ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 34)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Os desencarnados
conhecem o momento em
que a notícia de sua
morte chega aos seus
amigos?
Parece que sim. Diz
Myers que, através da
acumulação progressiva
de fatos, é possível,
sem dúvida, acreditar
que os Espíritos
desencarnados têm a
capacidade de conhecer o
momento em que a notícia
de sua morte chega aos
amigos.
(A Personalidade Humana,
capítulo VII – Os
fantasmas dos mortos.)
B. Pode a intuição de
uma pessoa ser reforçada
pela ação de um
Espírito?
Tudo indica que sim. O
caso do Sr. Tandy
reforça essa ideia.
Tandy escolheu ao acaso
um jornal, na casa de
alguns amigos, e ao
chegar em casa, enquanto
procura na estante o
livro que deseja,
volta-se para a janela e
enxerga o vulto de um
velho amigo, que não via
há uns dez anos; ele
aproxima-se e o vulto se
esvanece. Ao abrir o
jornal, lê a notícia do
falecimento desse amigo.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
C. Qual é uma das
características comuns a
determinadas aparições?
É o fato de serem
percebidas, simultânea e
conjuntamente, por um
grupo de pessoas, que às
vezes veem um vulto,
outras vezes ouvem uma
voz fantasmagórica. É o
que ocorreu no caso do
Sr. Town, cuja aparição,
refletida na superfície
brilhante de um armário,
foi vista uma noite,
seis semanas após sua
morte, num quarto
iluminado a gás e, ao
mesmo tempo, por seis
pessoas, duas filhas,
sua mulher e três
empregados, fato que
exclui a possibilidade
de sugestão.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
Texto para leitura
818. Passo, a seguir,
aos casos em que o
conhecimento demonstrado
pelos Espíritos se
relaciona com o aspecto
de seu corpo após a
morte, ou com as cenas
nas quais se acha
enterrado temporalmente
ou inumado
definitivamente. Esse
conhecimento pode
parecer vulgar, indigno
de Espíritos
transportados a um mundo
superior. Porém, mais
frequentemente, trata-se
de uma confusão de
ideias que se seguem a
uma morte súbita ou
violenta, que rompe
bruscamente os efeitos
profundos. Os casos
desse gênero são
numerosos, mas vou
apenas citar um deles.
819. M. D., rico
industrial, tinha a seu
serviço um tal Robert
Mackenzie, que
literalmente arrancara à
miséria e que
experimentava em relação
a seu patrão um
reconhecimento e uma
fidelidade sem limites.
Um dia em que M. D. se
achava em Londres, teve
a aparição de seu
empregado (que estava na
filial de Glasgow). Este
vinha suplicar-lhe que
não acreditasse nas
acusações que lhe
fariam. E a aparição se
desvaneceu sem que M. D.
nada mais soubesse sobre
a acusação que pairava
sobre Robert. Não teve
tempo de sair de sua
estupefação, quando sua
mulher trouxe-lhe uma
carta, dizendo a seu
marido que acabava de
receber a notícia do
suicídio de Robert.
820. Aquela era, sem
dúvida, a acusação que
pesava sobre o empregado
e na qual M. D. decidiu
não acreditar. Com
efeito, o correio
seguinte trouxe-lhe uma
carta de seu
administrador, que dizia
que Robert não se
suicidara, como se
acreditara em princípio,
mas que estava
envenenado, pois bebera
ácido sulfúrico, ao
invés de aguardente.
Após ter consultado um
dicionário de medicina,
M. D. não precisou de
muito esforço para
recordar que o aspecto
da aparição correspondia
exatamente à descrição
do dicionário dos
indivíduos envenenados
pelo ácido sulfúrico. (Proceedings
of the S. P. R., XI,
pág. 95.)
821. No caso da Sra.
Green achamo-nos frente
a um problema
interessante. Duas
mulheres se afogaram em
circunstâncias
particulares. Um amigo
teve, aparentemente, uma
visão clarividente da
cena, não no momento em
que se deu, mas algumas
horas depois, ao mesmo
tempo em que outra
pessoa, que tinha o
maior interesse pelo
destino das duas
mulheres, soube do fato.
