essas observações e reagiu. (2a parte, cap. I, pp. 177 e 178) 

83. Ninguém pode fazer tudo senão Deus - Márcia, em verdade, não queria afundar-se em sentimentalismos. Julgava necessário sopesar prós e contras. Efetivamente, lastimava Marita e enojava-se de Cláudio, mas era mãe. Não podia, pois, alhear-se ao destino da filha. Marina aprumava-se. Os Torres eram ricos, talvez riquíssimos. Como ambas as moças disputavam Gilberto, a morte de Marita surgia por solução. Logo que pudesse chamar o esposo a brios, combinariam plano certo. Levanta­riam a hipótese de acidente, inventariam versão plausí­vel. Ela mesma afirmaria que concedera à jovem permissão para pernoi­tar em casa de parente enfermo, recomendando-lhe o regresso tão cedo quanto fosse possível. Era preciso maquinar situações, engenhar de­talhes. Os che­fes da loja, amigos de Marita, se interessariam pelos fatos. A im­prensa tomaria atenção. Cabia-lhe, pois, preparar-se a fim de facear repórteres e fotógrafos. Quando a manhã chegasse, desperta­ria o ma­rido, com vistas ao plano. O que lhe importava, então, era a felicidade e o futuro de Marina. Se a outra estava morta, para que preocupar-se? E, depois que Marina se casasse, nada de Cláudio, pois andava cansada de suportar inibições e contrariedades por um esposo que, desde muito, se lhe fizera detestável. Não se escravizaria. Rece­bera um convite de Selma, companheira de infância, para negócio que considerava lucra­tivo, na Lapa. Na frente, um café, acompanhado de aperitivos e gulo­seimas e, nos fundos, quartos de aluguel. Vendo que seu esforço fora inútil, André tornou à presença de Félix para a ob­tenção de roteiros precisos. Marita, deitada num leito de emergência, figurava-se em coma, assistida por Félix e dois médicos desencarnados, em serviço na grande instituição socorrista. De posse das informações levadas por André, Félix recomendou a este esperá-lo alguns minutos, quando então sairiam à busca de reforço. Dirigiram-se, assim, à resi­dência de Cláu­dio. A caminho, André notou que o benfeitor, em silên­cio, adensava a própria forma, transfigurando-se na apresentação. Em rápidos momentos, e com esforço ligeiro, ele imprimiu ao corpo espiri­tual novo ritmo vi­bratório, assumindo as características de um homem vulgar. Por que a transformação? "André – respondeu-lhe Félix –, ninguém pode fazer tudo senão Deus." "Marita, em súbita decadência fí­sica, precisa agora dos préstimos de alguém que a ame infinitamente. Chegou a hora de es­molar para ela o socorro dos que a feriram amando..." (2a parte, cap. I, pp. 179 a 181) 

