Referência de Allan
Kardec
aos resgates
coletivos
Uma ouvinte do programa
“Debate na Rio”, da
Rádio Rio de Janeiro,
perguntou se Allan
Kardec havia tratado dos
Resgates Coletivos em
suas obras, quando
debatíamos as causas das
tragédias nas quais
ocorre a desencarnação
de muitas pessoas.
Respondi afirmativamente
a essa ouvinte,
esclarecendo que em
Obras Póstumas, no
capítulo 40, sob o
título “QUESTÕES E
PROBLEMAS - As expiações
coletivas -, o
codificador faz
referência ao formular a
seguinte pergunta aos
instrutores
espirituais:
“QUESTÃO — O Espiritismo
explica perfeitamente a
causa dos sofrimentos
individuais, como
consequências imediatas
das faltas cometidas na
existência precedente,
ou, como expiação do
passado; mas, uma vez
que cada um só é
responsável pelas suas
próprias faltas, não se
explicam
satisfatoriamente as
desgraças coletivas que
atingem as aglomerações
de indivíduos, às vezes,
uma família inteira,
toda uma cidade, toda
uma nação, toda uma
raça, e que se abatem
tanto sobre os bons,
como sobre os maus,
assim sobre os
inocentes, como sobre os
culpados”.
A resposta a essa
questão feita por Allan
Kardec, com relação aos
resgates coletivos, foi
dada pelo Espírito
Clélia Duplantier, que é
a seguinte:
“Todas as leis que regem
o Universo, sejam
físicas ou morais,
materiais ou
intelectuais, foram
descobertas, estudadas,
compreendidas,
partindo-se do estudo da
individualidade e do da
família para o de todo o
conjunto,
generalizando-as
gradualmente e
comprovando-se-lhes a
universalidade dos
resultados.
Outro tanto se verifica
hoje com relação às leis
que o estudo do
Espiritismo dá a
conhecer. Podem
aplicar-se, sem medo de
errar, as leis que regem
o indivíduo à família, à
nação, às raças, ao
conjunto dos habitantes
dos mundos, os quais
formam individualidades
coletivas. Há as faltas
do indivíduo, as da
família, as da nação; e
cada uma, qualquer que
seja o seu caráter, se
expia em virtude da
mesma lei, o algoz,
relativamente à sua
vítima, quer indo a
encontrar-se em sua
presença no espaço, quer
vivendo em contacto com
ela numa ou em muitas
existências sucessivas,
até à reparação do mal
praticado. O mesmo
sucede quando se trata
de crimes cometidos
solidariamente por um
certo número de pessoas.
As expiações também são
solidárias, o que não
suprime a expiação
simultânea das faltas
individuais.
Três caracteres há em
todo homem: o do
indivíduo, do ser em si
mesmo; o de membro da
família e, finalmente, o
de cidadão. Sob cada uma
dessas três faces pode
ele ser criminoso e
virtuoso, isto é, pode
ser virtuoso como pai de
família, ao mesmo tempo
que criminoso como
cidadão e
reciprocamente. Daí as
situações especiais que
para si cria nas suas
sucessivas existências.
Salvo alguma exceção,
pode-se admitir como
regra geral que todos
aqueles que numa
existência vêm a estar
reunidos por uma tarefa
comum já viveram juntos
para trabalhar com o
mesmo objetivo e ainda
reunidos se acharão no
futuro, até que hajam
atingido a meta, isto é,
expiado o passado, ou
desempenhado a missão
que aceitaram.
Graças ao Espiritismo,
compreendeis agora a
justiça das provações
que não decorrem dos
atos da vida presente,
porque reconheceis que
elas são o resgate das
dívidas do passado. Por
que não haveria de ser
assim com relação às
provas coletivas? Dizeis
que os infortúnios de
ordem geral alcançam
assim o inocente, como o
culpado; mas, não sabeis
que o inocente de hoje
pode ser o culpado de
ontem? Quer ele seja
atingido
individualmente, quer
coletivamente, é que o
mereceu. Depois, como já
o dissemos, há as faltas
do indivíduo e as do
cidadão; a expiação de
umas não isenta da
expiação das outras,
pois que toda dívida tem
que ser paga até a
última moeda. As
virtudes da vida privada
diferem das da vida
pública. Um, que é
excelente cidadão, pode
ser péssimo pai de
família; outro, que é
bom pai de família,
probo e honesto em seus
negócios, pode ser mau
cidadão, ter soprado o
fogo da discórdia,
oprimido o fraco,
manchado as mãos em
crimes de
lesa-sociedade. Essas
faltas coletivas é que
são expiadas
coletivamente pelos
indivíduos que para elas
concorreram, os quais se
encontram de novo
reunidos, para sofrerem
juntos a pena de talião,
ou para terem ensejo de
reparar o mal que
praticaram, demonstrando
devotamento à causa
pública, socorrendo e
assistindo aqueles a
quem outrora
maltrataram. Assim, o
que é incompreensível,
inconciliável com a
justiça de Deus, torna
claro e lógico mediante
o conhecimento dessa
lei.
