ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 42)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Nos casos de
possessão, como os
Espíritos que a produzem
provam sua identidade?
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Eles provam sua
identidade reproduzindo,
através da palavra ou da
escrita, fatos
pertencentes às suas
recordações, não às do
autômato. Podem também
dar provas de outras
percepções supranormais.
As manifestações desses
Espíritos podem diferir
consideravelmente das da
personalidade normal do
autômato. O Espírito
pode também reproduzir
fatos e nomes
desconhecidos para o
autômato, embora não
possa tratar, por
exemplo, de fórmulas
matemáticas ou de frases
chinesas, se o autômato
desconhece matemática e
chinês.
(A Personalidade Humana.
Capítulo IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
B. É possível, à vista
dos fatos observados,
considerar-se provada a
teoria da possessão?
Segundo Myers, sim. Diz
ele que a teoria da
possessão não está em
desacordo com qualquer
dos fatos provados. Não
se conhece absolutamente
nada que prove a sua
impossibilidade. Mas
isso não é tudo. A
teoria da possessão
proporciona, na
realidade, um poderoso
método de coordenação e
de explicação de alguns
grupos de fenômenos
anteriores, se
concordamos em
explicá-los de um modo
que, a princípio,
pareceu empregar
afirmações exageradas e
que recorria com demasia
ao maravilhoso.
(Obra citada. Capítulo
IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
C. É verdade que o sono
é, de todos os estados
normais, o que mais se
aproxima da possessão?
É o que Myers afirma,
visto que os fatos
observados demonstraram
que frequentemente,
durante o sono comum
aparente, a alma
abandona o corpo e traz
uma recordação mais ou
menos confusa do que viu
durante sua excursão
clarividente. Isso pode
também ocorrer, mas com
a rapidez de um raio,
durante a vigília. Mas o
sono comum parece
favorecer esse fenômeno
de forma particular,
especialmente os estados
de sono espontâneo ou
provocado muito
profundo. Ademais, no
estado comatoso, que
precede a morte ou nessa
“suspensão da
vitalidade” que às vezes
tomamos por morte, a
capacidade em questão
parece suscetível de
alcançar seu mais
elevado grau.
(Obra citada. Capítulo
IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
Texto para leitura
1017. O cérebro que se
encontra parcial e
temporalmente desprovido
de direção, facilita
que, às vezes, um
espírito desencarnado se
apodere dele e assuma,
num grau que varia
segundo os casos, a sua
orientação. Em casos
como o da Sra. Piper,
dois ou mais espíritos
podem dirigir,
simultaneamente,
diferentes porções do
mesmo organismo.
1018. Os espíritos
dirigentes provam sua
identidade reproduzindo,
através da palavra ou da
escrita, fatos
pertencentes às suas
recordações, não às do
autômato. Podem também
dar provas de outras
percepções supranormais.
As manifestações desses
espíritos podem diferir
consideravelmente das da
personalidade normal do
autômato. Mas até um
certo ponto se trata
aqui de um processo de
seleção, antes que de
adição; o espírito
escolhe as partes do
mecanismo cerebral de
que deseja servir-se,
mas não pode pedir a
este mecanismo nada além
daquilo de que seja
capaz de
proporcionar-lhe, em
virtude de sua
organização funcional.
1019. O espírito pode, é
certo, reproduzir fatos
e nomes desconhecidos
para o autômato; mas
esses fatos e nomes
devem ser tais que o
autômato seja capaz de
repeti-los, facilmente,
como se deles tivesse
conhecimento: não pode
tratar, por exemplo, de
fórmulas matemáticas ou
de frases chinesas, se o
autômato desconhece
matemática e chinês.
1020. Ao fim de certo
tempo, o espírito do
autômato readquire seu
lugar e sua atividade.
Ao despertar, o autômato
pode ou não lembrar o
que lhe foi revelado no
mundo espiritual,
durante o êxtase. Em
certos casos
(Swedenborg) existe a
lembrança do mundo
espiritual, sem que
tenha havido apossamento
do organismo por um
espírito exterior. Em
outros casos (Cahagnet)
o autômato expressa
durante o êxtase o que
experimenta, mas não o
recorda uma vez
desperto. Em outros
casos ainda (Sra. Piper)
o que se manifesta com
maior assiduidade não é
o espírito do autômato,
e quando isso acontece,
estas manifestações têm
duração efêmera, pois,
geralmente, o que fala e
escreve é um espírito
dirigente, sem que o
autômato guarde a menor
lembrança do que lhe
ocorreu durante o
êxtase.
1021. Tal doutrina
parece nos levar
diretamente às crenças
da idade da pedra.
Leva-nos às práticas
primitivas dos xamãs e
feiticeiros, a uma
doutrina de relações
espirituais que foi
ecumênica em outras
épocas, mas que em
nossos dias refugiou-se
nos desertos da África e
nos pântanos da Sibéria,
nas planícies nevadas
dos peles-vermelhas e
dos esquimós. Se, como
às vezes acontece,
quiséssemos julgar o
valor das ideias de
acordo com suas origens,
não há conceito cujas
origens tenham sido mais
humildes e que pareça
mais indigno do homem
civilizado.
1022. Felizmente, nossas
discussões anteriores
nos proporcionaram um
critério mais agudo. Ao
invés de perguntar-nos
em que época nasceu esta
ou aquela doutrina, com
a opinião preconcebida
de que a doutrina é
melhor quanto mais
recente seja sua origem,
podemos perguntar-nos,
agora, até que ponto
está concorde ou em
desacordo com essa
enorme massa de provas
recentes que se
relacionam, mais ou
menos, com todas as
crenças que os homens
ocidentais professaram a
respeito do mundo
invisível.
1023. Submetida a essa
prova, a teoria da
possessão dá um
resultado notável. Não
está em desacordo com
qualquer dos fatos
provados. Não conhecemos
absolutamente nada que
prove a sua
impossibilidade. Mas
isso não é tudo. A
teoria da possessão nos
proporciona, na
realidade, um poderoso
método de coordenação e
de explicação de alguns
grupos de fenômenos
anteriores, se
concordamos em
explicá-los de um modo
que, a princípio,
pareceu-nos empregar
afirmações exageradas e
que recorria com demasia
ao maravilhoso.
1024. Mas, no que diz
respeito a esta última
dificuldade, sabemos
também há algum tempo
que não existem
fenômenos psíquicos cuja
explicação seja
realmente simples e que
a melhor maneira de
chegar a uma explicação
desse gênero consiste em
extrair do conjunto um
grupo que só admita uma
explicação inequívoca
para servir-nos dela
como ponto de partida na
apreciação dos problemas
mais complexos.
1025. Acredito também
que o grupo de fenômenos
Moses-Piper só pode ser
explicado de um modo
mais ou menos verdadeiro
pela teoria da
possessão. E parece-me
importante considerar
por que caminhos os
fenômenos anteriores nos
conduziram à possessão e
de que forma os fatos da
possessão, por sua vez,
são suscetíveis de
transformar nossos
critérios concernentes
aos fenômenos
anteriores.
1026. Ao analisar nossas
observações de possessão
descobrimos nelas dois
elementos primordiais: a
operação central, isto
é, a direção exercida
por um espírito sobre o
organismo de um sujeito
sensível e a condição
indispensável que
consiste no abandono
parcial e temporal do
organismo pelo próprio
espírito do sujeito.
1027. Examinemos,
primeiramente, até que
ponto os dados já
adquiridos tornam
concebível essa
separação entre o
espírito e o organismo
humano. E, a seguir, a
desagregação da
personalidade e as
substituições de certas
fases suas por outras de
que tomamos conhecimento
no capítulo II, possuem
enorme importância,
também, do ponto de
vista da possessão.
1028. Vimos
personalidades
secundárias que se
iniciam por
manifestações sensoriais
ou motrizes, ligeiras e
isoladas, adquirir aos
poucos um predomínio
completo assegurando-se
a direção total de todas
as manifestações
supraliminares. A
simples investigação e a
descrição desses
fenômenos foi
considerada, até aqui,
como possuidora de um
certo sabor de audácia.
A ideia de buscar o
mecanismo possível que
preside a essas
transições apenas
nascera.
1029. É evidente, porém,
que deve existir um
complexo conjunto de
leis que condicionam
esses usos alternados
dos centros cerebrais e
que não constituem
provavelmente mais do
que o desenvolvimento
dessas leis físicas
desconhecidas que
presidem à memória
comum. Um caso de
ecmnesia comum pode
apresentar problemas tão
insolúveis como os da
possessão espiritual.
