A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 45)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Uma característica
apresentam as mensagens
automáticas recebidas
por Stainton Moses. Qual
é essa característica?
Primeiro, essas
mensagens automáticas
foram quase que
totalmente escritas pela
mão de Moses em estado
normal de vigília. Pondo
de lado duas únicas
exceções, os escritos
apresentam, na maioria
dos casos, a forma de um
diálogo, no qual Moses
faz as perguntas com sua
letra redonda e grande e
escreve as respostas com
a mesma pena, mas com
uma letra que varia de
um caso para o outro e
difere da sua própria
escrita.
(A Personalidade Humana.
Capítulo IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
B. O caso Blanche
Abercrombie é mencionado
com destaque nesta obra.
De que trata esse caso?
Blanche morreu numa
tarde de domingo, numa
casa de campo situada a
200 milhas de Londres. A
notícia de seu
falecimento foi
telegrafada
imediatamente a Londres
e apareceu no Times na
segunda-feira seguinte.
Excetuando-se a imprensa
e familiares mais
próximos, ninguém estava
a par dessa notícia no
domingo à noite.
Contudo, naquela mesma
noite, por volta de
meia-noite, uma
comunicação chegou a
Moses na sua isolada
casa, ao norte de
Londres. A mensagem foi
atribuída a Blanche,
cuja identidade foi
confirmada, dias depois,
por algumas linhas que
se supôs procedessem
diretamente dela e
escritas com a sua
letra. (Obra
citada. Capítulo IX –
Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
C. Duas importantes
diferenças separam o
caso de Moses do da Sra.
Piper. Que diferenças
são essas?
Primeiro, as
manifestações
supranormais por
intermédio da Sra. Piper
não estão acompanhadas
de qualquer fenômeno de
telecinesia; segundo,
seu eu supraliminar não
apresenta o menor
vestígio de uma
capacidade supranormal
qualquer. Ela dá um
exemplo de automatismo
extremo, onde a
possessão não é só local
ou parcial, senão que
afeta, por assim dizer,
toda a região psíquica
onde o eu supraliminar
se encontra,
momentaneamente,
submerso de uma forma
completa e onde toda a
personalidade sofre
intermitentes
modificações. Em outros
termos, entra num estado
em que os órgãos da
palavra e da escrita são
guiados por outras
personalidades que não a
sua personalidade normal
desperta.
(Obra citada. Capítulo
IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
Texto para leitura
1097. Examinarei
rapidamente a natureza
das provas que tendem a
mostrar que os espíritos
invocados eram realmente
o que pareciam ser,
julgando, ao menos,
pelos cadernos onde se
encontravam copiadas as
escritas automáticas de
Moses. O conteúdo desses
cadernos constitui-se de
mensagens cuja
finalidade é provar a
identidade dos
espíritos, de discussões
e explicações de
fenômenos físicos e
parábolas religiosas e
morais.
1098. Essas mensagens
automáticas foram quase
que totalmente escritas
pela mão de Moses, em
estado normal de
vigília. As exceções
referem-se a dois
pontos:
a) existe uma passagem
longa que Moses
acreditava ter escrito
durante o êxtase;
b) existem, às vezes,
algumas palavras numa
escrita que se poderia
chamar “direta”, isto é,
grafadas por mãos
invisíveis, na presença
de Moses e descritas
diversas vezes, nas atas
das sessões, às quais
assistiram outras
pessoas.
1099. Pondo de lado
estas duas exceções,
achamos que os escritos
apresentam, na maioria
dos casos, a forma de um
diálogo, no qual Moses
faz as perguntas com sua
letra redonda e grande e
escreve as respostas com
a mesma pena, mas com
uma letra que varia de
um caso para o outro e
difere da sua própria
escrita.
1100. Ninguém se
atreverá a duvidar de
que Moses escreveu estas
mensagens com a
convicção sincera de que
emanavam das pessoas que
as assinavam. Todavia, a
dúvida é saber se
emanavam realmente das
pessoas invocadas. Tendo
em vista as condições
pelas quais se fizeram
essas comunicações, não
revelam uma capacidade
dirigente e não ensinam
qualquer verdade
realmente nova,
admitindo-se que essas
manifestações são,
hipoteticamente,
limitadas, não pelos
conhecimentos
anteriores, mas pelas
capacidades anteriores
do sujeito.
