MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
28)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Qual era, de fato, o
interesse de Márcia por
Nemésio Torres?
Márcia sabia que Nemésio
ainda tinha Marina
fixada à sua lembrança,
mas, em vez de reclamar,
decidiu tolerar esse
fato, porque entendia
perfeitamente que não se
achava pessoalmente num
caso de amor e sim numa
transação, cujas
vantagens não queria
perder. No fundo, pois,
pouco lhe importava que
Nemésio adorasse a moça,
porque, em verdade,
aspirava a prendê-lo,
ganhar-lhe a fortuna e a
confiança. Em face
disso, engenhava todos
os modos de se fazer
necessária.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo XI, pp.
288 a 290.)
B. É verdade que, de
volta ao lar, Marina se
transformou?
Sim. O pai cercou-a de
meiguice e bondade e
falou-lhe sobre sua
conversão ao
Espiritismo. Os textos
espíritas, lidos por
vezes com lágrimas,
infundiam na jovem a
consoladora certeza nas
verdades e nas promessas
do Cristo, que passara a
aceitar por mestre da
alma. Acolheu a amizade
de Salomão, qual se lhe
fosse filha, e
inscreveu-se entre
aqueles que constituíam
agora para Cláudio a
família espiritual. Além
disso, interessou-se por
singelo serviço
beneficente, mantido em
favor de pequeninos
desamparados, e quando o
pai a convidou para que
se afeiçoassem ao culto
semanal do Evangelho no
lar, recolheu com
entusiasmo a sugestão.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XI, pp. 290 e
291.)
C. O mal não merece
qualquer consideração.
Que é que André Luiz
quis dizer com essa
frase?
A frase foi dita a
Moreira, o ex-obsessor
de Marina que agora
assumira apaixonadamente
a defesa da jovem.
Moreira, revoltado com
as atitudes de Márcia e
Nemésio, perdera a calma
e disse para André, em
voz alta, que sentia
muita dificuldade para
assistir a tudo aquilo
sem reunir os
companheiros de outro
tempo a fim de punir
Nemésio. Apreensivo,
André rogou-lhe que se
calasse por amor ao bem
que se propunham
realizar. Moreira
assustou-se com a
recomendação incisiva de
André e este explicou
que, nas imediações,
irmãos infelizes, com
certeza, teriam ouvido a
intenção que ele
formulara e quantos
simpatizassem com a
ideia procurariam a
residência dos Torres,
sondando brechas. O mal
não merece qualquer
consideração além
daquela que se reporte à
corrigenda. Se ainda não
conseguimos impedir-lhe
o acesso ao coração, na
forma de sentimento, é
forçoso não pensar nele;
contudo, se não contamos
com recursos para
arredá-lo imediatamente
da cabeça, é imperioso
evitá-lo na palavra,
para que a ideia
infeliz, articulada, não
se faça agente vivo de
destruição, agindo por
nossa conta e
independentemente de
nós. Os fatos
posteriores comprovaram
que André tinha inteira
razão ao fazer essa
advertência.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XI, pp. 292 e
293.)
Texto para leitura
136. Márcia
retorna ao Rio -
De retorno à casa de
saúde, André encontrou
Marina dormindo,
agitada, sob as atenções
de Moreira. Entre os
bastidores da luta em
favor da enferma,
empenhavam-se Moreira e
André, enquanto Cláudio
e Salomão entrelaçavam
energias, garantindo
cooperação. O apoio
espiritual, conjugado à
Medicina, funcionava com
segurança. Mesmo assim,
complicavam-se os
problemas em derredor.
Nemésio e Márcia, após
cinco semanas na serra,
retornaram ao Rio, algo
modificados pela
aventura. Ela
interessada em ligação
definitiva; ele,
hesitante. Instado a
patrocinar-lhe o
desquite, recuara, de
pronto. Tinha medo, não
da sociedade, mas de si
próprio. Aquele mês de
folga, nos braços da
mulher que não esperava,
insuflara-lhe
inquietação. Sua paixão
por Marina não
arrefecera e, por isso,
estando com Márcia,
acordava, alta noite,
supondo-se com Marina,
sonhando reencontrá-la,
qual se estivessem os
dois na meninice.
