Na seção de Cartas da edição anterior,
publicamos uma mensagem em
que o leitor Wilson do
Nascimento Paes (Cabo de
Santo Agostinho, PE)
perguntou-nos o seguinte:
1.
Deus criou os Espíritos
puros e ignorantes. Deus é
onisciente. Como ficam as
explicações sobre
livre-arbítrio,
reencarnação, provas e
expiações?
2.
A presença de Jesus
encarnado foi cumprimento de
uma missão? Não a terminou e
prometeu voltar? Ou estamos
equivocados na leitura e
interpretação das
escrituras?
3.
Não há muitas palavras,
desejos, vontades na boca de
Deus, colocadas por nós
pobres humanos?
Eis, de acordo com os ensinamentos espíritas, as
respostas que entendemos
cabíveis em face das
perguntas propostas:
1.
Deus criou os Espíritos
simples e ignorantes, ou
seja, sem conhecimento do
que seja o bem ou o mal, mas
à medida que eles foram
evoluindo foi-se ampliando,
na vida de cada indivíduo, a
capacidade de escolher, ou
seja, o uso do
livre-arbítrio.
A reencarnação é um dos instrumentos do
progresso espiritual.
Constitui a oportunidade que
temos de, em cada
experiência reencarnatória,
retificar os erros cometidos
e adquirir novos
conhecimentos.
As provas são, como na escola, testes com que
são aferidos os novos
conhecimentos que
adquirimos, seja no campo
intelectual, seja no campo
moral.
As expiações são medidas educativas com que
sentimos em nós mesmos os
efeitos do mal que
praticamos ao longo do
caminho. A cada existência o
Espírito se depura, se
aprimora, até chegar à
condição de Espírito Puro,
nome que designa aquele que
atingiu a meta a que todos
nós aspiramos, ou seja, a
perfeição.
2.
A presença de Jesus entre
nós foi, inequivocamente,
uma missão. Claro que ele a
concluiu, mas era preciso o
concurso do tempo para que,
em determinado momento, seus
ensinamentos fossem
complementados, tarefa que
ele atribuiu expressamente
ao Consolador, como é
possível verificar à vista
dos textos abaixo, colhidos
no Evangelho de João:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique
convosco para sempre.” (João
14:16.)
“Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que
eu vá; porque, se eu não
for, o Consolador não virá a
vós; mas, quando eu for,
vo-lo enviarei.” (João
16:7.)
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o
Pai enviará em meu nome,
esse vos ensinará todas as
coisas, e vos fará lembrar
de tudo quanto vos tenho
dito.” (João 14:26.)
“Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte
do Pai vos hei de enviar,
aquele Espírito de Verdade,
que procede do Pai, ele
testificará de mim.” (João
15:26.)
3.
Há, sim, muitas palavras,
desejos e vontades
atribuídos a Deus, sobretudo
no Antigo Testamento, quando
em diversos momentos Moisés
decretou leis que ele,
certamente para que fossem
observadas, baixou em nome
do Senhor, assunto que
Kardec comenta no livro O
Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. I,
item 2. Eis o que o
Codificador do Espiritismo
escreveu:
“Na lei mosaica, há duas partes distintas: a lei
de Deus, promulgada no monte
Sinai, e a lei civil ou
disciplinar, decretada por
Moisés. Uma é invariável; a
outra, apropriada aos
costumes e ao caráter do
povo, se modifica com o
tempo.
A lei de Deus está formulada nos dez mandamentos
(...).
É de todos os tempos e de todos os países essa
lei e tem, por isso mesmo,
caráter divino. Todas as
outras são leis que Moisés
decretou, obrigado que se
via a conter, pelo temor, um
povo de seu natural
turbulento e indisciplinado,
no qual tinha ele de
combater arraigados abusos e
preconceitos, adquiridos
durante a escravidão do
Egito.
Para imprimir autoridade às suas leis, houve de
lhes atribuir origem divina,
conforme o fizeram todos os
legisladores dos povos
primitivos. A autoridade do
homem precisava apoiar-se na
autoridade de Deus; mas, só
a ideia de um Deus terrível
podia impressionar criaturas
ignorantes, nas quais ainda
pouco desenvolvidos se
encontravam o senso moral e
o sentimento de uma justiça
reta.
É evidente que aquele que incluíra, entre os
seus mandamentos, este: ‘Não
matareis; não causareis dano
ao vosso próximo’, não
poderia contradizer-se,
fazendo da exterminação um
dever. As leis mosaicas,
propriamente ditas,
revestiam, pois, um caráter
essencialmente transitório.”
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