Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
17)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Como Márcia ficou
sabendo do acidente
ocorrido com a filha
adotiva?
Ela foi informada do
acidente por meio de um
telefonema. Quem lhe
telefonou, por
inspiração direta do
benfeitor Félix, foi um
humilde lixeiro de nome
Zeca, que explicou não
ter visto o
atropelamento, mas
acrescentou que a
ambulância já havia
levado a moça. "O senhor
tem certeza?",
perguntou Márcia. "Tenho
toda a certeza... Ela
estava sem bolsa,
ninguém a reconheceu...
Mas eu conheço Dona
Marita, foi sempre amiga
de minha mulher desde
que veio para cá",
esclareceu o amigo
anônimo.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo I, pp.
175 a 178.)
B. A diminuta moratória
concedida a Marita era
realmente importante?
Por quê?
Segundo o benfeitor
Félix, quinze a vinte
dias no corpo seriam
tempo propício à
meditação e um preparo
valioso da jovem ante a
vida espiritual. Era até
possível que, diante dos
trágicos acontecimentos,
Cláudio, Márcia e Marina
reconsiderassem os
próprios caminhos, o que
ampliava a dimensão dos
benefícios que a
moratória produz em
casos como esse.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo I, pp. 181 e
182.)
C. Ao ver Marita
naquelas condições, como
Cláudio, responsável
direto pela tragédia, se
comportou?
Logo que penetraram no
recinto, Cláudio e a
entidade que o obsidiava
cambalearam
sensibilizados, aflitos.
E, ao abeirar-se da
filha, Cláudio rompeu em
soluços e,
instintivamente, tornou
à infância e à mocidade,
relembrando as
primeiras leviandades e
enfileirando na
imaginação os desvarios
sexuais das trilhas
percorridas. Cada jovem
que iludira, cada mulher
de que abusara
repontavam-lhe na tela
mental, como que a lhe
perguntarem pela filha
que a vida lhe trouxera.
Perante a enfermeira
impressionada, Cláudio
ajoelhou-se e, com ele,
pôs-se também Moreira,
genuflexo. Em choro
convulso, o pai alisou
aqueles cabelos
despenteados e,
mergulhando a cabeça nos
lençóis, gritou,
vencido: "Ah! minha
filha!... minha
filha!..."
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo I, pp. 183 e
184.)
Texto para leitura
81. Márcia é
avisada do acidente
- Eram quase cinco da
manhã, quando André
entrou no apartamento
dos Nogueiras. A casa
jazia quieta. Dona
Márcia, porém, se
agitava no leito, após
varar a noite em aflição
e chorar muito. Marita
não voltara. Ansiosa,
esperava que o dia se
levantasse para poder
telefonar aos Torres e
saber de Marina. Se
preciso, chamaria
Teresópolis. Queria
comunicar-se com alguém,
desentranhar-se. Sentia
medo, o coração
palpitava catástrofe.
Aproximando-se, André
consultou-a mentalmente,
procurando notícias de
Cláudio. A resposta
veio inarticulada.
Supondo reconsiderar os
sucessos da noite,
Márcia passou a
lembrar-lhe o retorno,
horas antes, totalmente
embriagado. Certamente,
ele tentara afogar o
remorso em copázios de
uísque. Ouvira-lhe os
vômitos, escutara-lhe as
descomposturas à porta,
mas trancara-se,
precavida. Súbito, ela
quebrou a linha de
reflexões em que
penetrara e repeliu a
influência de André,
convicta de estar
reafirmando para si
mesma que atingira o
ponto final da
tolerância... Nada mais
teria com Cláudio.
Convertera a mágoa em
nojo. Aspirava a nova
atitude, suspirava por
desquitar-se, fugir...
Cláudio dormia no
aposento dos fundos,
completamente vestido.
Estirava-se de lado, a
expelir saliva grossa
pelo canto da boca,
ressonando, tranquilo,
e, com ele, o
vampirizador, relaxado
sob os efeitos do
álcool. Ambos largados,
embrutecidos. André
demorava-se na inspeção,
quando o telefone tocou.
Dona Márcia atendeu ao
chamado, carregada de
escuros
pressentimentos. A voz
de um homem simples
procurava pelo senhor
Cláudio Nogueira.
Márcia indagou-lhe quem
falava e soube, então,
do desastre ocorrido com
Marita. (2a
parte, cap. I, pp. 175 a
177)
82. A
notícia abala dona
Márcia
- A mãe adotiva
sentiu-se traspassada
de angústia ao ouvir a
notícia, enquanto André
concluía que Félix
angariara o concurso de
alguém prestimoso para
comunicar à família da
jovem o infausto
acontecimento. Era Zeca,
um humilde lixeiro, que
explicou à Márcia não
ter visto o
atropelamento,
acrescentando, contudo,
que a ambulância já
havia levado a moça. "O
senhor tem certeza?",
perguntou Márcia. "Tenho
toda a certeza... Ela
estava sem bolsa,
ninguém a reconheceu...
