O fogo bíblico
inextinguível é como
cicatriz para o Espírito
A linguagem bíblica é
geralmente simbólica.
Não se deve, pois, tomar
o símbolo pelo
simbolizado e nem um
texto simbólico como
sendo literal. A imagem
de um santo não é o
santo. O fogo do inferno
e do purgatório é
esotérico ou figurado,
como o da sarça ardente
e do Pentecostes, e não
exotérico, que é o fogo
comum.
A mensagem bíblica é de
amor, e é do mundo dos
Espíritos para nós, os
quais têm por chefe
Deus. “Deus é o Pai dos
Espíritos.” - Hebreus
12:9. Se ela nos lembra
de Deus, e se Deus é
amor, temos realmente
que vê-la como um
documento de amor – e
não de ódio, medo e
vingança. E Espíritos
encarnados e
desencarnados escreveram
a Bíblia, pois eles
trabalham no projeto
divino (Hebreus, 12:14).
Ela fala em anjos, mas
anjos são Espíritos de
alto nível de evolução.
E a palavra anjo
(“aggelos”, em grego, e
“ângelus” em latim)
significa mensageiro ou
enviado. Quando, pois,
um Espírito de evolução
elevada se manifesta,
ele é para nós um
mensageiro do bem, pelo
que dizemos de Deus.
Tudo que Deus criou vai
dar certo. Se só um
Espírito humano se
perdesse
irremediavelmente, sem
esperança de
regeneração, Deus teria
fracassado no seu
projeto da criação
humana, que seria
imperfeito – o que é
incompatível com a obra
de Deus. Falando
simbolicamente, será que
Deus vai perder a
batalha do bem contra o
mal, com o diabo? Jamais
isso acontecerá. E diabo
(“diabolos”, adversário
ou símbolo do mal, em
português) não é
Espírito. Ele é
adversário de nosso
Espírito, que é imagem e
semelhança de Deus. Já
demônios são Espíritos e
humanos (“daimones”, em
grego). Mas como Jesus
nunca tirou um demônio
bom das pessoas, pois um
demônio (alma) bom não
obsidia ninguém, com o
tempo, os teólogos
passaram a entender que
todo demônio é mau e
como sendo de outra
categoria de Espírito. E
cooperou com essa
mudança de sentido dos
demônios o fato de que
ninguém queria ser
demônio! E observemos
que Jesus nunca tirou
diabo ou satanás de
ninguém, mas demônios ou
Espíritos impuros (ainda
não purificados).
Orígenes, um dos maiores
biblistas e teólogos do
Cristianismo primitivo,
ensinou a tese da
Apocatástase (evolução e
regeneração dos
demônios), exatamente
porque eles são
Espíritos humanos e não,
como já foi dito, outra
categoria de Espíritos.
A metáfora da queda dos
anjos rebeldes (2 Pedro,
2:4) diz que eles foram
precipitados no abismo
(a Terra). Eles foram
enviados para aqui, em
novas reencarnações,
para se regenerarem. Não
nos esqueçamos de que os
teólogos do passado, às
vezes, interpretavam a
Bíblia, às avessas,
antropomorfizando Deus,
que era visto por eles
como um ser humano com
todas as suas mazelas:
raivoso, justiceiro e
vingativo. Só mais tarde
é que eles passaram a
entender que Deus é
amor, luz, o único ser
incontingente, de São
Tomás de Aquino, e
inteligência suprema e
causa primeira de todas
as coisas, de Kardec.
Se tudo que Deus faz é
bom e dá certo, o que
parece um mal pode estar
simbolizando um bem. E
Deus sabe até tirar do
mal o bem. São Paulo (1
Coríntios, 3:15) diz:
“Se a obra de alguém se
queimar, sofrerá ele
dano; mas esse mesmo
será salvo, todavia,
como que através do
fogo”.
Realmente, o fogo
bíblico é simbólico. É
como uma cicatriz da
ferida purgatorial,
purificadora do
Espírito, pelo que ela é
bendita e fica para
sempre!