ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 40)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Há nesta obra relatos
de comunicação mediúnica
em que o conteúdo da
informação era
desconhecido do médium?
Sim. Segundo o Dr.
Liébault (Phantasms of
the Living, I, pág.
293), uma jovem
americana, que passava
uma temporada em Nancy,
tomou conhecimento,
através da escrita
automática, da morte de
uma de suas amigas, que
estava na América. Após
colher informações, o
fato foi confirmado. A
amiga morrera, de fato,
no dia em que o anúncio
foi recebido em Nancy.
Outro caso relatado
nesta obra refere-se às
pesquisas de Aksakof.
Uma jovem chamada
Stramon, que vivia em
Wilna, Rússia, recebeu,
também através da
escrita automática, a
notícia da morte de um
jovem que vivia na Suíça
e com o qual ela não
desejara casar-se. Numa
carta que a jovem
recebeu de seu pai, três
dias depois, a notícia
foi confirmada. Seu pai
se encontrava na Suíça
naquela mesma ocasião.
(A Personalidade Humana,
capítulo VIII – O
automatismo motor.)
B. As pessoas falecidas
continuam a par das
coisas que ocorrem em
nosso plano?
Em alguns casos, sim. O
caso da jovem Schura,
relatado por Aksakof, é
um exemplo disso. Em
mensagem transmitida a
uma médium, a jovem –
que se envenenara aos 17
anos, ao perder seu
noivo Michel – solicitou
que os familiares de
Nicola (irmão de Michel)
fossem informados de que
o rapaz corria o mesmo
perigo que levou Michel
à prisão e à morte. A
família parece não ter
dado nenhuma importância
ao aviso, mas dois anos
depois Nicola foi detido
por participar de
reuniões revolucionárias
ocorridas na mesma época
em que Schura ditou as
mensagens.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
C. No caso de Schura,
relatado na questão
anterior, ocorreu alguma
particularidade incomum
e digna de nota?
Sim. Primeiro, Schura
manifestou-se por meio
das mesas. Na mensagem
ela rogava à médium que
avisasse sem falta a
família de Nicola. Ante
a dúvida da médium,
Schura tornou-se cada
vez mais insistente,
chegando a pronunciar
palavras encolerizadas,
e, para dar uma prova de
sua identidade,
materializou-se certa
noite, com a cabeça e os
ombros envoltos numa
auréola de luz, fato
que, mesmo assim, não
foi suficiente para que
a médium (Sra. Von
Wiessler) tomasse uma
decisão. Schura então
lhe disse que tudo
estava terminado, que
Nicola seria preso e que
ela se arrependeria de
não a obedecer.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
Texto para leitura
970. Para nós, os casos
desse gênero, por mais
curiosos que sejam, só
constituem uma
introdução aos
automatismos de um
caráter mais profundo.
Em nossa tentativa de
descobrir as séries
evolutivas dos fenômenos
que determinam a
existência de
capacidades humanas cada
vez mais elevadas, o
menor incidente
telepático, a prova mais
banal, mesmo sendo prova
de comunicações
recebidas sem o auxílio
dos sentidos, de um
Espírito encarnado ou
desencarnado, superam em
importância as
ramificações e as
produções mais complexas
do próprio espírito do
autômato.
971. Possuímos uma série
enorme de casos em que
as experiências
realizadas revelaram, de
forma indiscutível, a
intervenção de um
elemento telepático; de
uma influência à
distância exercida
inconscientemente por
pessoas presentes no
espírito dos operadores
e que provocam, por seu
lado, os movimentos
automáticos registrados
pela tabela, quer quando
dizia o nome das pessoas
no momento em que suas
fotografias eram vistas
pelos assistentes, quer
quando adivinhava o
número de moedas que se
achavam no bolso de um
auxiliar, quando ele
próprio não conhecia
exatamente esse número,
quer quando calculasse
previamente a soma em
dinheiro que determinada
pessoa devia receber de
um amigo e o nome deste
último. Nos casos em que
a pessoa interessada
parecia ignorar o fato
anunciado, que dizia
respeito a ela, era
fácil convencer-se de
que tal pessoa tinha, do
fato em questão, um
conhecimento
essencialmente
subliminar.
