E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
2)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que sentimento
Evelina e Ernesto
nutriam acerca da morte?
Ernesto disse não
temê-la tanto. Evelina
admitiu que não a
desejava, e confessou,
ante a enfermidade,
estar vivendo mais
cuidadosa e harmonizada
com os deveres
religiosos.
(E a Vida Continua, cap.
2, pp. 20 a 22.)
B. Um fato perturbava a
jovem Evelina. Que fato
é esse?
Quando solteira, uma
tragédia a acometeu: um
homem, um rapaz digno,
que fora seu namorado,
aniquilou-se por sua
causa, seis meses antes
do seu casamento.
Precedendo o ato que lhe
impôs a morte, tentou o
suicídio ao ver-se posto
à margem. Ela buscou
reaproximar-se, ao menos
para consolá-lo, e,
quando seu sentimento
balançava entre o pobre
moço e o homem que
desposou, eis que o
rapaz se suicidou com um
tiro no coração... Desde
aí, qualquer felicidade
era para ela uma luz
misturada de sombra.
(Obra citada, cap. 3,
pp. 23 e 24.)
C. É certo afirmar que
as ideias e as palavras
são filhas das
circunstâncias?
Quem disse tais palavras
foi Ernesto Fantini. Ele
quis com isso explicar
que sua preocupação com
a morte e a continuidade
da vida era consequência
da precariedade do seu
estado orgânico. Disse
ele a Evelina: “Imagine
se nos víssemos hoje em
plenitude da força
física, robustos e bem
apessoados, num encontro
social, num baile por
exemplo... Qualquer
conceito, em torno dos
assuntos que nos
aproximam agora um do
outro, seria
imediatamente banido de
nossas cogitações".
(Obra citada, cap. 3,
pp. 25 e 26.)
Texto para leitura
5. Nossa conduta
durante o sono varia
bastante -
Evelina riu-se, embora
mantivesse o respeito ao
seu interlocutor, e
indagou o que
aconteceria a esse trio
– corpo físico, espírito
e corpo espiritual –
durante o sono. Ernesto
de pronto respondeu-lhe
informando que no sono
físico há descanso para
os três elementos,
descanso esse que varia
de pessoa para pessoa.
"Quando dormimos –
esclareceu –, o veículo
pesado ou corpo carnal
repousa sempre, mas o
comportamento do
espírito difere
infinitamente. Por
exemplo, depois de
copioso repasto para o
condutor e o cavalo, é
justo se imobilizem
ambos na inércia, tanto
quanto o carro que
carregam; entretanto, se
o boleeiro se
caracteriza por hábitos
de estudo e serviço,
quando o veículo se
detém na oficina para
reajuste ou
restabelecimento, ei-lo
que utiliza o animal
para excursões
educativas ou tarefas
nobilitantes." Evelina,
que estampava no
semblante sua
incredulidade,
informou-o de que nada
conhecia de
espiritualismo. Ela
professava a religião
católica, embora sem
fanatismo. Ernesto
confessou-lhe estar
lendo as obras
espiritualistas por
necessidade. Afinal de
contas, encontrava-se às
portas de uma cirurgia
que lhe poderia ser
fatal. Evelina entendeu,
então, que ele estudava
o espiritualismo à
maneira do viajante que
aspira a conhecer a
língua, os costumes e as
modas do país
estrangeiro que tenciona
visitar, com o que
Ernesto concordou: "Não
nego. Tenho tido mais
tempo ao meu dispor e
desse tempo faço hoje os
investimentos que posso,
nos domínios de tudo o
que se relacione com as
ciências da alma,
principalmente com
aquilo que se refira à
sobrevivência e à
comunicação com os
Espíritos, supostos
habitantes de outras
esferas". A jovem mulher
perguntou se ele já
havia encontrado a prova
de semelhante
intercâmbio, se
conseguira mensagens
diretas com algum de
seus mortos queridos.
"Ainda não",
respondeu-lhe o amigo,
mas isso não o
desencorajava. (Cap. 2,
pp. 18 e 19)
6. A
doença muda o rumo de
nossas preocupações
- Ernesto Fantini
explicou-lhe que, embora
não tivesse encontrado
provas diretas do
intercâmbio com os
Espíritos, não lhe era
possível descrer do
critério dos sábios e
das pessoas de elevado
caráter que as tiveram.
A verdade é que ele não
conseguia agora
furtar-se à sede de
estudo. "Antes da
moléstia – contou ele –,
reconhecia-me seguro da
vida. Comandava os
acontecimentos, nem
sabia, ao menos, da
existência desse ou
daquele órgão no meu
corpo. Entretanto, um
tumor na suprarrenal não
é uma pedra no sapato.
Tem qualquer coisa de um
fantasma anunciando
contratempos e
obrigando-me a pensar,
raciocinar,
discernir..." A
conversação entre ambos
passou, então, a girar
em torno da morte.
Ernesto disse não
temê-la tanto. Evelina
admitiu que não a
desejava, e confessou,
ante a enfermidade,
estar vivendo mais
cuidadosa e harmonizada
com os deveres
religiosos. A
conversação prosseguiu
franca e respeitosa, e
parecia selar uma
amizade profunda entre
os dois. "Onde vira
antes aquela jovem
senhora que a beleza e o
raciocínio tanto
favoreciam?", pensava
Ernesto, atordoado. "Em
que lugar teria
encontrado alguma vez
aquele cavalheiro maduro
e inteligente que tão
bem conjugava simpatia e
compreensão?", refletia
Evelina, incapaz de
esconder o agradável
assombro que a dominava.
(Cap. 2, pp. 20 a 22)
7. Uma vida de
amargura e decepções
- Percebendo a comoção
estampada no olhar de
Evelina, Ernesto
procurou tranquilizá-la:
"Continuemos, Dona
Evelina. Minha presença
não lhe fará mal.
Observe-me, não direi
com a sua gentileza, mas
sim com o seu
discernimento. Sou um
velho enfermo que pode
ser seu pai e acredite
que a vejo como filha...
a filha que estimaria
possuir, em lugar da que
tenho". Evelina,
reajustando a posição
emotiva, tornou ao
assunto anterior,
quando, ao dizer-se
católica, admitiu sua
crença no valor da
confissão feita a um
sacerdote capaz de
entender e ajudar o
semelhante. "Conversando
com tanta franqueza, num
lugar que talvez seja a
antecâmara da morte para
um de nós dois –
prosseguiu a jovem
senhora –, desejo
dizer-lhe que só um fato
me perturba. Tenho as
desilusões comuns a
qualquer pessoa. Meu pai
morreu, quando eu mal
completara dois anos;
minha mãe, então viúva,
deu-me um padrasto,
algum tempo depois;
ainda na infância, fui
internada num colégio de
religiosas amigas e,
depois disso tudo,
casei-me para ter um
marido diferente daquele
que eu sonhava... No
meio do romance, uma
tragédia... Um homem, um
rapaz digno,
aniquilou-se por minha
causa, seis meses antes
do meu casamento.
Precedendo o ato que lhe
impôs a morte, tentou o
suicídio ao ver-se posto
à margem. Compadeci-me.
Busquei reaproximar-me,
ao menos para
consolá-lo, e, quando
meu sentimento balançava
entre o pobre moço e o
homem que desposei,
ei-lo que se despede da
vida com um tiro no
coração... Desde aí,
qualquer felicidade para
mim é uma luz misturada
de sombra. Embora o
imenso amor que consagro
a meu marido, nem mesmo
a condição de mãe
consegui. Vivo doente,
frustrada, abatida..."
Ernesto ouviu tal relato
e, buscando animá-la,
considerou: "Ora, ora!
não se julgue culpada.
Não fosse supostamente
por si e o moço agiria
de igual modo por outro
móvel. O impulso
suicida, tanto quanto o
impulso criminoso... são
incógnitas da alma".
"Talvez sejam ápices de
doenças psíquicas,
demoradamente mantidas
no espírito. O suicídio
e o crime são de temer
em qualquer de nós,
porque são atos de
delírio, que fundos
processos de corrosão
mental determinam em
qualquer um.” Evelina
entendeu que Ernesto
queria, com tais
palavras, tão-somente
apaziguá-la. E
perguntou-lhe se ele já
tivera, algum dia, um
problema assim tão agudo
a conturbar-lhe a
consciência. Ernesto
ficou desconcertado com
a pergunta e pediu-lhe
não o fizesse voltar ao
passado, porque havia,
sim, cometido muitos
erros e sofrido muitos
enganos... (Cap. 3, pp.
23 e 24)
8. As ideias são
filhas das
circunstâncias -
Intentando dar novo
curso à conversa,
Ernesto sorriu e
perguntou-lhe: "Não
conseguiu, porventura,
esquecer o moço suicida,
com apoio no
confessionário? O seu
diretor espiritual não
lhe sossegou o coração
sensível e afetuoso?"
Evelina disse que não.
No caso em apreço não
conseguira a paz que
desejava. Pensava que,
se não houvesse
hesitado, tanto tempo,
entre os dois rapazes,
teria evitado o
desastre, e bastava
lembrar-se de Túlio, o
infeliz, para que o
quadro de sua morte se
reavivasse na lembrança
e, com esta, surgia
imediatamente o
complexo de culpa...
Ernesto confortou-a
lembrando que, tal como
acontece à mão que, a
pouco e pouco, se caleja
no trabalho, a
sensibilidade também se
enrijece com o
sofrimento na vida.
Evelina indagou-lhe: "O
senhor, que vem
estudando as ciências da
alma, acredita piamente
que reencontraremos as
pessoas queridas, depois
da morte?" Ernesto
Fantini contemplou-a
longamente e respondeu:
"Não sei porque, mas, à
frente de sua
inquirição, veio-me à
cabeça aquele pensamento
do velho Shakespeare:`Os
infelizes não possuem
outro medicamento que
não seja a esperança'.
Tenho boas razões para
crer que nos reveremos
uns aos outros, quando
não mais estivermos
neste mundo; todavia,
compreendo que a
precariedade do meu
estado orgânico é o
agente fixador de
semelhante convicção. A
senhora já notou que as
ideias e as palavras são
filhas das
circunstâncias? Imagine
se nos víssemos hoje em
plenitude da força
física, robustos e bem
apessoados, num encontro
social, num baile por
exemplo... Qualquer
conceito, em torno dos
assuntos que nos
aproximam agora um do
outro, seria
imediatamente banido de
nossas cogitações". "A
moléstia aflitiva nos dá
direito de entretecer
novos recursos e novas
interpretações, ao redor
da vida e da morte, e,
na esfera das novas
conclusões que temos à
frente, admito que a
existência não acaba no
túmulo. Estamos
intimados a recordar
aquela antiga ilação das
novelas de amor: `o
romance termina, mas a
vida continua...' O
envoltório de carne
tombará consumido;
todavia, o Espírito
seguirá adiante, sempre
adiante..." Feitas essas
considerações, Ernesto
concluiu: "A senhora não
pode e nem deve perder a
confiança no porvir.
Lembre-se de que é,
sobretudo, cristã,
discípula de um Mestre
que ressurgiu da campa,
ao terceiro dia, depois
da morte". (Cap. 3, pp.
25 e 26)
(Continua na próxima
semana.)