Pode-se, pois, supor que
a cena clarividente, em
aparência, foi
transmitida
telepaticamente ao
primeiro por outro
Espírito vivo. Acredito,
porém, que a natureza da
visão, tanto como outras
analogias que poremos em
relevo no decurso de
nossa discussão, fazem
provável uma
demonstração diferente,
que implica a ação
simultânea dos mortos e
dos vivos.
822. Suponho que uma
corrente de ação pode
partir de uma pessoa
morta, mas que não se
torna bastante forte
para ser perceptível ao
sujeito senão quando
está reforçada por uma
corrente de emoção que
tem como ponto de
partida um Espírito
vivo.
823. Só através da
acumulação progressiva
de fatos, cheguei a
acreditar que a estranha
suposição que atribui
aos Espíritos
desencarnados a
capacidade de conhecer o
momento em que a notícia
de sua morte chega aos
amigos, não está de todo
desprovida de realidade.
A possibilidade, para o
amigo, de adivinhar,
através da
clarividência, a
existência nas
proximidades de uma
carta que anuncia a
morte, torna bastante
difícil a prova desse
conhecimento. Assim,
como se demonstrou em
Phantasms of the Living,
pode-se tratar de um
fenômeno da
clarividência, inclusive
nos casos em que a carta
não apresente em si
qualquer importância.
824. Existirá uma ação
recíproca entre a esfera
do conhecimento do
Espírito desencarnado,
de forma que a intuição
de um esteja, numa certa
medida, reforçada pela
do outro? É o caso do
Sr. Tandy, que escolhe
ao acaso um jornal, na
casa de alguns amigos, e
ao chegar em casa,
enquanto procura na
estante o livro que
deseja, volta-se para a
janela e enxerga o vulto
de um velho amigo, que
não via há uns dez anos;
ele aproxima-se e o
vulto se esvanece. Ao
abrir o jornal, lê a
notícia do falecimento
desse amigo. (Proceedings
of the S. P. R., V, pág.
409.)
825. Esse incidente
tomado isoladamente e
sem conexão aparente com
outras formas de ação
manifestadas pelos
mortos parece,
inclusive, deveras raro
para ser classificado
num grupo coerente. Mas
a sua inclusão é
facilitada por certos
casos em que o sujeito
experimenta uma sensação
de depressão
inexplicável no momento
da morte de seu amigo,
que sobrevém a
distância, sensação que
persiste até a chegada
da notícia, quando, em
vez de intensificar-se,
desaparece subitamente.
826. Em um ou dois casos
desse gênero, a aparição
permanece até à chegada
da notícia,
desaparecendo
imediatamente a seguir.
E por outro lado a
aparição parece preparar
o Espírito do sujeito
para a notícia chocante
que o espera.
827. Pode-se concluir
que nesses casos a
atenção do Espírito está
concentrada, de um modo
mais ou menos contínuo,
no sobrevivente, até que
este receba a notícia.
Isso não nos explica
como o Espírito sabe que
chegou a notícia. Nesta
hipótese o conhecimento
desse gênero pareceria
menos raro e isolado.
828. Citarei, a seguir,
um caso ímpar, dado o
caráter absurdo que pode
ter para alguns.
Trata-se de duas moças,
duas irmãs que, após
ficarem ao lado de sua
mãe, que acabara de
falecer, foram descansar
no quarto vizinho. Era
por volta das dez da
noite. Repentinamente,
ouviram a voz do irmão,
que estava num lugar a
700 quilômetros, cantar
um dueto com voz de
soprano, acompanhado de
harmônio. Distinguiram
perfeitamente a música e
a letra.
829. Mais tarde ficaram
sabendo que o irmão
prestara um concurso
para um concerto e
cantara em dueto, com um
soprano, o trecho que as
irmãs ouviram. E o
telegrama que elas
enviaram não fora
entregue senão quando
ele concluíra sua
participação (Proceedings
of the S. P. R., VIII,
pág. 220). Pode-se
explicar este caso
somente pela hipótese de
que o Espírito da mãe
alertara as filhas da
demora na entrega do
telegrama.
830. Gostaríamos agora
de abordar os casos em
que a aparição é
impotente para comunicar
uma mensagem mais
definida daquilo que
constitui o fato mais
importante, ou seja, a
persistência de sua vida
e de seu amor. Esses
casos podem, porém, ser
divididos em diversas
categorias. Mas cada
aparição, ainda que
momentânea, é um
fenômeno mais complexo
do que parece. Pode-se
estabelecer uma primeira
divisão em aparições
pessoais e locais, as
primeiras destinadas a
agir sobre o Espírito de
certos sobreviventes, as
segundas unidas a
lugares determinados,
frequentemente, é certo,
tendo por objetivo
impressionar os
sobreviventes, mas
suscetível de degenerar
e de manifestar-se por
sons e visões que
parecem excluir um
objetivo e uma
inteligência qualquer.
831. Consideremos, pois,
essas propriedades sem
esperar que nossas
divisões apresentem uma
simplicidade lógica,
porque acontecerá, com
frequência, que os
caracteres locais e
pessoais permanecerão
confusos, como no caso
em que o sujeito
procurado pela aparição
mora numa casa
conhecida, familiar.
Mas, em alguns casos,
como no do arranhão
vermelho (ver antes) ou
o da condessa Kapnist
(idem), a aparição se
produz num meio estranho
e desconhecido para a
pessoa falecida. São
manifestações de uma
forma superior e mais
desenvolvida as que
nesse caso se observam.
832. Entre as aparições
mais breves e menos
desenvolvidas, as
frequentações pelo
fantasma de meios
desconhecidos são
relativamente raras. Nos
casos desta categoria,
assim como nos casos em
que a aparição atinja o
sujeito no meio do mar,
só a personalidade do
sujeito é capaz de guiar
a aparição em suas
investigações. No caso
de M. Keulemann (Phantasms
of the Living, I, pág.
196), que viu o filho
aparecer duas vezes: no
momento da morte e após
a morte. Dir-se-ia que
na primeira vez o filho
buscara o pai num meio
conhecido e na segunda
num meio desconhecido.
Existem ainda casos
auditivos em que a
palavra do fantasma se
produz em lugares
desconhecidos da pessoa
falecida.
833. Uma das
características das
aparições é que um grupo
de pessoas pode,
simultânea e
conjuntamente, ver um
vulto ou ouvir uma voz
fantasmagórica. Não nos
casos superiores, mas
naqueles em que a figura
é vista simultânea ou
sucessivamente por
diversas pessoas. Não
sei como explicar essa
tendência aparente a não
ser que se admita que os
Espíritos “familiares”
são mais “apegados à
Terra” e mais próximos
da matéria do que os
outros. Mas os exemplos
de coletividade abundam
em todos os grupos de
aparições; e a aparência
irregular de uma
característica que
pareceu tão fundamental
nos mostra até que ponto
pode variar o mecanismo
interno, nos casos que
nos parecem compostos de
acordo com o mesmo
modelo.
834. Citarei a seguir o
caso do Sr. Town, cuja
aparição, refletida na
superfície brilhante de
um armário, foi vista
uma noite, seis semanas
após sua morte, num
quarto iluminado a gás
e, ao mesmo tempo, por
seis pessoas, duas
filhas, sua mulher e
três empregados, de tal
forma que cada uma
destas pessoas viu-a de
forma diferente, o que
exclui a possibilidade
de sugestão (Phantasms
of the Living, II, pág.
213).
835. Ao lado dessa
aparição coletiva
poderemos citar outros
exemplos em que a
aparição foi vista por
uma só pessoa. É este,
por exemplo, o caso do
pequeno Gore Booth
(Proceedings of the S.
P. R., VIII, pág. 173),
que enxergou na parte
baixa de uma escada de
serviço, que ligava o
restante da casa com a
cozinha e, no umbral
desta, isto é, num lugar
em que o finado
costumava ficar, um
velho empregado que se
fora há muito e que Gore
sabia estar doente.
836. As informações
demonstraram que a
aparição se produziu
duas horas depois da
morte do criado e quando
ninguém na casa, nem
Gore, estava a par do
acontecimento. Deve-se
acrescentar que a irmã
de Gore, que o
acompanhara à cozinha,
nada viu. É possível que
se tratasse de uma
influência transmitida
pelo Espírito do defunto
ao espírito do vivo e
que só se manifestou
quando o último se achou
no lugar onde a
lembrança do morto
poderia facilmente ser
evocada.
837. Esse caso
assemelha-se ao da Sra.
Freville (Phantasms of
the Living, I, pág.
212), mulher excêntrica,
que gostava de
frequentar o cemitério e
rondar a tumba de seu
marido e que foi vista
certa noite por um
jardineiro que
atravessava o cemitério,
dando-se este fato sete
ou oito horas após a
morte dela. É evidente
que a mulher não podia
ter qualquer desejo de
aparecer ao jardineiro.
Achamo-nos, talvez, na
presença de um caso de
aparição sem objetivo e
sem consciência nos
lugares familiares que,
com frequência,
persistem após a morte.
838. Um caso bastante
semelhante é o do
coronel Crealock
(Proceedings of the S.
P. R., V, pág. 432), em
que um soldado foi visto
por seu superior, horas
após a sua morte,
enrolando e levando
embora seu saco de
viagem.
839. Insistindo sobre
esses casos
intermediários de
aparições portadoras de
mensagens e das
obsessões sem objetivo,
chegaremos rapidamente a
entender as obsessões
típicas, que, mesmo
constituindo fenômenos
populares entre os que
nos interessam, não são
de índole a satisfazer o
observador. Existe uma
tendência a encontrar
uma relação qualquer
entre a história de uma
casa mal-assombrada, de
um lado, e as visões e
sons diluídos e
frequentemente diversos
que perturbam e
aterrorizam seus
habitantes vivos, de
outro. Mas devemos nos
libertar da ideia de que
a causa principal desse
tipo de fenômeno é um
crime hediondo ou uma
catástrofe sem limites.
840. Os casos que
conhecemos confirmam
esta ideia. Quase todas
as vezes trata-se de uma
aparição vista por um
estranho, meses após a
morte, sem qualquer
razão para que se dê
naquele momento e não em
outro.
841. Considero que a
ação contínua do
Espírito desencarnado
constitui o principal
fator determinante
dessas aparições. Mas
não é o único elemento,
enquanto os pensamentos
e as emoções das pessoas
vivas intervenham para
auxiliar ou condicionar
a atividade independente
dos Espíritos. Acredito
mesmo que é possível que
a fixação intensa de meu
Espírito, por exemplo,
sobre o Espírito de uma
pessoa falecida seja
capaz de ajudá-la a se
manifestar num momento
dado, não para mim, mas
para outra pessoa mais
sensível do que eu.
842. Existe, todavia,
outro elemento que
desempenha papel
relevante nesses grupos
de aparições pouco
claras, cuja
significação é mais
difícil de determinar do
que a ação possível dos
Espíritos encarnados.
Falo dos resultados
possíveis da atividade
mental passada, que, de
acordo com o que
sabemos, podem
persistir, de alguma
forma, num sentido
perceptível, sem serem
reforçados, da mesma
forma que persistem os
resultados da antiga
atividade corpórea. Essa
questão nos leva a outra
mais ampla, a do
conhecimento póstumo e
as relações entre os
fenômenos psíquicos e o
tempo em geral, que não
podemos tratar neste
capítulo.
843. Devemos recordar
que essas possibilidades
existem e que elas nos
fornecem a explicação de
certos fenômenos nos
quais as manifestações
recentes de inteligência
entram numa parcela
mínima, como por
exemplo, os sons
despojados de
significado que
persistem durante anos
num cômodo de
determinada casa.
844. Em alguns casos
espaçados, porém, em que
são ouvidos sons de
origem desconhecida,
antes ou depois da morte
de uma pessoa, pode-se
supor que se trate de
sons de recepção (de
boas-vindas), análogos
às aparições de
boas-vindas de que já
falamos, isto é, de uma
verdadeira manifestação
da personalidade. Os
sons em questão podem
ser ou não articulados e
tomar a forma de ruídos
musicados ou imitar os
que a pessoa falecida
costumava emitir (no
exercício da profissão,
por exemplo). (Continua no próximo
número.)