Mas eu conheço Dona
Marita, foi sempre amiga
de minha mulher desde
que veio para cá",
esclareceu o amigo
anônimo. "Mas, escute –
perguntou Márcia,
terrivelmente chocada
com o fato – como está
ela?" E Zeca
respondeu-lhe: "Dizem
que morreu..." Embora
calejada contra as
emoções, a esposa de
Cláudio abandonou o fone
e afastou-se, pálida.
Arremessou-se, então, à
sua cama e agarrou a
cabeça entre as mãos,
julgando enlouquecer.
Recordando o ultraje que
a pobre menina
experimentara naquela
noite, lembrou-se de
Aracélia, a servidora e
amiga... Vinte anos
antes... O suicídio!...
E agora a filha, na
mesma tragédia, com o
mesmo homem... Com
certeza – pensou ela –
Marita, envergonhada,
procurara a morte.
André, nesse ponto,
interveio.
Assimilando-lhe os
pensamentos de simpatia,
fê-la meditar nas
tribulações da filha
adotiva, dentro da
noite, esforçando-se por
incliná-la à compaixão.
Era preciso – disse-lhe
– largar o marasmo,
sacudir Cláudio,
chamá-lo, implorar-lhe
ajuda. Se o marido não
estivesse em condições
de compreendê-la, que
ela própria saísse à rua
e fosse até o Pronto
Socorro da Zona Sul...
Alguém auxiliaria,
encontraria a criatura
que a Providência Divina
lhe pusera nas mãos.
Talvez ela ainda
estivesse nas raias do
fim a esperar-lhe as
mãos piedosas, como
quem aguarda uma
bênção!. Dona Márcia
ouviu mentalmente todas
essas observações e
reagiu. (2a
parte, cap. I, pp. 177 e
178)
83. Ninguém pode
fazer tudo senão Deus
- Márcia, em verdade,
não queria afundar-se em
sentimentalismos.
Julgava necessário
sopesar prós e contras.
Efetivamente, lastimava
Marita e enojava-se de
Cláudio, mas era mãe.
Não podia, pois,
alhear-se ao destino da
filha. Marina
aprumava-se. Os Torres
eram ricos, talvez
riquíssimos. Como ambas
as moças disputavam
Gilberto, a morte de
Marita surgia por
solução. Logo que
pudesse chamar o esposo
a brios, combinariam
plano certo.
Levantariam a hipótese
de acidente, inventariam
versão plausível. Ela
mesma afirmaria que
concedera à jovem
permissão para
pernoitar em casa de
parente enfermo,
recomendando-lhe o
regresso tão cedo quanto
fosse possível. Era
preciso maquinar
situações, engenhar
detalhes. Os chefes da
loja, amigos de Marita,
se interessariam pelos
fatos. A imprensa
tomaria atenção.
Cabia-lhe, pois,
preparar-se a fim de
facear repórteres e
fotógrafos. Quando a
manhã chegasse,
despertaria o marido,
com vistas ao plano. O
que lhe importava,
então, era a felicidade
e o futuro de Marina. Se
a outra estava morta,
para que preocupar-se?
E, depois que Marina se
casasse, nada de
Cláudio, pois andava
cansada de suportar
inibições e
contrariedades por um
esposo que, desde muito,
se lhe fizera
detestável. Não se
escravizaria. Recebera
um convite de Selma,
companheira de infância,
para negócio que
considerava lucrativo,
na Lapa. Na frente, um
café, acompanhado de
aperitivos e guloseimas
e, nos fundos, quartos
de aluguel. Vendo que
seu esforço fora inútil,
André tornou à presença
de Félix para a
obtenção de roteiros
precisos. Marita,
deitada num leito de
emergência, figurava-se
em coma, assistida por
Félix e dois médicos
desencarnados, em
serviço na grande
instituição socorrista.
De posse das informações
levadas por André, Félix
recomendou a este
esperá-lo alguns
minutos, quando então
sairiam à busca de
reforço. Dirigiram-se,
assim, à residência de
Cláudio. A caminho,
André notou que o
benfeitor, em silêncio,
adensava a própria
forma, transfigurando-se
na apresentação. Em
rápidos momentos, e com
esforço ligeiro, ele
imprimiu ao corpo
espiritual novo ritmo
vibratório, assumindo
as características de um
homem vulgar. Por que a
transformação? "André –
respondeu-lhe Félix –,
ninguém pode fazer tudo
senão Deus." "Marita, em
súbita decadência
física, precisa agora
dos préstimos de alguém
que a ame infinitamente.
Chegou a hora de
esmolar para ela o
socorro dos que a
feriram amando..." (2a
parte, cap. I, pp. 179 a
181)
84. Marita viveria
mais alguns dias
- Chegando ao
apartamento dos
Nogueiras, o instrutor
bateu à porta
semicerrada. Após
reiterados chamamentos,
Moreira – que não
conseguia ver André
– veio atender, como
qualquer ser humano
estremunhado. Renteando
com Félix, desenrolou
comprida fieira de
insultos, que o
benfeitor recebeu com
humildade. Quando
terminou, algo
desenxabido pela
ausência de qualquer
resposta que lhe
alimentasse a ira
gratuita, Félix
comunicou-lhe o
acidente. Sabia-o
interessado na proteção
da moça, rogava-lhe
amparo. Moreira correu
ao interior e, vendo que
Marita não dormira em
casa, disse que
atenderia ao apelo, mas
não despertaria Cláudio
enquanto não
averiguasse a
realidade. Carrancudo,
ladeou o instrutor, sem
dizer palavra, do
Flamengo ao hospital,
mas, topando a moça,
entregue à
miserabilidade
orgânica, o peito se lhe
explodiu numa torrente
de lágrimas, semelhante
a uma rocha que se
partisse de repente para
revelar uma fonte. Rodou
sobre os calcanhares e
arrancou-se qual flecha.
Confortado, Félix
explicou que, pelo
visto, Cláudio não
tardaria, informando a
André que, segundo
pensava, Marita
conseguira pequena
moratória. Quinze a
vinte dias no corpo
seriam tempo propício à
meditação, preparo
valioso ante a vida
espiritual. O cérebro
seria protegido, mas não
recuperado.
Desorganizara-se. Dentro
de algumas horas, a
jovem poderia pensar e
ouvir com regularidade,
reaver alguns recursos
da sensibilidade e
enxergar imprecisamente,
mas não contaria com o
centro da fala. Naquele
estado, poderia
permanecer na esfera
física por muito tempo
ainda, mas o peritônio
sofrera contusões de
efeitos irreversíveis.
De nada valeriam
antibióticos, por maior
fosse a carga, mas,
mesmo assim, sentia-se
reconhecido aos
supervisores
espirituais, que haviam
advogado a pequena
dilação, porque as horas
finais lhe seriam
preciosas. Além de
desfrutar o ensejo de
aprontar-se para a
renovação, Cláudio,
Márcia e Marina talvez
reconsiderassem
caminhos. Passados
pouco mais de cinquenta
minutos, Cláudio,
seguido por um médico
que se lhe afeiçoara e
que conhecia Marita
desde muito, deu entrada
no hospital. Márcia, sob
a pressão de Moreira e
interrogada pelo marido,
liberara as informações
de que dispunha. De
imediato, após
inspecionar a jovem, o
médico tomou
providências para que
ela fosse transferida
para o Hospital Central
dos Acidentados, com
vistas ao tratamento
urgente e minucioso. (2a
parte, cap. I, pp. 181 e
182)
85. Cláudio
ajoelha-se e chora ao pé
da filha - As
condições precárias de
Marita exigiam repouso,
quietação. Iniciada a
laboriosa remoção, que
Cláudio e o vampirizador
seguiram de longe, a
cabeça da jovem,
pendida para trás,
impeliu o sangue a
movimento retrógrado,
com possibilidade de
asfixia. Félix
controlou, quanto pôde,
as mãos dos condutores
e, tão logo ela se
ajustou em novo leito,
André valeu-se do
socorro magnético de
profundidade que as
circunstâncias exigiam.
Sentado, de maneira a
guardar aquele corpo
abatido em seus braços,
André envolveu-o no seu
próprio hálito, numa
operação que chamou de
adição de força e
cujos resultados se
destacam surpreendentes,
quando a criatura retida
no envoltório físico se
mostra nos últimos
lances da resistência.
Nesse momento, Félix
aconselhou que André se
adensasse na
apresentação, a fim de
que Moreira o visse.
Conservava a esperança
de vê-lo oferecer-se
para manter a respiração
da moça em boa ordem.
André orou,
empenhando-se na
consecução do objetivo,
e o vampirizador, logo
que entrou no recinto,
deitou-lhe olhar
espantadiço. Cláudio e
ele cambalearam
sensibilizados, aflitos.
Incoercível emoção tomou
a alma de André, porque
ao abeirar-se, trêmulo,
da filha Cláudio rompeu
em soluços e,
instintivamente, tornou
à infância e à mocidade,
relembrando as
primeiras leviandades e
enfileirando na
imaginação os desvarios
sexuais das trilhas
percorridas. Cada jovem
que iludira, cada mulher
de que abusara
repontavam-lhe na tela
mental, como que a lhe
perguntarem pela filha
que a vida lhe
trouxera... Perante a
enfermeira
impressionada, Cláudio
ajoelhou-se e, com ele,
pôs-se Moreira,
genuflexo. Em choro
convulso, o pai alisou
aqueles cabelos
despenteados e,
mergulhando a cabeça nos
lençóis, gritou,
vencido: "Ah! minha
filha!... minha
filha!..." E, quase no
mesmo instante, a fronte
de Moreira vergou, como
se esmagada de
sofrimento... Jaziam
ambos, ali, debruçados,
rente a André, com a
mesma rendição dentro da
qual Marita se lhe
conchegava ao regaço.
Compreendendo que os
verdugos também pediam
amor, André afagou-os
com a destra,
sustentando-se na prece,
que lhe clareava o
pensamento e lhe
corrigia a visão.
Refletindo nos próprios
erros, André
compreendeu, então, que
eles não eram os
estupradores, os
obsessores, os inimigos,
os carrascos que
detestara na véspera,
mas também seus amigos,
seus irmãos! (2a
parte, cap. I, pp. 183 e
184)
(Continua no próximo
número.)