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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 7 - N° 307 - 14 de Abril de 2013
THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)  
 


Painéis da Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda 

(Parte 7)

Damos continuidade ao estudo metódico e sequencial do livro Painéis da Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco.

Questões preliminares 

A. Que disse Irmã Angélica a respeito da queixa?

A queixa, segundo Irmã Angélica, traduz rebeldia aos códigos superiores da vida. O queixoso é alguém que se acredita injustiçado ante as na­turais circunstâncias e situações em que se encontra colocado. Quando al­guém se deixa arrastar pela reclamação, sem motivo real, assume uma posi­ção falsa perante a vida, disputando atenções e requerendo reconhecimento de valores que está longe de merecer. A queixa é filha do azedume e da má vontade, que contribuem poderosamente para piorar o quadro de desequilí­brio daquele que se deveria candidatar ao esforço de renovação mental, aplicando todos os recursos para preservar as forças no bem e na espe­rança, com que poderá aspirar uma psicosfera benéfica e liberta­dora. (Painéis da Obsessão, cap. 9, pp. 67 a 69.)

B. Ao serem informados dos deslizes cometidos no passado, qual foi a reação de Argos, Áurea e Maurício?

O relacionamento entre eles teve início no século XV, quando dos lamentáveis conflitos entre os seguidores de João Huss – os hussitas – e os partidários do imperador Sigismundo. Depois do ignó­bil Concílio de Constança e da morte de João Huss, os ânimos se exaltaram e a guerra civil estalou com toda a volúpia, ceifando milhares de vidas. Maurício, então pertencente às hostes do rei Sigismundo, fomentou o ódio entre os católicos. Fútil e apegado aos bens terrenos, era amigo de Ar­gos, que lhe partilhava as ideias. Eles se reencontraram depois na França, onde participaram do massacre de Arpaillargues, cujos hor­rores constituem uma página de vergonha e dor na história da França. Ao serem informados disso, a reação dos três amigos não foi uniforme. Áurea parecia in­disposta na presença de Argos e desconfiada em relação a Maurício. Argos estava muito irritado e passou a tossir. Maurício chorava... (Obra citada, cap. 9, pp. 69 a 73.)

C. Conforme a Psicologia tradicional, que características apresenta a infância?

A explicação foi dada pelo Dr. Arnaldo Lustoza: “A psicologia tradicional elucida que a infância se caracteriza pelo egocentrismo, em que, ainda amoral e, às vezes, cruel, a criança exige ser amada, protegida, tornando-se um ser captativo, que toma, exige atenção, passando, posteriormente a uma posição oblativa, quando lhe surgem os desejos e aptidões para amar, para oferecer, para servir, iniciando-se o período de amadurecimento da área da afetividade”. Em decorrência disso, disse ele, a criança, por falta de tirocínio e de reflexão, vive o presente, não tendo uma visão, senão muito incompleta e mesmo fragmentada, das realidades tempo e espaço. O adulto, em razão das necessidades que identifica, da escala de valores da vida que passa a nortear-lhe a existência e do instinto de preservação de si mesmo, põe-se a viver no futuro. Organiza tarefas, programa atividades tendo em vista o amanhã, quando espera prosseguir fruindo os bens e as realizações logradas. Já a pessoa de idade avançada, porque crê que o futuro perdeu qualquer sentido, em razão da falta de tempo que a vida talvez não lhe faculte, apega-se ao passado, vivendo de recordações e remontando a elas sob qualquer pretexto. (Obra citada, cap. 10, pp. 74 a 76.)

Texto para leitura

29. A reencarnação pertence ao rol das verdades eternas - Conside­rando que realmente existem verdades e verdades, que pululam em toda parte, Irmã Angélica ponderou: "Indubitavelmente, há verdades que surgem e ressurgem periodicamente, conforme a estratificação cultural dos povos e dos séculos, desaparecendo e renascendo em roupagens novas, no entanto, apresentando sempre a mesma estrutura. É o caso da reencarnação, que em cada período ressuma daquele que lhe é anterior, em composição compatível com o conhecimento vigente, trazendo no seu bojo as mesmas afirmações e advertências éticas, numa abordagem de consequências morais, com o obje­tivo de promover e felicitar a Vida, o homem. Seja nas assertivas das re­motas revelações ocorridas nos santuários dos povos do passado, seja na eloquência de Jesus e Allan Kardec ou nas conclusões dos modernos estu­diosos da Parapsicologia e da Psicotrônica que, não obstante nomearem o fenômeno do renascimento carnal do Espírito com designações novas, tais ‘memória extracerebral’, ‘bloco energético sobrevivente’, ‘campo de vida’, para explicarem a constatação do retorno da individualidade a qual a morte não destruiu, o conteúdo é o mesmo: provar a necessidade do apro­veitamento sábio do tempo e da vida". Dito isso, a nobre Instrutora fez uma pausa oportuna e concluiu: "Aqui estão Espíritos afins entre si, num grupo familiar de amigos e desafetos, parceiros de júbilos e desastres, em programa de crescimento, necessitados uns dos outros pelo próprio im­positivo da evolução. Reencarnam-se as criaturas em verdadeiros clãs li­gados uns aos outros pelas realizações conjuntas em que fracassam, às ve­zes, ou crescem para a Vida. Por este motivo, a decisão robusta, no que diz respeito ao salutar aproveitamento do tempo, sem os eufemismos das justificativas para com o erro e a indolência, é de urgência, evitando a repetição dos fracassos, seja qual for a alegação". "Meditemos nesta ex­pressiva doação do Senhor e formulemos propósitos de santificação pelo trabalho, de elevação pelo amor e de libertação das cadeias de sombra, mediante as luzes que acendemos na consciência. Como o passado nos signi­fica dor e arrependimento, o hoje faz surgir a abençoada hora de recupe­ração e produtividade para o futuro de paz e alegria que nos espera. Não desanimemos nunca ante o esforço de redenção, haja o que haja, e, reco­lhendo-nos à oração, busquemos as fontes inspirativas da Verdade, adqui­rindo forças para prosseguir e jamais desesperar." (Cap. 8, pp. 64 a 66)

30. A queixa é filha do azedume e da má vontade - Após a palestra formaram-se diversos grupos de Espíritos afins em conversação edificante. Era a primeira vez, desde o internamento de Argos, que este podia, com certa lucidez, dialogar com Áurea, no parcial desdobramento pelo sono. O jovem assinalava ainda receios injustificáveis da desencarnação, ressu­mando as impressões emanadas do corpo físico em lenta recuperação. Irmã Angélica, adivinhando o que se passava, aproximou-se e advertiu Argos com meiguice: "Não te queixes. A queixa traduz rebeldia aos códigos superio­res da vida. O queixoso é alguém que se acredita injustiçado ante as na­turais circunstâncias e situações em que se encontra colocado. Quando al­guém se deixa arrastar pela reclamação, sem motivo real, assume uma posi­ção falsa perante a vida, disputando atenções e requerendo reconhecimento de valores que está longe de merecer. A queixa é filha do azedume e da má vontade, que contribuem poderosamente para piorar o quadro de desequilí­brio daquele que se deveria candidatar ao esforço de renovação mental, aplicando todos os recursos para preservar as forças no bem e na espe­rança, mediante cujo método aspira uma psicosfera benéfica e liberta­dora". A advertência despertou o enfermo para a esquecida gratidão pelas concessões recebidas. A Benfeitora dirigiu-se, então, aos amigos do casal que ali se encontravam, dizendo: "Reunimo-los, mais proximamente a nós, tendo em vista a programação em que se encontram situados na atual con­juntura carnal. Velhos amigos e companheiros de desaires, retornaram em grupo afim com possibilidades de lapidarem as arestas mais rudes, ven­cendo as tendências mais primitivas, sustentados pelos vínculos da afeti­vidade, com que poderão auxiliar as vítimas dos que se demoram na reta­guarda da ignorância, sob os estigmas do ódio, que as levam ao insano desforço e à agressividade inditosa. A simbólica `escada de Jacó' refe­rente à nossa ascensão jamais ser  vencida sem que se conduzam nos braços aqueles que foram atirados, degraus abaixo, e se fixaram no solo pelos grilhões do desconforto moral gerador da rebeldia alucinada, inspiradora da vingança". "Toda conquista moral – acrescentou – se estriba no ali­cerce da renovação íntima com serviço a todos os que partilham da nossa vida..." Nesse instante, atendendo a um sinal da Instrutora, Bernardo aplicou energias vigorosas em Argos, em Áurea e em um jovem, de nome Mau­rício, que mantinha estranha aparência, resultado de suas atitudes levia­nas no corpo. O atendimento tinha por fim ajudá-los a assenhorear-se dos ensinamentos que iriam receber de Irmã Angélica. (Cap. 9, pp. 67 a 69)

31. Uma história de crime e sandices - Lentamente Argos e áurea se conscientizaram da situação que lhes dizia respeito, mas Maurício, que se encontrava sob a penosa ação de substâncias alucinógenas, tinha dificul­dades para libe­rar seu campo mental. Irmã Angélica relatou, então, as circunstâncias que envolviam os três amigos desde compromissos infelizes assumidos na Boê­mia, em que a precipitação deles fez com que se origi­nasse uma disputa de rancor que se arrastava pelos séculos. Eis um resumo dos fatos: Viviam-se na Europa os lamentáveis conflitos entre hussitas (seguidores de João Huss) e sigismundistas (partidários do imperador Si­gismundo), no primeiro quartel do século XV, em que Sigismundo acabou vencedor em 1434, reinando até 1437, quando desencarnou. Depois do ignó­bil Concílio de Constança e da morte de João Huss, os ânimos se exaltaram e a guerra civil estalou com toda a volúpia, ceifando milhares de vidas. Maurício, então pertencente às hostes do rei Sigismundo, fomentou o ódio entre os católicos. Fútil e apegado aos bens terrenos, era amigo de Ar­gos, que lhe partilhava as ideias. Argos amava uma jovem castelã que não lhe correspondia ao afeto e era casada com nobre cavalheiro hussita de nome Felipe. Maurício armou uma cilada, em Praga, onde Felipe cairia sob o punhal cravado em suas costas por seu adversário. Depois de muitas ou­tras loucuras e arbitrariedades, os dois se reencontraram em 1815, em Ni­mes (França), onde participaram do massacre de Arpaillargues, cujos hor­rores constituem uma página de vergonha e dor na história da França. Ar­gos, vinculado ao Imperador francês, vê-lo partir para o exílio e, sempre ao lado de Maurício, entrega-se à sandice, submetendo de novo Felipe, sua antiga vítima, que se reencontrava reencarnado entre os protestantes per­seguidos. Nessa época, Áurea, embora não reencontrasse seus antigos galante­adores, perturba um lar honrado, que desmorona sob os escombros de rude tragédia, que passou a pesar-lhe na consciência. (N.R.: João Huss seria mais tarde o Codificador do Espiritismo.) (Cap. 9, pp. 69 a 71)

32. Angélica lhes faz um comovente apelo - A reação dos três amigos à descrição feita por Irmã Angélica não era uniforme. Áurea parecia in­disposta na presença de Argos e desconfiada em relação a Maurício. Argos estava muito irritado e passou a tossir, denotando a sensação de dores que foram atendidas por Bernardo. Maurício chorava... A Benfeitora lem­brou, então, a importância da atual reencarnação para todos eles. "Não é por acaso –  acentuou Irmã Angélica – que renascem sob o pálio da fé es­pírita, de certo modo, legatária dos ideais de João Huss... A conduta re­ligiosa ser-lhes-á o abrigo de defesa e o campo de crescimento, a escola de reeduca­ção e o hospital de refazimento. Os seus ensinos dar-lhes-ão as forças para a liberdade e contribuirão para que possam melhor resgatar os deli­tos antigos, através, simultaneamente, do bem que possam espalhar e da caridade que desejem distender a muitas das antigas vítimas que virão em busca do pão da amizade e do teto de apoio..." A Benfeitora advertiu que Maurício fugia ainda de si mesmo pelos ínvios caminhos de uma filoso­fia infeliz que varre a Terra; contudo, como a justiça do Pai é feita de amor e misericórdia, dia virá em que se lhe abrirão as portas da Doutrina Es­pírita, atraindo-o e oferecendo-lhe os preciosos meios para a edifica­ção de si mesmo e a libertação dos que lhe compartem por Lei a convivên­cia psíquica. Irmã Angélica enfatizou, para isso, a fé e a ação, de modo a não reincidirem nas mesmas fraquezas lamentáveis do passado, revivendo posições falsas e insustentáveis, com os derivativos da ociosidade e da contumaz insensatez. A Benfeitora tinha lágrimas nos olhos quando con­cluiu a sua fala com este vigoroso apelo: "Filhos, meditem! Os encontros e os reencontros com outras almas queridas ou não, nos caminhos do fu­turo, definirão os seus rumos... Jesus ou o mundo!... A opção é pessoal, in­transferível, e os efeitos, igualmente, surgirão na pauta da economia mo­ral de cada qual. Aproveitem o tempo e vigiem. Os sofredores buscarão a sua convivência; não se furtem aos párias de hoje, muitos dos quais já estiveram ao lado de vocês, envergando ricas indumentárias, ora em tra­pos... Não se enganem com os ouropéis, nem as frivolidades do jogo das ilusões. Há  muito que fazer em favor de vocês mesmos e que outrem não pode realizar. Jesus é o nosso Modelo. Sigam-lhe os exemplos de amor e mansidão, envolvendo-se com as forças da austeridade do dever e a nobreza da humildade que lhes darão a garantia do triunfo no serviço renovador da caridade". (Cap. 9, pp. 71 a 73)

33. Como se dá o processo de maturidade psicológica – A presença de Maurício no encontro ocorrido com Argos, na Colônia espiritual, se deveu ao papel negativo de alto relevo que o rapaz desempenhou no passado, nas ações comprometedoras de Argos e Áurea. Nas duas referências relatadas por Irmã Angélica, foi ele o instrumento maleável para a estimulação das tendências primitivas que geraram os males de que Argos então se ressentia. Espírito jovem nas responsabilidades morais, Maurício estagiava em experiências que lhe exigiriam sacrifícios para os quais não dispunha das resistências morais necessárias, apesar das dores a que se expusera ultimamente, como colheita da leviandade do passado. Para explicar sua personalidade, Dr. Arnaldo fez, antes, uma digressão em torno do fenômeno da maturidade psicológica. “A psicologia tradicional – asseverou o médico – elucida que a infância se caracteriza pelo egocentrismo, em que, ainda amoral e, às vezes, cruel, a criança exige ser amada, protegida, tornando-se um ser captativo, que toma, exige atenção, passando, posteriormente a uma posição oblativa, quando lhe surgem os desejos e aptidões para amar, para oferecer, para servir, iniciando-se o período de amadurecimento da área da afetividade. Em decorrência, a criança, por falta de tirocínio e de reflexão, vive o presente, não tendo uma visão, senão muito incompleta e mesmo fragmentada, das realidades tempo e espaço. O adulto, em razão das necessidades que identifica, da escala de valores da vida que passa a nortear-lhe a existência e do instinto de preservação de si mesmo, põe-se a viver no futuro. Organiza tarefas, programa atividades tendo em vista o amanhã, quando espera prosseguir fruindo os bens e as realizações logradas. A pessoa de idade avançada, porque crê que o futuro perdeu qualquer sentido, em razão da falta de tempo que a vida talvez não lhe faculte, apega-se ao passado, vivendo de recordações e remontando às mesmas sob qualquer pretexto. A transferência do indivíduo de uma para outra fase – do presente para o futuro ou para o passado – caracteriza-lhe o amadurecimento afetivo. Muitas vezes, a criança, não podendo superar uma ocorrência que a assusta e não encontrando apoio emocional para diluir o incidente, gera um bloqueio como trauma que lhe impedirá o desenvolvimento e a transposição de uma para outra fase, chegando ao período de adulta, retida num estágio de infantilismo.” “Isto explica as reações de imaturidade de muitas pessoas ante as ocorrências e as circunstâncias mais variadas da vida”, acentuou Dr. Arnaldo.
( Cap. 10, pp. 74 a 76)
(Continua no próximo número.) 
 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita