Doutrina
Espírita ou
Espiritismo
O Consolador
prometido
Descendo os
degraus do tempo
vamos alcançar a
época da Grande
Revelação dos
Espíritos,
quando, através
do francês de
Lyon, Allan
Kardec, uma nova
alvorada se
descortinou ao
mundo.
As bases do
limiar desse
conhecimento na
Terra foram se
fortalecendo a
partir de 1855,
na medida em que
esses
benfeitores do
Além traziam
informações até
então
desconhecidas da
grande massa
humana,
provocando,
simultaneamente,
entusiasmo
contagiante e
elevada carga de
curiosidade, em
pontos variados
do globo,
inclusive no
Brasil.
Pessoas de
sentimentos
discordantes dos
assuntos ligados
à religiosidade
conhecida,
citando
particularmente
o Cristianismo,
encontravam no
Espiritismo
nascente
esclarecimentos
considerados
ousados para as
mentes
estacionárias e
conservadoras.
Outras, agitadas
e agressivas,
não aceitavam
com naturalidade
explicações
diferentes ao
rosário de
dogmas que já
sabiam de cor,
uma vez que a
maioria desses
fatos novos
conflitava com o
rígido conceito,
justificado
pelas fortes e
profundas raízes
estabelecidas no
interior da
própria Alma,
por conta da
imposição de
séculos e
séculos de
crenças,
crendices e
outros artigos
de fé que nada
acrescentaram, a
não ser criar e
fazer crescer o
misticismo.
Mas, por outro
lado, essa
discordância
abriu caminhos
novos e com
perspectivas
diferentes, mas
coerentes, pois
traziam
princípios
considerados
justos.
Era preciso
pensar, não
deixando que
apenas o coração
decidisse e, com
isso, lampejos
de lucidez foram
se sucedendo e
fazendo com que
essas mentes
trabalhassem no
sentido de
avaliar o que
ouviam, viam ou
liam,
procedentes de
seus líderes
religiosos.
Com o tempo,
tendo como
alicerce a
máxima
inteligente de
que “o respeito
não é imposto,
mas adquirido”,
a razão e a
lógica
prevaleceram
gradativamente,
desmistificando
o que parecia
ser praticamente
eterno e
imutável dentro
das igrejas,
onde nós,
possivelmente um
dia, também
estivemos sob o
jugo dessa
poderosa
força.
Materializava-se,
a partir desse
advento, o que
Jesus prometera
à Humanidade
daquela época:
“E eu rogarei
ao Pai e ele vos
dará outro
Consolador, a
fim de que
esteja para
sempre convosco,
o Espírito da
Verdade, que o
mundo não pode
receber, porque
não o vê, nem o
conhece; vós o
conheceis,
porque habita
convosco e
estará em vós”(1).
Não há como
ignorar ou
deixar de
reconhecer que a
Doutrina
Espírita ou o
Espiritismo
representa esse
Consolador, na
expressão do
Espírito da
Verdade,
figurado pela
plêiade de
Instrutores do
Além que fizeram
ver ao mundo
outras luzes de
conhecimento.
E o Divino Amigo
complementa em
seu Evangelho:
“Mas eu vos
digo a verdade:
Convém-vos que
eu vá, porque,
se eu não for, o
Consolador não
virá para vós
outros; se
porém, eu for,
eu vo-lo
enviarei. Quando
ele vier
convencerá o
mundo do pecado,
da justiça e do
juízo: do
pecado, porque
não creem em
mim; da justiça,
porque vou para
o Pai e não me
vereis mais; do
juízo, porque o
príncipe deste
mundo já está
julgado. Tenho
ainda muito que
vos dizer, mas
vós não o podeis
suportar agora;
quando vier,
porém, o
Espírito da
Verdade, ele vos
guiará a toda a
verdade; porque
não falará por
si mesmo, mas
dirá tudo o que
tiver ouvido, e
vos anunciará as
coisas que hão
de vir. Ele me
glorificará
porque há de
receber do
que é meu, e
vo-lo há de
anunciar”
(2).
E esse
Consolador
prometido
trouxe, sim,
fatos novos,
novíssimos,
aliás, fatos
alvissareiros.
Não só o
Espiritismo
afirmou que a
vida prossegue
além da morte,
uma vez que
Corpo espiritual
e Corpo físico
são duas coisas
distintas, como
também explicou
que o Espírito,
pela sua
individualidade,
retorna à vida
física tantas
vezes quantas se
fizerem
necessárias, e
sempre
encarnando
corpos humanos
(este ponto
também foi
motivo
conflitante com
outras teorias
não cristãs), o
que resulta
desse processo a
colheita do que
se plantou na
existência
anterior,
expressada pelas
gritantes
diferenças
conhecidas, de
toda ordem. E
foi mais além.
Os considerados
“mortos”
poderiam sim se
comunicar
através da voz,
da escrita,
mostrando a
realidade desse
intercâmbio
entre os vivos
daqui e os vivos
de lá,
ocorrência
registrada em
muitos países,
em especial no
Brasil, pelo
médium Francisco
Cândido Xavier
(1910-2002)
durante seus
quase 75 anos de
mandato
mediúnico,
tranquilizando
milhares e
milhares de
corações através
da psicografia
(mensagem
escrita) e da
psicofonia
(mensagem de
voz), como
também poderiam
se materializar,
retomando o
corpo físico
pelo período de
tempo necessário
para se fazerem
ver ou
transmitir suas
mensagens.
Apontou, ainda,
que a Divina
Providência não
condena ninguém
a suplício
temporário ou
eterno, uma vez
que somos nós
próprios que nos
condenamos ou
nos
reabilitamos,
deixando claro
que não há
supremacia do
mal, embora este
caminhe ao nosso
lado,
dependendo,
ainda de nós,
uma opção ou
outra. Com isso,
não há dúvida de
que cada degrau
vencido é mérito
adquirido.
Essas mesmas
Igrejas cristãs
hoje desenvolvem
publicamente em
seus templos
atividades
consideradas, na
linguagem de
seus
organizadores,
como
“abordagem
inovadora às
formas
tradicionais de
doutrinação e
renovação dos
ritos e da
mística”,
que outrora não
faziam parte da
liturgia.
São muito
variadas as
sessões públicas
que exibem
práticas de
“exorcismo”;
“aplicação de
passes”;
“imposição de
mãos”;
“fluidificação
da água”; ”peças
de roupa”, além
de pessoas que
se apresentam
durante as
reuniões, em
transe, e
falando às vezes
em outras
línguas,
incorporando
personagens do
mundo invisível
etc. Além dos
evangélicos, que
saíram primeiro,
também os
católicos
promovem missa
de cura e
libertação, com
cerimônias de
descarrego,
inclusive pela
televisão, em
amplo e
encorpado
espetáculo.
Estão promovendo
verdadeiras
alterações no
ambiente do
templo,
completamente
tomado por
pessoas que
dizem acreditar
na ocorrência do
que chamam
fenômeno
sobrenatural de
manifestação dos
Espíritos. “É
uma graça
divina!” – dizem
os fiéis. Estes,
por exemplo, são
acontecimentos
nunca
verificados em
outros recintos
cristãos, quer
evangélicos ou
católicos.
Tudo isso não
deixa de ser uma
adequação à
realidade, pois,
aplicada aos
dias atuais e
com nomes
diferentes, mas
que agrada aos
interesses
dessas Igrejas,
o fundo do
assunto é o
mesmo. A grande
diferença está
no
desconhecimento
e trato desses
assuntos.
A mediunidade
não é privilégio
dos espíritas e
qualquer um de
qualquer
religião pode
apresentar
condições
mediúnicas
apropriadas para
um determinado
resultado ou
finalidade,
inclusive os
incrédulos, mas
é preciso ter
conhecimento e
experiência no
campo
científico,
filosófico e
religioso para
tratar e
conduzir
assuntos ligados
à mediunidade,
suas
modalidades,
efeitos e
resultados,
etc., tanto para
com a segurança
e saúde do
médium quanto ao
ambiente das
ações.
O Espiritismo,
por ter o
trabalho
mediúnico como
uma de suas
atividades
próprias,
detalha e
explica com
domínio e
clareza o
desenvolvimento
desses fenômenos
que estão sendo
conhecidos agora
por quem até
pouco tempo
afirmava de viva
voz que
Espíritos não
existiam e que
os mortos
aguardavam pelo
juízo
final.
Vemos que os
pilares de
sustentação aos
dogmas estão
balançando e
começando a
ruir. Basta
atentarmos à
matéria
jornalística
noticiando que o
Vaticano,
corrigindo
decisões,
publicou em
20-4-2007,
documento
afirmando haver
base para a
“esperança de
que as crianças
não batizadas
sejam salvas”
– ou seja, há
boas razões para
crer na salvação
dos pequenos que
morrem antes de
receber o
batismo. A nota
dá conta, ainda,
de que a
conclusão a que
os 29 membros da
Comissão
Internacional de
Teologia da
Santa Sé
chegaram, e que
foi ratificada
pelo Papa Bento
XVI, se
justifica, pois,
segundo o site
Catholic News
Service, é
que “a exclusão
de bebês
inocentes do
paraíso não
parece refletir
amor especial de
Cristo pelos
pequeninos”(3).
Não obstante a
crença na
existência do
Limbo date do
ano 1200, este,
sem dúvida, foi
um passo sério e
respeitável.
Aguardemos por
outros.
Finalizando, o
Espiritismo
mostrou, por
fim, que Deus, o
Deus de Abraão,
como vários
segmentos do
Cristianismo o
chamam e o
invocam, não é e
nunca foi
rancoroso(4);
indeciso,
vingador
e cheio de
ira(5);
interessado em
fazer
incontáveis
pactos ou
alianças(6),
e tampouco
arrependeu-se de
seus atos(7),
sendo estes
apenas alguns
registros como
mostram as
Velhas
Escrituras.
Somos pelo
Evangelho,
destacando o
sentimento de
Jesus ao
Criador, sempre
com amor e
brandura,
exaltando estas
duas mensagens:
“Ora, se vós,
que sois maus,
sabeis dar boas
dádivas aos
vossos filhos,
quanto mais
vosso Pai que
está nos céus
dará boas coisas
aos que lhe
pedirem?”(8)
e “Sede
misericordiosos,
como também
misericordioso é
o vosso Pai”
(9).
Notas:
(1) João, 14,
16-18.
(2) João, 16,
7-14.
(3) Jornal Folha
de S. Paulo, pg.
A. 16 – Mundo,
de 21-4-2007.
(5) Gênesis, 3,
16 –
“Multiplicarei
os sofrimentos
da tua
gravidez”; Naum,
1, 2-3: “O
Senhor é Deus
zeloso e
vingativo... e
cheio de ira...
e toma vingança
contra os seus
adversários...”.
(6) Com Noé:
Gênesis, 9, 11;
com Abraão: Gn,
17, 2; com
Moisés: Êxodo,
3, 4-6; com
Davi: II Samuel,
7, 1-17.
(8) Mateus, 7,
11.
(9) Lucas, 6,
36.