Bodas de Caná:
o
primeiro sinal
Esse é o título da
passagem em que João
narra o primeiro milagre
de Jesus. Apesar de
termos refletido muito
sobre ela, ainda não
tínhamos nenhuma
explicação que
justificasse a atitude
de Jesus em transformar
água em vinho, para
embebedar os convidados
da festa de que
participava.
Vejamos o episódio:
“No
terceiro dia, houve uma
festa de casamento em
Caná da Galileia, e a
mãe de Jesus estava aí.
Jesus também tinha sido
convidado para essa
festa de casamento,
junto com seus
discípulos.
Faltou vinho e a mãe de
Jesus lhe disse: - Eles
não têm mais vinho!
Jesus respondeu: -
Mulher, que existe entre
nós? Minha hora ainda
não chegou.
A mãe de Jesus disse aos
que estavam servindo: -
Façam o que ele mandar.
Havia aí seis potes de
pedra de uns cem litros
cada um, que serviam
para os ritos de
purificação dos judeus.
Jesus disse aos que
serviam: - Encham de
água esses potes.
Eles encheram os potes
até a boca.
Depois Jesus disse: -
Agora tirem e levem ao
mestre-sala.
Então, levaram ao
mestre-sala. Este provou
a água transformada em
vinho, sem saber de onde
vinha. Os que serviam
estavam sabendo, pois
foram eles que tiraram a
água. Então o
mestre-sala chamou o
noivo e disse:
- Todos servem primeiro
o vinho bom e, quando os
convidados estão
bêbados, servem o pior.
Você, porém, guardou o
vinho bom até agora.
Foi assim, em Caná da
Galileia, que Jesus
começou seus sinais. Ele
manifestou a sua glória,
e seus discípulos
acreditaram nele.
Depois disso, Jesus
desceu para Cafarnaum
com sua mãe, seus irmãos
e seus discípulos. E aí
ficaram apenas alguns
dias”.
(Jo 2,1-12).
Ao lermos essa passagem,
podemos pensar que Jesus
tenha faltado com
respeito à sua mãe
quando diz: “Mulher,
que existe entre nós?
Minha hora ainda não
chegou”. Hoje, se
usássemos a expressão
“mulher”, talvez
pensássemos ser mesmo um
desprezo, entretanto,
naquela época
correspondia à palavra
“senhora”, com que,
atualmente, tratamos com
respeito as mulheres.
Jesus não estava negando
qualquer relação entre
Ele e sua mãe. A
explicação que
encontramos foi que o
sentido seria “em si,
nós nada temos a ver com
esta falta de vinho.
Minha hora de fazer
milagres ainda não
chegou. Contudo, a teu
pedido, antecipo esta
hora” (Bíblia Sagrada
Ave Maria, p. 1385).
Mas qual é o verdadeiro
sentido dessa passagem?
Nós o vamos encontrar no
que a pessoa encarregada
da festa disse para o
noivo: Todos servem
primeiro o vinho bom e,
quando os convidados
estão bêbados, servem o
pior. Você, porém,
guardou o vinho bom até
agora.
Considerando que, com
esse primeiro ato
público, Jesus inicia a
sua missão, podemos
dizer que o “vinho bom
guardado até agora” são
os ensinamentos de
Jesus, superiores aos
recebidos anteriormente,
por meio de Moisés que
seria simbolicamente o
vinho de pior qualidade.
Até mesmo porque, e sem
querer desmerecê-los, a
humanidade daquela época
não estava preparada
para receber vinho de
melhor qualidade, se
assim podemos nos
expressar.
O que podemos confirmar
com o que, por várias
vezes, foi dito por
Jesus: “aprendeste o
que foi dito, eu porém
vos digo”,
deixando-nos bem claro
que os ensinamentos
anteriores não eram,
daquele momento em
diante, suficientes para
“encher” o coração dos
homens da verdade do
Pai. Fatos que nos levam
à conclusão de que Jesus
veio trazer coisas
novas. Os fariseus
ficavam inconformados
por Jesus não seguir as
prescrições da Lei
Mosaica, ao que
obtiveram como resposta:
“Não se coloca
remendo de pano novo em
pano velho, nem vinho
novo em odres velhos”
(Mt 9,16-27).
Podemos ainda trazer
como apoio a isso:
“Em comparação com esta
imensa glória, o
esplendor do ministério
da antiga aliança já não
é mais nada” (2Cor
3,10), e “Dessa
maneira é que se dá a
ab-rogação do
regulamento anterior em
virtude de sua fraqueza
e inutilidade – a Lei,
na verdade, nada levou à
perfeição – e foi
introduzida uma
esperança melhor pela
qual nos aproximamos de
Deus” (Hb 7,18-19).
Assim, não temos dúvida
alguma quanto à
superioridade dos
ensinamentos de Jesus,
principalmente se
entendermos o sentido
dessa passagem como o
que estamos propondo.
Referência
bibliográfica:
Bíblia Sagrada, São
Paulo, Ave Maria, 1968.