Pode existir na ecmnesia
(1) períodos
de vida totalmente
desaparecidos da memória
e outros que só
desapareceram
temporariamente.
1030. No gênio podemos
observar, em certos
centros cerebrais
importantes, uma
substituição temporária
de uma direção por
outra. Devemos
considerar aqui o eu
subliminar como um
centro particularmente
diverso do eu
supraliminar e o fato de
monopolizar esses
centros cerebrais
destinados a um trabalho
supraliminar já é uma
espécie de possessão. O
gênio mais completo
seria dessa forma a
expressão da
autopossessão mais
completa, da ocupação e
direção do organismo
inteiro por elementos
mais profundos do eu que
atuam em virtude de um
completo conhecimento e
por caminhos mais
seguros.
1031. O sono, que é de
todos os estados normais
o que mais se aproxima à
possessão, fez com que
surgisse, há muito
tempo, a questão cuja
solução implica o
reconhecimento da
possibilidade de êxtase:
que acontece à alma
durante o sono?
1032. Os fatos citados
demonstraram que
frequentemente, durante
o sono comum aparente, a
alma abandona o corpo e
traz uma recordação mais
ou menos confusa do que
viu durante sua excursão
clarividente. Isso pode
também ocorrer, mas com
a rapidez de um raio,
durante a vigília. Mas o
sono comum parece
favorecer esse fenômeno
de forma particular,
especialmente os estados
de sono espontâneo ou
provocado muito
profundo.
1033. No estado
comatoso, que precede a
morte ou nessa
“suspensão da
vitalidade” que às vezes
tomamos por morte, a
capacidade em questão
parece suscetível de
alcançar seu mais
elevado grau.
1034. Falo dos estados
de sono “espontâneo ou
provocado” muito
profundo, e sobre isto o
leitor lembrar-se-á,
naturalmente, muito
sobre o que se falou do
sonambulismo comum e do
sono hipnótico. Este
último cria, com efeito,
situações que,
externamente, resultam
difíceis de distinguir
do que chamaria de
verdadeira possessão.
Uma quase-personalidade,
arbitrariamente criada,
pode ocupar o organismo,
respondendo de certa
forma característica à
palavra ou aos sinais,
até o ponto de fazer
crer, às vezes, que nos
encontramos em presença
de uma personalidade
nova. Por outro lado, o
espírito do sujeito
pretende ter estado
ausente, como se imagina
ausente no sono comum,
mas com maior
persistência e lucidez.
1035. Os sujeitos
afirmam frequentemente
ter visto novamente no
sonho cenas terrestres e
ter comprovado as
mudanças produzidas,
efetivamente, desde que
o sujeito visitou pela
última vez a mesma cena,
durante a vigília. Mas
às vezes une-se a isso
um elemento
aparentemente simbólico,
a cena terrestre
encerrando um elemento
de ação humana
apresentado em forma
sintética, como se algum
espírito se propusesse a
tirar da história
complexa um sentido
especial. Com
frequência, esse
elemento torna-se
completamente dominante;
o sujeito vê figuras
fantasmagóricas ou pode
ver uma representação
simbólica prolongada de
uma entrada no mundo
espiritual.
1036. Essas incursões
psíquicas proporcionam,
em último lugar, as mais
fortes presunções a
favor da existência de
uma nova capacidade
humana, a do êxtase, da
visão à distância não
confinada a esta terra
nem a este mundo
material, mas que
introduz o vidente num
mundo espiritual e em
meios superiores aos
conhecidos neste
planeta. Mas a discussão
relativa ao transporte
será mais adequada
quando citarmos os fatos
e os dados a favor da
possessão.
1037. Ao voltar à
análise da ideia de
possessão, encontramos
seu caráter específico
que é a ocupação por um
elemento espiritual do
organismo adormecido e
parcialmente abandonado.
Aqui nossos estudos
anteriores nos serão de
grande utilidade. Ao
invés de abordar
imediatamente a questão
de saber o que são os
espíritos, o que podem
ou não, a questão da
possibilidade
antecedente de
reentrarem na matéria,
etc., ser-nos-á mais
conveniente começar por
desenvolver a ideia da
telepatia até suas
últimas consequências,
para representar-nos a
telepatia no seu
envolver mais intenso e
centralizado que nos
seja possível e
encontraremos que essas
duas variedades de
telepatia que assim se
nos apresentam conduzem
uma delas à obsessão e a
outra ao êxtase.
1038. Qual é, no momento
presente, nosso exato
conceito de telepatia? A
noção central, aquela de
comunicação independente
dos órgãos dos sentidos,
encontra nesta palavra
uma expressão deveras
adequada. Todavia nada
diz além de que a nossa
real compreensão dos
processos telepáticos
seja mera definição
verbal.
1039. Nosso conceito de
telepatia, por nada
dizer da telestesia,
tinha necessidade de ser
ampliado em cada nova
etapa de nossa
investigação. Esta
última nos revelou
inicialmente certas
transmissões de
pensamentos e de imagens
que se podem explicar
através da transmissão
de vibrações etéreas de
um cérebro para outro.
1040. Mas se é
impossível dizer, num
ponto qualquer de nossa
argumentação, que tais
fenômenos estão
determinados pelas
vibrações do éter, e se
não sabemos até qual
distância do mundo
material chega a
atividade possível
dessas vibrações, não é
menos correto que nossos
fenômenos telepáticos
adquiriram em seguida
uma forma que a
explicação por analogia,
com auxílio de vibrações
do éter, deixava em
grande parte
inexplicável.
1041. É que a simples
transmissão de ideias e
imagens isoladas
termina, mediante uma
progressão contínua, em
impressões e impulsos
muito mais persistentes
e complexos. Finalmente,
encontramo-nos na
presença de uma
influência que já não é
o simples efeito de
vibrações etéreas, senão
que sugere a ideia de
uma presença inteligente
e de uma analogia
arrancada às
comunicações humanas
entre pessoas próximas
fisicamente.
1042. As visões e
audições desse gênero,
interiores ou
exteriorizadas,
inspiram, com
frequência, a ideia de
um contato espiritual
mais íntimo que o
permitido pelas
comunicações terrestres.
Não se pode atribuir a
causa disto às
ondulações do éter, sem
explicar pelo mesmo
mecanismo as emoções que
experimentamos uns
diante dos outros ou
inclusive o poder de
controle que possuímos
sobre nosso próprio
organismo.
1043. Isso não é tudo.
Existe, como tentei
demonstrar, uma
progressão de avanço que
vai das
intercomunicações
telepáticas de pessoas
vivas às comunicações
entre pessoas vivas e
espíritos desencarnados.
E esta nova tese, de
importância vital sob
todos os aspectos,
resolvendo praticamente
um dos problemas de que
me ocupo, abre também
uma possibilidade de
determinação de outro
problema que ainda não
fora atingido.
1044. Inicialmente,
podemos ter agora a
certeza de que as
comunicações telepáticas
não são necessariamente
propagadas pelas
vibrações procedentes de
um cérebro material
comum, porque os
espíritos desencarnados
não possuem cérebro
capaz de gerar vibrações
desse gênero; isto no
tocante ao modo de
atividade do agente.
1045. No que concerne ao
do sujeito temos, para
maior clareza, que
deixar de lado todos os
casos em que a impressão
telepática tomou uma
forma exteriorizada e
levar somente em conta
as impressões
intelectuais e os
automatismos motores.
Esses automatismos e
essas impressões podem
passar por todos os
graus de centralidade
aparente.
1046. Quando um homem
desperto e em plena
posse de si sente um
impulso para que a sua
mão escreva palavras
sobre o papel, sem ter
consciência de um
esforço motor pessoal, o
impulso não lhe parece
de origem central,
embora uma porção de seu
cérebro possa contribuir
para esse esforço.
Outrossim, uma invasão
menos pronunciada é
frequentemente
suscetível de revestir
um caráter central mais
marcante, como por
exemplo no
pressentimento de um mal
que se exprime através
de um abatimento íntimo.
1047. O automatismo
motor pode finalmente
atingir um ponto em que
se converte em
possessão, isto é, em
que a consciência
pessoal do homem
desapareceu
completamente, e cada
parte de seu corpo é
utilizada pelo espírito
ou os espíritos
invasores.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Ecmnesia ou ecmnésia:
distúrbio de memória no
qual o indivíduo esquece
de quanto se passou a
partir de determinada
época, mas se recorda de
fatos anteriores a essa
época. |