A mulher e suas
inúmeras
funções:
prenúncio de
progresso ou de
crise?
Tenho algumas
amigas que vez
ou outra
reclamam do fato
de terem
abdicado de suas
profissões para
cuidarem da
família.
Sentem-se
diminuídas, como
se o trabalho no
lar não tivesse
valor.
Quais seriam os
reais motivos
que levaram a
mulher a sentir
esta grande
necessidade de
estar, ao lado
dos homens, no
mercado de
trabalho?
Todo fato é
social,
portanto, deve
ser explicado
pela história
das relações
humanas. O homem
- ser masculino
que desempenha o
importante papel
de companheiro e
pai, na
atualidade -
transformou as
mulheres de sua
vida, por muito
tempo, em servas
desprezadas. Na
maior parte das
culturas
mantinham-nas
amordaçadas, sem
voz e sem ação.
Mas elas nunca
deixaram de
pensar. Mesmo
quando se
calavam diante
de seu “senhor
marido”, por
dentro o
espírito
divagava entre a
resignação e a
revolta. Triste
realidade que,
infelizmente,
ainda perdura em
algumas
culturas.
Algumas
movimentações
foram surgindo,
com o passar dos
tempos, e a
mulher
manifestou-se
com força e
resolução. Então
os homens
ficaram
assustados: como
lidar com aquele
ser que pensava,
lutava e, pior,
realizava? Como
administrar essa
nova realidade e
aceitar que a
mulher, aquela
que era apontada
como o “sexo
frágil” e de
poucas
possibilidades,
poderia ser tão
eficaz quanto
eles num mundo
intrinsecamente
masculino?
Junto com o
despreparo
masculino no
trato de tais
questões, outra
grande
dificuldade
neste novo
processo esteve
no fato de irmos
de um extremo ao
outro, como em
todas as
movimentações
humanas.
Passamos do
servilismo total
para a guerra
aberta contra os
homens, armando
um verdadeiro
braço-de-ferro
com eles,
desejando provar
que éramos ainda
melhores do que
aquele que nos
subjugou por
tanto tempo.
Desejávamos
provar ao mundo
que éramos
cheias de
virtudes e que
conseguíamos ser
muito mais do
que estávamos
sendo até ali.
Com isso
abraçamos
inúmeras
atividades – não
nos contentamos
em apenas
angariar
conhecimento,
precisávamos
exercitá-los,
ganhar dinheiro,
ter “liberdade”.
Curiosamente nos
escravizamos por
conta própria.
Ao deixarmos os
nossos lares
para serem
cuidados por
empregadas e
nossos filhos
pelas babás,
pagamos um alto
preço: perdemos
a paz de
espírito. Como
trabalhar
tranquilas,
sabendo que
aqueles que
dependem de nós
ficaram em casa,
por vezes com
febre, nas mãos
de outra pessoa
que nem sempre
conhecemos bem,
ou ainda em
creches, sendo
educadas por
meninas ainda
inexperientes,
com pouca idade
e sem nenhuma
formação na área
educacional?
Como administrar
os complexos
mecanismos da
casa que
necessita de
organização,
cuidados e
carinho e a vida
profissional,
cheia de
exigências e
desafios? Como
conseguir
participar da
elaboração do
caráter das
crianças em
tenra idade e
ainda contribuir
com a promoção
do crescimento
da empresa onde
laboramos?
Coisa difícil.
Não é à toa que
a mulher moderna
desenvolveu uma
forte tendência
à depressão. Uma
voz interior lhe
pede que dê
conta do lar, de
sua família e a
outra voz,
social e
manipuladora,
grita, pedindo
que seja uma
vencedora nas
lides materiais,
mesmo que, para
sobreviver com
conforto e
segurança, não
precise de mais
dinheiro do que
já tem.
Então nos
perguntamos:
“Será que toda
esta luta
feminina tem
sido heroica,
porém,
inglória?”
A mulher
precisou desse
movimento que
trouxe grandes
mudanças, tanto
para estabelecer
seus próprios
limites como
para descobrir
seus reais
potenciais,
camuflados pelo
sistema. Porém,
agora ela
precisa pesar na
balança se está
sendo realmente
saudável, para
ela e para sua
família, optar
por tantas
funções em um
mesmo momento.