972. O fato mais notável
desse gênero é o do
casal Newton, que se
entregava a experiências
que consistiam em a
mulher escrever as
respostas às perguntas
que o homem formulava,
também por escrito, sem
que ela tivesse visto ou
ouvido nunca uma só
dessas perguntas. Essas
experiências foram
repetidas durante muito
tempo e, se algumas das
respostas escritas pela
Sra. Newton não possuíam
qualquer relação com as
perguntas a que se
destinavam, o número de
respostas exatas e
justas continua sendo
ainda muito considerável
e autoriza a concluir
que se tratava de algo
além da coincidência
(ver Proceedings of the
S. P. R., IX, pág.
61-64).
973. Consideramos até
aqui só os casos em que
a ação telepática era
exercida entre pessoas
próximas, reunidas na
mesma habitação. No caso
da Sra. Kirby, que
morava em Santa Cruz,
Califórnia, os
movimentos automáticos
da mesa revelaram fatos
concernentes a pessoas
que moravam em Plymouth,
Inglaterra, em
particular a irmã de um
criado da Sra. Kirby,
criado esse que
participava das
experiências e que era
conhecido por um nome
suposto e cujo
verdadeiro nome foi
revelado pela própria
mesa (Proceedings of the
S. P. R., IX, pág. 48).
974. Ao lado destes
casos de comunicações
entre pessoas vivas
existem outros em que a
mensagem parece provir
de uma pessoa falecida,
quando, na realidade, na
maioria dos casos a
origem está no espírito
de uma das pessoas
presentes. É o caso
citado frequentemente do
Sr. Lewis (Proceedings
of the S. P. R., IX,
pág. 64), no qual um
médium que não podia, de
modo algum, estar ao
corrente dos assuntos da
família de Lewis, que
não conhecia, comunicou
por intermédio de uma
mesa uma mensagem
procedente de uma das
irmãs do último,
falecida aos 2 anos de
idade, antes do
nascimento do Sr. Lewis.
975. Citamos ainda o
caso do Sr. Long (Proceedings
of the S. P. R., IX,
pág. 65), ao qual um
médium comunicou uma
mensagem de um antigo
criado, cujo nome estava
escrito erradamente e
cuja mensagem
significava que o criado
morrera há 14 ou 15
anos, enquanto que as
informações tomadas mais
tarde confirmaram que o
criado ainda vivia no
momento em que a
mensagem foi transmitida
ao Sr. Long. Pode-se,
nesta mesma categoria,
classificar o caso
transmitido ao Sr.
Barret (Proceedings of
the S. P. R., XI, pág.
236), relativo a um
médium que, após
implorar a uma sua amiga
que pensasse numa pessoa
qualquer, descreveu
automaticamente certos
fatos relacionados a
essa pessoa.
976. Durante uma sessão
espírita realizada na
residência do Dr.
Barallos, do Rio de
Janeiro, a mesa anunciou
que um vidro contendo
ácido fênico quebrara-se
às 8 horas da noite na
casa da cunhada do
médico, que também
participava da sessão.
Sua casa situava-se
distante da de sua
cunhada e ao voltar para
sua residência pôde
comprovar que aquilo era
exato. Soube também que
suas filhas, que ficaram
em casa, ouviram um
ruído numa habitação
próxima, onde dormia uma
criança atacada de
varíola e onde se achava
o vidro contendo ácido
fênico e entraram
precipitadamente no
quarto, gritando: “O
vidro de ácido quebrou!”
É possível, e esta é a
explicação do Dr.
Alexander do Rio de
Janeiro, que nos
comunicou o fato, que a
impressão emocional
experimentada pelas
jovens ao lançar aquela
exclamação exercesse uma
influência telepática na
mãe e consequentemente
na mesa, trazendo à
superfície a mensagem
que a segunda recebeu
subconscientemente (Journal
of the S. P. R., VI,
pág. 112-115).
977. Temos, a seguir,
uma série de casos que
propiciam um
interessante campo à
discussão das duas
hipóteses rivais: a da
criptomnésia e a da
influência exercida
pelos Espíritos. São,
por exemplo, os casos
observados por Wedgwood
(Journal of the S. P.
R., V, pág. 174 e
Proceedings of the S. P.
R., IX, pág. 99-109),
nos quais desempenhou
ativo papel, no sentido
de que ele não
apresentou nunca
manifestações de
automatismo, participou
de sessões de escrita
automática, acompanhado
de uma jovem submetida a
impulsos automáticos.
978. A escrita obtida
nestes casos constituía
a relação de fatos
concernentes a
personagens históricas,
mortas há algum tempo,
mais ou menos célebres,
mas desconhecidos de
Wedgwood e de sua
acompanhante,
especialmente desta, que
pouco lera e possuidora
de parcos conhecimentos
gerais. A única
explicação possível
nestes casos é a de que
Wedgwood, primo e sogro
de Charles Darwin, e ele
mesmo conhecido sábio
que lera muito e era
possuidor de extensos
conhecimentos, podia não
possuir uma lembrança
supraliminar das
personagens históricas,
cujas vidas e episódios
descrevia através da
mão, mas que se tratava
de um afluxo de
recordações
subliminares.
979. Estes casos
apresentam todas as
dificuldades que
apresenta a teoria das
recordações esquecidas.
Ver-se-á como um
autômato de boa fé pode,
através da paciência,
alcançar uma solução
satisfatória da questão,
bastando que nos
propicie, com diversos
companheiros, uma série
de comunicações
suficientemente
extensas, cujo exame nos
permitirá comprovar até
que ponto os fatos que
relatam essas
comunicações foram
vistos e ouvidos, sendo,
a seguir, esquecidos.
980. As comunicações
semelhantes
proporcionadas por
outros autômatos nos
colocam em situação de
tirar uma conclusão
geral, quanto à origem
desses fatos
retrocognitivos, se a
recordação esquecida não
basta para explicar a
todas. O fato mais
importante sobre isto
consiste no relato,
absolutamente verídico,
a meu ver, prolatado por
Stainton Moses em Spirit
Identity, de uma série
de mensagens comunicadas
por compositores de
música, relatando os
principais
acontecimentos da vida
de cada um, de modo
semelhante ao dos
dicionários biográficos.
Se essas mensagens nos
foram propiciadas por
autômatos de duvidosa
probidade ou incapazes
de fornecer a prova de
outras mensagens que não
podiam, de forma alguma,
estar previamente
preparados, não
deveríamos levá-los em
conta. Mas, no caso de
Moses, como no da jovem
das experiências de
Wedgwood, e num grau
mais elevado, possuímos
provas indiscutíveis da
existência de
capacidades subliminares
que podemos considerar
suas biografias musicais
como parte das séries
que nos interessam neste
momento.
981. Sua particular
natureza excitou a
curiosidade de Moses e
de seus amigos que foram
informados por “guias”
que se tratava, de fato,
de mensagens
provenientes dos
Espíritos em questão,
mas que esses Espíritos
reavivaram as
recordações de sua vida
terrestre consultando as
fontes de informação
escritas. Isso equivale
a impossibilitar a prova
que se deseja
proporcionar. Se um
Espírito é capaz de
consultar sua biografia
impressa, outros
Espíritos podem, da
mesma forma, fazê-lo, e
o Espírito encarnado do
autômato, de igual
maneira. Moses
considerava isto, pois
ele próprio contava-me
que a sensação subjetiva
que experimentava ao
escrever as biografias
era diferente da que
nele gerava a
comunicação direta e
real com um Espírito.
982. Desses relatos
históricos relacionados
a fatos longínquos,
passo às mensagens
provenientes de pessoas
recém-falecidas e que
possuem um elemento
pessoal mais ativo. Esse
elemento é constituído
especialmente pela
escrita. E essa prova da
identidade fornecida
pela semelhança de
escritas pode ser
deveras concludente.
Porém, na apreciação
dessa semelhança
devem-se ponderar as
seguintes considerações:
primeiro, a semelhança é
frequentemente
confirmada e reconhecida
após um exame
superficial e
insuficiente.
983. Para não haver
dúvidas sobre isto é
necessário, se não se
quer recorrer a um
perito, examinar
minuciosamente as três
escritas: a escrita
automática do próprio
sujeito, a deste em
estado normal e a da
pessoa de quem se
acredita provenha a
mensagem; isto, nos
casos em que o sujeito
jamais tenha visto a
escrita da pessoa
falecida. Ao contrário,
nos casos em que se
conhece esta escrita,
devemos pensar, em
segundo lugar, que um
sujeito hipnotizado
pode, frequentemente,
imitar qualquer escrita
conhecida com maior
facilidade do que
durante a vigília e que
muitas vezes pode-se
tratar de uma capacidade
mimética do sujeito
subliminar que se
manifesta nas mensagens
sem a intervenção do eu
supraliminar.
984. Citarei alguns
casos, nos quais o
principal intuito
consiste no anúncio de
uma morte, desconhecida
do médium. É o caso
observado pelo Dr.
Liébault (Phantasms of
the Living, I, pág.
