Possessão e
obsessão
Apesar de
naturalmente
compreensível
para os
estudiosos do
Espiritismo,
pode parecer
estranho àqueles
que não se
aprofundaram
adequadamente no
tema as
seguintes
afirmações:
Possessão é um
fenômeno
possível e este
não é,
invariavelmente,
uma obsessão.
Este
entendimento
requer uma
consulta
criteriosa à
Codificação,
pois se trata de
assunto que o
próprio Kardec
revisou durante
sua obra e,
diante de fatos,
desenvolveu o
sentido que
aparentemente
havia firmado
desde 1857 n’O
Livro dos
Espíritos (LE).
Somente a partir
de 1863, na
Revista
Espírita, o
Codificador
reviu o conceito
de possessão,
admitindo a sua
existência não
mais como
subjugação, mas
em seu sentido
exato. Sobre o
caso verificado
da Srta. Julie (RE
- Dez/1863),
Kardec se
expressou da
seguinte
maneira:
“Temos dito que
não havia
possessos
(ver LE-473, por
exemplo) no
sentido vulgar
do vocábulo, mas
somente
subjugados.
Voltamos a esta
asserção
absoluta porque
agora nos é
demonstrado que
pode haver
verdadeira
possessão, isto
é, substituição,
posto que
parcial, de um
Espírito errante
a um encarnado”.
Kardec, como
pesquisador
sério e
responsável,
retomou um
conceito que
ele,
inicialmente,
considerava já
definido, mas
que se
evidenciou,
através de fatos
comprovados e
pelo crivo
racional, com
diferente
acepção. Este é
um exemplo do
dinamismo da
Doutrina, que só
pode ocorrer
quando validado
pela razão e
demonstrado
irrefutavelmente.
Para melhor
diferenciação,
devemos
conceituar estes
termos conforme
encontramos n’A
Gênese (GEN –
Cap. XIV - itens
45 a 49):
a) Obsessão é a
ação persistente
que um mau
Espírito exerce
sobre um
indivíduo.
Apresenta
caracteres muito
diferentes,
desde a simples
influência moral
sem sinais
exteriores
sensíveis até a
perturbação
completa do
organismo e das
faculdades
mentais.
b) Possessão é a
ação que um
Espírito exerce
sobre um
indivíduo
encarnado,
substituindo-o
temporariamente
em seu próprio
corpo material.
Esta ação não é
permanente,
considerando que
a união
molecular do
perispírito ao
corpo opera-se
somente no
momento da
concepção.
A diferença no
processo de
comunicação
entre os
fenômenos de
psicofonia e de
possessão também
pode ser
evidenciada. No
primeiro, o
Espírito
comunicante
transmite seus
pensamentos ao
encarnado e este
se encarrega de
retransmitir
conforme seus
próprios
recursos; no
segundo caso, é
o próprio
desencarnado que
se serve
(apossa-se)
diretamente do
corpo material e
transmite a sua
mensagem (o
Espírito
encarnado
afasta-se, mas
ainda permanece
ligado ao seu
envoltório
físico).
Esclarecendo
objetivamente
que a possessão
pode ser
promovida por um
Espírito bom,
encontramos (GEN
– Cap. XIV –
item 48):
“A obsessão
sempre é o
resultado da
atuação de um
Espírito
malfeitor. A
possessão pode
ser o feito de
um bom Espírito
que quer falar
e, para fazer
mais impressão
sobre os seus
ouvintes, toma
emprestado o
corpo de um
encarnado, que
este lhe cede
voluntariamente
tal como se
empresta uma
roupa. Isto se
faz sem nenhuma
perturbação ou
incômodo e,
durante este
tempo, o
Espírito se
encontra em
liberdade como
num estado de
emancipação e
frequentemente
se conserva ao
lado de seu
substituto para
o ouvir”.
Obviamente, a
possessão também
pode ocorrer
através de um
Espírito
malfeitor e
neste caso
caracteriza-se
um processo
obsessivo. Assim
ocorre quando a
vítima não
possui força
moral para
resistir à
agressão e é
obrigada a
afastar-se
temporariamente
de seu corpo
(obs.: mais uma
vez é importante
ressaltar que
nestes momentos
a vítima
permanece ligada
ao corpo, mas
sem o seu
domínio).
Considerando o
presente nível
moral da
humanidade não é
de se estranhar
que haja muito
mais casos de
possessões
obsessivas do
que aquelas com
finalidades
edificantes.
O Espiritismo,
mais uma vez,
lança luzes
sobre males
ainda
considerados
pelas ciências
materialistas
como de causa
patológica. Não
descartando esta
possibilidade
(anormalidade
orgânica), a
Doutrina
Espírita faz
conhecer outras
fontes das
misérias
humanas,
mantidas pela
fragilidade
moral dos seres.
Inteligência e
Amor são as
armas para se
combater
desequilíbrios.
Geralmente se
referem a
experiências
individuais
(como a da Srta.
Julie, citada
anteriormente),
mas Kardec
também relata
ocorrências de
possessão
coletiva (ver RE
– 1862/63 –
casos em Morzine
e Tananarive).
Assim,
contribuindo
para o real
entendimento
deste processo,
devemos
distinguir os
fenômenos de
possessão e
obsessão. A
possessão ocorre
e pode ser boa
ou má; a
obsessão sempre
é má. Portanto,
nem toda
possessão é
obsessão.