ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 30)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. É correto dizer que
um Espírito é uma pessoa
morta autorizada pela
Providência a manter-se
em contato conosco?
Não. Embora a opinião
geral das pessoas seja
essa, tal definição
inclui, segundo Myers,
três afirmações
desprovidas de base.
(A Personalidade Humana,
capítulo VII – Os
fantasmas dos mortos.)
B. Como Myers define
então o Espírito?
Ele propõe que deixemos
de ver o Espírito como
uma pessoa morta
autorizada a entrar em
comunicação com os
vivos, para defini-lo
como sendo uma
manifestação de energia
pessoal persistente, ou
como um indício de que
uma certa potência, cuja
ideia está unida à de
uma pessoa que
conhecemos antes durante
sua vida terrena,
continua a se manifestar
depois da morte.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
C. A telepatia ainda
esperava, à época de
Myers, confirmação por
parte da ciência?
Sim. Esclareça-se que a
palavra telepatia
significava para ele a
ação de um Espírito
sobre outro fora dos
órgãos dos sentidos
ordinários. Segundo
Myers, as mensagens
telepáticas têm,
geralmente, seu ponto de
partida na zona
subconsciente ou
submersa do agente e
chegam à zona submersa
ou subconsciente do
receptor.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
Texto para leitura
712.
Acreditando que todo o
Espírito cognoscível é
tão contínuo quanto toda
a matéria cognoscível,
eu gostaria da fazer no
campo espiritual o que a
análise espectral e a
lei da gravitação
fizeram no campo
material e mostrar que
nas operações do mundo
espiritual desconhecido
reina a mesma
conformidade de
substância e de ação
recíprocas que no mundo
conhecido da matéria. E
para explorar estas
atitudes inacessíveis
não me colocarei, como
os teólogos, sobre uma
torre cuja parte
superior se perde nas
nuvens, mas sobre a
terra firme e na bem
medida base de uma
figura trigonométrica.
713. Para poder medir
esta base devemos
começar limpando o
terreno. Vejamos
primeiro as definições
mais simples, para
esclarecer para nós
mesmos as coisas que
desejamos analisar e
descobrir. Para falar a
linguagem do povo,
procuramos os Espíritos.
Qual é o significado que
devemos dar à palavra
Espírito, em volta da
qual desenvolveram-se
teorias tão arbitrárias,
e que provocaram tantos
temores sem causa?
714. Seria preferível,
no estado atual dos
nossos conhecimentos,
que nos limitássemos a
reunir simplesmente os
fatos, sem nenhum
comentário especulativo.
Mas é também necessário
expor os erros
manifestos do ponto de
vista tradicional, o
qual, se não for
refutado, poderia
parecer o único
possível, até para
aqueles que sempre se
recusaram a aceitá-lo.
Porque, segundo a
opinião do povo, um
Espírito é uma pessoa
morta autorizada pela
Providência a manter-se
em contato com os
sobreviventes. Esta
breve definição inclui,
na minha opinião, três
afirmações desprovidas
de base.
715. Em primeiro lugar,
as palavras Providência
ou autorização podem ser
aplicadas ao fenômeno em
questão tanto quanto a
qualquer outro fenômeno.
Reconhecemos que todos
os fenômenos acontecem
segundo as leis do
universo, e portanto com
a autorização da
Potência Suprema do
universo. Inegavelmente
a realização dos
fenômenos de que nos
ocupamos está
autorizada, mas não de
uma maneira especial,
que converteria este
fato numa exceção da
regra, sendo que é
apenas uma de suas
aplicações particulares.
E ao mesmo tempo esses
fenômenos encerram
apenas uma justiça
poética e não estão mais
adaptados aos desejos e
pregações humanas do que
os fenômenos que se
desenvolvem no acontecer
comum da história da
Terra.
716. Em segundo lugar,
nada nos autoriza a
afirmar que o fantasma
ou o espectro que
enxergamos, mesmo quando
seja provocado por uma
pessoa morta, seja esta
mesma pessoa, no sentido
comum da palavra.
Trata-se, em todo caso,
de uma dessas figuras
alucinantes ou
fantasmas, análogos aos
que as pessoas vivas são
capazes de projetar à
distância, sem que seja
possível afirmar que a
aparição que enxergamos
seja a mesma pessoa
viva; igualmente, o que
chamamos de um espectro
ou uma aparição não é a
mesma pessoa morta;
existe, com certeza, uma
ligação entre o espectro
e a pessoa morta,
ligação que a natureza
deve determinar, mas que
está longe de significar
a identificação
completa.
717. Em terceiro lugar,
já que não devemos ver
no fantasma a mesma
pessoa morta, não
deveremos atribuir ao
primeiro as intenções
que pensávamos que
podíamos atribuir à
última. Devemos, pois,
excluir da nossa
definição de Espírito
tudo aquilo que possa
ser uma alusão e uma
intenção sua de
comunicar-se com os
vivos.
718. O Espírito pode
ter, com a pessoa morta,
um tipo de relação que
reflita o presumível
desejo desta última de
manter-se em comunicação
com os vivos ou então
essa comunicação pode
não existir. Se, por
exemplo, existir entre
ele e sua vida post
mortem uma relação
semelhante à que
comprovamos entre nossos
sonhos e nossa vida
terrena, pode
representar uma pequena
parcela do que lhe
pertence em propriedade,
se se trata apenas de
algumas lembranças e
instintos vagos,
daqueles que dão uma
individualidade difusa e
obscura aos nossos
sonhos mais comuns.
719. Tentemos, pois, uma
definição mais exata.
Deixemos de ver o
Espírito como uma pessoa
morta autorizada a
entrar em comunicação
com os vivos e vamos
defini-lo como uma
manifestação de energia
pessoal persistente, ou
como um indício de que
uma certa potência, cuja
ideia está unida à de
uma pessoa que
conhecemos antes,
durante sua vida
terrena, continua a se
manifestar depois da
morte. E para eliminar
de nossa definição
qualquer afirmação
popular, devemos
acrescentar que é
teoricamente possível
que essa força ou
influência que, depois
da morte de uma pessoa,
cria uma impressão
fantasmagórica desta
pessoa, não seja devida
a uma ação real da
mesma, mas a qualquer
resíduo da força ou da
energia que produziu
enquanto estava viva.
720. Pode tratar-se de
uma dessas pós-imagens
verídicas de que falava
Gurney, que, comentando
as aparições repetidas
de um fantasma de uma
anciã na cama onde foi
assassinada, observava
que o dito fantasma
“sugere menos a ideia de
um interesse local
contínuo da parte da
pessoa morta, do que a
sobrevivência de uma
simples imagem impressa;
não sabemos quanto, nem
sobre o que, pelo
organismo físico desta
pessoa, é perceptível de
vez em quando para
pessoas dotadas de uma
sensibilidade especial”.
(Proceedings of the S.
P. R., vol. V, pág.
417.)
721. Essa noção, apesar
de estranha, parece
porém confirmada por
alguns dos casos de
obsessão que
mencionaremos mais
tarde. Veremos, então, a
frequência do
aparecimento das mesmas
imagens alucinatórias
nos mesmos locais, e
como é inverossímil a
ideia de admitir uma
intenção qualquer ligada
a esses aparecimentos,
uma relação qualquer
entre elas e as pessoas
mortas ou o gênero de
tragédia que, no
espírito do povo, são
frequentemente
associadas ao fenômeno
do aparecimento.
722. Em alguns desses
casos de aparecimento
frequente,
injustificado, de
determinada figura em
determinado lugar,
podemos perguntar-nos se
foi a frequência em
outras ocasiões, pela
pessoa morta no local em
questão, ou se se trata
então de algum ato
recente que se
manifestou depois da
morte, que provocou o
que eu chamei de
pós-imagem verídica, na
medida em que esta
comunica informações
desconhecidas até a data
para a pessoa receptora,
como antigo habitante da
localidade assombrada.
723. Estas são algumas
das questões levantadas
por nosso tema. E o fato
de que problemas tão
estranhos possam
apresentar-se a cada
instante tende a
demonstrar, de certa
forma, que esses
aparecimentos não são
fenômenos puramente
subjetivos, nascidos
exclusivamente na
imaginação da pessoa
receptora. Eles não são
absolutamente o que os
homens pensam. A
colheita infinita de
lendas e histórias
fictícias concernentes
aos Espíritos mostram
como é grande a
tendência do espírito
humano para enfeitar
esses temas e
proporciona uma prova
curiosa da persistência
dos preconceitos,
baseados num código
particular e
referindo-se a fenômenos
imaginários, totalmente
diversos dos fenômenos
reais. É difícil
revestir, por assim
dizer, um fenômeno real
de um caráter romântico.
724. A maioria das
“histórias de aparições”
são semelhantes entre si
e parecem tão
fragmentárias quanto
desprovidas de sentido.
Pois seu verdadeiro
sentido não está de
acordo com o instinto
místico e poético da
humanidade, que produz e
enfeita as histórias
imaginárias, mas com
alguma lei desconhecida,
que nada tem a ver com
os sentimentos e os
convencionalismos
humanos.
725. Assim, assistimos
frequentemente ao fato
bastante absurdo de
ouvirmos pessoas que
ridicularizaram os
fenômenos que se
produzem realmente,
apenas porque eles não
estão de acordo com as
suas noções
preconcebidas a respeito
das histórias de
aparições; eles não
percebem que é
precisamente essa
divergência, essa
característica
inesperada, que
constitui um sério
indício de que os
fenômenos em questão têm
sua origem fora do
espírito, incapazes de
representar-se
antecipadamente os
fenômenos desse gênero.
726. Acho que pela
primeira vez começamos a
formar, sobre as
comunicações
espirituais, um conceito
que esteja mais ou menos
de acordo com os outros
conceitos já provados e
mais afirmados, e que
possa, até a uma certa
medida, ser apresentado
como o desenvolvimento
dos fatos verificados
pela experiência.
Precisamos dos conceitos
preliminares, já
conhecidos pelos
antigos, o primeiro dos
quais encontra lugar
recentemente na ciência,
enquanto o segundo ainda
espera a sua patente de
ortodoxia.
727. O primeiro, com o
qual o hipnotismo e os
diversos tipos de
automatismo nos
familiarizaram, é o
conceito da
personalidade múltipla,
da coexistência
potencial de diversos
estados e diversas
memórias no mesmo
indivíduo. O segundo
conceito é o concernente
à telepatia, isto é, à
ação de um Espírito
sobre outro fora dos
órgãos dos sentidos
ordinários, e mais
particularmente à ação
por meio das
alucinações, pela
produção de fantasmas
verídicos que
constituem, por assim
dizer, mensagens de
parte de pessoas vivas.
728. Acredito que esses
conceitos estejam unidos
porque as mensagens
telepáticas têm,
geralmente, seu ponto de
partida na zona
subconsciente ou
submersa do agente e
chegam à zona submersa
ou subconsciente do
receptor. Sempre que há
uma alucinação, falsa ou
verdadeira, trata-se de
uma mensagem qualquer
que abre caminho, de uma
parte a outra da
personalidade, mesmo a
mensagem tomando a forma
de um sonho incoerente,
ou sonho-símbolo, de uma
maneira qualquer, de um
fato inacessível de
outra maneira, para a
pessoa receptora.
729. O mecanismo é o
mesmo quando a mensagem
se desloca de uma zona
para outra, no interior
do mesmo indivíduo, e
quando se transmite de
um indivíduo para outro
– no caso em que o eu
consciente de A é
estimulado pelo seu eu
inconsciente e que B é
estimulado
telepaticamente pelas
profundas e ocultas
fontes de percepção de
A.
730. Se esta opinião é
de alguma maneira
verdadeira, parece
aconselhável procurar
dentro dos nossos
conhecimentos sobre as
comunicações anormais ou
supranormais entre
Espíritos ainda
encarnados ou nos
estados anormais ou
supranormais do mesmo
Espírito ainda não
liberado da envoltura da
carne, as analogias que
possam nos iluminar,
mesmo parcialmente,
sobre os fenômenos de
comunicação entre os
Espíritos encarnados e
os Espíritos
desencarnados.
731. Uma comunicação
(sempre que for
possível) entre uma
pessoa morta e uma
pessoa viva é uma
comunicação entre um
Espírito em uma certa
fase da existência, e
outro Espírito em uma
fase completamente
diferente; é, ainda, uma
comunicação que se
realiza por uma via
diferente dos órgãos dos
sentidos ordinários,
desde que, de uma parte,
os órgãos materiais dos
sentidos não existem.
Encontramo-nos,
evidentemente, na
presença de um exemplo
extremado, tanto de
comunicação entre os
diversos estados do
mesmo indivíduo, quanto
de comunicações
telepáticas; e
poderíamos, quem sabe,
formar uma ideia mais
exata do fenômeno em
questão, considerando as
manifestações menos
avançadas destas duas
categorias.
732. Em que
oportunidades vemos um
Espírito que se comunica
com um outro Espírito,
em condições diferentes
das que envolvem o
primeiro, habitando num
mundo diferente,
considerando as mesmas
coisas de um ponto de
vista também diferente,
todas essas diferenças
exprimindo qualquer
coisa além das
divergências de caráter
que existem entre as
duas personagens? Isto
acontece primeiramente
no sonambulismo
espontâneo, nos diálogos
entre uma pessoa
adormecida e uma pessoa
acordada. E vejamos como
é fácil entrar em
comunicação com um
estado que, em
princípio, se assemelha
ao do isolamento
completamente fechado.
733. Um velho ditado
diz: “Acordados
possuímos o mundo em
comum, mas cada pessoa
que dorme vive num mundo
particular”. Essa pessoa
que dorme, mesmo
completamente fechada em
si mesma, pode, no
entanto, ser levada,
suavemente, a uma
comunicação espontânea
com os homens acordados.
734. O sonâmbulo, ou
melhor ainda, o
soníloquo, pois o
problema é mais de
conversação do que de
perambulação, representa
assim o primeiro tipo
natural da aparição.
Observando os hábitos
dos sonâmbulos é
possível perceber que
sua possibilidade de
comunicar com outros
Espíritos varia de um
caso para outro. Um
sonâmbulo se dedica às
suas ocupações habituais
sem reconhecer a
presença de qualquer
pessoa; um outro
reconhece apenas algumas
pessoas, ou só dá uma
resposta quando é
interrogado sobre certos
temas, pois seu Espírito
entra em contato com
outros Espíritos apenas
sobre certos pontos
pouco comuns. O
sonâmbulo quase nunca
presta atenção no que as
outras pessoas fazem,
para poder assim
regular,
consequentemente, sua
conduta.
735. Passemos agora, do
sonambulismo natural,
ideopático ou
espontâneo, para o
sonambulismo provocado,
o sonambulismo
hipnótico. Aqui
encontramos em cada
etapa do sono uma
faculdade de comunicação
parcial e variável.
Logo, o sujeito
hipnotizado nada
manifesta; parece capaz
de ouvir só uma pessoa e
de atender-lhe,
excluindo as demais;
conversará livremente
com quem quer que seja,
mas, mesmo neste caso,
não é seu eu desperto
que fala e geralmente só
recorda,
imperfeitamente, ou não
se recorda, durante a
vigília, o que fez ou
disse durante o sono.
736. Por analogia com o
que ocorre quanto às
comunicações entre as
pessoas vivas que se
encontram em estados
diferentes, podemos
esperar que as
comunicações entre os
Espíritos encarnados e
os desencarnados, sendo
possíveis, sejam
restritas e limitadas e
não façam parte da
corrente comum da
provável consciência
desencarnada.
737. Estas considerações
preliminares são
aplicáveis a todos os
modos de comunicação com
as pessoas mortas, quer
em sua forma motora,
quer na sensorial.
Consideremos agora que
os modos de comunicação
com os mortos são de
natureza que nos pareçam
prováveis, por analogia,
com o que se sabe sobre
as comunicações entre os
vivos. Parece-me existir
um paralelismo rigoroso
entre todas as formas de
automatismo
experimental, de um
lado, e todas as
variedades de fenômenos
espontâneos, de outro.
(Continua no próximo
número.)