293), sobre uma jovem
americana que, passando
uma temporada em Nancy,
toma conhecimento,
através da escrita
automática, da morte de
uma de suas amigas, que
estava na América. Após
colher informações, o
fato foi confirmado. A
amiga morrera, de fato,
no dia em que o anúncio
foi recebido em Nancy.
985. No caso de Aksakof,
uma jovem chamada
Stramon, que vivia em
Wilna, Rússia, recebe,
por meio da escrita
automática, a notícia da
morte de um jovem que
vivia na Suíça e com o
qual ela não desejara
casar-se. Segundo a
mensagem chegada cinco
horas antes do
falecimento, esta fora
ocasionada por uma
congestão. Mas, na
realidade, tratava-se de
um suicídio. Numa carta
que a jovem recebeu três
dias depois, de seu pai,
que naquele momento se
encontrava na Suíça,
dizia-se, também, que a
morte se produzira por
congestão pelo qual o
autor da carta não
poderia saber a causa
exata da morte.
986. Aksakof supõe que a
pessoa morta deve ter
atuado, de um lado,
sobre a Srta. Stramon,
e, do outro, sobre o pai
dela, fazendo com que
recebesse a mensagem
automática e impedindo
que o outro desse em sua
carta o motivo exato da
morte (Proceedings of
the S. P. R., VI, pág.
343-348).
987. O caso de M. W. é
dos mais curiosos (Proceedings
of the S. P. R., VIII,
pág. 242-248). Homem
correto, magistrado,
assiste certo dia a uma
sessão de “mesas
falantes”, onde constata
possuir o dom da escrita
automática.
Imediatamente põe-se a
atuar e, após adquirir a
convicção de realmente
possuir o dom, o exerce
sempre que tem ocasião e
frequentemente com
assombrosos resultados;
obtém, com auxílio da
escrita automática,
informações sobre uma
infinidade de assuntos
que o interessam: o
estado de saúde das
pessoas ausentes, a
morte iminente de
pessoas doentes que os
médicos não acreditavam
estar em perigo,
descrição do exterior e
de circunstâncias de
vida e morte de pessoas
que jamais vira, mas nas
quais outro frequentador
das sessões estava
pensando etc. Vê-se que
algumas dessas mensagens
podem ser explicadas
através da hipótese da
telestesia subliminar,
outros pela telepatia,
com origem no Espírito
de pessoas vivas; outros
ainda, pareciam provir
do Espírito de pessoas
falecidas.
988. O caso que se
segue, publicado por
Aksakof, mostra até que
ponto as pessoas
falecidas podem
continuar ao corrente
das coisas terrestres.
Uma jovem russa, Schura
(diminutivo de
Alexandra), envenenou-se
aos 17 anos, ao perder
seu noivo Michel que,
preso como
revolucionário, foi
morto na prisão. O irmão
de Michel, Nicola,
estava, no momento em
que foi feita esta
observação, estudando no
Instituto Tecnológico.
989. Um dia, a senhora
Von Wiessler e sua filha
(a primeira se ocupava
em práticas espíritas),
que mal conheciam a
família de Michel e
Nicola, e cujas relações
com Schura e sua família
vinham de longa data,
mas que nunca foram
muito íntimas, receberam
através de uma mesa uma
mensagem de Schura
rogando-lhes que
avisassem sem falta a
família de Nicola de que
este corria o mesmo
perigo que custara a
vida do irmão. Tendo em
vista a dúvida das duas
mulheres, Schura
tornou-se cada vez mais
insistente, pronunciando
palavras encolerizadas,
que estava acostumada a
proferir em vida, e para
dar uma prova de sua
identidade,
materializa-se certa
noite, com a cabeça e os
ombros envoltos numa
auréola de luz. Isso,
entretanto, não foi
suficiente para que a
Sra. Von Wiessler e sua
filha tomassem uma
decisão. Finalmente,
Schura comunica-lhes que
tudo estava terminado,
que Nicola será preso e
que elas se arrependerão
de não a obedecer.
990. As duas mulheres
resolvem, então, levar
ao conhecimento da
família de Nicola os
fatos, a que, em virtude
do comportamento
exemplar deste último,
não deram qualquer
atenção. Dois anos se
passaram sem qualquer
incidente, quando, certo
dia, soube-se que Nicola
fora detido por
participar de reuniões
revolucionárias
ocorridas na mesma época
das aparições e
mensagens de Schura (Proceedings
of the S. P. R., VI,
pág. 349-357).
(Continua no próximo
número.)