84. Marita viveria mais alguns dias - Chegando ao apartamento dos Nogueiras, o instrutor bateu à porta semicerrada. Após reiterados cha­mamentos, Moreira – que não conseguia ver André –  veio atender, como qualquer ser humano estremunhado. Renteando com Félix, desenrolou comprida fieira de insultos, que o benfeitor recebeu com humildade. Quando terminou, algo desenxabido pela ausência de qualquer resposta que lhe alimentasse a ira gratuita, Félix comunicou-lhe o acidente. Sabia-o interessado na proteção da moça, rogava-lhe amparo. Moreira correu ao interior e, vendo que Marita não dormira em casa, disse que atenderia ao apelo, mas não despertaria Cláudio enquanto não averi­guasse a realidade. Carrancudo, ladeou o instrutor, sem dizer palavra, do Flamengo ao hospital, mas, topando a moça, entregue à miserabili­dade orgânica, o peito se lhe explodiu numa torrente de lágrimas, se­melhante a uma rocha que se partisse de repente para revelar uma fonte. Rodou sobre os calcanhares e arrancou-se qual flecha. Confor­tado, Félix explicou que, pelo visto, Cláudio não tardaria, informando a André que, segundo pensava, Marita conseguira pequena moratória. Quinze a vinte dias no corpo seriam tempo propício à meditação, preparo valioso ante a vida espiritual. O cérebro seria protegido, mas não recuperado. Desorganizara-se. Dentro de algumas horas, a jovem po­deria pensar e ouvir com regularidade, reaver alguns recursos da sen­sibilidade e enxergar imprecisamente, mas não contaria com o centro da fala. Naquele estado, poderia permanecer na esfera física por muito tempo ainda, mas o peritônio sofrera contusões de efeitos irreversí­veis. De nada valeriam antibióticos, por maior fosse a carga, mas, mesmo assim, sentia-se reconhecido aos supervisores espirituais, que haviam advogado a pequena dilação, porque as horas finais lhe se­riam preciosas. Além de desfrutar o ensejo de aprontar-se para a reno­vação, Cláudio, Márcia e Marina talvez reconsiderassem caminhos. Pas­sados pouco mais de cinquenta minutos, Cláudio, seguido por um médico que se lhe afeiçoara e que conhecia Marita desde muito, deu entrada no hospital. Márcia, sob a pressão de Moreira e interrogada pelo marido, liberara as informações de que dispunha. De imediato, após inspecionar a jovem, o médico tomou providências para que ela fosse transferida para o Hospital Central dos Acidentados, com vistas ao tratamento ur­gente e minucioso. (2a parte, cap. I, pp. 181 e 182) 

85. Cláudio ajoelha-se e chora ao pé da filha - As condições pre­cárias de Marita exigiam repouso, quietação. Iniciada a laboriosa re­moção, que Cláudio e o vampirizador seguiram de longe, a cabeça da jo­vem, pendida para trás, impeliu o sangue a movimento retrógrado, com possibilidade de asfixia. Félix controlou, quanto pôde, as mãos dos condutores e, tão logo ela se ajustou em novo leito, André valeu-se do socorro magnético de profundidade que as circunstâncias exigiam. Sen­tado, de maneira a guardar aquele corpo abatido em seus braços, André envolveu-o no seu próprio hálito, numa operação que chamou de adição de força e cujos resultados se destacam surpreendentes, quando a criatura retida no envoltório físico se mostra nos últimos lances da re­sistência. Nesse momento, Félix aconselhou que André se adensasse na apresentação, a fim de que Moreira o visse. Conservava a esperança de vê-lo oferecer-se para manter a respiração da moça em boa ordem. André orou, empenhando-se na consecução do objetivo, e o vampirizador, logo que entrou no recinto, deitou-lhe olhar espantadiço. Cláudio e ele cambalearam sensibilizados, aflitos. Incoercível emoção tomou a alma de André, porque ao abeirar-se, trêmulo, da filha Cláudio rompeu em soluços e, instintivamente, tornou à infância e à mocidade, relem­brando as primeiras leviandades e enfileirando na imaginação os desva­rios sexuais das trilhas percorridas. Cada jovem que iludira, cada mulher de que abusara repontavam-lhe na tela mental, como que a lhe perguntarem pela filha que a vida lhe trouxera... Perante a enfermeira impressionada, Cláudio ajoelhou-se e, com ele, pôs-se Moreira, genu­flexo. Em choro convulso, o pai alisou aqueles cabelos despenteados e, mergulhando a cabeça nos lençóis, gritou, vencido: "Ah! minha filha!... minha filha!..." E, quase no mesmo instante, a fronte de Mo­reira vergou, como se esmagada de sofrimento... Jaziam ambos, ali, de­bruçados, rente a André, com a mesma rendição dentro da qual Marita se lhe conchegava ao regaço. Compreendendo que os verdugos também pediam amor, André afagou-os com a destra, sustentando-se na prece, que lhe clareava o pensamento e lhe corrigia a visão. Refletindo nos próprios erros, André compreendeu, então, que eles não eram os estupradores, os obsessores, os inimigos, os carrascos que detestara na véspera, mas também seus amigos, seus irmãos! (2a parte, cap. I, pp. 183 e 184) (Continua no próximo número.)
 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita