A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 47)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Os Espíritos possuem
um conhecimento parcial
do tempo?
|
Segundo Myers, sim. Eles
parecem possuir um
conhecimento parcial do
tempo, mesmo não estando
limitados por ele. E são
capazes de ver, no
presente, coisas que,
para nós, parecem estar
situadas no passado e
outras que situamos no
futuro. Ademais, são
conscientes, ao menos em
parte, dos pensamentos e
emoções de seus amigos
terrestres, na medida em
que esses pensamentos e
emoções se relacionem
com eles, e isso não só
quando os amigos estão
na presença do médium,
mas também (como G. P.
mostrou mais de uma vez)
quando estão em sua
casa, vivendo sua vida
rotineira.
(A Personalidade Humana.
Capítulo IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
B. Utilizar um cérebro
estranho ao que possuía
constituiria uma das
dificuldades da
possessão?
Sim. Vejamos a relação
do Espírito com seu
próprio corpo quando
encarnado. Ele se serve
de um cérebro, que é, em
última análise, uma
disposição de matéria
adaptada de forma a ser
influenciada e colocada
em ação por um Espírito.
Enquanto recebe os
impulsos do Espírito ao
qual está acostumado, a
ação é demasiado débil
para que nos permita
captar o mecanismo. Na
possessão ocupamo-nos de
um Espírito estranho ao
cérebro, não acostumado
ao instrumento em que se
instala vacilante. Eis
aí uma das dificuldades
com que se depara.
Exemplificando: na
afasia assistimos a
certas perturbações
cerebrais. Na possessão
vemos o Espírito diretor
em luta contra
dificuldades análogas,
escrevendo ou
pronunciando uma palavra
inexata para
substituí-la pela
palavra adequada.
(Obra citada. Capítulo IX – Possessão, arrebatamento,
êxtase.)
C. Existe relação entre
o mecanismo da possessão
e o do êxtase?
Para Myers, essa relação
é óbvia. Os fenômenos da
possessão se encontram
intimamente ligados aos
do êxtase. Isto se
explica se pensarmos
que, desde o momento em
que um Espírito exterior
é suscetível de entrar
num organismo, para
apoderar-se dele, o
Espírito interior pode,
por sua vez, ser capaz
de abandonar o organismo
a que está habitualmente
unido, mudar seu centro
de percepção e de ação,
ainda que de uma forma
menos irrevogável do que
como consequência das
mudanças produzidas pela
morte. O êxtase
converte-se, dessa
forma, simplesmente num
aspecto complementar e
correlativo da possessão
espiritual.
(Obra citada. Capítulo IX – Possessão, arrebatamento,
êxtase.)
Texto para leitura
1140. Recordemos os
pontos que parecem advir
das considerações que
acima formulamos sobre
as comunicações desse
gênero. O espírito
relaciona-se com uma
pessoa viva, ocupando um
determinado lugar, num
momento determinado e
constituído de certos
pensamentos e emoções.
Pode o espírito, em
certos casos, achar a
pessoa em questão e
segui-la à vontade.
Possui, pois, em certa
medida, um conhecimento
do espaço, mesmo não
estando limitado pelo
espaço; seu poder de
orientação no espaço é,
até certo ponto, para
nossa vista, o que o
tato é para um cego.
1141. Da mesma forma, o
espírito parece possuir
um conhecimento parcial
do tempo, mesmo não
estando limitado por
ele. É capaz de ver, no
presente, coisas que,
para nós, parecem estar
situadas no passado e
outras que situamos no
futuro.
1142. O espírito é, além
do mais, consciente, ao
menos em parte, dos
pensamentos e emoções de
seus amigos terrestres,
na medida em que esses
pensamentos e emoções se
relacionem com ele, e
isto não só quando o
amigo está na presença
do médium, mas também
(como G. P. mostrou mais
de uma vez) quando o
amigo está na sua casa,
vivendo sua vida
rotineira.
1143. Admitindo, pois,
para as necessidades do
caso, que este é o
estado normal do
espírito, com relação às
coisas humanas, como
pode e deve proceder
para estabelecer
comunicação com os
vivos? Mas, se conserva
não só a recordação dos
amores terrenos, como,
também, uma consciência
real de todas as emoções
amorosas de que é objeto
após a morte, parece
provável que terá, ao
menos, a vontade, o
desejo, de entrar em
comunicação com os
vivos.
1144. Buscando então uma
saída, começará por
discernir algo que
corresponda (segundo a
expressão de G. P.) a
uma luz, a um resplendor
que atravesse a
obscuridade confusa do
mundo material. Esta
“luz” nada mais é do que
o médium, isto é, um
organismo humano
constituído de tal forma
que o espírito possa,
durante um certo tempo,
proporcionar-lhe
informação e dirigi-lo
sem, necessariamente,
interromper a corrente
de sua consciência
comum, servindo-se quer
de sua mão, quer (como
no caso da Sra. Piper)
de sua mão e de sua voz
e ocupando todos os
condutos pelos quais o
médium se manifesta.
1145. As dificuldades
inerentes a esse estado
de controle ou de
direção são descritas
pelo Dr. Hodgson da
maneira seguinte: “Se,
com efeito, cada um de
nós é um ‘espírito’
sobrevivente à morte do
corpo carnal, existem
certas suposições de que
um espírito desencarnado
se coloque em
comunicação com os
espíritos encarnados.
Inclusive, nas melhores
condições pode ocorrer
que a aptidão para as
comunicações seja tão
rara como o dom que
torna grande o artista,
o matemático, o
filósofo. Mas também
pode ser que sob a
influência das mudanças
que a própria morte
supõe o ‘espírito’ se
encontre, a princípio,
confuso e perdido, e que
isto se mantenha durante
um tempo mais ou menos
longo; e igualmente após
acostumar-se a seu novo
meio, é possível que, ao
estabelecer com outro
organismo vivo a mesma
relação que teve antes
com seu próprio
organismo, esteja ainda
confuso, como ao acordar
num meio estranho, após
um extenso período de
inconsciência. Se meu
próprio corpo pudesse
conservar-se no seu
estado atual e eu o
pudesse abandonar
durante meses e anos,
levando uma existência
em outras condições, é
possível que ao
juntar-me novamente com
meu corpo após uma
ausência tão prolongada,
mostrar-me-ia, no
início, confuso e
incoerente nas
manifestações que
realizasse através dele.
E essa confusão e
incoerência seriam ainda
mais profundas se me
unisse a outro corpo
humano. Ficaria confuso
pelas diferentes formas
de afasia e de agrafia,
pelas perturbações da
inibição, acharia as
novas condições
enevoadas e cansativas e
meu espírito funcionaria
de maneira automática e
como que dominado por um
sonho. Mas as
comunicações que recebia
a Sra. Piper
apresentavam exatamente
esse gênero de confusão
e de incoerência que
podemos esperar, a
priori, se fossem
realmente o que
pretendiam ser”.
1146. Comparei, no
início deste capítulo,
os fenômenos da
possessão com os da
desintegração da
personalidade, com os
sonhos e com o
sonambulismo. Mas parece
provável que a teoria
das múltiplas
personalidades, através
da qual se afirma que
nenhuma das correntes
conhecidas da
personalidade esgota
toda sua consciência e
que nenhuma das
manifestações conhecidas
expressa toda a
potencialidade de seu
ser, pode aplicar-se
quer aos homens
desencarnados, quer aos
encarnados e isto nos
permite supor que as
manifestações dos
primeiros se
assemelharão às
comunicações fugidias e
instáveis que existem
entre as diferentes
camadas da personalidade
no homem vivo.
1147. Essa mesma
dificuldade e esse
caráter fragmentário das
comunicações são
suscetíveis, em última
análise, de nos
proporcionar preciosas
lições. Assistimos ao
mistério central da vida
humana que se desenvolve
em novas condições, mais
acessíveis que nunca à
nossa observação. Vemos
que um espírito se serve
de um cérebro. Um
cérebro humano é, em
última análise, uma
disposição de matéria
adaptada de forma a ser
influenciada e colocada
em ação por um espírito,
mas enquanto recebe os
impulsos do espírito ao
qual está acostumado, a
ação é demasiado débil
para que nos permita
captar o mecanismo.
1148. Mas ocupamo-nos
agora de um espírito
estranho ao cérebro, não
acostumado ao
instrumento em que se
instala vacilante.
Temos, assim, que saber
coisas infinitamente
mais profundas e
importantes que as que
nos ensinam as
interrupções mórbidas da
ação do espírito comum
normal. Exemplificando:
na afasia assistimos a
certas perturbações
cerebrais. Mas na
possessão vemos o
espírito diretor em luta
contra dificuldades
análogas, escrevendo ou
pronunciando uma palavra
inexata para
substituí-la pela
palavra adequada, e
inclusive encontrando,
às vezes, o meio de nos
explicar algo desse
mecanismo verbal
minucioso, cuja
interrupção ou
desarranjo deu origem ao
erro.
1149. É possível que,
com o progresso de
nossas investigações, à
medida que nós, de um
lado, e os espíritos
desencarnados do outro,
estejamos cada vez mais
iniciados nas condições
indispensáveis ao
domínio perfeito do
cérebro e do sistema
nervoso dos
intermediários, é
possível, afirmamos, que
as comunicações se façam
cada vez mais completas
e coerentes e alcancem
um nível cada vez mais
elevado de consciência
unitária.
1150. As dificuldades
podem ser grandes e
numerosas, mas pode ser
de outro modo, quando se
trate de reconciliar o
espírito com a matéria,
de abrir ao homem, no
planeta em que se acha
prisioneiro, uma porta
do mundo espiritual?
1151. Vimos, durante
este capítulo, que os
fenômenos da possessão
se encontram intimamente
ligados aos do êxtase.
Isto se explica se
pensarmos que, desde o
momento em que um
espírito exterior é
suscetível de entrar num
organismo, para
apoderar-se dele, o
espírito interior pode,
por sua vez, ser capaz
de abandonar o organismo
a que está habitualmente
unido, mudar seu centro
de percepção e de ação,
ainda que de uma forma
menos irrevogável do que
como consequência das
mudanças produzidas pela
morte.
1152. O êxtase
converte-se, dessa
forma, simplesmente num
aspecto complementar e
correlativo da possessão
espiritual. Uma mudança
semelhante não deve ser
forçosamente espacial,
como ocorre na invasão
do organismo abandonado
por um espírito
exterior. Pode-se ir
mais longe e dizer que
uma vez que o espírito
encarnado é capaz de
mudar desta forma seu
centro de percepção, em
resposta à invasão do
organismo por um
espírito desencarnado,
não se sabe por que não
poderia fazer o mesmo em
outras ocasiões.
1153. Conhecemos a
“clarividência
migratória”, que
consiste em que o
espírito mude de centro
de percepção em meio às
cenas do mundo material.
Por que não pode haver
uma extensão da
clarividência migratória
no mundo espiritual? Uma
transmissão espontânea
do centro de percepção
nessa região onde os
espíritos desencarnados
parecem, por seu lado,
capazes de comunicar-se
com crescente liberdade?
1154. O conceito de
êxtase, no seu sentido
mais literal e sublime,
desprendeu-se, de modo
quase insensível, de
todo um conjunto de
provas modernas; e
decorrerá muito tempo
até podermos separar de
forma adequada, não digo
o elemento objetivo da
experiência, de seu
elemento subjetivo,
porque teremos deixado
atrás a região em que
estas palavras conservam
ainda seu sentido, mas o
elemento da experiência
que pertence a espíritos
estranhos ao do homem no
êxtase, do elemento que
pertence, propriamente,
a este último.
1155. Não é paradoxo
dizer que as provas que
existem a favor do
êxtase são mais sérias
do que as que possuímos
a favor de qualquer
outra crença religiosa.
De todas as experiências
subjetivas da religião,
o êxtase é a que foi
confirmada, com maior
força e convicção. Não
constitui o monopólio de
uma única religião e se,
do ponto de vista
psicológico, a prova
principal da importância
de um fenômeno subjetivo
que faz parte da
experiência religiosa
consiste no fato de ser
comum a todas as
religiões, não existe
nenhuma outra que
responda a esta condição
no mesmo grau que o
êxtase.
1156. Desde o bruxo, dos
selvagens, até São João,
São Pedro e São Paulo,
sem esquecer Buda e
Maomé, possuímos dados
que, mesmo apresentando
diferenças consideráveis
do prisma moral e
intelectual, têm uma
base psicológica comum.
1157. Em todas as épocas
concebeu-se o espírito
como suscetível de
abandonar o corpo ou, se
não o abandona, de
estender
consideravelmente seu
campo de percepção,
originando um estado
semelhante ao êxtase.
Todas as formas
conhecidas de êxtase
estão concordes neste
ponto e todas elas
repousam sobre um fato
real.
1158. Estabelecemos,
dessa forma, a
continuidade e a
realidade de fenômenos
que foram até aqui
considerados sem conexão
alguma e de modo quase
ininteligível. Guiados
por nosso ponto de
vista, podemos
estabelecer uma conexão
entre as formas
inferiores e as
superiores, sem qualquer
prejuízo para as
segundas. O feiticeiro,
o bruxo, quando não é um
impostor, penetra tão
eficazmente no mundo
espiritual como São
Pedro ou São Paulo; mas
não penetra na mesma
faixa desse mundo; as
visões confusas e
obscuras o assustam ao
invés de exaltá-lo.
Todavia, só o fato de
acreditarmos em suas
visões confirma e
corrobora nossa fé,
relativa à visão do
“sétimo céu” dos
apóstolos.
(Continua no próximo
número.)