ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 32)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. As manifestações de
um morto podem dar-se
antes mesmo da
ocorrência de sua morte
corpórea?
Sim. Embora o momento da
morte seja, segundo
Gurney, o centro das
experiências dessa
natureza, umas
antecedem, enquanto
outras seguem-se à
morte. Esta frase não
deve, porém, ser
interpretada como se
Gurney tivesse desejado
afirmar que a morte é a
causa dessas
experiências. As que se
produzem antes da morte
podem ser motivadas ou
determinadas não pela
morte em si, mas pelo
estado anormal (coma,
delírio), que a
antecede. Em quase todos
os casos em que a
aparição de um fantasma
antecedeu a morte do
agente, a morte foi
motivada por uma doença,
não por um acidente.
(A Personalidade Humana,
capítulo VII – Os
fantasmas dos mortos.)
B. No tocante a essas
aparições póstumas, que
casos Myers considera
mais eloquentes?
Ele assim classifica os
casos em que a morte é
desconhecida do sujeito,
porque dotam a aparição
de um grau muito maior
de veracidade. Um certo
senhor Farler viu duas
vezes, no espaço de uma
noite, o fantasma
gotejante de um de seus
amigos que, como soube
mais tarde, afogara-se
na véspera. Quinze dias
depois, o mesmo vulto
foi visto com sua roupa
usual, sem qualquer
vestígio do acidente.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
C. Pode uma manifestação
póstuma permanecer
latente e ser vista
apenas horas depois de
sua ocorrência?
Sim. Nas observações em
que uma alucinação
auditiva ou visual clara
sobrevém durante a
noite, horas após a
morte, podemos admitir a
hipótese de uma
impressão
telepaticamente recebida
durante o dia e que
permaneceu latente até o
aparecimento de outras
excitações,
exteriorizando-se a
seguir, sob a forma de
uma alucinação, após o
primeiro sono, por algum
fato suscetível de
excitar em nós o
interesse ou a angústia
e que, esquecido durante
o dia, invade de repente
nossa consciência com
uma força e uma clareza
notáveis.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
Texto para leitura
761. Ficaria contente se
pudessem me citar um
caso de aparição
fantasmagórica de uma
pessoa, que o amigo que
viu a aparição
acreditava morta, mas
que, na realidade,
estava bem viva e
saudável. Os avisos
falsos sobre a morte são
raros para que se possam
citar casos desse
gênero. Acredito que a
dor e o sentimento de
terror, aliados à morte,
podem ser considerados
como a causa suficiente
das experiências
sensoriais anormais,
relativas a pessoas cuja
morte recente é
deplorada, até que a
realidade objetiva dos
fantasmas dos mortos, em
determinados casos, seja
estabelecida
através de provas
independentes.
762. Se, agora, vamos
tirar alguma conclusão
provável, no que diz
respeito à natureza
objetiva das aparições e
das comunicações
póstumas (ou de algumas
delas), do fato da
extrema frequência com
que é produzida, pouco
tempo após a morte,
deveríamos nos limitar
ao caso em que o fato da
morte era desconhecido
do sujeito que recebe,
no momento exato da
experiência. Mas, nesta
época de cartas e
telegramas, a maioria
das pessoas toma
conhecimento dessas
notícias dias ou horas
após o falecimento, de
forma que as aparições,
para estarem de acordo
com as nossas condições,
devem acontecer
imediatamente após a
morte. Possuímos um
número suficiente de
casos desse gênero?
763. Os leitores de
Phantasms of the Living
sabem da existência de
tais casos. Em alguns
deles, citados neste
livro, como os exemplos
de transmissão
telepática, por parte de
uma pessoa morta, a
pessoa estava de fato
morta, no momento em que
se realizara a
experiência; e a
publicação destes casos
sob o título comum de
Phantasms of the Living
(Fantasmas dos Vivos)
despertou, e é natural,
críticas.
764. Note-se que a
indicação que dei destes
casos supõe uma condição
que não pode de forma
alguma ser considerada
como certa. Devemos
supor, certamente, que a
transmissão telepática
se produzira
imediatamente antes da
morte ou no momento
exato dela, mas que a
impressão ficou latente
no espírito do sujeito,
para não aflorar na sua
consciência senão após
um curto intervalo, quer
como visão de vigília,
quer como sonho, quer
sob outra forma
qualquer.