1101. E se estas
proporcionam fatores dos
quais o sujeito-médium
não tem conhecimento
consciente, mas que
apresentam um caráter
acabado, pode-se supor
que esses dados foram
adquiridos
subliminarmente pelo
médium, como resultado
de um olhar inconsciente
lançado sobre uma página
impressa, ou inclusive
que foram apreendidos
por clarividência, sem a
intervenção de outro
espírito que o do
médium, ainda que
funcionando de uma
maneira supranormal.
1102. Esta hipótese não
é nem fantástica, nem de
natureza a pôr em dúvida
a probidade de Moses,
porque ele próprio
confiou-me que, no seu
relacionamento com os
espíritos temporalmente
distantes, não
experimentava a mesma
sensação que ao
conversar com espíritos
mais próximos. Nem
repudiava qualquer ideia
de memória subconsciente
e afirmava que jamais
pudera ver ou ler com
antecedência a maioria
daquilo que escrevera
automaticamente. E isto
pode ser verdadeiro, uma
vez que seus
conhecimentos de
literatura e de história
não iam além dos de um
professor de escola
primária. E além do
mais, entre todas as
comunicações históricas
que lhe foram feitas não
existe uma sequer que
não se encontre em
fontes impressas,
acessíveis a todos.
1103. As provas de
identidade
proporcionadas por Moses
nos casos referentes aos
espíritos de pessoas
mortas recentemente
parecem mais
satisfatórias. Mas,
também neste ponto é
difícil estabelecer se
os fatos que afirma não
fazem parte dos
conhecimentos
subliminares do
autômato. Dá, às vezes,
a impressão de que esses
fatos puderam ser
retidos percorrendo
maquinalmente o
necrológio dos jornais
ou as inscrições
sepulcrais. Ou talvez os
nomes e os fatos
conhecidos por uma das
pessoas presentes à
sessão, mas não de Moses,
puderam ser mencionados
na sua presença,
gravando-se na sua
memória subliminar.
1104. No caso de Hélène
Smith, vimos o grau de
acuidade que pode
alcançar a hiperestesia
e a hipermnésia do eu
subliminar; mas, na
presença da ignorância
em que se encontrava o
mundo científico, no que
concerne a estes
assuntos, não é de
estranhar que Moses e
seus amigos se tenham
negado a admitir a
explicação que aqui
propomos.
1105. Que os espíritos
invocados tenham ou não
manifestado sua ação
diretamente, coisa que
pode ter ocorrido, não
nos impede de acreditar
que o eu subliminar do
médium deve ter
desempenhado um papel
bastante ativo nessas
comunicações.
1106. Duas vezes, Moses
recebeu o aviso de um
falecimento, quando era
impossível que os
recebesse pela via
normal. Citarei um
desses casos (conforme
seu artigo publicado em
Proceedings of the S. P.
R., XI, pág. 96 e
seguintes), que, sob
muitos aspectos, é dos
mais notáveis. Trata-se
de uma mulher que
conhecera e que Moses
não vira mais que uma
vez. A publicação do
verdadeiro nome está
proibida pelo próprio
espírito, por razões que
me pareceram suficientes
ao ler o caso, mas que
Moses desconhecia; e
como o filho dessa
mulher também se opôs,
dar-lhe-ei o nome de
Blanche Abercrombie.
1107. Essa mulher morreu
numa tarde de domingo,
há 26 anos, numa casa de
campo situada a 200
milhas de Londres. A
notícia de seu
falecimento,
acontecimento de amplo
interesse, foi
telegrafada
imediatamente a Londres
e apareceu no Times na
segunda-feira seguinte;
é seguro que,
excetuando-se a imprensa
e familiares mais
próximos, ninguém estava
a par dessa notícia, no
domingo à noite. Mas,
naquela noite, por volta
de meia-noite, uma
comunicação que se
pretende partia dela
chegou a Moses na sua
isolada casa, ao norte
de Londres. A identidade
foi confirmada, dias
depois, por algumas
linhas que se supôs
procedessem diretamente
dela e escritas com a
sua letra. Não existe
qualquer motivo para
supor que Moses vira sua
letra. A única vez que
se encontrou com aquela
mulher e seu marido foi
numa sessão, não numa
das suas, em que Moses
foi ferido pelo
ceticismo que expressou
o marido sobre os
fenômenos dessa
natureza.
