Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
30)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Cláudio contou a
Gilberto o encontro que
teve com o Espírito de
Marita?
Embora Cláudio, ao
voltar ao estado de
vigília, guardasse na
memória todos os
detalhes da ocorrência,
ele nada disse a
Gilberto, em atendimento
a um pedido feito por
André Luiz, visto que a
verdade da vida não deve
brilhar para a maioria
dos homens, senão por
intermédio de sonhos
vagos, para não lhes
confundir o raciocínio.
Cláudio guardava, no
entanto, em seu íntimo a
certeza de que Marita
logo retornaria ao
mundo, reencarnada, e
isso lhe iluminava o
pensamento e aquecia-lhe
o coração.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo XI, pp.
308 e 309.)
B. Por que a falência
dos negócios de Nemésio
Torres tornou-se
iminente?
Dois foram os motivos
principais: o
afastamento de Gilberto,
expulso da empresa pelo
próprio pai, e a longa
viagem que Nemésio fez à
Europa. Quando voltou do
exterior, o empresário
vira-se defrontado por
notícias desagradáveis.
Os subordinados de
Nemésio não se mostraram
à altura da autoridade
dele recebida e amigos
da firma haviam
retirado, à pressa,
capitais importantes,
desistindo dos
depósitos com que lhe
garantiam a segurança.
Em crise, a imobiliária
onerara-se com dois
vultosos empréstimos,
para cujo resgate
entregara Nemésio dois
terços dos próprios
bens. A falência,
portanto, parecia
próxima, o que de fato
acabou acontecendo.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XII, pp. 312 e
313.)
C. A situação dos
negócios abalou Nemésio?
Sim. As cartas que ele
enviava regularmente
fazendo ameaças a Marina
demonstraram claramente
que ele se afundava cada
vez num estado de
desespero e de
perturbação mental que,
em pouco tempo, chegaria
à demência.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XII, pp. 316 e
317.)
Texto para leitura
146. Marita diz
que deseja voltar à
Terra - Marita
rememorou os quadros que
imaginara no hospital, o
suplício das horas
lentas, as preces e a
invariável devoção
daquele pai que se lhe
redimira no conceito à
custa de sofrimento, e
ajoelhou-se, diante
dele, procurando-lhe o
regaço, como quando em
criança. Perplexo,
Cláudio não via os
demais Espíritos ali
presentes;
concentrava-se somente
na visão, que exercia
sobre ele inigualável
fascínio. Afagou com a
destra hesitante aqueles
cabelos que tanta vez
alisara no hospital, e
relembrou Marita, quando
criança, indagando:
"Filha do meu coração,
por que choras?" A jovem
endereçou-lhe um gesto
súplice e rogou: "Papai,
não se aflija!... Estou
feliz, mas quero
Gilberto, quero voltar
para a Terra!... Quero
viver no Rio com o
senhor, outra vez!..."
Patenteando carinho
imáculo, Cláudio
conservou-a sob as mãos
que tremiam de júbilo e,
levantando o olhar para
o teto, com a ânsia de
quem se propunha romper
o monte de alvenaria
para dirigir-se a Jesus,
clamou em lágrimas:
"Senhor, esta é a filha
querida que me ensinaste
a amar com pureza!...
Ela quer retornar ao
mundo, para junto de
nós!... Mestre, dá-lhe,
com a tua infinita
bondade, uma nova
existência, um corpo
novo!... Senhor, tu
sabes que ela perdeu os
sonhos de criança por
minha causa... Se é
possível, amado Jesus,
permite agora que lhe dê
minha vida! Senhor,
deixa que eu ofereça à
filha de minha alma tudo
o que eu tenho! Oh!
Jesus, Jesus!..."
Considerando que a
emotividade excessiva
poderia abatê-lo, Félix
recolheu Marita nos
braços e pediu que André
ficasse para auxiliar o
bancário a reaver o
envoltório físico
enlanguescido. Após o
passe reconfortante,
Cláudio acordou em choro
convulso, guardando na
memória todos os
detalhes da ocorrência.
Quando Gilberto retornou
ao apartamento, ele quis
narrar-lhe o ocorrido,
mas assimilou a
exortação de silêncio,
feita por André, visto
que a verdade da vida
não deve brilhar para a
maioria dos homens,
senão por intermédio de
sonhos vagos, para não
lhes confundir o
raciocínio. Ele
guardava, no entanto, em
seu íntimo a certeza de
que Marita retornaria ao
mundo, reencarnada, e
isso lhe iluminava o
pensamento e aquecia-lhe
o coração. (Cap. XI, pp.
308 e 309)
147. Nemésio
importuna Marina
- A gravidez de Marina
foi acompanhada por
todos com paciência e
ternura. Além da
assistência médica, ela
recebia passes de
reconforto, e o pai
lia-lhe páginas
educativas de
ginecologistas e
pediatras, instruindo-a,
asserenando-a. Gilberto
estava feliz com a
expectativa do sucessor.
Agindo no mundo
invisível, André
resguardava Marita,
quanto possível, no
processo reencarnatório.