Márcia, que sabia
tolerá-lo, reconhecia o
obstáculo. Percebia que
Nemésio trazia a jovem
fixada à lembrança. De
começo, quis estrilar;
depois, calculou e
concluiu que não se
achava pessoalmente num
caso de amor e sim numa
transação, cujas
vantagens não queria
perder. No fundo, pouco
lhe importava que ele
adorasse a moça.
Aspirava a prendê-lo,
ganhar-lhe a fortuna e a
confiança. Para isso,
engenhava todos os modos
de se fazer necessária.
Ordens atendidas,
refeições prediletas,
gotas estimulantes na
hora certa, chinelas à
mão... Solicitado por
ela a optar pelo
casamento em país que
aprovasse o divórcio,
Nemésio prometeu
satisfazê-la;
entretanto, de volta ao
Rio, preferiu mantê-la
em casa de Selma, a
companheira que residia
na Lapa, por causa de
Gilberto. Era preciso,
primeiro, remover o
rapaz para o Sul.
Gilberto, por sua vez,
estava abatido, sem
guia, sem bússola, sem o
menor incentivo para o
trabalho, e esbanjava o
dinheiro paterno em
farras e uísque. Muita
vez, embriagado, falava
em suicídio. Sentia-se
derrotado, infeliz. Aqui
e ali, ouvia
apontamentos desairosos
em torno do pai e de
Márcia, mas repelia tais
ideias, que considerava
invencionice e
maledicência. Para
defendê-los,
esbravejava frenético,
quase sempre bêbado e
atuado por alcoólatras
desencarnados, que o
manobravam facilmente.
(2a parte, cap.
XI, pp. 288 a 290)
137. Gilberto revê
Marina - Félix
estava apoiando, de
forma decidida, o
atendimento a Marina e,
por isso, após dois
meses de tratamento, a
jovem teve alta e
regressou ao Flamengo,
resguardada pelo
carinho paterno,
ocasião em que se
inteirou da nova
situação. Márcia
debandara e os empeços
com que devia contar,
para reerguer-se na
profissão, eram
difíceis. O pai cercou-a
de meiguice e bondade.
Os textos espíritas,
lidos por vezes com
lágrimas, infundiam-lhe
a consoladora certeza
nas verdades e nas
promessas do Cristo, que
passara a aceitar por
mestre da alma. Acolheu
a amizade de Salomão,
qual se lhe fosse filha,
e inscreveu-se entre
aqueles que constituíam
agora para Cláudio a
família espiritual.
Interessou-se por
singelo serviço
beneficente, mantido em
favor de pequeninos
desamparados, e quando o
pai a convidou para que
se afeiçoassem ao culto
semanal do Evangelho no
lar, recolheu com
entusiasmo a sugestão,
rogando-lhe instalassem
dona Justa, viúva e
sozinha, junto deles em
casa. Conversações e
leituras, tarefas e
planos surgiam por
flores auspiciosas que
Félix, de quando em
quando, vinha ver,
encantado,
partilhando-lhes os
júbilos e as orações.
Pai e filha
empenhavam-se no
propósito de olvidar
Márcia e Nemésio Torres,
mas a situação de
Gilberto, que se
afundava cada vez mais,
pedia ajuda. Se Cláudio
e Marina não pudessem
protegê-lo, pelo menos
lhe providenciassem a
hospitalização. Notando
que a filha ainda amava
o rapaz, o pai decidiu
ajudá-lo e, após estudar
bem o caso, encontrou
Gilberto numa
churrascaria do Leme,
onde partilharam lanche
rápido, após o que
Cláudio o convidou para
jantar no dia seguinte.
Haviam-se passado seis
meses desde a
transformação de
Cláudio. Gilberto
compareceu na hora
prevista e o encontro
foi reconfortador para
todos. (2a parte,
cap. XI, pp. 290 e 291)
138. O mal não
merece comentário
- Gilberto imaginou-se,
de repente, de retorno
ao antigo lar; refletiu
na mãezinha que a morte
levara, e chorou...
