Conforme o modo como
vemos a vida, podemos
abrandar ou agravar os
nossos sofrimentos
Em “O Evangelho segundo
o Espiritismo”, no seu
capítulo V,
“Bem-Aventurados os
Aflitos”, item 13, Allan
Kardec afirma que,
conforme a maneira de
ver a vida, nós podemos
abrandar ou agravar os
nossos próprios
sofrimentos.
Um exemplo bem claro
disso aconteceu em nossa
clínica há alguns anos.
Uma senhora aparentando
ser portadora de um
equilíbrio incomum
dirigiu-se a nós dizendo
precisar de nosso
concurso terapêutico,
como médico e homeopata,
mas que talvez nós não
fôssemos capazes de
compreender o que ela
sentia.
Pedimos que tentasse nos
explicar e assim ela
começou a relatar:
“Sou evangélica,
trabalho como
missionária, estudo a
Bíblia há muitos anos e
tenho uma fé inabalável
em Deus. Estou falando
isso para que você
compreenda o que eu
pretendo relatar.
Há quatro anos meu filho
foi atingido por uma
bala perdida e faleceu.
Em nenhum momento,
questionei os desígnios
divinos.
Não sofro por ele ter
partido assim tão
subitamente. Na verdade,
nem acredito que tenha
vindo aqui por causa de
algum sofrimento. E é
por isso que penso que
você terá dificuldade
para entender o que vim
relatar. Não vim até
aqui por sofrer, mas por
estar cheia de amor por
meu filho e não saber
como dar vazão a esse
sentimento”.
Nesse momento,
perguntamos a ela como
ela via, como evangélica
e missionária, a questão
da morte. Onde estaria a
alma de seu filho nesse
momento?
E ela me respondeu:
“Dormindo o sono eterno
ao lado de Deus,
aguardando o Juízo
Final”.
Imediatamente percebemos
estar diante de uma dor
causada pela forma com
que ela via a questão do
destino do Espírito após
a morte do corpo físico.
Como médico cristão,
jamais poderíamos
alterar sua forma de
crer, não seria ético.
Então, como ajudar?
Nessa hora, tivemos uma
intuição e lhe
perguntamos: “Minha
irmã, quando seu filho
dormia, na cama ao lado
de seu quarto, você não
podia amá-lo?”
Ao que ela respondeu:
“Muito! Não raras vezes
eu me dirigia ao seu
quarto, olhava
demoradamente para ele e
deixava que meu amor o
envolvesse”.
Então, redargui: “Mas,
minha senhora, ele
estava dormindo...!”.
Ela, imediatamente,
replicou: “Mas eu sei
que ele me sentia...”.
Então, concluí meu
raciocínio para tentar
mudar o conceito daquela
mulher: “Então, minha
irmã, se ele, dormindo
ali ao seu lado, a
senhora acreditava que
ele podia senti-la, eu
não entendo por que
agora, que ele dorme ao
lado de Deus, ele não
registraria seu amor”.
Naquele momento, a
expressão facial dela
mudou completamente,
como se um brilho novo
iluminasse seu olhar. E
ela, sem perceber,
exclamou em voz alta:
“Meu Deus, por que não
pensei nisso antes”. E
se levantou e saiu, como
se nem tivesse estado
ali. Mas, imediatamente
após passar a porta do
consultório, ela voltou,
olhou-me ternamente e me
disse: “Obrigada, muito
obrigada”.
E se foi... Nunca mais a
vi.
Naquele momento pensamos
na imensa sabedoria de
Allan Kardec quando nos
apresentou esse
raciocínio: “Conforme
a maneira de ver a vida
o indivíduo pode
abrandar ou agravar seus
próprios sofrimentos”.