1108. Após receber essas
mensagens, Moses não as
referiu a ninguém,
transcrevendo-as num
livro que intitulou
“Assuntos particulares”.
Quando, autorizado pelos
executores
testamentários, abri o
livro, me surpreendeu
encontrar uma breve
epístola que, sem
relatar fatos precisos,
era, porém,
característica da
Blanche Abercrombie que
conheci. Mas embora eu
tivesse recebido cartas
dela enquanto ela era
viva, não lembrava sua
letra, e como conhecia a
um de seus filhos,
pedi-lhe que me
emprestasse uma das
cartas escritas pela
mãe, a fim de poder
comparar as duas letras.
1109. Não tardei em
comprovar a notável
semelhança entre a
escrita automática e a
letra da carta que me
foi emprestada, exceto
no que concerne à letra
A do nome da família.
Permitiu-me o filho
estudar uma série de
cartas que sua mãe
escrevera em épocas
diferentes, até os
últimos dias de sua
vida. Convenci-me de
que, nos últimos anos,
ela adquirira o costume
(de seu marido) de
escrever o A do mesmo
modo que o da escrita
automática. O Dr.
Hodgson, a quem submeti
as duas escritas,
constatou que a
automática, e em
especial a assinatura,
revelava a tentativa de
imitar de memória, e não
de acordo com um modelo,
as principais
características da
escrita original.
1110. Seria conveniente
resumir aqui os
principais caracteres
que dão identidade às
mensagens recebidas por
Moses, isto é, que
proporcionam a prova de
que realmente procedem
das fontes a eles
atribuídas. A esse
respeito temos que
distinguir diversos
graus:
I. Temos, primeiramente,
as mensagens comuns, nas
quais todos os fatos que
encerram foram de
conhecimento do
autômato, de uma forma
consciente. Nos casos
desse gênero podemos
supor tratar-se de sua
própria personalidade e
que as mensagens possuem
uma fonte subliminar,
não exterior.
II. Vêm, a seguir, as
mensagens compostas de
fatos que parecem ter
sido do conhecimento do
espírito invocado, mas
dos quais o autômato não
possui conhecimento
consciente, ainda que em
outras ocasiões tenham
sido percebidas por ele
inconscientemente e
gravadas na sua memória
subliminar.
III. No que diz respeito
às mensagens do grupo
seguinte, pode-se
provar, com graus de
certeza tão variados,
como os admitidos pelas
provas negativas deste
gênero, que o autômato
jamais as conheceu
diretamente, mas que não
se encontram facilmente
nos livros, de forma que
o autômato pode tê-las
conhecido por
clarividência, ou em
consequência de uma
comunicação feita por um
espírito diverso do
invocado por ele.
IV. Pode-se provar, com
um grau variável de
certeza, segundo as
circunstâncias, que os
fatos não foram nunca do
conhecimento do
autômato, nem estão
impressos, senão que
foram conhecidos pelos
espíritos invocados e
podem ser verificados
pelas recordações das
pessoas vivas.
V. Poder-se-ia, em
seguida, citar o grupo
de mensagens
experimentais ou de
cartas póstumas, nas
quais a pessoa falecida
consignara, antes de seu
falecimento, uma prova
especial, um fato ou uma
frase que só ela
conhecia, para
transmiti-la depois de
sua morte,
possivelmente, como um
sinal de seu retorno
(ver o caso de Finney,
capítulo VIII).
VI. Tratamos, até aqui,
somente de mensagens
verbais que nos são de
fácil manejo e análise.
Mas, na realidade, não
são as conclusões
extraídas dessas
mensagens escritas as
que com maior frequência
serviram de inspiração
ao sobrevivente para que
acreditasse na aparição
do amigo falecido.