Tudo era esperança,
sossego. A paz,
aparentemente
definitiva, entrara no
lar do Flamengo, como se
todos os pesares
transcorridos estivessem
para sempre arquivados
nas gavetas do tempo. O
passado, porém,
palpitava naquele trato
de ventura, como a raiz
parcialmente enferma,
escondida no solo,
sustentando o tronco
florido. Em determinada
tarde, a jovem gestante
evidenciou agoniado
abatimento. O médico,
após examiná-la, não
atinou com a origem da
queda súbita. Marina
enlanguescia... Finda
uma semana, Cláudio
aproveitou um momento a
sós com a filha e
investigou-a.
Conversaram, então. Ele,
que suspirava por vê-la
recuperada, exortou-a à
confiança e ao otimismo.
Orasse, tivesse fé. Que
se abrisse com ele.
Afinal, era pai e tudo
faria por ajudá-la.
Marina levantou-se, foi
ao quarto e trouxe-lhe
um papel. Era uma carta
vinda de Nemésio, que
participava o seu
regresso ao Rio, após
seis meses de Europa.
Confessava-se,
desabrido. Afirmava-se
entediado de tudo, menos
dela, a quem amava ainda
com inusitado calor.
Soubera do casamento;
contudo, jamais a
consideraria por nora.
Gilberto não passava de
um tonto, de um
espantalho, do qual
deveriam afastar-se,
para fruírem a
felicidade que ele
mesmo, Nemésio,
frustrara, ao
abandoná-la. (Cap. XII,
pp. 310 a 312)
148. Nemésio
ameaça matar-se
- Até à metade da carta,
reportava-se Nemésio a
conceitos de compaixão e
carinho, mas, na última
parte, incidia na
irreverência.
Sacudia-lhe a memória.
Perguntava-lhe por
lugares menos
recomendáveis.
Acusava-se saudoso.
Pedia encontro.
Dar-lhe-ia instruções
para o desquite. Possuía
excelentes amigos no
Foro. Que ela não o
desapontasse, porque, de
outro modo, uma bala na
cabeça ser-lhe-ia a
solução. Não vacilaria
entre a felicidade com
ela e o suicídio. Que
escolhesse, pois.
Punha-lhe o destino nas
mãos. Cláudio analisou
a gravidade da situação
e, recordando o
espancamento sofrido no
banco, que não
mencionara aos filhos,
deduziu que Nemésio era
capaz de todas as
violências. Anteviu,
assim, a tormenta que se
esboçava, mas procurou
consolar a filha. Aquilo
tudo não passava de
momento infeliz. Que não
se amofinasse. Buscaria
Nemésio pessoalmente, a
fim de rogar-lhe
serenidade, ao mesmo
tempo que lhe noticiaria
a chegada próxima da
criancinha que seria
para ele também um
sorriso de Deus. Nos
olhos de Marina,
seduzida pelo magnetismo
dessas palavras, a
esperança brilhou de
novo. No dia seguinte,
Cláudio pôs-se em campo
e soube, por intermédio
de corretores ligados à
imobiliária, que Nemésio
voltara da viagem e
vira-se defrontado por
notícias desagradáveis.
Os negócios, com o
afastamento do filho e
sua longa ausência, não
iam bem. Os
subordinados de Nemésio
não se mostraram à
altura da autoridade
recebida e amigos da
firma haviam retirado, à
pressa, capitais
importantes, desistindo
dos depósitos com que
lhe garantiam a
segurança. Em crise, a
imobiliária onerara-se
com dois vultosos
empréstimos, para cujo
resgate entregara
Nemésio dois terços dos
próprios bens. A
falência parecia
próxima e Márcia o
abandonara, seja porque
o vira destituído das
propriedades que a
fascinavam, seja porque
houvesse esgotado as
reservas afetivas para
com ele. De posse de
todos os informes e
vencendo a própria
repugnância com os
recursos da oração,
Cláudio buscou a
moradia de Nemésio.
Levava o espírito
pressago, triste. Ao
fazer, porém, soar a
campainha no vestíbulo
ajardinado, um empregado
da casa, em nome de
Torres, que o havia
visto do terraço, veio
dizer-lhe fizesse a
gentileza de se
considerar indesejável,
porque não lhe receberia
a visita nem naquela
hora, nem noutras. (Cap.
XII, pp. 312 e 313)
149. Nemésio envia
outra carta -
Cláudio não insistiu e
retirou-se,
compreensivo. No banco,
expôs o problema ao
gerente amigo, a quem
mostrou a carta que
Nemésio dirigira à
filha, ponderando quanto
à necessidade de
protegê-la, sem parecer
ao genro que assim
procedia defendendo-a
do sogro. O gerente,
prestativo e humano,
sugeriu-lhe uma licença
de seis meses, o que não
seria difícil devido à
sua excelente folha de
serviço. Desse modo, ele
poderia apoiar a filha,
resguardando-a, desde a
caixa do correio,
impedindo que novas
cartas lhe chegassem às
mãos, até a assistência
contínua em casa, hora a
hora, para que se lhe
garantisse a
tranquilidade na
gravidez. Cláudio
agradeceu, confortado.
