Religiões:
examinando
alguns
contrastes
Como cristãos
acima de todas
as considerações
possíveis,
devemos saudar
com muito
carinho a
eleição do Papa
Francisco.
Afinal de
contas, mais de
um bilhão de
almas atualmente
encarnadas no
planeta professa
a importante
religião
católica com a
qual nós,
espíritas, temos
pelo menos dois
pontos em comum,
a saber, o
evangelho e o
seu sublime
autor, Jesus
Cristo, como
protótipo a ser
seguido. Aliás,
a maioria dos
espíritas deu os
seus primeiros
passos no campo
religioso
bebendo, por
assim dizer, nas
fontes da citada
instituição
religiosa.
Portanto, é de
lá que muitos se
lançaram e
continuam se
lançando à busca
das verdades
celestiais.
Dito isto, pelo
menos esse
modesto escriba
espírita presta
o seu
reconhecimento
público à sua
iniciação
religiosa obtida
através dos
ensinamentos da
Igreja Católica.
Claro é que, em
dado momento, na
minha
curiosidade e
ânsia de saber –
creio que, nesse
particular,
talvez esteja
revelando o
mesmo que
aconteceu com
não poucos – fui
levado a
percorrer outros
caminhos que
satisfizessem as
minhas dúvidas.
Mas isso é outra
história...
Nesse momento, o
mais relevante é
saudar o novo
Papa que deu –
segundo lemos na
imprensa –
demonstrações de
humildade,
desapego e
simplicidade ao
longo de sua
vida pastoral.
Como a revista
Veja registrou
recentemente, “A
Igreja Católica
tenta voltar à
sua essência,
com a eleição de
um pastor de
alma simples,
para cuidar de
um rebanho
ameaçado pelo
laicismo e, não
menos relevante,
dar fim ao clero
pedófilo e
corrupto. Nesse
sentido, a noite
de 13 de março
de 2013 foi
recheada de
significados”.
Assim sendo, os
desafios do Papa
Francisco são
hercúleos e, de
nossa parte,
desejamos-lhe
que Deus o
ilumine muito. É
óbvio que ele
agora comanda
uma instituição
milenar –
fortemente
apegada a certas
teses e visões
do mundo – que
tem sido, por
sinal,
atropelada por
uma miríade de
fatos e costumes
modernos. De
fato, existem
assuntos
defendidos pela
religião
católica que se
opõem
frontalmente à
realidade atual.
Assim, de certo
modo, fica
implícita a
mensagem – pelo
menos em nossa
opinião – que as
religiões correm
o sério risco de
se tornarem
instituições
obsoletas e
desatualizadas
quando não
assimilam as
novas
descobertas e as
mudanças
advindas do
progresso.
Seja como for, o
fato de abraçar
e defender o
evangelho de
Jesus,
especialmente
nessa hora tão
delicada para a
trajetória
humana nesse
mundo, torna,
sem dúvida, o
papel da
religião
católica
estratégico,
apesar das
diferenças de
interpretação e
entendimento que
nos separam. A
humanidade
necessita da
sabedoria
contida no
evangelho talvez
mais do que
nunca. Assim
sendo, ao agir
no sentido de
despertar e
encaminhar as
almas renitentes
na assimilação
do seu conteúdo
libertador, ela
e outras
agremiações
cristãs – cabe
afirmar –
estarão
cumprindo uma
missão
fundamental.
Entender a
realidade da
vida espiritual
e as leis
universais –
temas tão caros
ao Espiritismo –
depende
da âncora do
evangelho e de
pessoas
dispostas a
viver os seus
conteúdos de
maneira
coerente.
Por outro lado,
se as mudanças
ora em curso no
seio da referida
instituição
religiosa devam
ser vistas com
otimismo e
esperança pelas
razões acima
expostas, o
mesmo não se
pode afirmar com
relação à
religião
mulçumana.
Apesar de
abarcar um
considerável
contingente de
adeptos no
mundo, isto é,
cerca de 1,3
bilhão – os
cristãos
ultrapassam 2,1
bilhões quando
se somam todas
as suas
vertentes –, o
que se vê com
insistência é a
predominância do
radicalismo e da
violência. Com
efeito, o mundo
islâmico passa
na atualidade
por uma
autêntica
ebulição onde se
mistura
perigosamente
assuntos da
esfera religiosa
com os da
política.
Além disso, vale
acrescentar que
nascer na
condição de
mulher no Islã
constitui uma
das mais
dolorosas
provações às
quais um
Espírito pode
ser submetido.
Em resumo, não
se detecta no
momento nenhuma
indicação ou
sinal de
mudanças
positivas
advindas dessa
religião. Basta
lembrar, por
exemplo, um
episódio recente
envolvendo o
presidente do
Irã, Mahmoud
Ahmadinejad. Ao
comparecer ao
velório do
finado líder
venezuelano,
Hugo Chávez, com
o qual mantinha
estreita
relação, foi, em
certo momento,
cumprimentar a
mãe deste como
reza o protocolo
e, sobretudo, a
educação. E num
gesto
indiscutivelmente
amistoso,
solidário e
tocante, reteve
as mãos da
senhora enlutada
aproximando o
seu rosto junto
ao dela. A rede
de TV americana
CNN abordou numa
reportagem os
protestos
veementes dos
aiatolás (link:
http://edition.cnn.com/2013/03/13/opinion/gmez-chavez-ahmadinejad-america/index.html?hpt=hp_c4
- ver foto,
vídeo e artigo
em inglês) que
enxergaram no
singelo gesto
uma clara
violação das
leis islâmicas
que proíbem o
“abraço” – que
não ocorreu
efetivamente –
entre pessoas de
sexos opostos,
exceção à esposa
e aos parentes.
Mahmoud
Ahmadinejad é
uma figura
altamente
controversa.
Mundialmente
odiado em razão
das suas
declarações
infelizes e
extemporâneas,
bem como pelos
seus arroubos
contra os
acordos
internacionais,
é, sem dúvida,
um personagem
polêmico e
desajustado.
Todavia, naquele
momento,
especificamente,
era um ser
humano prestando
a sua
solidariedade a
uma mãe
padecendo de
doloroso e
comovente
sofrimento.
Definitivamente,
não havia
malícia alguma
no seu gesto.
Muito pelo
contrário. Mas
os seus
adversários
religiosos,
conforme
explicou a
reportagem da
CNN, viram um
desrespeito às
tradições
religiosas
islâmicas.
Certamente, o
presidente
iraniano
enfrenta sérios
problemas de
governança em
seu país com
prováveis
consequências no
seu desejo de
reeleição.
Acreditamos que
quando tal norma
foi instituída
no seio do
islamismo, ela
deve ter
obedecido –
assim imaginamos
– a um propósito
de evitar
mal-entendidos e
reações
violentas. Mas
já estamos em
pleno século
XXI! Felizmente,
nós espíritas
nos acostumamos
a nos abraçar e
beijar
fraternalmente.
Tal gesto é
espontâneo,
autêntico e
geralmente
destituído de
malícia. É uma
maneira simples,
mas efetiva de
transmitirmos
boas energias e
carinho ao nosso
interlocutor e
de mostrar que
ele é importante
para nós. A
propósito,
relata-nos o
Espírito
Humberto de
Campos, na obra Boa
Nova (psicografada
por Francisco
Cândido Xavier), que
Maria:
“De alma
angustiada,
notou que Jesus
atingira o
último limite
dos padecimentos
inenarráveis.
Alguns dos
populares mais
exaltados
multiplicavam as
pancadas,
enquanto as
lanças riscavam
o ar, em ameaças
audaciosas e
sinistras.
Ironias mordazes
eram proferidas
a esmo,
dilacerando-lhe
a alma sensível
e afetuosa.
“Em meio de
algumas mulheres
compadecidas,
que lhe
acompanhavam o
angustioso
transe, Maria
reparou que
alguém lhe
pousara as mãos,
de leve, sobre
os ombros.
“Deparou-se-lhe
a figura de João
que, vencendo a
pusilanimidade
criminosa em que
haviam
mergulhado os
demais
companheiros,
lhe estendia os
braços amorosos
e reconhecidos.
Silenciosamente,
o filho de
Zebedeu
abraçou-se
àquele triturado
coração
maternal. Maria
deixou-se
enlaçar pelo
discípulo
querido e ambos,
ao pé do
madeiro, em
gesto súplice,
buscaram
ansiosamente a
luz daqueles
olhos
misericordiosos,
no cúmulo dos
tormentos. Foi
aí que a fronte
do divino
supliciado se
moveu
vagarosamente,
revelando
perceber a
ansiedade
daquelas duas
almas em extremo
desalento.
“–
‘Meu filho! Meu
amado filho!...’
–
exclamou a
mártir, em
aflição diante
da serenidade
daquele olhar de
melancolia
intraduzível.
“O Cristo
pareceu meditar
no auge de suas
dores, mas, como
se quisesse
demonstrar, no
instante
derradeiro, a
grandeza de sua
coragem e a sua
perfeita
comunhão com
Deus, replicou
com
significativo
movimento dos
olhos
vigilantes:
“–
‘Mãe, eis aí teu
filho!...’ –
E dirigindo-se,
de modo
especial, com um
leve aceno, ao
apóstolo, disse:
– ‘Filho,
eis aí tua
mãe!’.
“Maria
envolveu-se no
véu de seu
pranto doloroso,
mas o grande
evangelista
compreendeu que
o Mestre, na sua
derradeira
lição, ensinava
que o amor
universal era o
sublime
coroamento de
sua obra.
Entendeu que, no
futuro, a
claridade do
Reino de Deus
revelaria aos
homens a
necessidade da
cessação de todo
egoísmo e que,
no santuário de
cada coração,
deveria existir
a mais abundante
cota de amor,
não só para o
círculo
familiar, senão
também para
todos os
necessitados do
mundo, e que no
templo de cada
habitação
permaneceria a
fraternidade
real, para que a
assistência
recíproca se
praticasse na
Terra, sem serem
precisos os
edifícios
exteriores,
consagrados a
uma
solidariedade
claudicante
[...]”.
Infelizmente, a
humanidade ainda
não chegou aos
tempos divisados
pelo notável
evangelista, mas
certamente esse
dia chegará.
Enquanto isso, o
Espiritismo vem
cumprindo a sua
missão de
consolar e
ensinar as
belezas do
evangelho de
Jesus como
instrumento
reformador dos
ideais e
pensamentos.