Logicamente ou não, a
mensagem escrita não é
tão evocadora como o
fantasma ou uma voz
muito conhecida. É sobre
esta presença que
insistiram os
sobreviventes, desde os
tempos em que Aquiles
buscava, em vão, abraçar
a sombra de Pátroclo.
Até que ponto um
fantasma constitui uma
prova de uma ação real
exercida pelo espírito?
Discutimos acima esta
questão. Mas, ainda que
a aparição de uma pessoa
falecida não constitua,
em si, uma prova de sua
presença, não é,
tampouco uma simples
forma que os fantasmas
meramente alucinatórios
parecem assumir com
bastante frequência; e
quando existem provas
suplementares, como por
exemplo, uma escrita que
pretende vir da mesma
pessoa, as
probabilidades a favor
de sua presença real
encontram-se
consideravelmente
aumentadas. No caso de
Moses, quase todas as
figuras que vira
carregavam consigo uma
confirmação desse
gênero.
VII. Isso nos encaminha
a um grupo de casos
bastante representados
nas séries de Moses,
onde as mensagens
escritas que pareciam
vir de um determinado
espírito estavam
acompanhadas de
fenômenos físicos, dos
quais o próprio espírito
pretendia ser o autor.
Sendo ou não possível
dar a esta prova um
caráter rigorosamente
lógico, é fácil imaginar
mais de um caso em que a
prova pareça decisiva a
todos. Mas os fenômenos
físicos não proporcionam
uma prova a favor de
outra inteligência que
não a do sujeito e, como
já disse, podem, em mais
de um caso, constituir
uma simples extensão de
suas forças musculares
comuns, ao invés de
serem devidas a uma ação
exterior qualquer.
1111. Jungindo-nos às
mensagens verbais,
achamos que os casos
mais representativos,
nos relatos de Moses,
pertencem aos três
primeiros grupos; quanto
aos do quarto grupo, que
englobam fatos
verificáveis, dos quais
inexiste qualquer relato
impresso, e dos que se
tem certeza de que o
médium não os conhecera
nunca, são relativamente
pouco numerosos. Isso,
talvez, possa ser
atribuído, em parte, ao
escasso número dos que
assistiam às sessões de
Moses e que eram, todos,
seus amigos pessoais.
1112. Ao contrário, os
relatos da senhora Piper,
dos quais nos ocuparemos
agora, são
particularmente ricos em
incidentes pertencentes
ao grupo quatro, e o
valor evidente das
mensagens verbais é, por
isto, superior ao das
mensagens de Moses.
Enquanto que no caso do
último a identidade de
um grande número de
comunicações repousava,
principalmente, no fato
de estar garantida por
Imperator e seu grupo de
auxiliares, no caso da
Sra. Piper os espíritos
de alguns amigos,
recentemente falecidos,
que deram provas de sua
identidade, surgem para
manter a realidade
independente e a direção
que exercem sobre a Sra.
Piper as mesmas
inteligências, Imperator,
Rector, Doctor e outras
que, segundo Moses,
intervinham nas suas
experiências.
1113. Duas importantes
diferenças separam o
caso da Sra. Piper do de
Moses. Primeiro, suas
manifestações
supranormais não estão
acompanhadas de qualquer
fenômeno de telecinesia;
e, depois, seu eu
supraliminar não
apresenta o menor
vestígio de uma
capacidade supranormal
qualquer. Ela dá um
exemplo de automatismo
extremo, onde a
possessão não é só local
ou parcial, senão que
afeta, por assim dizer,
toda a região psíquica
onde o eu supraliminar
se encontra,
momentaneamente,
submerso de uma forma
completa e onde toda a
personalidade sofre
intermitentes
modificações.
1114. Em outros termos,
entra num estado em que
os órgãos da palavra e
da escrita são guiados
por outras
personalidades que não a
sua personalidade normal
desperta. Às vezes, o eu
subliminar aparece ou
imediatamente antes, ou
imediatamente após o
êxtase, para assumir
durante curto intervalo
a direção do organismo;
mas, com raras exceções,
as personalidades que
falam ou escrevem
durante o êxtase
pretendem ser espíritos
desencarnados.
(Continua no próximo
número.)