765. Reconheçamos
momentaneamente que esta
hipótese se justifica.
Que, com efeito, o
momento da morte
constitui, do ponto de
vista do tempo, o ápice
ao redor do qual se
agrupam as experiências
anormais que o sujeito
experimenta a distância,
e das quais algumas
antecedem a morte,
enquanto que outras a
seguem; é, portanto,
natural supor que a
mesma explicação pode
ser aplicada a todo o
grupo e que em cada uma
das divisões a força
determinante é
constituída pelo estado
do agente, anterior à
sua morte corporal.
766. Alguns casos de
transmissão experimental
de pensamentos
confirmam, além disso, a
opinião segundo a qual
as “impressões
transmitidas” podem
permanecer latentes
durante certo tempo,
antes que o sujeito que
recebe as perceba; e as
recentes descobertas,
relativas ao automatismo
e à inteligência
secundária tornam muito
provável o fato de que a
telepatia manifesta seus
primeiros efeitos sobre
o pedaço “inconsciente”
do espírito.
767. A esses dois
argumentos devemos
acrescentar que o
período em que
supostamente esteve
latente foi, num elevado
número de casos, um
período durante o qual a
pessoa impressionada se
achava ocupada e sua
atenção dirigida a
outros objetivos; e nos
casos deste gênero é
muito fácil supor que a
impressão telepática,
para adentrar a
consciência, necessita
de um período de
silêncio e
recolhimento.
768. Contudo, ainda que
a teoria do latente
possua muitas
probabilidades, meus
colegas e eu achamos não
se poder elevar a dogma
o que no momento só deve
ser considerado como uma
hipótese. De todas as
investigações, as
psíquicas são as em que
é mais necessário evitar
os erros, mantendo o
espírito preparado para
aceitar as novas
interpretações dos
fatos. E, no estado
atual da questão,
podem-se opor várias
objeções sérias à
hipótese de que as
impressões telepáticas
provenientes de pessoas
falecidas só seriam
suscetíveis de aflorar
após permanecerem
durante horas em estado
latente.
769. Os casos
experimentais que citei
como análogos são pouco
numerosos e seguros, e o
período latente foi,
além disso, cronometrado
em segundos e minutos,
não em horas. E ainda
que, como já afirmei, a
aparente demora
observada em certos
casos de aparições de
mortos possa ser
explicada pela
necessidade de afastar o
espírito e os sentidos
do sujeito de outras
preocupações, com o fito
de que o fenômeno
ocorra, conhecemos
outros casos onde não
ocorre isso e onde nada
parece autorizar um
relacionamento entre a
demora e o estado do
sujeito que recebe.
770. Desta forma,
achamo-nos na presença
da hipótese, que é a
única que devemos
considerar: trata-se de
um estado (físico ou
psíquico) do agente que
se manifesta algum tempo
depois da morte e do
qual o sujeito toma, no
mesmo instante e não
antes, conhecimento da
impressão.
771. Até aqui só fiz
referência aos casos em
que o intervalo entre a
morte e a aparição foi
suficientemente curto
para tornar provável a
teoria do latente.
Segundo a regra adotada
em Phantasms of the
Living, esse intervalo
não devia ultrapassar
mais de 17 horas. Mas
conhecemos alguns casos
em que esse intervalo
foi bastante
ultrapassado e os em que
o próprio fato da morte
era desconhecido do
sujeito, nos instantes
da experiência. A teoria
do latente não pode ser
razoavelmente aplicada
aos casos em que a
aparição se acha
separada por semanas ou
meses do instante da
morte, que é o último
durante o qual uma ideia
comum transmitida
telepaticamente pôde ter
acesso, próximo ao
sujeito.
772. A existência destes
casos, enquanto tende a
estabelecer a realidade
de aparições de mortos,
devidos a causas
externas, diminui o
valor das objeções que
se opõem ao conceito que
considera as aparições
etc., que seguiram de
perto a morte, como de
causa diferente às que
coincidem com a morte e
a antecedem, também de
perto. (Proceedings of
the S. P. R., V, pág.
403-408.)
