Em carta publicada nesta mesma edição, a leitora
Cláudia Pellegrino
pergunta-nos qual livro
apresenta o caso da
paralítica que Chico Xavier
visitou numa cidade vizinha
a Uberaba-MG, sobre a qual
lhe veio depois a informação
de que fora ela rainha numa
anterior encarnação, alguns
séculos atrás.
O caso nos é apresentado no cap. 10 do livro
“Astronautas do Além”, obra
elaborada em parceria por
Chico Xavier, J. Herculano
Pires e Espíritos diversos.
Veja como o médium relatou essa história:
“Horas antes de nossa reunião pública, com
quatro irmãos que se achavam
em nossa companhia, fomos a
cidade vizinha visitar uma
criança doente. Não longe da
casa em que reside a
pequenina enferma
encontramos uma senhora
paralítica, em recanto quase
isolado de extensa zona
rural, que nos solicitou
orarmos com ela por alguns
momentos. Muito simpática e
sofredora, vivendo da
caridade pública e sem
qualquer parente, a situação
dela realmente nos comoveu
muito. Voltamos para a nossa
reunião. E, depois de nossa
habitual visita a alguns
lares de irmãos nossos,
passamos ao desenvolvimento
das tarefas da noite.
O Evangelho segundo o Espiritismo nos ofereceu a
exame a formosa página
intitulada ‘Uma realeza
terrestre’, no capítulo II,
assinada por entidade
espiritual que se reportava
às lutas que encontrara na
posição altamente destacada
que usufruiu na Terra.
A comunicação foi carinhosamente estudada por
uma de nossas irmãs
presentes. E, no
encerramento da reunião, o
poeta Epifânio Leite nos
trouxe o soneto com
dedicatória expressiva. Ele
mesmo, o poeta desencarnado,
informou-nos por audição
referir-se à paralítica em
penúria material que
havíamos visitado horas
antes.”
O soneto, assinado por Epifânio Leite,
intitula-se “Refazimento” e
diz o seguinte:
Vejo-te, soberana, aos painéis da memória!
O trono te emoldura a face
de outras eras…
Oprimes sem temor, espancas
onde imperas,
Fulges no fausto vão de
vaidade ilusória!…
A paixão te esfogueia a fome de vanglória,
Exilas e destróis, humilhas
e encarceras…
Vem a morte, no entanto,
entre forças austeras,
E largas sob a cinza a pompa
transitória!
Foi-se o tempo… Hoje achei-te em catre duro e
estreito,
Paralítica e só, parafusada
ao leito!…
Chorei ao ver-te a choça e o
triste quarto em ruínas!
Mas louvo o fel de agora ante o sol do futuro…
Pela dor subirás ao reino do
amor puro
Em teu carro estelar de
açucenas divinas!
Na apresentação do soneto, Epifânio Leite
escreveu estas palavras:
“Versos dedicados à venerável irmã que
conhecemos na realeza
terrestre, há quatro
séculos. Culta, não espalhou
os benefícios da
inteligência; amiga
incondicional dos amigos e
inimiga implacável dos
adversários; generosa para
com os áulicos abastados e
indiferente às vítimas da
penúria. Embora destacasse
as vantagens da paz,
incentivou, quanto pôde, as
guerras de conquista e
ambição. Agradecida aos
vassalos obedientes,
perseguia até à morte
quantos não lhe observassem
as diretrizes. Amada e
odiada, alcançou o Mais Além
e, à frente da verdade,
preocupou-se com a redenção
própria. Regressou à Terra,
várias vezes, apagando-se
devagar, quanto ao brilho
terreno que ostentava, até
que rogou a prova final, em
que a identificamos
presentemente,
habilitando-se no corpo
enfermo e disforme, em
acentuada penúria, para a
ascensão próxima à
Espiritualidade Superior. A
essa irmã admirável e
valorosa, capaz de omitir-se
e sofrer até a integral
reparação da própria
grandeza em si mesma,
oferecemos aqui a nossa
pálida homenagem,
desejando-lhe plena vitória
em Jesus e com Jesus.”
O poeta Epifânio Leite de Albuquerque nasceu e
morreu em Fortaleza-CE
(1891-1942). Autor do livro
de poesias “Escada de Jacó”,
membro da Academia Cearense
de Letras, foi juiz de
Direito em Baturité, no
mesmo Estado.
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