Comovido, diante daquela
explosão de lágrimas,
Cláudio acariciou-lhe a
cabeça e perguntou por
que lhes abandonara a
amizade. O rapaz
desabafou, noticiando
que o genitor o chamara
a contas e lhe
denunciara tudo quanto
Marina e ele, Nemésio,
haviam feito, suas
intimidades, seus
encontros,
mostrando-lhe, assim,
que a moça não servia
para casar e
constrangendo-o a dizer
que desistiria de futura
ligação com ela, por
sabê-la doente. Marina,
acabrunhada, não
confirmou nem se
defendeu; restringiu-se
a chorar discretamente,
enquanto Cláudio se
esforçava por harmonizar
os dois corações
desavindos. Moreira,
que assumira
apaixonadamente a defesa
da menina, perdeu a
calma e clamou para
André, em voz alta, que,
apesar de possuir seis
meses de Evangelho,
sentia muita dificuldade
para assistir a tudo
aquilo sem reunir os
companheiros de outro
tempo a fim de punir
Nemésio. Apreensivo,
André rogou-lhe que se
calasse por amor ao bem
que se propunham
realizar. Moreira
assustou-se com a
recomendação incisiva de
André, que lhe explicou
que, nas imediações,
irmãos infelizes, com
certeza, teriam ouvido a
intenção que ele
formulara e quantos
simpatizassem com a
ideia procurariam a
residência dos Torres,
sondando brechas. André
disse-lhe que o mal não
merece qualquer
consideração além
daquela que se reporte à
corrigenda. Se ainda não
conseguimos impedir-lhe
o acesso ao coração, na
forma de sentimento, é
forçoso não pensar nele;
contudo, se não
contamos com recursos
para arredá-lo
imediatamente da
cabeça, é imperioso
evitá-lo na palavra,
para que a ideia
infeliz, articulada,
não se faça agente vivo
de destruição, agindo
por nossa conta e
independentemente de
nós. André salientou que
o ambiente ali jazia
limpo de influências
indesejáveis; no
entanto, ele, Moreira,
falara abertamente e
companheiros não
distantes, interessados
em seu regresso à
crueldade mental, teriam
assinalado a sugestão.
Vendo que errou, Moreira
perguntou o que fazer.
André esclareceu.
Habitavam ambos o plano
espiritual, onde
pensamento e verbo
adquirem muito mais
força de expressão e de
ação que no plano
físico, e não lhes
restava outra
alternativa senão
seguir ao lado de
Gilberto, de maneira a
observar até que ponto
se alargara o perigo, a
fim de remediá-lo. O
rapaz retornou a seu
lar, de carro, e André e
Moreira seguiram a seu
lado. Ao chegar,
Gilberto lembrava Marina
modificada. Os cabelos
penteados com singeleza,
o rosto tratado sem
excessos, os modos e as
frases sensatas. (Cap.
XI, pp. 292 e 293)
139. Gilberto
encontra Márcia e seu
pai - Gilberto
tomou, instintivamente,
a direção do quarto que
Marina ocupara em sua
casa e onde a vira,
desfalecente. Queria
recordar, refletir. Lá
dentro, porém, logo que
abriu a porta, viu,
assombrado, que Nemésio
e Márcia se beijavam e,
em torno deles,
sobressaía, para a visão
de André e Moreira, a
chusma de amigos
conturbados para cujos
serviços Moreira
apelara,
inconscientemente. O pai
não viu o filho, porque
estava de costas, mas
Márcia, qual acontecera
a Marina, observou a
chegada de Gilberto e o
espanto que lhe
terrificara a
fisionomia. Gilberto
afastou-se, confuso e
angustiado. O ídolo
paternal ruíra de
chofre. Teria realmente
o pai razões para
separá-lo de Marina?
Moreira, arrependido
pelo que fizera,
avançou para a quadrilha
invisível e André
interferiu, rogando
serenidade a todos. Era
preciso acatar Nemésio e
a companheira. Ninguém
tinha ali o direito de
escarnecê-los,
escarmentá-los. O bando
retirou-se. Márcia,
pretextando um motivo
qualquer, afastou-se de
Torres, auxiliando-o a
deitar-se no leito
próximo, de onde ele se
levantara para
recebê-la. No corredor,
ela não sabia como
proceder para contornar
a dificuldade. Embora
interesseira, era mãe e
pensava na filha. Seria
justo nada fazer para
reaproximá-la do rapaz?
