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Estudando a série André Luiz
Ano 7 - N° 317 - 23 de Junho de 2013
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

E a Vida Continua...

André Luiz

(Parte 2)

Continuamos nesta edição o estudo da obra E a Vida Continua, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1968 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares 

A. Que sentimento Evelina e Ernesto nutriam acerca da morte?

Ernesto disse não temê-la tanto. Evelina admitiu que não a desejava, e confessou, ante a enfermidade, estar vivendo mais cui­dadosa e harmonizada com os deveres religiosos. (E a Vida Continua, cap. 2, pp. 20 a 22.)

B. Um fato perturbava a jovem Evelina. Que fato é esse?

Quando solteira, uma tragédia a acometeu: um homem, um rapaz digno, que fora seu namorado, aniquilou-se por sua causa, seis meses antes do seu casamento. Precedendo o ato que lhe impôs a morte, tentou o suicídio ao ver-se posto à margem. Ela buscou reaproximar-se, ao menos para consolá-lo, e, quando seu sentimento balançava entre o pobre moço e o homem que desposou, eis que o rapaz se suicidou com um tiro no coração... Desde aí, qualquer felicidade era para ela uma luz misturada de som­bra. (Obra citada, cap. 3, pp. 23 e 24.) 

C. É certo afirmar que as ideias e as palavras são filhas das circunstâncias?

Quem disse tais palavras foi Ernesto Fantini. Ele quis com isso explicar que sua preocupação com a morte e a continuidade da vida era consequência da precariedade do seu estado orgânico. Disse ele a Evelina: “Imagine se nos víssemos hoje em plenitude da força física, robustos e bem apessoados, num encontro social, num baile por exemplo... Qualquer conceito, em torno dos assuntos que nos aproximam agora um do outro, seria imediatamente banido de nossas cogitações". (Obra citada, cap. 3, pp. 25 e 26.) 

Texto para leitura 

5. Nossa conduta durante o sono varia bastante - Evelina riu-se, em­bora mantivesse o respeito ao seu interlocutor, e indagou o que acontece­ria a esse trio – corpo físico, espírito e corpo espiritual – durante o sono. Ernesto de pronto respondeu-lhe informando que no sono físico há descanso para os três elementos, descanso esse que varia de pessoa para pessoa. "Quando dormimos – esclareceu –, o veículo pesado ou corpo car­nal repousa sempre, mas o comportamento do espírito difere infinitamente. Por exemplo, depois de copioso repasto para o condutor e o cavalo, é justo se imobilizem ambos na inércia, tanto quanto o carro que carregam; entretanto, se o boleeiro se caracteriza por hábitos de estudo e serviço, quando o veículo se detém na oficina para reajuste ou restabelecimento, ei-lo que utiliza o animal para excursões educativas ou tarefas nobili­tantes." Evelina, que estampava no semblante sua incredulidade, informou-o de que nada conhecia de espiritualismo. Ela professava a religião cató­lica, embora sem fanatismo. Ernesto confessou-lhe estar lendo as obras espiritualistas por necessidade. Afinal de contas, encontrava-se às por­tas de uma cirurgia que lhe poderia ser fatal. Evelina entendeu, então, que ele estudava o espiritualismo à maneira do viajante que aspira a co­nhecer a língua, os costumes e as modas do país estrangeiro que tenciona visitar, com o que Ernesto concordou: "Não nego. Tenho tido mais tempo ao meu dispor e desse tempo faço hoje os investimentos que posso, nos domí­nios de tudo o que se relacione com as ciências da alma, principalmente com aquilo que se refira à sobrevivência e à comunicação com os Espíri­tos, supostos habitantes de outras esferas". A jovem mulher perguntou se ele já havia encontrado a prova de semelhante intercâmbio, se conseguira mensagens diretas com algum de seus mortos queridos. "Ainda não", respon­deu-lhe o amigo, mas isso não o desencorajava. (Cap. 2, pp. 18 e 19) 

6. A doença muda o rumo de nossas preocupações - Ernesto Fantini explicou-lhe que, embora não tivesse encontrado provas diretas do intercâm­bio com os Espíritos, não lhe era possível descrer do critério dos sábios e das pessoas de elevado caráter que as tiveram. A verdade é que ele não conseguia agora furtar-se à sede de estudo. "Antes da moléstia – contou ele –, reconhecia-me seguro da vida. Comandava os acontecimentos, nem sabia, ao menos, da existência desse ou daquele órgão no meu corpo. En­tretanto, um tumor na suprarrenal não é uma pedra no sapato. Tem qualquer coisa de um fantasma anunciando contratempos e obrigando-me a pensar, ra­ciocinar, discernir..." A conversação entre ambos passou, então, a girar em torno da morte. Ernesto disse não temê-la tanto. Evelina admitiu que não a desejava, e confessou, ante a enfermidade, estar vivendo mais cui­dadosa e harmonizada com os deveres religiosos. A conversação prosseguiu franca e respeitosa, e parecia selar uma amizade profunda entre os dois. "Onde vira antes aquela jovem senhora que a beleza e o raciocínio tanto favoreciam?", pensava Ernesto, atordoado. "Em que lugar teria encontrado alguma vez aquele cavalheiro maduro e inteligente que tão bem conjugava simpatia e compreensão?", refletia Evelina, incapaz de esconder o agradá­vel assombro que a dominava. (Cap. 2, pp. 20 a 22) 

7. Uma vida de amargura e decepções - Percebendo a comoção estampada no olhar de Evelina, Ernesto procurou tranquilizá-la: "Continuemos, Dona Evelina. Minha presença não lhe fará mal. Observe-me, não direi com a sua gentileza, mas sim com o seu discernimento. Sou um velho enfermo que pode ser seu pai e acredite que a vejo como filha... a filha que estimaria possuir, em lugar da que tenho". Evelina, reajustando a posição emotiva, tornou ao assunto anterior, quando, ao dizer-se cató­lica, admitiu sua crença no valor da confissão feita a um sacerdote capaz de entender e ajudar o semelhante. "Conversando com tanta franqueza, num lugar que tal­vez seja a antecâmara da morte para um de nós dois – pros­seguiu a jovem senhora –, desejo dizer-lhe que só um fato me perturba. Tenho as desilusões comuns a qualquer pessoa. Meu pai morreu, quando eu mal completara dois anos; minha mãe, então viúva, deu-me um padrasto, al­gum tempo de­pois; ainda na infância, fui internada num colégio de reli­giosas amigas e, depois disso tudo, casei-me para ter um marido diferente daquele que eu sonhava... No meio do romance, uma tragédia... Um homem, um rapaz digno, aniquilou-se por minha causa, seis meses antes do meu ca­samento. Precedendo o ato que lhe impôs a morte, tentou o suicídio ao ver-se posto à margem. Compadeci-me. Busquei reaproximar-me, ao menos para consolá-lo, e, quando meu sentimento balançava entre o pobre moço e o homem que des­posei, ei-lo que se despede da vida com um tiro no coração... Desde aí, qualquer felicidade para mim é uma luz misturada de som­bra. Embora o imenso amor que consagro a meu marido, nem mesmo a condição de mãe conse­gui. Vivo doente, frustrada, abatida..." Ernesto ouviu tal relato e, bus­cando animá-la, considerou: "Ora, ora! não se julgue cul­pada. Não fosse supostamente por si e o moço agiria de igual modo por ou­tro móvel. O im­pulso suicida, tanto quanto o impulso criminoso... são in­cógnitas da alma". "Talvez sejam ápices de doenças psíquicas, demorada­mente mantidas no espírito. O suicídio e o crime são de temer em qualquer de nós, porque são atos de delírio,  que fundos processos de corrosão men­tal determinam em qualquer um.” Evelina entendeu que Ernesto queria, com tais palavras, tão-somente apaziguá-la. E perguntou-lhe se ele já tivera, algum dia, um problema assim tão agudo a conturbar-lhe a consciência. Er­nesto ficou desconcertado com a pergunta e pediu-lhe não o fizesse voltar ao passado, porque havia, sim, cometido muitos erros e sofrido muitos en­ganos... (Cap. 3, pp. 23 e 24) 

8. As ideias são filhas das circunstâncias - Intentando dar novo curso à conversa, Ernesto sorriu e perguntou-lhe: "Não conseguiu, porven­tura, esquecer o moço suicida, com apoio no confessionário? O seu diretor espiritual não lhe sossegou o coração sensível e afetuoso?" Evelina disse que não. No caso em apreço não conseguira a paz que desejava. Pensava que, se não houvesse hesitado, tanto tempo, entre os dois rapazes, teria evitado o desastre, e bastava lembrar-se de Túlio, o infeliz, para que o quadro de sua morte se reavivasse na lembrança e, com esta, surgia ime­diatamente o complexo de culpa... Ernesto confortou-a lembrando que, tal como acontece à mão que, a pouco e pouco, se caleja no trabalho, a sensi­bilidade também se enrijece com o sofrimento na vida. Evelina indagou-lhe: "O senhor, que vem estudando as ciências da alma, acredita piamente que reencontraremos as pessoas queridas, depois da morte?" Ernesto Fan­tini contemplou-a longamente e respondeu: "Não sei porque, mas, à frente de sua inquirição, veio-me à cabeça aquele pensamento do velho Shakespeare:`Os infelizes não possuem outro medicamento que não seja a espe­rança'. Tenho boas razões para crer que nos reveremos uns aos outros, quando não mais estivermos neste mundo; todavia, compreendo que a preca­riedade do meu estado orgânico é o agente fixador de semelhante convicção. A senhora já notou que as ideias e as palavras são filhas das cir­cunstâncias? Imagine se nos víssemos hoje em plenitude da força física, robustos e bem apessoados, num encontro social, num baile por exemplo... Qualquer conceito, em torno dos assuntos que nos aproximam agora um do outro, seria imediatamente banido de nossas cogitações". "A moléstia aflitiva nos dá direito de entretecer novos recursos e novas interpretações, ao redor da vida e da morte, e, na esfera das novas conclusões que temos à frente, admito que a existência não acaba no túmulo. Estamos intimados a recordar aquela antiga ilação das novelas de amor: `o romance termina, mas a vida continua...' O envoltório de carne tombará consumido; todavia, o Espírito seguirá adiante, sempre adiante..." Feitas essas considerações, Ernesto concluiu: "A senhora não pode e nem deve perder a confiança no porvir. Lembre-se de que é, sobretudo, cristã, discípula de um Mestre que ressurgiu da campa, ao terceiro dia, depois da morte". (Cap. 3, pp. 25 e 26) (Continua na próxima semana.)



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita