Provação
Hilário Silva
Heitor Pessoa e
a esposa, D. Delminda, desde os
primeiros dias na cidade eram
assíduos frequentadores do templo
espírita. Corretíssimos. Generosos.
Entretanto, fora disso, pareciam
fechados. Excelentes companheiros na
instituição; contudo, na vida
particular, eram francamente
inacessíveis. |
–
Muito bons, mas
muito
orgulhosos.
–
Sabem ensinar a
fraternidade,
mas escorregam
mais que os
peixes.
Observações como
essas eram
frequentes.
E
como semelhante
situação
estivesse
incomodando, o
presidente
imaginou um meio
de sanar as
impressões.
Em cada semana,
o culto do
Evangelho seria
atendido em
determinado lar.
Assim, cada
residência dos
irmãos da
agremiação seria
aberta ao
exercício da
fraternidade.
Chegada a
ocasião em que
lhes caberia o
testemunho
efetivo, Heitor
e senhora
tentaram
gentilmente
esquivar-se, mas
a diretoria
insistiu e
tiveram que
abrir as portas.
Na noite
indicada, o
casal e o único
filho, Marcelo,
rapaz de nobres
feições,
atlético e bem
posto, fizeram
as honras.
A
reunião correu
encantadora e o
texto do
Evangelho, “não
julgueis para
não serdes
julgados”,
mereceu
apontamentos
lindos. O
cafezinho foi
servido
carinhosamente,
mas, às
despedidas,
veladas
reclamações
ouviam-se aqui e
ali.
Mafra, o
presidente,
havia perdido a
carteira;
Antônio Silva
sentia falta do
relógio; Dona
Carlinda ficara
sem o broche de
ouro e Dona
Aurora não
pudera localizar
a pulseira.
No dia seguinte,
porém, Heitor,
muito
desapontado,
visitou os
companheiros, um
a um,
restituindo-lhes
os objetos
perdidos e
explicando que
não costumava
receber visitas
porque o filho
persistia ainda
desajuizado, em
vagaroso
tratamento.
Boquiabertos, os
amigos
compreenderam
que o distinto e
esquivo casal
trazia a
provação de um
filho, muito
sadio de corpo,
mas
positivamente
obsidiado.
Do cap. 11 do
livro Almas
em Desfile,
de Hilário
Silva,
psicografado
pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco
Cândido Xavier.