773. A hipótese do
latente que encontramos
aqui, no início de nossa
pesquisa, é de
importância relevante,
embora, como veremos
mais tarde, chega um
momento em que não é
capaz de englobar todos
os fatos. Se pudéssemos
traçar uma curva que
expressasse o número
relativo das aparições,
antes e depois da morte,
veríamos que este número
aumenta rapidamente
durante as horas que
antecedem, para,
gradativamente, diminuir
durante as horas e dias
que se seguem à morte.
Após o primeiro ano, as
aparições tornam-se
raras e excepcionais.
774. “O momento da morte
– diz Gurney – é o
centro de um grupo de
experiências anormais,
das quais umas
antecedem, enquanto
outras seguem-se à
morte.” Esta frase não
deve ser interpretada
como se Gurney tivesse
desejado afirmar que a
morte é a causa dessas
experiências. As que se
produzem antes da morte
podem ser motivadas ou
determinadas não pela
morte em si, mas pelo
estado anormal (coma,
delírio), que a
antecede. Possuímos, com
efeito, muitos exemplos
de fantasmas
verdadeiros, que
coincidiram com crises,
como acidentes de
automóvel etc.,
acontecidos a agentes
distantes, mas que não
foram seguidos de morte.
775. Encontramos, além
disso, que em quase
todos os casos em que um
fantasma, verdadeiro ou
não, antecedeu a morte
do agente, a morte foi
motivada por uma doença,
não por um acidente.
Existem poucas exceções
a esta regra. Num caso
citado em Phantasms of
the Living (II, pág.
52), o fantasma aparece
antecedendo-se de meia
hora à morte súbita por
afogamento; o sujeito
que recebe mora numa
granja de Norfolk,
enquanto que a vítima,
ou o agente, pereceu
durante uma tempestade
nas proximidades da ilha
de Tristão da Cunha; e
imaginamos que um erro
de hora ou de observação
bastava para explicar
esta pretensa exceção à
regra.
776. Em outro caso,
tratava-se de uma morte
violenta, suicídio; mas
o estado de excitação
mórbida em que se
encontrava a vítima
algumas horas antes da
morte, isto é, no
momento em que se deu a
aparição, era só um
estado de crise. Existem
outros casos (não
citados no Phantasms) em
que o fantasma ou o
duplo foi visto vários
dias antes da morte
acidental; mas os casos
desse gênero são pouco
numerosos para tornar
viável a existência de
um nexo causal entre a
morte e a aparição.
777. Não é fácil chegar
à certeza, no que
concerne aos casos em
que o intervalo foi
cronometrado em minutos;
porque se o sujeito está
longe do agente, sempre
podemos ter dúvidas
quanto à exatidão com
que foi anotada a hora e
no que diz respeito à
exatidão da observação;
e, por outro lado, se o
sujeito e o agente se
encontram no mesmo
lugar, podemos nos
perguntar sempre se o
fantasma observado não
foi uma simples
alucinação subjetiva.
778. Desse modo,
possuímos vários relatos
de gritos horrorosos
ouvidos pelas pessoas
que velavam o cadáver,
logo após a morte
aparente, ou uma espécie
de halo luminoso ao
redor do morto; mas tudo
isso se produziu num
momento bastante
propício às alucinações
subjetivas e se os
fenômenos em questão não
afetaram senão um
indivíduo é difícil
atribuir-lhes algum
valor. No caso em que o
fenômeno parece afetar
diversas pessoas,
pode-se tratar de uma
transmissão de
pensamento entre os
espíritos das pessoas
presentes, seja ou não o
fenômeno devido à pessoa
do morto.
779. Existem também
outras circunstâncias
nas quais, mesmo sendo a
morte conhecida, uma
alucinação advinda logo
após pode ter um valor
subjetivo. É o caso de
uma mulher que sabia da
morte de sua irmã, há
várias horas e que, sem
estar num estado de
excitação mórbida,
pensou ter visto entrar
alguém na sala de
jantar, abrindo a porta
e fechando-a atrás de
si. Ficou assustada ao
ver que não havia
ninguém no cômodo;
passado algum tempo,
verificou que podia
existir alguma relação
entre a aparição e a
morte da irmã.