Compreendo que a
realidade do
mundo moderno
nem sempre nos
permite pagar as
nossas contas
com apenas um
membro familiar
trazendo
dinheiro para
dentro de casa e
que, com isso, a
mulher precisou
sair pela porta
da frente,
buscando
complementar o
orçamento
doméstico.
Também considero
o fato de que
muitas famílias,
já constituídas
por pai, mãe e
filhos, de uma
hora para outra
passam por
necessidades e
precisam da
mão-de-obra
feminina, a fim
de lhes permitir
a sobrevivência.
Neste caso o
marido precisará
realizar um
esforço inaudito
no sentido de
auxiliar esta
mulher e criar,
juntamente com
ela, mecanismos
de qualidade
para o convívio
familiar,
ajudando-a na
manutenção
daquele espaço,
colaborando na
educação dos
filhos,
promovendo
importantes
momentos de
harmonia e
participação.
Não pode deixar
que a mulher
fique sozinha
com todos os
encargos da
casa,
sobrecarregada,
fatigada,
chegando até
mesmo a adoecer
– como temos
constatado.
No caso da
mulher que,
mesmo sem
precisar ajudar
no sustento,
sente uma
necessidade
grande de
realizar-se
dentro do
mercado de
trabalho, não há
problema algum
que lute por
seus objetivos
pessoais.
Contudo
precisará
indagar-se sobre
a possibilidade
de não ter
filhos, uma vez
que será
complicado dar
conta do recado
sem se
prejudicar e,
principalmente,
sem prejudicar
aqueles que
precisarão de
sua assistência
constante.
São perguntas
duras que
precisam ser
elaboradas, pois
todos temos pago
um alto tributo,
na atualidade.
As
mulheres-maravilha
que teimam em
afirmar que
conseguem estar
em várias
funções ao mesmo
tempo, como se
fossem seres
clonados pela
ciência moderna,
precisam
descobrir em
qual ponta a
corda está
estourando. Ao
aceitarmos o que
a sociedade nos
impõe como sendo
o melhor,
partimos do
pressuposto de
que o trabalho
profissional é
mais importante
que o caseiro,
sendo isso uma
grande
inverdade. Todas
as atividades
que envolvem a
família são
sagradas –
merecedoras de
respeito e
consideração –
pois dão base
para as almas
que ali se
desenvolvem.
Para que o
leitor possa
compreender
melhor as
intenções
contidas neste
despretensioso
texto – cujo
objetivo não é
trazer
conclusões, mas
sim algumas
reflexões –
copio, abaixo,
parte de uma
entrevista feita
com o saudoso
médium
brasileiro
Francisco
Candido Xavier
pelos confrades
Salvador Gentile
e Hércio Marcos
Cintra Arantes:
P: Poderíamos
saber, através
de você, de
algum modo, a
causa profunda
dos conflitos da
nossa época?
Chico Xavier:
Emmanuel costuma
dizer que a era
tecnológica
pretende, na
essência,
construir uma
civilização sem
as mães e isso é
um erro muito
grande, de modo
que, criando
dificuldades
para a mulher e,
especialmente,
para a
maternidade,
estamos
condenando a nós
mesmos a muitas
perturbações,
porque a mulher
sem apoio entra,
naturalmente, em
desespero, dando
origem a
determinadas
teorias que não
são aquelas do
feminismo
autêntico,
aquele feminismo
correto que
prepara a mulher
para a
independência
construtiva.
Dizendo isso,
cremos que será
justo esquecer
as teorias
enfermas que
levam a mulher
às ilusões
destrutivas, com
as quais se
compromete o
equilíbrio do
grupo social.
Precisamos
realmente não
reprovar o
comportamento da
mulher, e sim
estudar por que
meios
conseguiremos
auxiliar as
nossas irmãs de
humanidade, para
que se sintam
conscientizadas
na
responsabilidade
de serem
mulheres com
encargos muito
mais importantes
do que os
encargos
atribuídos ao
homem, porque o
homem é a
administração e
a mulher é o
lar, e sem o lar
não sustentamos
a cúpula com a
segurança
desejada.
(Fonte: A Terra
e o Semeador,
publicação do
Instituto de
Difusão
Espírita.)