Não seria
desmoralizar-se, de
todo, permitindo que
Gilberto a interpretasse
por mulher sem
escrúpulos? Moreira
aproveitou esses minutos
de reconsideração e
enlaçou-a, respeitoso,
pedindo-lhe piedade e
apoio em favor da filha
e de Gilberto. Buscasse
o rapaz, enquanto
usufruía oportunidade,
conversasse com ele,
apaziguasse os jovens.
André também se
aproximou,
suplicando-lhe a
intercessão. Ela podia
ajudar. Por que não
praticar um ato de
justiça e caridade para
com a filha enferma,
encaminhando aquele
menino entregue à
decadência moral ao
matrimônio digno? Márcia
rememorou o passado e
chorou. Naquele
instante, o sentimento
pulsava-lhe puro, como
na noite em que defendeu
Marita em casa de
Crescina. (Cap. XI, pp.
294 a 296)
140. Gilberto
reata com Marina
- Márcia não titubeou.
Dirigindo-se ao aposento
de Gilberto, entrou sem
qualquer cerimônia, como
uma mãe que assiste o
filho, sentou-se na
beira da cama em que ele
se encontrava amuado, e
falou-lhe, lacrimosa. A
princípio, rogou-lhe
desculpas; depois,
pediu-lhe permissão para
confessar que ela e
Nemésio se amavam há
tempos; e, num rasgo de
generosidade que a
elevava, mentiu pela
felicidade da filha.
Explicou que nada mais
tendo com Cláudio, antes
do falecimento de dona
Beatriz, se tornara
íntima de Nemésio.
Informou que errara ao
consentir que Marina se
tornasse enfermeira de
Beatriz, porquanto,
desde aí, possuía razões
para supor que o velho
lhe cobiçava a filha.
Reconhecendo-o
interessado nela,
enciumara-se. Venerava,
porém, a grandeza
espiritual de Beatriz, a
quem estimava de longe,
e tivera forças para
aguardar-lhe a morte,
antes de assumir
qualquer atitude. Foi
por isso que, após o
falecimento de Beatriz,
resolveu abandonar sua
casa e acompanhar
Nemésio a Petrópolis.
Feito esse relato, ela
pediu-lhe que lhe
perdoasse como um filho,
cujo apreço se esmeraria
em conservar. Não mais
retornaria ao Flamengo e
seu destino estaria
ligado ao de Nemésio,
enquanto este assim
quisesse. Mesmo assim,
era mãe e rogava-lhe por
Marina. Se a amasse, que
não fosse indiferente
num momento como aquele
em que se refazia de
dura perturbação. Que a
protegesse, fazendo pela
menina o que ela,
Márcia, não mais
conseguiria. André pôde
ver sensibilizado os
prodígios da
compreensão e da bondade
num coração juvenil.
Olhos chamejantes de
júbilo, Gilberto
ergueu-se e ajoelhou-se
diante daquela mulher
que lhe sossegava o
espírito, com a versão
caridosa de que
necessitava para
reconstituir o caminho.
Em lágrimas de alegria,
osculou-lhe as mãos e
agradeceu-lhe em
palavras quentes de
carinho filial.
Entendia, sim, que o
pai teria obedecido a
sugestões de despeito,
para apartá-lo da
escolhida. Procuraria
Marina, prometia olvidar
o passado, de modo a não
ferir a dignidade
maternal com que ela,
Márcia, lhe patenteara
a nobreza de
sentimentos. Contou
então que estivera
naquele mesmo dia com a
jovem e notara-lhe a
sinceridade e a
tristeza. Fora rude com
ela, espezinhara-lhe o
coração, mas voaria
naquela mesma hora para
o Flamengo e fariam as
pazes. O encontro de
Gilberto e Marina foi um
momento de muita
felicidade para todos, e
Félix, cientificado dos
acontecimentos, veio, na
noite seguinte,
compartilhar-lhes as
orações de alegria.
(Cap. XI, pp. 296 e 297)
(Continua no próximo
número.)