A solidariedade,
portanto, que é o
verdadeiro laço social,
não o é apenas para o
presente; estende-se ao
passado e ao futuro,
pois que as mesmas
individualidades se
reuniram, reúnem e
reunirão, para subirem
juntas a escala do
progresso, auxiliando-se
mutuamente. Eis aí o que
o Espiritismo faz
compreensível, por meio
da equitativa lei da
reencarnação e da
continuidade das
relações entre os mesmos
seres. - Clélia
Duplantier.”
Nota de Allan Kardec
Depois dessa resposta,
Allan Kardec tece
comentários em uma nota,
desdobrando o pensamento
do Espírito Clélia
Duplantier, da qual
destacamos os parágrafos
1, 2 e 5:
“Conquanto se subordine
aos conhecidos
princípios de
responsabilidade pelo
passado e da
continuidade das
relações entre os
Espíritos, esta
comunicação encerra uma
ideia de certo modo nova
e de grande importância.
A distinção que
estabelece entre a
responsabilidade
decorrente das faltas
individuais ou
coletivas, das da vida
privada e da vida
pública, explica certos
fatos ainda mal
conhecidos e mostra de
maneira mais precisa a
solidariedade existente
entre os seres e entre
as gerações”.
“Assim, muitas vezes um
indivíduo renasce na
mesma família, ou, pelo
menos, os membros de uma
família renascem juntos
para constituir uma
família nova noutra
posição social, a fim de
apertarem os laços de
afeição entre si, ou
reparar agravos
recíprocos. Por
considerações de ordem
mais geral, a criatura
renasce no mesmo meio,
na mesma nação, na mesma
raça, quer por simpatia,
quer para continuar, com
os elementos já
elaborados, estudos
começados, para se
aperfeiçoar, prosseguir
trabalhos encetados e
que a brevidade da vida
não lhe permitiu acabar.
A reencarnação no mesmo
meio é a causa
determinante do caráter
distintivo dos povos e
das raças. Embora
melhorando-se, os
indivíduos conservam o
matiz primário, até que
o progresso os haja
completamente
transformado.”
“Não se pode duvidar de
que haja famílias,
cidades, nações, raças
culpadas, porque,
dominadas por instintos
de orgulho, de egoísmo,
de ambição, de cupidez,
enveredam por mau
caminho e fazem
coletivamente o que um
indivíduo faz
insuladamente. Uma
família se enriquece à
custa de outra; um povo
subjuga outro povo,
levando-lhe a desolação
e a ruína; uma raça se
esforça por aniquilar
outra raça. Essa a razão
por que há famílias,
povos e raças sobre os
quais desce a pena de
talião. ‘Quem matou com
a espada perecerá pela
espada’ são palavras do
Cristo, palavras que se
podem traduzir assim:
Aquele que fez correr
sangue verá o seu também
derramado; aquele que
levou o facho do
Incêndio ao que era de
outrem, verá o Incêndio
ateado no que lhe
pertence; aquele que
despojou será despojado;
aquele que escraviza e
maltrata o fraco será a
seu turno escravizado e
maltratado, quer se
trate de um indivíduo,
quer de uma nação, ou de
uma raça, porque os
membros de uma
individualidade coletiva
são solidários assim no
bem como no mal que em
comum praticaram.”
Conclusão
Portanto, para
entendermos a questão
das expiações coletivas,
ou resgates coletivos,
abordado por Allan
Kardec, em Obras
Póstumas, podemos
concluir, pela resposta
do Espírito Clélia
Duplantier, que é
preciso ver o homem sob
três aspectos: o
indivíduo, o membro da
família e, finalmente, o
cidadão. Sob cada um
desses aspectos ele pode
ser criminoso ou
virtuoso. Em razão
disso, existem as faltas
do indivíduo, as da
família e as da nação.
Cada uma dessas faltas,
qualquer que seja o
aspecto, pode ser
reparada pela aplicação
da mesma lei.
A reparação dos erros
praticados por uma
família ou por um certo
número de pessoas é
também solidária, isto
é, os mesmos Espíritos
que erraram juntos
reúnem-se para reparar
suas faltas. A lei de
ação e reação, nesse
caso, que age sobre o
indivíduo, é a mesma que
age sobre a família, a
nação, as raças, enfim,
o conjunto de habitantes
dos mundos, os quais
formam individualidades
coletivas.
Tal reparação se dá
porque a alma, quando
retorna ao Mundo
Espiritual,
conscientizada da
responsabilidade
própria, faz o
levantamento dos seus
débitos passados e, por
isso mesmo, roga os
meios precisos a fim de
resgatá-los devidamente.