780. Isso nos lembra o
caso de Hill, que viu
entrar na sua casa um
vulto alto que, após
tê-lo assustado e
surpreendido,
desapareceu sem que
fosse possível seu
reconhecimento. Mas um
de seus tios, homem de
estatura elevada, estava
naquele momento
moribundo e deve-se
notar que Hill, mesmo
sabendo desse fato, sua
angústia não seria por
si só suficiente para
dar origem a essa
assustadora aparição.
781. Há casos em que o
sujeito viu a aparição
de um amigo; logo após a
morte deste último, teve
outras alucinações
verdadeiras e nunca
qualquer alucinação
subjetiva. Os sujeitos
desta categoria supõem
naturalmente que a
aparição do amigo morto
possui o mesmo caráter
verídico que as
alucinações anteriores,
mesmo que a coisa não
fosse evidente e
sabendo-se da morte no
momento da aparição.
782. Os casos em que a
morte era desconhecida
do sujeito são
evidentemente mais
eloquentes e dotam a
aparição de um grau
muito maior de
veracidade. Um certo
senhor Farler viu duas
vezes, no espaço de uma
noite, o fantasma
gotejante de um de seus
amigos que, como soube
mais tarde, afogara-se
na véspera.
783. A primeira aparição
produziu-se algumas
horas após a morte,
podendo ser explicada
pela impressão que
permaneceu latente até o
instante favorável à sua
manifestação, isto é, a
calma e o silêncio da
noite. A segunda
aparição pode ter sido
uma repetição da
primeira; mas, se
prescindirmos da teoria
do latente, fazendo a
primeira depender (caso
não passe de mera
coincidência) de uma
certa energia emanada da
pessoa morta, após o seu
falecimento, estamos
autorizados a considerar
a segunda aparição como
igualmente verdadeira. O
mesmo vulto foi visto,
quinze dias depois, com
sua roupa usual, sem
qualquer vestígio do
acidente.
784. Em outros casos, a
aparição é una e
sobrevém algumas horas
após a morte. Vejamos a
aplicação da hipótese do
latente a esses casos.
Onde não há alucinação
propriamente dita, mas
um sentimento único de
mal-estar e angústia que
advém algumas horas após
a morte de um amigo
distante, como no caso
de Wilson (Phantasms of
the Living, I, pág.
280), nos é difícil
prever o que se passa.
Algum estímulo
comunicado ao cérebro do
sujeito no momento da
morte do agente pode-se
manifestar lentamente à
consciência. A demora
pode ser atribuída mais
a causas fisiológicas do
que psíquicas.
785. Nas observações em
que uma alucinação
auditiva ou visual clara
sobrevém durante a
noite, horas após a
morte, podemos admitir a
hipótese de uma
impressão
telepaticamente recebida
durante o dia e que
permaneceu latente até o
aparecimento de outras
excitações,
exteriorizando-se a
seguir, sob a forma de
uma alucinação, após o
primeiro sono, por algum
fato suscetível de
excitar em nós o
interesse ou a angústia
e que, esquecido durante
o dia, invade de repente
nossa consciência com
uma força e uma clareza
notáveis.
786. No caso da Sra.
Teale, pelo contrário (Phantasms
of the Living, II, pág.
693), a alucinação
sobreveio oito horas
após a morte, quando
esta senhora estava
sentada, totalmente
acordada, junto à sua
família. Em outros casos
trata-se de uma
verdadeira
“clarividência
telepática”, de uma
imagem transmitida pelo
espírito do defunto, mas
enviada após a morte,
porque assistimos a uma
visão de um acidente (e
de suas consequências)
muito mais completa do
que a que pôde
atravessar o espírito do
moribundo no momento da
morte.
787. Os casos desse
gênero nos fazem pensar
que o espírito do
defunto continua presa
das coisas terrestres e
que é capaz de
compartilhar com o
sujeito as imagens que o
preocupam. É o caso do
famoso médico de
Londres, morto no
estrangeiro, num
hospital do interior,
deitado num quarto
pobre, o qual surgiu a
uma mulher dez horas
após sua morte.
788. Vê-se que esses
fenômenos não são
suficientemente simples
para que possamos
considerá-los apenas do
ponto de vista que os
separa da morte.
(Continua no próximo
número.)