Vinda a noite, conversou
com Marina,
sossegando-a. Disse-lhe
acreditar que Nemésio
não mais a molestaria e
informou ter estado na
residência dos Torres,
sem nada avançar além
disso. Marina
rejubilou-se ao saber
da projetada licença.
Ambos se devotariam a
trabalhos diversos.
Construiriam, juntos, o
berço do nenê. Dariam
nova disposição ao
apartamento. E, na
certeza de que a neta se
achava a caminho,
Cláudio concordou em
pintar as paredes, desde
que a cor rosa fosse
predominante. Mais
tarde, ao deitar-se,
Cláudio refletiu no
leito sobre a
imprevista situação,
prevendo que seria
compelido doravante a
novos encargos. A carta
de Nemésio e a rudeza
com que lhe havia
cerrado a porta não lhe
deixavam margem a
dúvidas. Por isso, orou,
implorando recursos aos
Espíritos amigos, para
que não fraquejasse nem
tivesse qualquer
propósito de revide.
Admitia-se em duro
teste. Sem dúvida,
prejudicara Nemésio em
outras existências e
agora devia pagar.
Aquele homem castigara-o
na alma e na carne,
transformara-se em
cobrador do destino.
Era preciso, pois,
aceitar o desafio com
humildade. No dia
seguinte, com a desculpa
de obter pão mais
fresco, desceu à
portaria do prédio e
recolheu nova carta de
Nemésio endereçada a
Marina. (Cap. XII, pp.
314 e 315)
150. Nemésio
confessa-se falido
- A carta era uma
coleção de recados, em
que se misturavam
declarações e libelos.
Nemésio alegava
dificuldades. Dizia
precisar dela para
recompor as finanças.
Restaurar-se-ia em
reduzido tempo, se o
atendesse. Apesar dos
prejuízos que
experimentara, era
ainda suficientemente
abastado para fazê-la
feliz. Reclamava
resposta. Ameaçava.
Cláudio queimou o
documento, mas a
ocorrência se repetiu
diariamente por dois
meses. As cartas
chegavam pontualmente e
cada uma era mais
inconveniente que a
outra. Por vezes,
relatava suas andanças
pelo Flamengo, tentando
revê-la. Noutras, depois
de frases melífluas,
exigia pronunciamentos
descabidos, sob pena de
estourar o crânio,
deixando queixa à
Polícia contra ela, no
intuito de arruiná-la.
Em bilhetes
comprometedores,
proibia-lhe dar filhos a
Gilberto. Preferia
matá-la ou matar-se a
receber netos do lar que
haviam formado. Dia a
dia, porém, Nemésio
ficava mais
contraditório e menos
lúcido. Cláudio
percebeu que o pai de
Gilberto se afundava
sempre mais, em loucura
e obsessão, sem que lhe
fosse facultado assumir
qualquer providência.
Cumpria-lhe tudo
amargar, sem dividir com
pessoa alguma a dor que
o espicaçava. No último
exame médico, o
facultativo indicou à
filha ligeiros
exercícios físicos.
Nenhuma ginástica. Algo
suave. Bastariam
marchas diminutas a pé.
Que ela realizasse à
noitinha curto passeio
até à praia, em esforço
diário, enquanto fosse
possível. Nada mais que
isso. Marina obedeceu e,
como era de esperar,
Cláudio serviu-lhe de
guarda-costas, tendo o
coração repassado de
inquietude, mas sem
poder opor qualquer
embargo à prescrição.
Afinal, para a filha,
aquela manifestação de
Nemésio, pelo serviço
postal, fora varrida do
pensamento. Enlaçada ao
pai, Marina efetuava
breve percurso, para
sentar-se junto dele,
nunca por mais de meia
hora, ao pé do mar. Seis
dias se passaram, quando
chegou de Nemésio uma
carta diferente. A letra
modificada,
configurando insultos,
revelava superexcitação
fronteira à demência.
Informava a Marina tê-la
visto na praia, em
companhia de seu pai, e
verificara que ela,
afinal, se engravidara
contra as ordens que lhe
ditara anteriormente.
Acreditava-se, então, o
mais desmoralizado de
todos os homens.
Enojava-se da paixão que
nutrira por ela.
Confessava-se falido.
Preferia morrer.
Escasseava-lhe tudo.
Acabara-se o dinheiro.
Os amigos desertavam.
Restava-lhe de seu
apenas a casa, assim
mesmo hipotecada.
Plantaria uma bala na
cabeça. E finalizava,
alinhando obscenidades e
informando estar
assinando o nome pela
última vez. Cláudio,
assustado, leu e releu o
documento e, antes de
reduzi-lo a cinzas,
insulou-se no quarto e
orou por aquele homem
que, pelo jeito, se
afundava em pavoroso
desespero. (Cap. XII,
pp. 316 e 317)
(Continua no próximo
número.)