Um amigo e colaborador de
nossa revista pergunta-nos o
que entendemos pela palavra
ortodoxia utilizada
por Allan Kardec no texto
que reproduzimos logo
abaixo:
“Não será à opinião de um
homem que se aliarão os
outros,
mas à voz unânime dos
Espíritos; não será um
homem, nem nós, nem
qualquer outro que
fundará a ortodoxia
espírita; tampouco será um
Espírito que se venha impor
a quem quer que seja: será a
universalidade dos Espíritos
que se comunicam em toda a
Terra, por ordem de Deus.
Esse o caráter essencial da
Doutrina Espírita; essa a
sua força, a sua autoridade.
Quis Deus que a sua lei
assentasse em base
inamovível e por isso não
lhe deu por fundamento a
cabeça frágil de um só.”
(O Evangelho segundo o
Espiritismo, Introdução,
item II.)
O trecho acima transcrito
mostra com notável clareza
que a doutrina espírita é
obra coletiva, não emana de
um único Espírito, por mais
sábio que ele possa ser, o
que nos sugere que devemos
ter todo o cuidado com as
chamadas revelações
singulares, provenientes de
uma única fonte, seja qual
for essa fonte.
As revelações singulares
podem até ser verídicas, mas
é preciso deixar que o tempo
concorra para validá-las,
atentos a este princípio,
exposto também claramente na
obra de Kardec: Quando uma
nova informação deve ser
transmitida do plano
espiritual ao plano
terráqueo, isso se verifica
em todos os pontos do globo,
por intermédio de muitos
Espíritos e de um grande
número de médiuns
desconhecidos uns dos
outros.
Segundo pensamos, Kardec
utilizou a palavra
“ortodoxia” com o sentido
que os gregos lhe davam. A
palavra nos veio da Grécia e
significa "opinião certa",
fidelidade, conformidade com
um determinado pensamento ou
doutrina.
Como a doutrina espírita se
fundamenta nos ensinamentos
dados pelos Espíritos
superiores, é claro que a
definição relativamente ao
seu conteúdo correto é
atribuição dos Espíritos,
não dos encarnados.
Allan Kardec, que foi, como
sabemos, a pessoa incumbida
de codificar esses
ensinamentos, deixou muito
claro em seus escritos que a
revelação espírita seria
ampliada gradualmente e
transmitida a nós, seres
encarnados, no momento
adequado, de conformidade
com nossa capacidade de
entendimento e assimilação.
A iniciativa seria,
portanto, dos reveladores
espirituais, cabendo a nós,
encarnados, um papel
importante, mas secundário,
se comparado ao papel dos
imortais incumbidos dessa
revelação.
É importante também lembrar
que a palavra “ortodoxia” é,
às vezes, utilizada de forma
depreciativa, para designar
a intransigência de uma
pessoa em relação a tudo
quanto é novo, ou a não
aceitação de novos
princípios ou ideias.
É nesse último sentido que
alguns médiuns da
atualidade, não aceitando as
críticas que se fazem a
determinados equívocos
constantes de seus livros,
gostam de nomear as pessoas
que têm a coragem moral de
apontar seus deslizes de
ordem doutrinária.
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