Colocando a máscara
Em 1890, Olavo Bilac
assim se manifestava em
uma crônica sobre o
Carnaval de então: “Mas,
como enfim a
sem-vergonhice está no
fundo da natureza humana
e como não há lodo que
não goste de aparecer ao
sol, inventou-se o
Carnaval – três dias
libérrimos, setenta e
duas horas descaradas –
em que ficou
estabelecido que todos
os vícios podem andar à
solta, cabriolando na
praça pública, de
garrafa desarrolhada na
mão e perna leve no
pincho do cancã”.
(revista VEJA,
edição 2308, página 98.)
Olavo Bilac ficaria
espantado com o espaço
que ganhou o Carnaval
nos tempos atuais!
Quantas coisas nocivas
foram acrescidas a ele
e, por consequência,
àqueles que assim se
permitem gozar as folias
de Momo pautando pelo
desequilíbrio. Fui atrás
do significado da
palavra “pincho” e
encontrei a explicação
de que se trata de
lançar alguma coisa com
força. E “cancã”
significa uma dança com
movimento rápido de
pernas, característico
dos cabarés da França a
partir de 1830.
Acabado o Carnaval, as
máscaras perante a
sociedade e a própria
consciência foram
colocadas outra vez
pelas pessoas que a
tiraram no início do
período carnavalesco
caracterizado, na versão
delas, pelo “tudo pode”
para afastar o stress
de todo um ano.
Vamos a algumas
considerações sob o
ângulo da Doutrina
Espírita sobre esse
período. Quem quiser se
aprofundar no assunto
leia ou releia os livros
Nas Fronteiras da
Loucura de Manoel
Philomeno de Miranda,
psicografia de Divaldo,
e o livro Sexo e
Obsessão do mesmo
autor e médium,
respectivamente.
Deste último extraímos o
trecho que se segue:
“Torna-se muito difícil
descrever o local e o
ambiente de festiva
degradação com as suas
personagens,
participantes que,
exaltados, formavam a
grande massa deambulante
e movimentada em todos
os lados. A tonalidade
avermelhada da
iluminação, que fazia
recordar os archotes
fumegantes do passado,
colocados em furnas
sombrias para as
clarear, produzia um
aspecto terrificante no
ambiente que
esfervilhava de
Espíritos de ambos os
lados da vida em infrene
orgia de alucinados”.
Permitimo-nos
interromper a
transcrição para chamar
a atenção dos leitores
de que participavam
dessas comemorações,
desencarnados e
encarnados! Divaldo
contou em uma de suas
muitas entrevistas para
a televisão que foi, em
desdobramento, visitar
um local como o que se
seguirá na transcrição,
com o objetivo de
aprendizado e encontrou
entre os encarnados lá
presentes, pessoas que
conhecia quando no
corpo!
Continuemos: “Figuras
estranhas, com aspecto
semelhante aos antigos
seres mitológicos do
panteão greco-romano,
confundiam-se com muitos
outros indivíduos
extravagantes em
complexas simbioses de
vampirismo,
carregando-se uns aos
outros, acompanhando
freneticamente um
desfile de carros
alegóricos, que faziam
recordar os carnavais da
Terra, porém
apresentando formatos de
órgãos sexuais disformes
e chocantes, exibindo
cenas de terrível
horror, espetáculos de
grosseira manifestação
de conúbios sexuais
entre animais e seres
humanos deformados sob o
aplauso descontrolado da
massa desnorteada.
Aquele circo de
hediondez apresentava em
cada momento novos e
agressivos quadros,
enquanto se exibiam
sessões de sexo grupal
ao som de música
estridente e
desconcertante, que mais
açulava os apetites
insaciáveis dos
comensais da loucura. O
antro asqueroso dava-me
a ideia de ser o mundo
inspirador de alguns
espetáculos da Terra,
que ainda não atingiram
aquele nível de vileza,
mas que dele se vêm
aproximando,
especialmente durante a
apresentação de alguns
dos turbulentos e torpes
desfiles de Carnaval”.
A Doutrina Espírita, do
exposto, é contra o
Carnaval? É contrária a
que espíritas se
entreguem à folia de
Momo? E respondemos: a
Doutrina dos Espíritos
nos revela as
consequências de nossas
opções, cabendo a cada
um a palavra final, a
decisão que julgar mais
adequada. Se Deus
proporcionou a cada ser
que chega ao reino da
razão o livre-arbítrio é
para que ele faça uso
dele da maneira como
melhor entender. Dessa
forma, ao permanecermos
livres, nos tornamos
responsáveis pelas
escolhas e pela
colheita. Tanto no bem
como no mal. Como Paulo
já alertava, tudo nos é
lícito, porém, nem tudo
convém que façamos. É a
liberdade com
responsabilidade. É o
semear livre com a
colheita obrigatória.
O carnaval já acabou,
mas as consequências
físicas e espirituais do
que aconteceu nesses
dias agitados que se
foram continuam por
tempo que, às vezes,
demanda mais de uma
existência na carne para
serem solucionadas.
Passadas as
comemorações, muitos
tornam a vestir as
máscaras da realidade
exterior. O ideal virá
quando a nossa vida
pública for exatamente
idêntica à nossa vida
íntima. Quem já consegue
atingir essa plenitude
de vida moral continua
de face limpa, sem
máscara, seja em que
tempo for, seja Carnaval
ou não. E, o que é mais
importante, de
consciência tranquila
sem a necessidade de
máscara nenhuma.
Com máscaras ou sem
máscaras, as Leis nos
vigiam dando a cada um
segundo o próprio mérito
ou demérito em
exercício. No tempo de
Olavo Bilac eram apenas
três dias. E ele já
julgava excessivo. Os
foliões de hoje
ampliaram para cinco!
Outros mais
entusiasmados para sete!
Como seria bom se o
tempo dedicado ao bem
fosse ampliado com
tamanha convicção e
rapidez!